Conhecimento, do grego epignosis, está ligado a precisão e correção (acerto). O termo aparece 62 vezes no Novo Testamento. Referindo-se ao termo grego, o Vines' Expository Dictionary of New Testament Words, explica que o mesmo "denota conhecimento exato ou pleno, discernimento, reconhecimento e expressa um conhecimento completo, uma participação maior do conhecedor no objeto conhecido, influenciando-o mais fortemente". O autor da obra supra explica adicionalmente que o termo derivado, epignosko, "denota observar, perceber completamente, notar atentamente, discernir, reconhecer e sugere geralmente uma diretiva; também pode sugerir "conhecimento" avançado ou apreciação especial. Epiginosko enfatiza a participação na verdade conhecida". Assim, epignosis está relacionado com sabedoria, entendimento e percepção. Nas passagens do Novo Testamento onde aparece esse termo (Cl 1.9,10; 2.2; 3.10; Ef 4.23; Fl 6; Fp 1.9; , o objeto da epignose é Deus, a vontade de Deus, o mistério de Deus, o Filho de Deus, ou "todo bem em Cristo".
Quando examinamos as pastorais, no entanto, o termo epignosis está ligado tanto à verdade quanto à conversão. Em 1 Tm 2.4, Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Em 2 Timóteo 2.25, Deus pode conceder o arrependimento no "conhecimento" da verdade; em 3: 7, os falsos mestres já aprenderam, mas nunca chegam ao "conhecimento" da verdade. Em Tito 1.1, Paulo é um servo de acordo com a fé dos eleitos de Deus e o "conhecimento" da verdade. Portanto, o termo epignose, em todas as quatro ocorrências, tem "verdade" como o seu objeto e que as quatro passagens associam a palavra com o próprio evento de conversão. Por razões de conveniência, podemos colocar a única ocorrência em Hebreus (10: 26) neste mesmo grupo, já que também temos o "conhecimento" da verdade intimamente associada à conversão.
Em 2 Pedro 1:2, Pedro ora para que a graça e a paz se multipliquem aos seus leitores no "conhecimento" de Deus. Em 1:3, vemos que Cristo concedeu livremente todas as coisas necessárias para a vida espiritual e piedade através do "conhecimento" daquele que nos chamou; em 1:8, somos exortados a evitarmos ser estéreis ou infrutíferos em relação ao "conhecimento" de Cristo; e finalmente em 2:20, é feita referência aos que escaparam das impurezas do mundo por meio do "conhecimento" de Cristo. Todos os quatro usos têm Deus ou Cristo como o objeto deste conhecimento, e todos parecem - pelo menos à primeira vista - focar na experiência de conversão.
Ter "conhecimento" (epignosis) resulta em um comportamento e estilo de vida que agradam e honram o evangelho de Paulo (Cl 3.1-4: 6), ou seja, Cristo como Cabeça de Seu Corpo. Cada item que Paulo menciona neste texto está no contexto da epignose:
- Evitar a fornicação, a impureza, etc. (v. 5,6) é uma conseqüência necessária da epignose.
- Despojar-se da raiva, ira, malícia, etc. (vv. 8,9) é uma conseqüência necessária da epignose.
- A mansidão, a humildade de mente, a tolerância com cada um, etc. (vv.12-14) são uma conseqüência necessária da epignose.
- Ensinar e admoestar (a si mesmo e a outros) através de salmos, hinos e cânticos espirituais (vs.16) é uma consequência necessária da epignose.
- Esposas que submetem-se aos seus maridos, maridos que amam suas esposas, filhos que obedecem aos seus pais, os servos que obedecem aos seus mestres, os mestres que tratam corretamente seus servos (v. 18-4: 1) são uma conseqüência necessária da epignose.
- Pregar o evangelho de Paulo (o Mistério) é uma conseqüência necessária da epignose.
Novamente, conhecimento ou epignose é conhecimento completo, perfeito e preciso em oposição ao conhecimento parcial, imperfeito e parcial. "Epígnōsis" envolve a apropriação completa de toda a verdade e a aquiescência sem reservas na vontade de Deus; esse é o objetivo e a coroa do crente. O conhecimento do Senhor Jesus que o crente possui, portanto, não é um mero conhecimento intelectual dos fatos relativos a Ele, adquirido por um estudo dos Evangelhos, por exemplo, mas uma experiência de coração do que e quem Ele é adquirido por esse estudo mais a associação pessoal com Ele através da Palavra e do ministério do Espírito Santo. É uma pessoa com conhecimento pessoal através de uma relação de intimidade e comunhão.
Esta é a verdadeira razão pela qual cada crente em Cristo deve buscar conhecer o Seu Senhor, bem como a fé que professa: para cada vez poder vivê-la mais e mais segundo a Vontade de Cristo e para poder, cada vez mais, ter comunhão com o Senhor. Por isso é que Oséias, no Velho Testamento, diz que o povo era destruído porque lhe faltava o conhecimento. Não era uma mera deficiência intelectual, mas sim um problema muito sério de ignorar, na prática, a Vontade de Deus para eles! Não adianta termos muito conhecimento teórico sobre os fatos bíblicos; isso é, por certo importante, mas sem uma vida de comunhão com Deus que me leve a prática do que já aprendi todo conhecimento é inútil para mim. Noutras palavras, conhecimento no Novo Testamento nada tem a ver com academicismo filosófico-especulativo, mas sim com vida, com prática, com experiência real daquilo que se conhece! É óbvio que, para quem pratica a Palavra que aprende e por meio dela (da Palavra) busca ter comunhão com o Senhor quererá aprender ainda mais! Quanto mais tenho de Deus e de Sua Palavra mais quero ter!
O crente em Cristo Jesus tem, assim, duas grandes responsabilidades em termos do conhecimento e do comportamento cristãos. A primeira responsabilidade é a de se andar na luz que possui: "Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a mesma regra, e sintamos o mesmo." (Fp 3.16) Aquilo que eu já conheço, que eu já entendendo como sendo a Vontade de Deus, devo me submeter e obedecer. Nosso Senhor e Salvador nos disse que Seu Espírito Santo, o Espírito de Verdade, nos guiaria em toda a Verdade e nós, como crentes, devemos obrigatoriamente viver segundo a Verdade na qual o Espírito está nos conduzindo. Esse é o nosso padrão de vida, portanto; não é lícito viver abaixo desse padrão.
Porém, a nossa jornada com o Espírito de Verdade é uma jornada na luz e em direção à luz, sempre! Isso já fora dito no Antigo Testamento: "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Pv 4.18) Há, portanto, um gradiente de intensidade luminosa que aumenta em direção à estatura de Cristo. No mundo, em trevas; em Cristo, na luz. A medida que vou me aproximando da estatura de varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef 4.13), mais luz eu tenho sobre a Verdade de Deus. Noutras palavras, a intensidade de luz na vida do crente é sempre algo crescente (nunca estacionário ou decrescente). Como a luz aumenta? Com o caminhar na Verdade que Espírito de Verdade ensina e orienta a viver. O próprio Espírito de Verdade se encarrega de aumentar a Verdade (luz) diante do nosso entendimento, por meio da iluminação bíblica. Iluminação é a capacidade que Deus nos dá, por meio do Espírito Santo, no entendimento das Escrituras (I Co 2.12). O Espírito ilumina as Escrituras e então (e só então) nós enxergamos a Verdade que Ele ilumina. O propósito do Espírito de Deus é, por assim dizer, duplo: Iluminar a Verdade e Guiar na Verdade Iluminada. Ele faz isso utilizando-se dos dons e ministérios de ensino em Sua Igreja, dos Mestres.
Porque a jornada do cristão rumo a Cristo deve ser algo crescente, mais e mais luz vai sendo posta pelo Espírito Santo sobre as Escrituras, de forma que entendamos qual é a Vontade de Deus para nossas vidas como filhos da luz. Todo aquele que tem interesse em ser um cristão cada vez mais semelhante a Cristo precisa desejar e se submeter a esse processo, nunca se conformando passivamente com a quantidade de luz que possui mas sempre desejando crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo (II Pe 3.18). Onde se dá isso? No Corpo de Cristo, na Igreja do Deus Vivo, que é coluna e baluarte da Verdade (I Tm 3.15). Batismo no Corpo e vida de comunhão são essenciais ao correto crescimento na fé, porque é no Corpo onde podemos receber ensino dos Mestres, dons de Cristo instituídos para levar a Igreja cada vez mais ao Senhor. Crente fora da Igreja ou que faz da Igreja um simples programa dominical e não algo vital para sua fé, corre sério risco de cair em ventos de doutrina e de acabar seguindo doutrinas de demônios.
Por outro lado, Igreja que não prioriza o ensino da Palavra de Deus, não está cumprindo o seu papel na terra de fazer discípulos para Cristo. Shows da fé, entretenimento gospel ("boate cristã", baladas, funk gospel, marcha para Gizus, etc), terapia erótico-sexual ("sex-shop gospel", "revolução sexual cristã", "filme pornô consagrado", etc), culto da "santa moedinha número 1" ("prosperidade satanalógica", etc)... nada disso funciona efetivamente para gerar Cristo na vida do homem (e nem cristão isso pode se chamar, diga-se de passagem). Toda verdadeira Igreja de Cristo se submete ao Espírito Santo e é por Ele ensinada; é uma Igreja que ama a Palavra de Deus e a tem em máxima posição no culto/serviço cristão e a aplica para formação de vidas em Cristo. Igreja que não ama a Palavra de Deus deixou de ser (ou nunca foi) Igreja; é ajuntamento de gente para qualquer propósito, menos para a prática do verdadeiro cristianismo bíblico.
Concluindo: há uma obra espiritual sendo realizada pelo Espírito da Verdade - o Espírito Santo - levando todo genuíno cristão a crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. Essa Obra do Senhor encontra necessariamente eco em nosso coração - todo aquele que verdadeiramente nasceu de novo anseia crescer até ser adulto perfeito. Nenhuma criança quer ser criança para sempre, e a cura da meninice espiritual está justamente na ação do Espírito Santo em nossas vidas nos guiando a toda a Verdade de Deus, gerando passo-a-passo em nós a perfeita varonilidade de Cristo. "Pai, quero crescer na fé, quero ser como meu Senhor!" esse é o clamor do coração de todo verdadeiro filho e verdadeira filha de Deus. Quando mais crescemos na Verdade, menos carnais vamos nos tornando; mais separados do mundo e unidos ao Senhor (ou seja, mais santificados passamos a ser). Que a beleza de Cristo se veja em mim, como diz o antigo corinho:
Que a beleza de Cristo se veja em mim
Toda sua admirável pureza e amor
Ó Tu, Chama Divina
Todo meu ser refina
Té que a beleza de Cristo se veja em mim
Viver para Cristo, amado(a) leitor(a), é permitir que Cristo viva em mim. E, para isso, nós precisamos obrigatoriamente conhecermos e interiorizarmos Sua Verdade em nosso viver cotidiano. Desejemos mais do Senhor Jesus, mais de Sua Verdade em nós! Ele mesmo disse "eu Sou a Verdade", portanto, quanto mais a Verdade eu conhecer e viver, mas Dele terei em mim! O Senhor nos ama; sabedor da nossa realidade nos deu homens-dons, Mestres, para nos ensinar a Palavra de Deus; Pastores, para guiar-nos na jornada cristã; Evangelistas, para ensinar-nos a expressar a vida de Cristo que é gerada em nós a fim de fazer novos discípulos; Profetas, para nos edificar, exortar e consolar e Apóstolos, para fazer de nós edifícios-vivos, habitação de Deus. E isso tudo está em operação no Corpo de Cristo, na Igreja (nunca fora dela).
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!