Essa postagem foi extraída do blog do Bispo Hermes C. Fernandes (http://hermesfernandes.blogspot.com/), de autoria do próprio.
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QUANDO VOCÊ SE TORNA UM EMPECILHO AO PROJETO PESSOAL DE ALGUÉM
Por Hermes C. Fernandes
sexta-feira, dezembro 07, 2018
Era uma vez um rei rico e poderosíssimo que do alto de seu palácio avistou uma modesta propriedade e a cobiçou. Tratava-se de uma vinha como outra qualquer, tão comum naqueles dias no território de seu reino. Porém, algo o incomodava. Todos os dias, ao acordar e abrir a janela de seu quarto, ele dava de cara com o seu vizinho Nabote, cultivando cuidadosamente sua plantação. Se aquela vinha fosse em qualquer outro lugar, ele não se importaria. Mas era justo ali, bem debaixo de seu nariz. Ouvir Nabote e seus servos cantarolando enquanto colhiam as uvas soava-lhe como um insulto.
O rei Acabe, então, começou a se perguntar: “Por que esta vinha não pode ser minha? Se sou o dono do palácio, por que não posso ser também seu dono? Posso transformá-la em uma horta!”
Ele não queria apenas se apropriar daquela terra, mas também acabar com o que nela estava plantado. Seu sonho era arrancar videira por videira e substitui-la por hortaliças. Tudo isso por um mero capricho.
O fato é que o ser humano nunca se dá por satisfeito. Quanto mais tem, mais quer. E como diz o adágio, a grama do vizinho é sempre mais verde que a do nosso próprio quintal. O outro sempre tem o que nos falta. Então, o que nos resta, senão tentar nos apropriar do que é seu?
Num belo dia, Acabe resolve fazer uma oferta a Nabote. Ele estava disposto a dar a Nabote uma vinha melhor do que aquela em qualquer lugar do reino, ou a pagar em dinheiro o valor que fosse pedido, mas, para seu desgosto, Nabote rejeitou sua oferta, alegando que a vinha era uma herança que recebera de seus pais.
Não há preço que pague por aquilo a que atribuímos valor. Para Nabote, a vinha não era somente um meio de subsistência para a sua família, mas uma herança pela qual deveria zelar. Se Acabe lhe oferecesse dez vezes o seu valor, ele certamente recusaria.
Muito antes que Acabe construísse ali o seu nababesco palácio, os ancestrais de Nabote já cultivavam aquelas terras. Portanto, o intruso ali era Acabe, não Nabote. Os direitos de um se baseavam na posição que ocupava, os do outro, na ocupação em que se posicionava. Nabote pertencia a Jezreel. Acabe, a Jezabel.
Acabe sentiu-se ofendido pela recusa da oferta. Voltando para casa, deitou-se em sua cama e virou-se para a parede. O que é uma vinha para quem tem um palácio? Ele não sossegaria enquanto aquela propriedade não fosse transformada em seu quintal.
Sua mulher, a perversa rainha Jezabel, perguntou-lhe a razão de sua angústia, e ao tomar conhecimento do ocorrido, propôs-se reverter a situação em seu benefício. Mas não sem antes chamar-lhe atenção:
“Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come pão, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote.”
Em outras palavras: “Acabe com isso, Acabe! Vira homem! Pare de ficar choramingando pelos cantos! Você é ou não é o rei desta bagaça! Se ele se recusa a vender a propriedade, vai lá e toma. Faça valer sua autoridade! Sabote a Nabote!”
Há pessoas que têm o dom de incitar o que há de pior em nossa natureza. Ainda que pareçam desejar o nosso bem, encorajando-nos a uma tomada de posição, usam de artifícios nada louváveis, desafiando-nos o brio.
A malévola rainha escreveu cartas em nome do rei, usou seu anel real para assiná-las, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade. Provavelmente, Acabe nem sequer leu o que fora assinado com o seu anel. Outro pensou e decidiu por ele. Triste quando somos colocados numa posição involuntariamente, sem que tenhamos sido consultados. Triste quando alguém se acha no direito de decidir o que é melhor para nós.
Quem não consegue nos manipular, geralmente se aproveita da ingenuidade das pessoas para manipulá-las contra nós. Nabote demonstrou que não era manipulável. Portanto, Jezabel decidiu resolver a questão manipulando pessoas para deporem contra ele.
Sua ordem foi direta e específica, porém, revestida de uma falsa aura de espiritualidade. Descaradamente, ela manda convocar um jejum. Quem poderia questionar algo que fosse acompanhado de uma disciplina espiritual tão valorizada naqueles dias? Porém, o tal jejum era apenas uma estratégia baixa para encobrir seu verdadeiro intento. Assim como há quem se utilize até de um pedido de oração para espalhar boatos maldosos com o objetivo de destruir a reputação alheia.
Dois “filhos de Belial” (assim eram chamados homens ímpios que se vendiam por qualquer trocado) foram subornados para testemunharem contra Nabote, afirmando por A mais B que ele havia blasfemado contra Deus e contra o rei. A sentença para isso não poderia ser outra, senão a morte.
Ali, diante de um povo aparentemente piedoso, Nabote foi friamente executado por apedrejamento, e assim, sua terra pôde ser encampada pelo rei.
Para o casal de monarcas, Nabote não passava de um empecilho que precisava ser removido de seu caminho. Por recusar a oferta do rei, pagou com a própria vida.
Existem maneiras distintas de se livrar de um empecilho. Antes de tirar-lhe a vida, trataram de destruir sua reputação. Mas o que realmente queriam era sua propriedade. Assim como há quem justifique uma decisão injusta em um suposto erro alheio. Por trás dos motivos alegados, há razões inconfessáveis. Decisões que parecem ser tomadas de última hora, já estavam sendo engendradas há anos, esperando tão somente a oportunidade para ter em que se justificar.
O que era uma vinha, cujos frutos se eternizavam ao serem processados e transformados em vinho para alegrar a tantos, agora se tornava numa horta cujo objetivo seria o de saciar necessidades imediatas e o capricho de um rei ensandecido e insensato. Cultivar uma vinha é sempre mais trabalhoso. Há que se esperar, esperar e esperar, até que as uvas brotem. Uma vez colhidas, terão que ser pisadas para a extração do mosto, e em seguida, colocadas para fermentar até que surja o bom e desejável vinho. Já a horta é para quem tem pressa e almeja resultados imediatos, e que para tal, é capaz até de sacrificar a honra, a lealdade, a amizade, e o compromisso um dia assumido diante de Deus e dos homens.
* Baseado em fatos reais relatados em 1 Reis 21:7-15
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
GUERRAS ORDENADAS POR DEUS: ENTENDENDO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS
Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás a paz.
E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás.
E o Senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.
Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.
Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações.
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus. (Deuteronômio 20:10-18)
Guerra! A Bíblia, no Antigo Testamento, traz o registro de inúmeras batalhadas travadas pelo povo de Deus, por Israel, sob o comando de Deus. Podemos inferir, com base nisso, que Deus apóia a guerra? Ou que o cristão deve pegar em armas para defender-se? É um tema sério, que precisamos analisar sob diversas perspectivas.
Longe da pretensão de querer esgotar o assunto, proponho a seguinte análise.
I. DEUS É DEUS DE AMOR E DE MUITA LONGANIMIDADE, MAS DE JUSTIÇA TAMBÉM.
Inicialmente, note que o mesmo Deus que comandou Israel como General Supremo no Antigo Testamento, também deixou claro que Ele nunca teve prazer em nada disso. O texto de Ezequiel assim descreve o sentimento de Deus para com a morte de ímpios: "Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei" (Ezequiel 18:23,32). Deus diz claramente que não deseja e nem tem prazer na morte de ímpios, ou seja, o sentimento Dele é de desprazer, de tristeza, de insatisfação com isso. Os sentimentos de Deus para com a morte de pessoas como consequência do pecado NUNCA serão o de prazer ou felicidade. O Deus da Bíblia, a quem João nos diz que é Amor, não é de forma alguma um sádico. A Bíblia, da criação à nova criação, revela um Deus que é santo, justo e bom. Deus tem bons planos para o mundo que ele fez. Seu caráter divino é revelado com precisão e perfeição pela sua reconciliação "todas as coisas" para si mesmo em e através de Jesus (Colossenses 1: 15-20).
Todas essas descrições de Deus descrevem-no como inabalável na retribuição ao mal, embora Ele não tenha deleite, também inabalável em amor e encorajamento em direção àqueles corações que estão voltados para Ele. O desejo óbvio de Deus é que os pecadores se arrependam e vivam. Deus leva ao limite máximo a Sua paciência, aguardando que os pecadores se convertam para só em último caso, depois de todas as oportunidades de arrependimento esgotarem, executar Seu justo juízo. Ele faz isso por amar o homem, mesmo o pior dos pecadores. Foi assim que Ele lidou com os povos cananeus na época do Antigo Testamento e é assim que Ele lida com cada pessoa, povo, tribo, língua e nação no Novo Testamento. Observe que Deus ordenou guerra contra Canaãs somente após 400 anos de espera para seu pecado atingir "a medida completa" (Gênesis 15:16). Isto é, Deus não puniu os cananeus pelo pecado imediatamente - sua misericórdia se prolongou por muito tempo, porque sua compaixão e graça são longas. E se os cananeus se tivessem voltado para Deus, eles seriam salvos e poupados. A história de Raabe fornece evidências para isso (Josué 2). Ela é salva por causa de sua fé em Deus, apesar do fato de ser prostituta e cananéia. Mesmo a história de Raabe não é única no Antigo Testamento, contradizendo o argumento de que o Deus bíblico é xenófobo ou um "purificador étnico": Jetro, o midianita, é trazido para o rebanho de Israel em sua fé (Êxodo 18) e Rute, a moabita, é claramente trazida para o rebanho de Israel por causa de sua fé em Deus (Rute 1). Os filhos de José e de Moisés são também de etnia mista, trazidos para a família de Deus.
Acrescente-se aqui que é dito nos textos judaicos (o Talmude) que quando os anjos quiseram recitar uma canção de louvor quando o Mar Vermelho cobriu os egípcios, Deus os repreendeu, uma vez que Ele não se regozija com a queda dos perversos: “Como podem cantar quando meu povo está morrendo?” (Talmude, Tratado Sinédrio, 39b). O que Deus estava dizendo aos anjos era que, em certo sentido, aquele não era um dia feliz. Ele não criara os egípcios para o mal; no entanto, por eles terem escolhido o mal, era necessário agora erradicá-lo. (fonte: http://www.aish.com/ci/s/When_Evil_Falls.html)
II. A REALIDADE MORAL DAS CIDADES-ESTADO CANANÉIAS.
Precisamos também ver essas terríveis retribuições em seu cenário histórico. A disseminação da maldade era tão penetrante que a imoralidade, a degradação e a barbárie invadiram todas as facetas da vida. As crianças eram sacrificadas aos deuses pagãos em rituais com requintes de crueldade. Nos templos cananeus havia prostitutas masculinas e femininas (homens e mulheres “sagrados”) e toda sorte de excessos sexuais eram praticados (orgias, bestialismos, sodomias, etc.). Acreditava-se que esses rituais faziam prosperar, de alguma forma, as colheitas e o gado. As mulheres, na adoração aos falsos deuses cananeus, mantinham relações sexuais com os "prostitutos cultuais" buscando deles engravidarem; quando homens, esses mesmos prostitutos se submetiam a penetração anal. As sacerdotisas prostitutas que se autoconsagravam à deidade não tinham a permissão de engravidarem, assim se submetiam também, assim como seus equivalentes masculinos no sacerdócio, à penetração anal. Os adoradores masculinos que penetravam nos sacerdotes e nas sacerdotisas acreditavam que se uniam com a própria deusa.
Em 1921, o maior cemitério de crianças sacrificadas no antigo Oriente Próximo foi descoberto em Cartago. Está bem estabelecido que esse rito de sacrifício infantil originou-se na Fenícia, o vizinho do norte da antiga Israel, e foi levado a Cartago por seus colonizadores fenícios. Centenas de urnas funerárias cheias de ossos cremados de bebês, a maioria recém-nascidos e de algumas crianças até os seis anos de idade, bem como animais foram descobertos em Cartago. (cf. WHITE, Andrew. Abortion and the Ancient Practice of Child Sacrifice. Journal of Biblical Ethics in Medicine, v. 1, n. 2, p. 27, 2003.)
O infanticídio era uma prática comum. Em Deuteronômio 12:31 diz-se dos habitantes de Canaã que "eles até queimam seus filhos e suas filhas no fogo para seus deuses" (2 Rs 3:27). A adoração ao divindade pagã chamada Moloque envolvia esse tipo de ritual. Acredita-se que os ídolos de Moloque eram estátuas de metal gigantes de um homem com a cabeça de um touro. Cada imagem tinha um buraco no abdômen e possivelmente braços estendidos que faziam uma espécie de rampa ao buraco. Um incêndio era acendido em ou em torno da estátua. Os bebês eram colocados nos braços ou no buraco da estátua. Quando um casal sacrificava o seu primogênito, eles acreditavam que Moloque iria assegurar a prosperidade financeira para a família e para as crianças futuras.
A adoração de ídolos era abundante e a sociedade totalmente contaminada. Não havia a conceituação entre bem e mal, entre certo e errado. Tudo era permitido. Hoje perdemos a distinção entre entre o bem e o mal. A tolerância é apresentada como o grande valor religioso. De fato, a tolerância à diversidade é um alto valor cristão, mas hoje em dia a tolerância é entendida como a virtude de aceitar quase todo comportamento sob o sol. Vale tudo - em nome da tolerância! Um resplandecente relativismo moral é o resultado, e as crianças crescem com cada vez menos absolutos morais para guiá-las. Raramente ouvimos o termo pecado, mas ao invés disso, uma dúzia de palavras mais brandas são empregadas. Certamente o Senhor não tolerará essa abominação à sua santidade para sempre. Jesus é cristalino sobre o castigo dos malfeitores, pois no dia do juízo Deus dirá aos malfeitores: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Nossa sociedade não se importa muito em ouvir sobre a dor e a punição, e prefere o Jesus manso e moderado de alguns escritores contemporâneos.
Acrescente a esses pecados outros, como a crueldade e opressão com os mais fracos (como os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, os pobres, os inválidos, os doentes, etc.), a exploração da miséria econômica gerando mais miséria em todas as áreas da vida humana e o enriquecimento ilícito, por meio da inversão de valores e da corrupção, tudo justificado pela religião. Segundo o blog "Meu Scriptorium", "O exército passou a fazer parte da classe dominante das cidades. Os camponeses, que pagavam tributos em troca de proteção e de outros serviços, passaram a ser extorquidos, pagando uma quantia acima do valor justo para fins de acúmulo de riquezas e de luxo para a corte ou para que esta promovesse guerras de conquista [...] os camponeses passaram a ser cada vez mais espoliados, e para pagar os pesados tributos precisavam trabalhar muito, e, além disso, havia ainda a corvéia, isto é, o trabalho forçado e sem remuneração nas terras do rei e em obras públicas como aquedutos, estradas, cidades, armazéns, palácios, templos, etc." (fonte: https://meuscriptorium.wordpress.com/2010/08/24/condicao-social-e-politica-da-canaa-pre-israelita/)
Isso acabou enchendo o "cálice" da ira de Deus e ensejando o Juízo para aqueles povos. E, como dito, Deus usou Israel como instrumento desse Juízo. Vale ressaltar que a vitória de Israel nessas batalhas só era alcançada por causa da intervenção da parte de Deus. É importante ressaltar que Deus permitiu que Seu povo também sofresse derrota diante das nações inimigas quando eles, que deveriam ser exemplos para outras nações, passaram a praticar o mesmo pecado que elas (Isaías cap. 1).
III. GUERRA: PROTEÇÃO DE DEUS A UM POVO QUE NÃO ERA NADA. NEM POVO.
No Antigo Testamento, Deus luta por Israel para garantir sua terra para seu povo, para que seu plano de redenção possa se concretizar. Para garantir que Seu povo sobreviva, um bando de escravos que sequer possuíam noções elementares de saúde pública e vida em sociedade, diante de nações já estabelecidas e bem equipadas e treinadas na arte de guerra. Muito tempo depois de sua introdução em Canaã, Israel ainda sofreu sob a superioridade dos "carros de ferro" dos cananeus.
Por causa da superioridade militar, que as armas de ferro davam aos cananeus, é que os hebreus se queixavam a Josué de não poder tomar-lhes as cidades: "A montanha não nos é suficiente; todos os cananeus, que habitam a planície, possuem carros de ferro, tanto os de Bet-San e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael. Então Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manasses: "Tu és um povo numeroso e tua força é muita; não terás só uma parte, antes, terás a montanha, cuja floresta desbravarás, e seus limites pertencer-te-ão. Expulsarás os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e da sua força" (Jos,17f 16-18). Mais tarde, dir-se-á que Yabin, rei cananeu de Hazor, possuía um exército de 900 carros de ferro (Jz 4.3).
Aquelas nações cananéias eram "mais fortes e mais numerosas" que o povo de Israel (Dt 7.1). Sem a ajuda de Deus, o povo liberto do Egito seria facilmente subjugado e novamente escravizado pelos cananeus com toda certeza. Note que o povo de Israel recém saído do Egito não era grande coisa, numericamente falando: "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos" (Dt 7.7). Eles não tinham mérito, grandeza, riqueza, poderio ou renome.
Como já vimos, os cananeus eram muito superiores em tudo ao povo escolhido de Deus, quer na esfera militar, quer na esfera social (artes, comércio, arquitetura, etc.). Tirá-los do Egito para deixá-los desprotegidos era o mesmo que condená-los a morte. Ao contrário, Deus os havia removido do Egito e seria o Guarda de Israel em todos os momentos, mesmo naqueles que eles fizeram por merecer o contrário. Pedir que Deus não proteja Seu povo, ao qual Ele amou e ama, é o mesmo que pedir a um pai ou a uma mãe que não defenda e proteja o filho indefeso que gerou.
IV. GUERRA NO NOVO TESTAMENTO: BATALHA ESPIRITUAL CONTRA SERES ESPIRITUAIS.
Essas guerras foram travadas em um determinado momento da história de Israel e não devem ser repetidas pela Igreja nem ser justificadas por quaisquer povos no mundo atual. Embora alguns tenham usado o material da "guerra divina" no Antigo Testamento como base para a máquina de guerra (especialmente durante a colonização das Américas), tais aplicações do material bíblico simplesmente não se harmonizam com a história das Escrituras. Esse tipo de guerra era particular para Israel quando se mudou para a terra de Canaã. Para o cristão, não há lugar algum para pegar em armas à maneira de Israel para conquistar uma terra.
No ensinamento de Jesus, que é uma revitalização da lei do Antigo Testamento, a tarefa do povo do Reino de Deus é amar seus "inimigos" (incluindo as nações inimigas) e servi-los com as boas novas do Reino (Mateus 5: 43-8, 28: 18-20). O livro de Efésios ensina poderosamente que, por causa da vitória de Deus em Cristo, o cristão não guerreia nem por terra nem por lugar no mundo. O mundo inteiro está sob a autoridade de Cristo (Mateus 28:18), e assim o mundo é do Senhor. Onde quer que um cristão viva no mundo de Deus, ele ou ela se envolve em uma batalha espiritual contra os governantes cósmicos que inutilmente promovem a guerra contra a vitória de Deus em Cristo (Efésios 5: 1-9, 6: 10-18). A "guerra" cristã envolve aprender a viver corretamente o triunfo que Deus proveu em Cristo e em Seu Reino. Esta instrução subversiva em Efésios revela que o Reino de Deus é e será estabelecido não através da coerção e ou dominação, mas através do amor auto-sacrificial, à maneira de Cristo.
As guerras ditas em "nome de Deus" na era cristã não possuem respaldo nenhum da parte de Deus e por Ele nunca foram ordenadas. Cruzadas, Inquisição, Holocausto, etc. não passam da simples materialização da extrema malignidade humana, que para cumprir seus mais podres e sórdidos desejos é capaz de até mesmo justificar seus atos mais cruéis como sendo "da parte de Deus". Argumentar em termos de similaridade que essas aberrações modernas tem respaldo no Antigo Testamento demonstra total ignorância quanto aos processos históricos e espirituais tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento. A história da revelação de Deus ao homem se passa em cenários humanos, não sendo produto que imaginações idealizadoras humanas; o Deus que se revela faz isso a partir da perspectiva histórica, de forma gradual.
A bandeira de Cristo jamais será a mesma que Constantino adotou. A cruz não é instrumento de conquista de outras nações, nem de "conversões forçadas". A cruz é antes local de renúncia pessoal, de rendição, de humilhação, de vergonha e de dor. Local de morte, pela qual cada cristão passou um dia e deverá obrigatoriamente passar todos os dias de sua vida, "matando" o seu eu com seus pecados pessoais, de forma a viver a nova vida de Deus em Cristo. A bandeira de Cristo é a bandeira do kenosis, do auto-esvaziamento de si mesmo: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8).
V. E SOBRE AS GUERRAS MODERNAS?
E sobre as guerras, hoje? É correto um cristão "pegar em armas" para defender seu país? Note que nesse caso estamos nos referindo a outro assunto: não se trata de guerras religiosas, ou guerras com viés e ideologia religiosa ("em nome de Deus"); tratam-se de guerras sócio-políticas e econômicas. Sobre estas guerras "não-religiosas, Norman L. Geisler comenta: "A guerra em defesa dos inocentes não é assassinato. Uma guerra contra um agressor injusto não é assassinato. Deus, às vezes, ordena que os homens usem a espada para resistir aos homens maus. O militar não desempenha uma função má (Lc 3.14)". Vale dizer que há uma guerra urbana sendo travada em várias capitais mundiais entre a polícia e grupos de meliantes. Nesse caso, as forças policiais são agentes da lei e têm a função estatal de proteger os inocentes, constituindo-se no braço do Estado nessa função. É a isso que se refere o apóstolo Paulo em Romanos 13: há um povo e um Estado (a potestade superior); a função do Estado é defender seu povo e para isso ele (o Estado, não o povo) faz uso da espada. O Estado é, assim, "ministro" (servo) "de Deus para o nosso bem". Quando o mal é praticado, esse ministro de Deus traz a espada (note que a espada não é trazida à debalde, isso é, à-toa).
Quando mais próximo do fim dos tempos, mais guerras e rumores de guerras surgirão. O ódio crescerá entre as pessoas e os povos, haverá muitas traições e escândalos. O amor se esfriará, enquanto assistiremos a vertiginosa escalada da violência em todas as esferas da sociedade e do mundo modernos. O pecado será intensificado e os limites éticos e morais serão removidos, mesmo na esfera legal. Isso é inevitável. Nenhum governante humano poderá impedir ou reverter esse processo, mesmo que ele seja "cristão" e cheio de "boas intenções e idéias". O mal no mundo não está ligado a partidos ou ideologias políticas, está ligado ao homem independentemente da ideologia ou religião que professe ou da condição social ou posição que possua.
Obviamente que essas guerras não são o ideal de Deus para a vida humana sobre a Terra. Deus várias vezes deixou isso claríssimo no Antigo Testamento; no Novo Testamento escancarou ainda mais essa verdade por meio do Seu Filho. Deus nos criou para vivermos no Paraíso terrestre, mas nós concedemos ao diabo o "direito" de agir na Terra e trazer todo o inferno com ele. Haverá, contudo, um dia onde os homens não aprenderão mais a guerra e as armas de guerras serão convertidas em instrumentos agrícolas: "E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse." (Mq 4.3,4)
E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás.
E o Senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.
Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.
Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações.
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus. (Deuteronômio 20:10-18)
Guerra! A Bíblia, no Antigo Testamento, traz o registro de inúmeras batalhadas travadas pelo povo de Deus, por Israel, sob o comando de Deus. Podemos inferir, com base nisso, que Deus apóia a guerra? Ou que o cristão deve pegar em armas para defender-se? É um tema sério, que precisamos analisar sob diversas perspectivas.
Longe da pretensão de querer esgotar o assunto, proponho a seguinte análise.
I. DEUS É DEUS DE AMOR E DE MUITA LONGANIMIDADE, MAS DE JUSTIÇA TAMBÉM.
Inicialmente, note que o mesmo Deus que comandou Israel como General Supremo no Antigo Testamento, também deixou claro que Ele nunca teve prazer em nada disso. O texto de Ezequiel assim descreve o sentimento de Deus para com a morte de ímpios: "Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei" (Ezequiel 18:23,32). Deus diz claramente que não deseja e nem tem prazer na morte de ímpios, ou seja, o sentimento Dele é de desprazer, de tristeza, de insatisfação com isso. Os sentimentos de Deus para com a morte de pessoas como consequência do pecado NUNCA serão o de prazer ou felicidade. O Deus da Bíblia, a quem João nos diz que é Amor, não é de forma alguma um sádico. A Bíblia, da criação à nova criação, revela um Deus que é santo, justo e bom. Deus tem bons planos para o mundo que ele fez. Seu caráter divino é revelado com precisão e perfeição pela sua reconciliação "todas as coisas" para si mesmo em e através de Jesus (Colossenses 1: 15-20).
Todas essas descrições de Deus descrevem-no como inabalável na retribuição ao mal, embora Ele não tenha deleite, também inabalável em amor e encorajamento em direção àqueles corações que estão voltados para Ele. O desejo óbvio de Deus é que os pecadores se arrependam e vivam. Deus leva ao limite máximo a Sua paciência, aguardando que os pecadores se convertam para só em último caso, depois de todas as oportunidades de arrependimento esgotarem, executar Seu justo juízo. Ele faz isso por amar o homem, mesmo o pior dos pecadores. Foi assim que Ele lidou com os povos cananeus na época do Antigo Testamento e é assim que Ele lida com cada pessoa, povo, tribo, língua e nação no Novo Testamento. Observe que Deus ordenou guerra contra Canaãs somente após 400 anos de espera para seu pecado atingir "a medida completa" (Gênesis 15:16). Isto é, Deus não puniu os cananeus pelo pecado imediatamente - sua misericórdia se prolongou por muito tempo, porque sua compaixão e graça são longas. E se os cananeus se tivessem voltado para Deus, eles seriam salvos e poupados. A história de Raabe fornece evidências para isso (Josué 2). Ela é salva por causa de sua fé em Deus, apesar do fato de ser prostituta e cananéia. Mesmo a história de Raabe não é única no Antigo Testamento, contradizendo o argumento de que o Deus bíblico é xenófobo ou um "purificador étnico": Jetro, o midianita, é trazido para o rebanho de Israel em sua fé (Êxodo 18) e Rute, a moabita, é claramente trazida para o rebanho de Israel por causa de sua fé em Deus (Rute 1). Os filhos de José e de Moisés são também de etnia mista, trazidos para a família de Deus.
Acrescente-se aqui que é dito nos textos judaicos (o Talmude) que quando os anjos quiseram recitar uma canção de louvor quando o Mar Vermelho cobriu os egípcios, Deus os repreendeu, uma vez que Ele não se regozija com a queda dos perversos: “Como podem cantar quando meu povo está morrendo?” (Talmude, Tratado Sinédrio, 39b). O que Deus estava dizendo aos anjos era que, em certo sentido, aquele não era um dia feliz. Ele não criara os egípcios para o mal; no entanto, por eles terem escolhido o mal, era necessário agora erradicá-lo. (fonte: http://www.aish.com/ci/s/When_Evil_Falls.html)
II. A REALIDADE MORAL DAS CIDADES-ESTADO CANANÉIAS.
Precisamos também ver essas terríveis retribuições em seu cenário histórico. A disseminação da maldade era tão penetrante que a imoralidade, a degradação e a barbárie invadiram todas as facetas da vida. As crianças eram sacrificadas aos deuses pagãos em rituais com requintes de crueldade. Nos templos cananeus havia prostitutas masculinas e femininas (homens e mulheres “sagrados”) e toda sorte de excessos sexuais eram praticados (orgias, bestialismos, sodomias, etc.). Acreditava-se que esses rituais faziam prosperar, de alguma forma, as colheitas e o gado. As mulheres, na adoração aos falsos deuses cananeus, mantinham relações sexuais com os "prostitutos cultuais" buscando deles engravidarem; quando homens, esses mesmos prostitutos se submetiam a penetração anal. As sacerdotisas prostitutas que se autoconsagravam à deidade não tinham a permissão de engravidarem, assim se submetiam também, assim como seus equivalentes masculinos no sacerdócio, à penetração anal. Os adoradores masculinos que penetravam nos sacerdotes e nas sacerdotisas acreditavam que se uniam com a própria deusa.
Em 1921, o maior cemitério de crianças sacrificadas no antigo Oriente Próximo foi descoberto em Cartago. Está bem estabelecido que esse rito de sacrifício infantil originou-se na Fenícia, o vizinho do norte da antiga Israel, e foi levado a Cartago por seus colonizadores fenícios. Centenas de urnas funerárias cheias de ossos cremados de bebês, a maioria recém-nascidos e de algumas crianças até os seis anos de idade, bem como animais foram descobertos em Cartago. (cf. WHITE, Andrew. Abortion and the Ancient Practice of Child Sacrifice. Journal of Biblical Ethics in Medicine, v. 1, n. 2, p. 27, 2003.)
O infanticídio era uma prática comum. Em Deuteronômio 12:31 diz-se dos habitantes de Canaã que "eles até queimam seus filhos e suas filhas no fogo para seus deuses" (2 Rs 3:27). A adoração ao divindade pagã chamada Moloque envolvia esse tipo de ritual. Acredita-se que os ídolos de Moloque eram estátuas de metal gigantes de um homem com a cabeça de um touro. Cada imagem tinha um buraco no abdômen e possivelmente braços estendidos que faziam uma espécie de rampa ao buraco. Um incêndio era acendido em ou em torno da estátua. Os bebês eram colocados nos braços ou no buraco da estátua. Quando um casal sacrificava o seu primogênito, eles acreditavam que Moloque iria assegurar a prosperidade financeira para a família e para as crianças futuras.
A adoração de ídolos era abundante e a sociedade totalmente contaminada. Não havia a conceituação entre bem e mal, entre certo e errado. Tudo era permitido. Hoje perdemos a distinção entre entre o bem e o mal. A tolerância é apresentada como o grande valor religioso. De fato, a tolerância à diversidade é um alto valor cristão, mas hoje em dia a tolerância é entendida como a virtude de aceitar quase todo comportamento sob o sol. Vale tudo - em nome da tolerância! Um resplandecente relativismo moral é o resultado, e as crianças crescem com cada vez menos absolutos morais para guiá-las. Raramente ouvimos o termo pecado, mas ao invés disso, uma dúzia de palavras mais brandas são empregadas. Certamente o Senhor não tolerará essa abominação à sua santidade para sempre. Jesus é cristalino sobre o castigo dos malfeitores, pois no dia do juízo Deus dirá aos malfeitores: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Nossa sociedade não se importa muito em ouvir sobre a dor e a punição, e prefere o Jesus manso e moderado de alguns escritores contemporâneos.
Acrescente a esses pecados outros, como a crueldade e opressão com os mais fracos (como os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, os pobres, os inválidos, os doentes, etc.), a exploração da miséria econômica gerando mais miséria em todas as áreas da vida humana e o enriquecimento ilícito, por meio da inversão de valores e da corrupção, tudo justificado pela religião. Segundo o blog "Meu Scriptorium", "O exército passou a fazer parte da classe dominante das cidades. Os camponeses, que pagavam tributos em troca de proteção e de outros serviços, passaram a ser extorquidos, pagando uma quantia acima do valor justo para fins de acúmulo de riquezas e de luxo para a corte ou para que esta promovesse guerras de conquista [...] os camponeses passaram a ser cada vez mais espoliados, e para pagar os pesados tributos precisavam trabalhar muito, e, além disso, havia ainda a corvéia, isto é, o trabalho forçado e sem remuneração nas terras do rei e em obras públicas como aquedutos, estradas, cidades, armazéns, palácios, templos, etc." (fonte: https://meuscriptorium.wordpress.com/2010/08/24/condicao-social-e-politica-da-canaa-pre-israelita/)
Isso acabou enchendo o "cálice" da ira de Deus e ensejando o Juízo para aqueles povos. E, como dito, Deus usou Israel como instrumento desse Juízo. Vale ressaltar que a vitória de Israel nessas batalhas só era alcançada por causa da intervenção da parte de Deus. É importante ressaltar que Deus permitiu que Seu povo também sofresse derrota diante das nações inimigas quando eles, que deveriam ser exemplos para outras nações, passaram a praticar o mesmo pecado que elas (Isaías cap. 1).
III. GUERRA: PROTEÇÃO DE DEUS A UM POVO QUE NÃO ERA NADA. NEM POVO.
No Antigo Testamento, Deus luta por Israel para garantir sua terra para seu povo, para que seu plano de redenção possa se concretizar. Para garantir que Seu povo sobreviva, um bando de escravos que sequer possuíam noções elementares de saúde pública e vida em sociedade, diante de nações já estabelecidas e bem equipadas e treinadas na arte de guerra. Muito tempo depois de sua introdução em Canaã, Israel ainda sofreu sob a superioridade dos "carros de ferro" dos cananeus.
Por causa da superioridade militar, que as armas de ferro davam aos cananeus, é que os hebreus se queixavam a Josué de não poder tomar-lhes as cidades: "A montanha não nos é suficiente; todos os cananeus, que habitam a planície, possuem carros de ferro, tanto os de Bet-San e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael. Então Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manasses: "Tu és um povo numeroso e tua força é muita; não terás só uma parte, antes, terás a montanha, cuja floresta desbravarás, e seus limites pertencer-te-ão. Expulsarás os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e da sua força" (Jos,17f 16-18). Mais tarde, dir-se-á que Yabin, rei cananeu de Hazor, possuía um exército de 900 carros de ferro (Jz 4.3).
Aquelas nações cananéias eram "mais fortes e mais numerosas" que o povo de Israel (Dt 7.1). Sem a ajuda de Deus, o povo liberto do Egito seria facilmente subjugado e novamente escravizado pelos cananeus com toda certeza. Note que o povo de Israel recém saído do Egito não era grande coisa, numericamente falando: "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos" (Dt 7.7). Eles não tinham mérito, grandeza, riqueza, poderio ou renome.
Como já vimos, os cananeus eram muito superiores em tudo ao povo escolhido de Deus, quer na esfera militar, quer na esfera social (artes, comércio, arquitetura, etc.). Tirá-los do Egito para deixá-los desprotegidos era o mesmo que condená-los a morte. Ao contrário, Deus os havia removido do Egito e seria o Guarda de Israel em todos os momentos, mesmo naqueles que eles fizeram por merecer o contrário. Pedir que Deus não proteja Seu povo, ao qual Ele amou e ama, é o mesmo que pedir a um pai ou a uma mãe que não defenda e proteja o filho indefeso que gerou.
IV. GUERRA NO NOVO TESTAMENTO: BATALHA ESPIRITUAL CONTRA SERES ESPIRITUAIS.
Essas guerras foram travadas em um determinado momento da história de Israel e não devem ser repetidas pela Igreja nem ser justificadas por quaisquer povos no mundo atual. Embora alguns tenham usado o material da "guerra divina" no Antigo Testamento como base para a máquina de guerra (especialmente durante a colonização das Américas), tais aplicações do material bíblico simplesmente não se harmonizam com a história das Escrituras. Esse tipo de guerra era particular para Israel quando se mudou para a terra de Canaã. Para o cristão, não há lugar algum para pegar em armas à maneira de Israel para conquistar uma terra.
No ensinamento de Jesus, que é uma revitalização da lei do Antigo Testamento, a tarefa do povo do Reino de Deus é amar seus "inimigos" (incluindo as nações inimigas) e servi-los com as boas novas do Reino (Mateus 5: 43-8, 28: 18-20). O livro de Efésios ensina poderosamente que, por causa da vitória de Deus em Cristo, o cristão não guerreia nem por terra nem por lugar no mundo. O mundo inteiro está sob a autoridade de Cristo (Mateus 28:18), e assim o mundo é do Senhor. Onde quer que um cristão viva no mundo de Deus, ele ou ela se envolve em uma batalha espiritual contra os governantes cósmicos que inutilmente promovem a guerra contra a vitória de Deus em Cristo (Efésios 5: 1-9, 6: 10-18). A "guerra" cristã envolve aprender a viver corretamente o triunfo que Deus proveu em Cristo e em Seu Reino. Esta instrução subversiva em Efésios revela que o Reino de Deus é e será estabelecido não através da coerção e ou dominação, mas através do amor auto-sacrificial, à maneira de Cristo.
As guerras ditas em "nome de Deus" na era cristã não possuem respaldo nenhum da parte de Deus e por Ele nunca foram ordenadas. Cruzadas, Inquisição, Holocausto, etc. não passam da simples materialização da extrema malignidade humana, que para cumprir seus mais podres e sórdidos desejos é capaz de até mesmo justificar seus atos mais cruéis como sendo "da parte de Deus". Argumentar em termos de similaridade que essas aberrações modernas tem respaldo no Antigo Testamento demonstra total ignorância quanto aos processos históricos e espirituais tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento. A história da revelação de Deus ao homem se passa em cenários humanos, não sendo produto que imaginações idealizadoras humanas; o Deus que se revela faz isso a partir da perspectiva histórica, de forma gradual.
A bandeira de Cristo jamais será a mesma que Constantino adotou. A cruz não é instrumento de conquista de outras nações, nem de "conversões forçadas". A cruz é antes local de renúncia pessoal, de rendição, de humilhação, de vergonha e de dor. Local de morte, pela qual cada cristão passou um dia e deverá obrigatoriamente passar todos os dias de sua vida, "matando" o seu eu com seus pecados pessoais, de forma a viver a nova vida de Deus em Cristo. A bandeira de Cristo é a bandeira do kenosis, do auto-esvaziamento de si mesmo: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8).
V. E SOBRE AS GUERRAS MODERNAS?
E sobre as guerras, hoje? É correto um cristão "pegar em armas" para defender seu país? Note que nesse caso estamos nos referindo a outro assunto: não se trata de guerras religiosas, ou guerras com viés e ideologia religiosa ("em nome de Deus"); tratam-se de guerras sócio-políticas e econômicas. Sobre estas guerras "não-religiosas, Norman L. Geisler comenta: "A guerra em defesa dos inocentes não é assassinato. Uma guerra contra um agressor injusto não é assassinato. Deus, às vezes, ordena que os homens usem a espada para resistir aos homens maus. O militar não desempenha uma função má (Lc 3.14)". Vale dizer que há uma guerra urbana sendo travada em várias capitais mundiais entre a polícia e grupos de meliantes. Nesse caso, as forças policiais são agentes da lei e têm a função estatal de proteger os inocentes, constituindo-se no braço do Estado nessa função. É a isso que se refere o apóstolo Paulo em Romanos 13: há um povo e um Estado (a potestade superior); a função do Estado é defender seu povo e para isso ele (o Estado, não o povo) faz uso da espada. O Estado é, assim, "ministro" (servo) "de Deus para o nosso bem". Quando o mal é praticado, esse ministro de Deus traz a espada (note que a espada não é trazida à debalde, isso é, à-toa).
Quando mais próximo do fim dos tempos, mais guerras e rumores de guerras surgirão. O ódio crescerá entre as pessoas e os povos, haverá muitas traições e escândalos. O amor se esfriará, enquanto assistiremos a vertiginosa escalada da violência em todas as esferas da sociedade e do mundo modernos. O pecado será intensificado e os limites éticos e morais serão removidos, mesmo na esfera legal. Isso é inevitável. Nenhum governante humano poderá impedir ou reverter esse processo, mesmo que ele seja "cristão" e cheio de "boas intenções e idéias". O mal no mundo não está ligado a partidos ou ideologias políticas, está ligado ao homem independentemente da ideologia ou religião que professe ou da condição social ou posição que possua.
Obviamente que essas guerras não são o ideal de Deus para a vida humana sobre a Terra. Deus várias vezes deixou isso claríssimo no Antigo Testamento; no Novo Testamento escancarou ainda mais essa verdade por meio do Seu Filho. Deus nos criou para vivermos no Paraíso terrestre, mas nós concedemos ao diabo o "direito" de agir na Terra e trazer todo o inferno com ele. Haverá, contudo, um dia onde os homens não aprenderão mais a guerra e as armas de guerras serão convertidas em instrumentos agrícolas: "E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse." (Mq 4.3,4)
domingo, 16 de dezembro de 2018
A PERIGOSA RELAÇÃO DE PODER NA RELIGIÃO: JESUS É NOSSA LIBERDADE TOTAL
"Uma relação de poder se forma no momento em que alguém deseja algo que depende da vontade de outro. Esse desejo estabelece uma relação de dependência de indíviduos ou grupos em relação a outros. Quanto maior a dependência de A em relação a B, maior o poder de B em relação a A. Essa dependência aumenta à medida que o controle de B sobre o que é desejado por A aumenta". (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_de_poder)
Poder e dependência caminham juntos. Como descrito acima, a relação de poder surge quando há uma relação de dependência; quanto maior a dependência, mais intensa é a relação de poder. Uma das formas de poder é o poder coercitivo, quando há imposição de vontade por ameaças e punições. Por meio do poder coercitivo a relação de dependência é assegurada e fortalecida, criando-se um ambiente de medo da punição asseverada por meio de ameaças pelo "dominador".
Desde os priscas eras, as religiões são utilizadas como instrumento de dominação, onde as relações em seu âmbito dão-se, via de regra, por meio do exercício de poder de um indivíduo tido como "especial" sobre um conjunto de outros indivíduos adeptos àquela religião. Esse "indivíduo especial", ser humano como outro qualquer, é assim visto pelos demais por seus "atributos sobrenaturais" que lhe conferem uma espécie de "garantia divina" de suas ações; afinal, esta pessoa é tida como "divinamente autorizada" naquilo que fizer, quer para o bem de seus "discípulos"/"irmãos" quer para o mal destes. Esse "líder reconhecido e autorizado por Deus", com autenticidade assegurada por sua "performance sobrenatural", pode "abençoar" ou "amaldiçoar", pode "trazer a cura" ou "trazer a doença" sobre aqueles que o seguem segundo a sua conveniência. Isso o torna "inquestionável", "acima de qualquer suspeita" naquilo que fala e faz.
Muitos, infelizmente, por suas condições pessoais de saúde física e/ou emocional, ou mesmo pelo interesse em servir a Deus, se tornam presas fáceis desses "líderes místicos". Pessoas com vários tipos de doenças, muitas desenganadas pela medicina secular, ou mesmo deprimidas por qualquer razão, acabam procurando nas religiões a solução para seus problemas. Há aquelas que, por outro lado, tem um desejo de se relacionar com Deus de alguma maneira e acabam procurando uma determinada religião para aprenderem como fazer isso. Pessoas que geralmente tem experiências sobrenaturais (nas religiões espíritas, diz-se possuírem uma "mediunidade"; no cristianismo, "um chamado"; no hinduísmo/budismo, "desenvolver a espiritualidade", etc.) e querem entender o que vivenciaram com "mestres" ou mesmo que desejam se tornar "mestres" daquela religião - querem se tornar pais/mães-de santo, médiuns, pastores, sacerdotes, padres, médiuns, etc., que buscam na religião um refúgio, proteção, apoio, respostas e orientação. É nesse ponto onde se tem início a construção da relação de poder e de dependência a qual pode acabar em várias formas de abuso; esse abuso é frequentemente mantido em silêncio por exercício do poder coercitivo.
Uma das formas de abuso relatada na literatura é o abuso sexual. Outra é o assédio sexual. Tanto o assédio quanto o abuso estão presentes em várias religiões diferentes, sob diversas justificativas ideológicas. Relativo ao catolicismo, segundo DOYLE (2003) desde 1984 o abuso sexual por parte do clero católico vem atraindo a atenção do público. O abuso é minimizado de maneira geral pelas afirmações que inicialmente negam sua ocorrência, ou desqualificam a vítima perante o agressor e à instituição na qual exerce a liderança religiosa. Há relatos, acusações (verídicas e inverídicas) e casos de abuso sexual cometidos por pais-de-santo, pastores, monges, etc., incluindo na crônica jornalística: o do pastor (fonte: https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-abusa-de-cinco-adolescentes-e-diz-que-foi-ordem-de-anjo-duas-estao-gravidas-do-milagre.html), o do padre, em Goiás (fonte: https://noticias.r7.com/cidades/padre-abusa-de-menor-deficiente-em-sauna-de-go-06062016), do monge budista chinês (fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/08/monge-budista-e-investigado-por-ma-conduta-sexual-na-china.shtml) e por aí vai.
A notícia jornalística mais recente é a do médium espírita conhecido como João de Deus, da cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, acusado por mais de 300 mulheres que afirmam terem sido vítimas de abuso sexual por parte do religioso durante tratamentos espirituais (fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/14/justica-decreta-prisao-de-joao-de-deus-apos-denuncias-de-abusos-sexuais-em-abadiania.ghtml). O médium teve sua prisão preventiva decretada pela justiça goianiense. O grande desafio será provar que houve abuso, na hipótese de realmente ter acontecido tal coisa (https://odia.ig.com.br/brasil/2018/12/5603133-investigacao-sobre-joao-de-deus-se-concentra-em-15-casos-diz-delegado.html). Se ele é ou não culpado das acusações, quem vai decidir é a justiça brasileira. E acima dela, a divina.
O fato é que quando o abuso realmente acontece, infelizmente muitas vítimas de abusadores optam em não denunciar o abuso sofrido. Muitas fazem isso por medo de represálias por conta das ameaças que os religiosos abusadores fazem. Observe que a relação de poder e dependência pode ser opressora para o dependente; por sua vez, quem detém o poder pode usá-lo como arma ao seu lado. Imagine o seguinte caso hipotético, com foco na religião qualquer que seja ela): uma pessoa qualquer teoricamente usada por Deus para fazer milagres e que é, por isso mesmo, "idolatrada" pelos seus seguidores, tida como infalível. Na mente dos seguidores, esse líder tem muito poder espiritual. Agora, se esse líder, usando-se da percepção que seus seguidores tem dele, começa a fazer ameaças (como "reverter a cura realizada", ou "colocar doenças em quem não tem" ou "destruir a vida da pessoa" ou "amaldiçoar" ou "matar a família") para encobrir algum erro conhecido, capaz de denegrir sua imagem, seus seguidores crerão nele! Isso infelizmente é muito comum de acontecer em círculos religiosos, especialmente aqueles excessivamente místicos, cheios de rituais - "pirotécnicos" ou não, "individualizados" ou "gerais" - ditados pelo líder religioso! Isso pode se replicar não só na religião, mas em qualquer relação de poder e dependência.
Fico aqui pensando que Deus está no céu olhando para isso tudo e não está gostando do que vê. Deus que está tendo Seu santo nome associado a uma infinidade de erros, crimes, pecados, mandos e desmandos, pelos mais diversos ditos "homens de deus", como se Ele fosse o autor ou o incentivador dessas coisas. Por certo, quem passa por um abuso sexual terá traumas por anos a fio, sem falar que a fé em Deus de quem passa por um abuso sexual cometido no âmbito da religião ficará abalada. Assim, quem comete este crime o faz tanto contra a vítima quanto contra Deus e ambos exigirão a justa punição do autor, cada um a seu tempo. A Bíblia Sagrada nos mostra que um dia Deus haverá de julgar toda a humanidade, cada um segundo as suas obras (Rm 2.6; Ap 20.12), quer sejam religiosas ou não, quer sejam pastores, padres, pais de santo, monges, médiuns ou qualquer outra denominação religiosa aplicável. Ninguém ficará de fora desse julgamento naquele dia, nem vivos nem mortos!
Para você, que frequenta uma religião, meu conselho é que você tenha muito cuidado! Independente da religião e do deus que professa, os líderes que ali estão são seres humanos que nada tem de divinos e que, portanto, estão sujeitos a cometerem abusos de toda a sorte, até mesmo os de cunho sexual. Um bom sinal que é hora de você colocar "suas barbas de molho" é quando o líder começa a fazer exigências pessoais descabidas, com ou sem ameaça de maldição (os famosos "sacrifícios" ou "votos de fé", como por exemplo fazer um trabalho espiritual que envolve elementos que você reconhece como errados). Se a "lâmpada" do seu "desconfiômetro" acender por qualquer razão, atenção! Deus tem bom-senso e criou o bom-senso em nós e por isso mesmo nada vai te obrigar a fazer que contrarie esse bom-senso.
Lembre-se: Deus não precisa que você dê nada a Ele! Pense: se Ele criou tudo, você acha que Ele realmente precisa de algo seu? Você acha que Ele vai mandar você sofrer qualquer tipo de abuso em Seu nome pelo líder religioso? Você acha que Deus quer isso para "provar sua fé"? Ou você acha que Deus vai mandar você ser massacrado pelo líder religioso? Ele criou você! Olhe o que Ele diz em Sua Palavra, a Bíblia: "Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miquéias 6:7,8) Viu o que Ele pede de você? Justiça, benignidade e humildade! O Deus que a Bíblia apresenta, querido(a) leitor(a), ama você! Ama ao ponto de ter enviado Seu Filho, Jesus, para morrer em Seu lugar! Isso mesmo: Deus, sabendo que você tinha que morrer por causa dos seus pecados, enviou Seu filho para ser seu substituto na morte! Hoje, crendo em Cristo, você não precisa morrer eternamente; só vai morrer uma única vez - a morte de todos os mortais, no seu corpo. Sua alma viverá, seu espírito Deus renovará e no seu corpo tudo novo se fará!
Saber que tendo a Cristo vou morrer uma única vez é fonte de consolo e segurança. Mesmo que a pessoa venha a ser portadora de alguma doença mortal - e que não seja curada por Deus com ou sem o uso da medicina - com Cristo, a morte dela será o fim de toda a dor e sofrimento no corpo físico e na alma. Todos nós queremos viver, Deus nos criou para a vida; porém, a morte já não assusta mais quando eu tenho a Cristo como Senhor e Salvador da minha vida. Com Ele, ainda que morto, viverá; o Senhor há de ressuscitar-me um dia: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" (João 11:25,26)
E mais: com Cristo, eu não preciso procurar líder religioso nenhum para ser curado, ou abençoado, ou prosperado. Primeiro porque Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens (I Tm 2.5), segundo porque em Cristo já fomos abençoados com todas as bençãos espirituais necessárias: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Efésios 1:3). E quanto as bênçãos materiais? Essas, Jesus garantiu que o Pai sabe o que nós precisamos para viver e o Pai é bondoso e misericordioso. Se for de Sua vontade, Ele dará; mas saiba que dando ou não dando tal bênção (como a cura), Ele continua te amando e um dia limpará dos seus olhos todas as lágrimas. Mesmo que seja difícil, Ele sempre nos ajudará a carregarmos nossa cruz!
Ter Jesus, portanto, é ter vida plena, vida em abundância! Vida livre e leve, sem o fardo religioso, sem um líder religioso ditador por me explorando e/ou abusando de mim. Não preciso apresentar sacrifícios de fé. Não preciso fazer campanhas ou peregrinações. Não preciso possuir ou carregar objetos consagrados. Não preciso de ritual nenhum. Adorar a Deus com Jesus é fácil e ao mesmo tempo difícil: fácil, porque não preciso de ritos nem músicas nem lugares especiais, difícil porque precisa ser em espírito e em verdade, do fundo do coração com amor a Ele.
Creia em Jesus! Ele disse: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (João 14:1-3) Ele não disse que te daria um lugar na religião, mas na casa do Pai, junto ao Pai e a Ele.
Pense nisso!
Que a Graça do Senhor Jesus e o Amor de Deus Pai seja contigo!
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Referências:
Poder e dependência caminham juntos. Como descrito acima, a relação de poder surge quando há uma relação de dependência; quanto maior a dependência, mais intensa é a relação de poder. Uma das formas de poder é o poder coercitivo, quando há imposição de vontade por ameaças e punições. Por meio do poder coercitivo a relação de dependência é assegurada e fortalecida, criando-se um ambiente de medo da punição asseverada por meio de ameaças pelo "dominador".
Desde os priscas eras, as religiões são utilizadas como instrumento de dominação, onde as relações em seu âmbito dão-se, via de regra, por meio do exercício de poder de um indivíduo tido como "especial" sobre um conjunto de outros indivíduos adeptos àquela religião. Esse "indivíduo especial", ser humano como outro qualquer, é assim visto pelos demais por seus "atributos sobrenaturais" que lhe conferem uma espécie de "garantia divina" de suas ações; afinal, esta pessoa é tida como "divinamente autorizada" naquilo que fizer, quer para o bem de seus "discípulos"/"irmãos" quer para o mal destes. Esse "líder reconhecido e autorizado por Deus", com autenticidade assegurada por sua "performance sobrenatural", pode "abençoar" ou "amaldiçoar", pode "trazer a cura" ou "trazer a doença" sobre aqueles que o seguem segundo a sua conveniência. Isso o torna "inquestionável", "acima de qualquer suspeita" naquilo que fala e faz.
Muitos, infelizmente, por suas condições pessoais de saúde física e/ou emocional, ou mesmo pelo interesse em servir a Deus, se tornam presas fáceis desses "líderes místicos". Pessoas com vários tipos de doenças, muitas desenganadas pela medicina secular, ou mesmo deprimidas por qualquer razão, acabam procurando nas religiões a solução para seus problemas. Há aquelas que, por outro lado, tem um desejo de se relacionar com Deus de alguma maneira e acabam procurando uma determinada religião para aprenderem como fazer isso. Pessoas que geralmente tem experiências sobrenaturais (nas religiões espíritas, diz-se possuírem uma "mediunidade"; no cristianismo, "um chamado"; no hinduísmo/budismo, "desenvolver a espiritualidade", etc.) e querem entender o que vivenciaram com "mestres" ou mesmo que desejam se tornar "mestres" daquela religião - querem se tornar pais/mães-de santo, médiuns, pastores, sacerdotes, padres, médiuns, etc., que buscam na religião um refúgio, proteção, apoio, respostas e orientação. É nesse ponto onde se tem início a construção da relação de poder e de dependência a qual pode acabar em várias formas de abuso; esse abuso é frequentemente mantido em silêncio por exercício do poder coercitivo.
Uma das formas de abuso relatada na literatura é o abuso sexual. Outra é o assédio sexual. Tanto o assédio quanto o abuso estão presentes em várias religiões diferentes, sob diversas justificativas ideológicas. Relativo ao catolicismo, segundo DOYLE (2003) desde 1984 o abuso sexual por parte do clero católico vem atraindo a atenção do público. O abuso é minimizado de maneira geral pelas afirmações que inicialmente negam sua ocorrência, ou desqualificam a vítima perante o agressor e à instituição na qual exerce a liderança religiosa. Há relatos, acusações (verídicas e inverídicas) e casos de abuso sexual cometidos por pais-de-santo, pastores, monges, etc., incluindo na crônica jornalística: o do pastor (fonte: https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-abusa-de-cinco-adolescentes-e-diz-que-foi-ordem-de-anjo-duas-estao-gravidas-do-milagre.html), o do padre, em Goiás (fonte: https://noticias.r7.com/cidades/padre-abusa-de-menor-deficiente-em-sauna-de-go-06062016), do monge budista chinês (fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/08/monge-budista-e-investigado-por-ma-conduta-sexual-na-china.shtml) e por aí vai.
A notícia jornalística mais recente é a do médium espírita conhecido como João de Deus, da cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, acusado por mais de 300 mulheres que afirmam terem sido vítimas de abuso sexual por parte do religioso durante tratamentos espirituais (fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/14/justica-decreta-prisao-de-joao-de-deus-apos-denuncias-de-abusos-sexuais-em-abadiania.ghtml). O médium teve sua prisão preventiva decretada pela justiça goianiense. O grande desafio será provar que houve abuso, na hipótese de realmente ter acontecido tal coisa (https://odia.ig.com.br/brasil/2018/12/5603133-investigacao-sobre-joao-de-deus-se-concentra-em-15-casos-diz-delegado.html). Se ele é ou não culpado das acusações, quem vai decidir é a justiça brasileira. E acima dela, a divina.
O fato é que quando o abuso realmente acontece, infelizmente muitas vítimas de abusadores optam em não denunciar o abuso sofrido. Muitas fazem isso por medo de represálias por conta das ameaças que os religiosos abusadores fazem. Observe que a relação de poder e dependência pode ser opressora para o dependente; por sua vez, quem detém o poder pode usá-lo como arma ao seu lado. Imagine o seguinte caso hipotético, com foco na religião qualquer que seja ela): uma pessoa qualquer teoricamente usada por Deus para fazer milagres e que é, por isso mesmo, "idolatrada" pelos seus seguidores, tida como infalível. Na mente dos seguidores, esse líder tem muito poder espiritual. Agora, se esse líder, usando-se da percepção que seus seguidores tem dele, começa a fazer ameaças (como "reverter a cura realizada", ou "colocar doenças em quem não tem" ou "destruir a vida da pessoa" ou "amaldiçoar" ou "matar a família") para encobrir algum erro conhecido, capaz de denegrir sua imagem, seus seguidores crerão nele! Isso infelizmente é muito comum de acontecer em círculos religiosos, especialmente aqueles excessivamente místicos, cheios de rituais - "pirotécnicos" ou não, "individualizados" ou "gerais" - ditados pelo líder religioso! Isso pode se replicar não só na religião, mas em qualquer relação de poder e dependência.
Fico aqui pensando que Deus está no céu olhando para isso tudo e não está gostando do que vê. Deus que está tendo Seu santo nome associado a uma infinidade de erros, crimes, pecados, mandos e desmandos, pelos mais diversos ditos "homens de deus", como se Ele fosse o autor ou o incentivador dessas coisas. Por certo, quem passa por um abuso sexual terá traumas por anos a fio, sem falar que a fé em Deus de quem passa por um abuso sexual cometido no âmbito da religião ficará abalada. Assim, quem comete este crime o faz tanto contra a vítima quanto contra Deus e ambos exigirão a justa punição do autor, cada um a seu tempo. A Bíblia Sagrada nos mostra que um dia Deus haverá de julgar toda a humanidade, cada um segundo as suas obras (Rm 2.6; Ap 20.12), quer sejam religiosas ou não, quer sejam pastores, padres, pais de santo, monges, médiuns ou qualquer outra denominação religiosa aplicável. Ninguém ficará de fora desse julgamento naquele dia, nem vivos nem mortos!
Para você, que frequenta uma religião, meu conselho é que você tenha muito cuidado! Independente da religião e do deus que professa, os líderes que ali estão são seres humanos que nada tem de divinos e que, portanto, estão sujeitos a cometerem abusos de toda a sorte, até mesmo os de cunho sexual. Um bom sinal que é hora de você colocar "suas barbas de molho" é quando o líder começa a fazer exigências pessoais descabidas, com ou sem ameaça de maldição (os famosos "sacrifícios" ou "votos de fé", como por exemplo fazer um trabalho espiritual que envolve elementos que você reconhece como errados). Se a "lâmpada" do seu "desconfiômetro" acender por qualquer razão, atenção! Deus tem bom-senso e criou o bom-senso em nós e por isso mesmo nada vai te obrigar a fazer que contrarie esse bom-senso.
Lembre-se: Deus não precisa que você dê nada a Ele! Pense: se Ele criou tudo, você acha que Ele realmente precisa de algo seu? Você acha que Ele vai mandar você sofrer qualquer tipo de abuso em Seu nome pelo líder religioso? Você acha que Deus quer isso para "provar sua fé"? Ou você acha que Deus vai mandar você ser massacrado pelo líder religioso? Ele criou você! Olhe o que Ele diz em Sua Palavra, a Bíblia: "Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miquéias 6:7,8) Viu o que Ele pede de você? Justiça, benignidade e humildade! O Deus que a Bíblia apresenta, querido(a) leitor(a), ama você! Ama ao ponto de ter enviado Seu Filho, Jesus, para morrer em Seu lugar! Isso mesmo: Deus, sabendo que você tinha que morrer por causa dos seus pecados, enviou Seu filho para ser seu substituto na morte! Hoje, crendo em Cristo, você não precisa morrer eternamente; só vai morrer uma única vez - a morte de todos os mortais, no seu corpo. Sua alma viverá, seu espírito Deus renovará e no seu corpo tudo novo se fará!
Saber que tendo a Cristo vou morrer uma única vez é fonte de consolo e segurança. Mesmo que a pessoa venha a ser portadora de alguma doença mortal - e que não seja curada por Deus com ou sem o uso da medicina - com Cristo, a morte dela será o fim de toda a dor e sofrimento no corpo físico e na alma. Todos nós queremos viver, Deus nos criou para a vida; porém, a morte já não assusta mais quando eu tenho a Cristo como Senhor e Salvador da minha vida. Com Ele, ainda que morto, viverá; o Senhor há de ressuscitar-me um dia: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" (João 11:25,26)
E mais: com Cristo, eu não preciso procurar líder religioso nenhum para ser curado, ou abençoado, ou prosperado. Primeiro porque Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens (I Tm 2.5), segundo porque em Cristo já fomos abençoados com todas as bençãos espirituais necessárias: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Efésios 1:3). E quanto as bênçãos materiais? Essas, Jesus garantiu que o Pai sabe o que nós precisamos para viver e o Pai é bondoso e misericordioso. Se for de Sua vontade, Ele dará; mas saiba que dando ou não dando tal bênção (como a cura), Ele continua te amando e um dia limpará dos seus olhos todas as lágrimas. Mesmo que seja difícil, Ele sempre nos ajudará a carregarmos nossa cruz!
Ter Jesus, portanto, é ter vida plena, vida em abundância! Vida livre e leve, sem o fardo religioso, sem um líder religioso ditador por me explorando e/ou abusando de mim. Não preciso apresentar sacrifícios de fé. Não preciso fazer campanhas ou peregrinações. Não preciso possuir ou carregar objetos consagrados. Não preciso de ritual nenhum. Adorar a Deus com Jesus é fácil e ao mesmo tempo difícil: fácil, porque não preciso de ritos nem músicas nem lugares especiais, difícil porque precisa ser em espírito e em verdade, do fundo do coração com amor a Ele.
Creia em Jesus! Ele disse: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (João 14:1-3) Ele não disse que te daria um lugar na religião, mas na casa do Pai, junto ao Pai e a Ele.
Pense nisso!
Que a Graça do Senhor Jesus e o Amor de Deus Pai seja contigo!
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Referências:
DOYLE, Thomas P. Roman Catholic clericalism, religious duress, and clergy sexual abuse. Pastoral Psychology, v. 51, n. 3, p. 189-231, 2003.
domingo, 9 de dezembro de 2018
A ESSÊNCIA DA GRAÇA É O FAVOR DIVINO SEM MÉRITO, HOJE E ETERNAMENTE
Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio.
A minha alma disse ao Senhor: Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à tua presença,
Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem está todo o meu prazer.
As dores se multiplicarão àqueles que fazem oferendas a outro deus; eu não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios.
O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte.
As linhas caem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança.
Louvarei ao Senhor que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite.
Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei.
Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura.
Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente.
(Salmo 16)
Nesse salmo, Davi medita sobre os benefícios que recebia de Deus e, por isso, se sente impulsionado a dar graças. Davi se rende e se devota inteiramente ao Senhor, declarando que a plena e substancial felicidade consiste em repousar exclusivamente em Deus. Ou seja, podemos dizer que esse salmo retrata algo que poucos entendem, ensinam e conhecem: Graça.
Essa Graça, manifesta na prática por toda bondade, misericórdia e benefícios de Deus para com Davi, é a mesma Graça de Deus hoje. Isso mesmo: mesmo em tempos da Lei, a intenção de Deus sempre foi tratar Seu povo com Graça. Dentre outras razões que fogem ao escopo aqui, por isso a Lei veio primeiro: para que, tendo experimentado a Lei, possamos reconhecer a profundidade e a altura da Graça! Quem viveu os rigores da Lei e por ela foi considerado transgressor e digno de morte, com toda certeza verá a Graça como um bálsamo e jamais dela procurará se apartar!
Esse é um dos principais problemas com sistemas religiosos legalistas. Todo legalista, que diz ter prazer em viver a Lei e que procura se auto-afirmar diante de seus co-religiosos pelo cumprimento de códigos e regras, vive na mentira e é, na verdade, um mentiroso. Ninguém jamais conseguiu viver a Lei nem jamais conseguirá vivê-la, pois a Lei foi dada para condenar. A Lei condena cada homem, mulher e criança como pecador inveterado, amante do pecado e servo do mesmo, fazendo silenciar toda auto-justificação e reduzindo todo manto escarlate de justiça pessoal à condição de pano sujo e rasgado, de trapo de imundícia!
O legalista entende que precisa pagar a Deus alguma coisa e se esforça para realmente fazê-lo. Daí, ele se esforça ao máximo para ser digno diante de Deus, de forma a "retribuir" a Deus por todos os Seus benefícios. Na prática, o legalista diz a Deus "olha, estou pagando a dívida! Vê como eu sou o melhor de todos! Vê como eu me esforço! Jejuo 3 vezes ao dia, oro 6 vezes, dou o dízimo de tudo, frequento assidamente as reuniões, faço caridade..." e por aí vai. Devedor a Deus é algo que todo ser humano de todas as eras sempre será; no entanto, essa dívida, impagável pelo lado humano, somente pode ser paga pelo sacrifício gratuito de Cristo Jesus. Esse é o único pagamento aceito por Deus - aquele que Seu Filho pagou! Por isso, aquele que crê em Jesus, que se identifica com o Seu sacrifício na cruz e que rende a vida à Ele, passa a viver na condição de devedor eternamente perdoado! Dívida cancelada, totalmente paga! Perdoado no passado, perdoado no presente e perdoado no futuro! "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz" (Cl 2.13,14) Segue-se então que agora a vida, na condição de perdoado pela fé em Cristo, é a vida de fé e gratidão, de confiança em Deus e de amor retributivo, de nossa parte, Àquele que nos amou primeiro! Cada gesto na vida, portanto, deve ser um gesto movido pelo amor a Deus, como louvor e ações de graças a Ele, e não a apresentação de um "rol de notas fiscais de pagamento"!
Graça é a relação de Deus para conosco, mas é também a nossa relação para com Ele! Não existe recebermos Graça e retribuirmos Lei! Deus não aceitará Lei da nossa parte, de forma alguma! Ou é Graça, ou estamos dizendo a Deus com nossas atitudes que a dívida com Ele permanece e, com isso, o sacrifício de Jesus foi em vão para nós!
Voltando ao Salmo 16, Davi fala da Graça. Ele começa dizendo: “Guarda-me, oh Deus, porque em ti me refugio”. Davi pede ao Senhor que lhe proteja durante todo o curso de sua vida. Deus era o refúgio de Davi – nenhum esconderijo humano, nenhuma iniciativa humana para a auto-proteção tem sucesso se o Senhor não for o verdadeiro refúgio, se a confiança não estiver Nele.
Temos muitos inimigos externos, estamos cercados por eles todo o dia: Satanás em derredor, buscando tragar a nossa alma. O mundo, com suas ofertas sedutoras. O espírito de violência que está sobre o mundo, atuando sobre os pecadores. Doenças de toda a sorte. Somos provados pelo tentador com tamanha força e com furor, com tantas artimanhas e astúcia, que faz com que nossa batalha individual e coletiva seja humanamente falando muito desigual. Ele é um anjo (caído), nós somos seres humanos! Além disso, temos muitos inimigos internos: As nossas fraquezas e tendências ao retrocesso, à queda, ao pecado, ao desânimo, à desconfiança em Deus e à desistência. Crises emocionais e espirituais. Se formos olhar para nós mesmos, para nossas próprias forças e capacidades de defesa, de perseverança, veremos o quão fracos e pequenos nós somos. Como dizia Lutero em seu hino “Castelo Forte”, “a nossa força nada faz, estamos nós perdidos”! QUANTO OS NOSSOS INIMIGOS JÁ TENTARAM – E AINDA TENTAM – NOS DESTRUIR!
O fato de estarmos hoje com vida física e espiritual, de termos vencido até aqui, é por um único motivo: porque temos feito o Senhor o nosso refúgio! Ele é a nossa fortaleza, o nosso Castelo Forte! Deus nos traz todo o dia o seu socorro e assim somos diariamente protegidos! JESUS É O NOSSO SENHOR!
“Digo ao Senhor, outro bem não possuo”: Davi diz que não pode dar nada a Deus, não só porque Deus não tem necessidade de coisa nenhuma, mas também porque o homem mortal não pode merecer o favor divino por alguma coisa que venha a fazer para Deus. “Outro bem não possuo”, Na KJV, é traduzido por “minha beneficiência não te alcança”. É impossível para os homens, por quaisquer méritos pessoais, fazerem com que Deus tenha obrigações para com eles, como se Deus se tornasse devedor aos homens. NÓS SEMPRE SEREMOS DEVEDORES PERDOADOS! Quando nos achegamos a Deus, devemos fazer isso sem nenhuma presunção. Não há bem nenhum em nós, nenhum mérito pessoal. Todo o serviço prestado ao Senhor nada é em si mesmo, somos indignos de recompensas da parte do Senhor.
Davi menciona “os santos que estão na terra”. Eles são excelentes, são nobres, notáveis. Não deve haver nada mais precioso para nós que nossos irmãos e irmãs em Cristo. Devemos dar valor e prestigiar aos que temem a Deus, buscando ter comunhão com eles, pois isso Deus considera como agradável! O verdadeiro estado do meu coração é indicado por meu amor por eles. Em todos os lugares e em todos os momentos, o amor para aqueles que amam a Deus e uma disposição para buscar o bem deles, sua felicidade e sua amizade, será uma característica da verdadeira piedade e devoção. Obviamente, tudo aquilo que destrói essa comunhão é inimigo ferrenho de Deus, devendo ser reputado como nosso inimigo também! Note, ainda, que isso não significa ter comunhão com ímpios em qualquer nível (v.4). As dores deles são multiplicadas, porque vivem impiamente, indo após deuses falsos. Não devemos oferecer as suas “libações de sangue”, nem mencionar os nomes de suas abominações com nossos lábios (Ef 5.11,12).
Davi bendiz ao Senhor que o aconselha, tanto de dia quanto à noite, falando-o em sua consciência e assim direcionando sua vida. É somente por meio da direção do Senhor que podemos fazer as escolhas certas nas horas certas. Davi não vivia segundo seu conceito de certo e de errado, mas segundo a vontade revelada de Deus para sua vida. Viver segundo o conceito de certo e errado é a pior coisa que podemos fazer, porque é justamente esse tipo de vida que nos levou ao "abismo espiritual" que vivemos! Viver segundo certo e errado é viver segundo o conhecimento do certo e do errado, do bem e do mal; é viver com base na árvore do conhecimento! Por outro lado, quem busca viver segundo a árvore da vida, vive na dependência de Deus. Deus é o guia, Ele é quem diz se é isso ou aquilo que Ele deseja de nós, não nós mesmos com nosso discernimento tosco de certo e errado. É VIVER SEGUNDO A VONTADE REVELADA DE DEUS E BUSCAR REVELAÇÃO DA VONTADE DE DEUS PARA VIVER.
A Palavra de Deus nos adverte: Onde não há conselho os projetos são vãos (Provérbios 15.22). O Senhor dos Exércitos é maravilhoso em conselho e grande em obra (Isaías 28.29). Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor (Provérbios 21.30). Eis por que precisamos desse Guia por excelência: nada somos sem o nosso Criador e sem a Sua excelsa Palavra! Deus tem prazer em nos direcionar os passos, em dirigir a nossa vida. Ele não fica feliz diante das nossas quedas, encrencas, fracassos; não tem prazer em nossa ruína. Por isso não nos deixou sozinhos nesse mundo, mas nos deu o Seu Espírito, que fala aquilo que Dele ouviu, que mora em nosso interior. Nosso Senhor nos deu a Igreja, e nos deu uns aos outros. Deus dons e ministérios. Deu a Sua Palavra. Isso tudo é graça TEMOS QUE APRENDER A OUVIR E A OBEDECER AO SENHOR PARA NOSSA PRÓPRIA FELICIDADE!
Ao exclamar, "O Senhor é a porção da minha herança", Davi se identifica com os filhos de Levi, cuja herança era o Senhor (Dt 10.9). Nossa herança é o Senhor. É Ele o Único bem verdadeiro que temos em vida, e o Único bem verdadeiro que teremos na morte! Tendo o Senhor sempre na nossa presença, diante dEle, jamais seremos abalados! Viveremos alegres e repousaremos seguros hoje, amanhã e sempre! É interessante que Davi fala de linhas. Essas linhas falam daquelas usadas na medição e na divisão da herança (terra de Canaã). Davi diz que a ele coube uma formosa herança – o próprio Senhor! A Davi, coube o Senhor na divisão da herança – Isso é Graça!
O Senhor é quem sustenta a nossa sorte! É o Senhor quem determina o nosso destino, não o acaso. É Ele quem garante o nosso futuro. Todos quantos não tem seu fundamento e confiança postos em Deus vivem em estado de irresolução e incerteza. São constantemente levados pelos dilúvios de erros que prevalecem no mundo.
Davi, por ter o Senhor sempre em sua presença, sabe que jamais será abalado! Por isso, mesmo diante de tantos inimigos e desafios, ele não fica deprimido, mas se alegra e exulta! Sua confiança no Senhor estende-se dessa vida até ao limite máximo da vida humana – a morte física. NEM A REALIDADE DA MORTE ASSUSTAVA A DAVI.
A morte, na Bíblia, é mais que um estado. Ela é uma pessoa, um inimigo a ser vencido (I Co 15.26). Um inimigo cruel, que anda junto com o inferno, tragando as almas dos homens (Ap 6.8). Porém, mesmo diante desse terrível inimigo, Davi dizia "Minha carne repousará segura"! Aleluia! Davi cria na sua imortalidade. Seu corpo não ficaria eternamente na sepultura sob o poder da corrupção, nem sua alma ficaria eternamente no lugar dos mortos; Deus haveria de o ressuscitar, para uma vida imortal. Davi, sem saber, profeticamente fala acerca da vitória de Cristo sobre a morte e sobre o inferno, vitória esta que por Cristo é extensiva a todo verdadeiro crente em Cristo, que crê e entrega a sua vida aos cuidados do Salvador e Senhor Jesus!
O Santo do Senhor (Jesus) não permaneceu com sua alma na morte, nem viu a corrupção. Deus ressuscitou a Cristo, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela (At 2.24-32). O corpo de Davi permanece nessa terra, mas sua alma está na presença imediata do Senhor. Hoje, Davi aguarda, junto com uma incontável multidão de santos, a ressurreição física do seu corpo! Nós também, fiéis em Cristo, haveremos de um dia ressuscitarmos do pó da terra. Nem mesmo a morte, nem mesmo o inferno, pode contra aquele que tem a sua vida posta em Deus! A POSSE DE CRISTO SOBRE NÓS SE ESTENDE A TODA A CONDIÇÃO DA VIDA HUMANA, ATÉ A RESSURREIÇÃO. ISSO É GRAÇA, FAVOR IMERECIDO, HOJE E ETERNIDADE A FORA! PARA TODO O SEMPRE!
Graça! Graça na proteção e no cuidado de Deus! Graça na direção para a vida e na salvação eterna, inteiramente provista e mantida por Deus! Nada que façamos, nenhum bem que entreguemos, nenhuma dádiva, nenhuma oferta, nenhum sacrifício pode hoje e nem jamais poderá, eternamente, pagar isso que Deus fez, faz e fará por nós e em nós! Não há pagamentos a serem feitos, nem há uma dívida a ser paga! Jesus pagou tudo por nós, de forma que hoje estamos quites com Deus por Cristo Jesus! Ele, o Senhor Jesus, é o Penhor da Nossa Herança! Mesmo nossas boas obras foram todas preparadas por Deus de antemão, antes da salvação, para que um dia andássemos nelas; mesmo essas boas obras são feitas em Cristo com a Graça de Cristo, pois sem Ele nada podemos fazer!
A verdade é que eu e você, querido(a) leitor(a), somos como um deserto seco, incapaz de florescer por si mesmo! Somos terra de ninguém, infrutífera, rachada! Mas a Graça de Deus é tal que escolhepara Si eu e você, desertos estéreis, e ainda nos faz florescer! Nunca apresente a Deus seu currículo de boas obras e realizações, porque para Aquele que te salvou a multidão das tuas boas obras e realizações são apenas o testemunho da Graça de Deus na sua vida! Afinal, é Ele quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13)!
Pense nisso!
Graça e paz!
domingo, 25 de novembro de 2018
DEUS ESTÁ SEMPRE NO CONTROLE, MESMO QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS PARECEM DEMONSTRAR O CONTRÁRIO
Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste; oh, volta-te para nós. Abalaste a terra, e a fendeste; sara as suas fendas, pois ela treme. Fizeste ver ao teu povo coisas árduas; fizeste-nos beber o vinho do atordoamento. Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. (Selá.) Para que os teus amados sejam livres, salva-nos com a tua destra, e ouve-nos; Deus falou na sua santidade; eu me regozijarei, repartirei a Siquém e medirei o vale de Sucote. Meu é Gileade, e meu é Manassés; Efraim é a força da minha cabeça; Judá é o meu legislador. Moabe é a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu sapato; alegra-te, ó Filístia, por minha causa. Quem me conduzirá à cidade forte? Quem me guiará até Edom? Não serás tu, ó Deus, que nos tinhas rejeitado? tu, ó Deus, que não saíste com os nossos exércitos? Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas; porque ele é que pisará os nossos inimigos. (Salmo 60)
O título do salmo diz: “Quando ele guerreou com Aram Naharaim e com Aram Zobá e quando Joabe voltou e feriu Edom no vale do sal, doze mil homens”. Aram, a que o texto se refere, é a Síria. Trata-se de um território muito grande onde Zobá está na parte sul, fazendo fronteira com o limite Norte de Israel. Já Aram Naharaim, que significa Aram “entre os dois rios” – o Eufrates e o Tigre –, fica ao norte, na região conhecida como Mesopotâmia. Enquanto Israel ganhava vitórias pelo lado da Síria, os edomitas atacaram desde o sul de Judá; e, ainda que 2 Samuel 8 fale somente de vitórias, este Salmo indica que primeiro houve uma derrota (vv. 1–4, 10). Isso obrigou Davi a enviar uma tropa para defender o país dos edomitas, tropa que parece ter tido dificuldades para repelir os invasores do Sul. Diante do cansaço da guerra, dos inúmeros inimigos e do constante risco de ser derrotado, Davi escreve o salmo, na forma de um diálogo com Deus, que ensina lições preciosas para o servo de Deus que passa por provações longas e duras.
Esse salmo é um clamor nacional: "Deus, tu és o responsável pela nossa derrota!" Igual a outros salmos de súplica, aqui o povo responsabiliza Deus por sua derrota: “Deus, fomos derrotados porque Tu nos desamparou sem razão”! O povo está frustrado diante de sua realidade!
A frustração faz parte da realidade humana e ela vem em forma de um projeto que não deu certo, da perda de uma pessoa querida, de um pecado que não queríamos cometer ou mesmo diante de uma pergunta "eternamente" sem resposta. Diante da frustração, buscamos fazer “inventários de culpados”, buscamos responsabilizar sempre alguém pela situação que enfrentamos. Aqui, nesse Salmo, é o povo escolhido de Deus quem está a fazer esse inventário. O resultado final é: “Deus é o responsável por isso”!
Hoje, infelizmente há muitos e muitos crentes fazendo coro com os descrentes numa só “canção”: Deus é o responsável direto pelas mazelas humanas! É como se Deus tivesse prazer em ferir a humanidade ou vê-la sofrer e, para isso, usasse Seu poder para causar dor e sofrimento ao homem! Ou se Ele estivesse assistindo, passivo e impotente, diante das mazelas de cada pessoa existente nesse planeta. Basta uma tormenta, basta uma doença imprevista, basta uma crise financeira, basta um revés ministerial, basta uma luta mais duradoura que a fé, outrora sólida, começar a liquefazer e até a vaporizar pelo calor da situação. Com isso, o povo que diz conhecer a Deus demonstra, com suas ações e palavras, que não O conhece. Muitos confiam assim mais no homem, que é falho, do que em Deus, que “não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.” (Nm 23.19)
Não são poucos que diante do problema vêem Deus como alguém irado ao extremo. Veja o que diz o salmista: Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste. “Indignado”, do hb. 'anaph – “difícil de respirar”, “respirar de forma ofegante” (fig.: bufando de raiva), enfurecido. Deus aqui é visto como extremamente irado contra o seu povo. O salmista coloca a ação de Deus aqui como um terremoto: o que parece estar firme, Deus pode sacudir. A mesma idéia está na expressão “vinho que atordoa” (v.3).
Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. “Um estandarte” faz alusão ao governo de Davi, rei de Israel, que muitas e muitas vitórias conquistou em nome do Senhor para seu povo. Aqui há uma oposição de conceitos: o estandarte, que deveria ser de vitória “para aos que temem ao Senhor”, foi na verdade um estandarte de fuga, em meio a derrota. O problema é que o que Deus fez no passado usando Seu servo Davi (e Moisés, Arão, Samuel, Josué, Paulo, etc.) não é garantia automática de que Ele fará o mesmo no presente! Significa que Ele pode fazer, mas passsar do ato potencial para o real depende de muitas coisas - dentre elas, do plano de Deus para nossa vida particular! Aqui, jaz o imenso erro dos pregadores da teologia da prosperidade e dos pregadores triunfalistas: o fato de Deus ter realizado maravilhas no passado de Seu povo Israel (e na vida da Igreja, no Livro de Atos) não significa uma obrigação de que tais coisas sejam feitas no presente - Deus não vai abrir um caminho na Baía de Guanabara para você atravessar a distância entre Niterói e Praça XV a pé enxuto pelo mar porque você está sendo sendo perseguido no seu trabalho - ainda que Deus possa abrir o mar novamente sem sombra de dúvida!
Os registros bíblicos servem, de forma geral, para que conheçamos a Deus e Seu plano para a humanidade e inspirar nossa fé em Deus, na Sua bondade e Amor sempre firmes e invariáveis por nós por meio de Cristo Jesus! Porém, no plano pessoal, essa Bondade e Amor podem se manifestar de forma totalmente diferente não só do passado bíblico, como daquilo que pensamos e esperamos. Noutras palavras, o Amor de Deus (e Seus outros atributos) são sempre firmes e imutáveis, como Ele o é, mas a manifestação desse Amor (e dos outros atributos) pode dar-se (e frequentemente é assim) de uma maneira completamente incompreensível para nosso entendimento humano: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos". (Isaías 55:8,9)
O salmista continua, contudo, a mensagem, destacando a soberania de Deus. Todos os povos pertencem a Deus. Gileade, Manassés, Efraim e Judá representam as cidades tementes a Deus, o Seu povo. Por sua vez, Moabe, Edom e Filístia representam as nações descrentes, os povos ímpios. Sobre esses, Deus diz, que lançaria o seu sapato. Lançar o sapato, nos países árabes, é considerado grande ofensa. Há um forte contraste com a honra atribuída a Efraim e Judá e a desgraça de Moabe e Edom. Moabe, famoso por seu orgulho (Isaías 16:6), é comparado ao vaso que é trazido ao guerreiro vitorioso para lavar seus pés quando ele retorna da batalha. O velho inimigo de Deus e Seu povo é degradado para se tornar mero escravo: em outras palavras, torna-se sujeito a Israel e um vassalo deste. Edom é como o escravo a quem o guerreiro arremessa suas sandálias para carregar ou limpar.
Sobre todas as nações da Terra Deus é Senhor e Rei. Nenhuma delas escapa da soberania divina, nenhum plano ou ação delas estão fora do conhecimento e intervenção divina. Portanto, Israel não deveria temer o fato de Edom ter se levantado contra eles, como se Deus os estivesse entregado nas mãos dos seus inimigos. Israel, ao contrário, deveria confiar em Deus, sabendo que Deus estava no controle de tudo, inclusive de Edom!
Tudo que existe e acontece, quer os reputemos como bom ou mal, estão sob o controle de Deus. Nada, nem você querido(a) leitor(a), escapa desse controle!
O povo de Deus aqui aprende importante lição: Que as adversidades não são, sempre, o fruto da ira divina; mas as adversidades momentâneas tem um importante papel dentro dos eternos propósitos de Deus para todas as coisas, inclusive nós mesmos! Mesmo elas refletem o Amor de Deus por nós! Devemos confiar em Deus, independente das circunstancias que estejamos passando ou venhamos a enfrentar. Todas as coisas, independente delas, cooperam juntamente para o nosso bem! Por detrás da permissão de Deus para que soframos reveses e intempéries está sempre um plano maior, um plano de Amor e de Graça, que em última análise culminará no nosso bem e felicidade! Mesmo as perseguições imperiais, movidas contra a Igreja nos séculos II a IV, serviram aos eternos propósitos de Deus para a Igreja daquela época e de todas as épocas!
Quem me conduzirá à cidade forte? Quem me guiará até Edom? Não serás tu, ó Deus, que nos tinhas rejeitado? tu, ó Deus, que não saíste com os nossos exércitos? Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas; porque ele é que pisará os nossos inimigos. Aqui, a nação reconhece que o socorro eficaz, a ajuda definitiva, vem somente de Deus. Não é do homem que vem o socorro! Não é da inteligência, da riqueza, dos planos, dos combinados, das potestades, dos santos, dos espíritos, de coisa alguma abaixo de Deus que vem o socorro efetivo. Nem de você mesmo, de suas capacidades e conhecimento e inteligência e obras! Só de Deus vem o socorro! Jesus disse: “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Sem Jesus, nada em absoluto pode ser feito! Só a partir da confiança posta inteiramente em Jesus, o Autor e Consumador da Nossa fé, poderemos dizer: “em Deus faremos proezas”!
Pense nisso!
Graça e paz!
O título do salmo diz: “Quando ele guerreou com Aram Naharaim e com Aram Zobá e quando Joabe voltou e feriu Edom no vale do sal, doze mil homens”. Aram, a que o texto se refere, é a Síria. Trata-se de um território muito grande onde Zobá está na parte sul, fazendo fronteira com o limite Norte de Israel. Já Aram Naharaim, que significa Aram “entre os dois rios” – o Eufrates e o Tigre –, fica ao norte, na região conhecida como Mesopotâmia. Enquanto Israel ganhava vitórias pelo lado da Síria, os edomitas atacaram desde o sul de Judá; e, ainda que 2 Samuel 8 fale somente de vitórias, este Salmo indica que primeiro houve uma derrota (vv. 1–4, 10). Isso obrigou Davi a enviar uma tropa para defender o país dos edomitas, tropa que parece ter tido dificuldades para repelir os invasores do Sul. Diante do cansaço da guerra, dos inúmeros inimigos e do constante risco de ser derrotado, Davi escreve o salmo, na forma de um diálogo com Deus, que ensina lições preciosas para o servo de Deus que passa por provações longas e duras.
Esse salmo é um clamor nacional: "Deus, tu és o responsável pela nossa derrota!" Igual a outros salmos de súplica, aqui o povo responsabiliza Deus por sua derrota: “Deus, fomos derrotados porque Tu nos desamparou sem razão”! O povo está frustrado diante de sua realidade!
A frustração faz parte da realidade humana e ela vem em forma de um projeto que não deu certo, da perda de uma pessoa querida, de um pecado que não queríamos cometer ou mesmo diante de uma pergunta "eternamente" sem resposta. Diante da frustração, buscamos fazer “inventários de culpados”, buscamos responsabilizar sempre alguém pela situação que enfrentamos. Aqui, nesse Salmo, é o povo escolhido de Deus quem está a fazer esse inventário. O resultado final é: “Deus é o responsável por isso”!
Hoje, infelizmente há muitos e muitos crentes fazendo coro com os descrentes numa só “canção”: Deus é o responsável direto pelas mazelas humanas! É como se Deus tivesse prazer em ferir a humanidade ou vê-la sofrer e, para isso, usasse Seu poder para causar dor e sofrimento ao homem! Ou se Ele estivesse assistindo, passivo e impotente, diante das mazelas de cada pessoa existente nesse planeta. Basta uma tormenta, basta uma doença imprevista, basta uma crise financeira, basta um revés ministerial, basta uma luta mais duradoura que a fé, outrora sólida, começar a liquefazer e até a vaporizar pelo calor da situação. Com isso, o povo que diz conhecer a Deus demonstra, com suas ações e palavras, que não O conhece. Muitos confiam assim mais no homem, que é falho, do que em Deus, que “não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.” (Nm 23.19)
Não são poucos que diante do problema vêem Deus como alguém irado ao extremo. Veja o que diz o salmista: Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste. “Indignado”, do hb. 'anaph – “difícil de respirar”, “respirar de forma ofegante” (fig.: bufando de raiva), enfurecido. Deus aqui é visto como extremamente irado contra o seu povo. O salmista coloca a ação de Deus aqui como um terremoto: o que parece estar firme, Deus pode sacudir. A mesma idéia está na expressão “vinho que atordoa” (v.3).
Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. “Um estandarte” faz alusão ao governo de Davi, rei de Israel, que muitas e muitas vitórias conquistou em nome do Senhor para seu povo. Aqui há uma oposição de conceitos: o estandarte, que deveria ser de vitória “para aos que temem ao Senhor”, foi na verdade um estandarte de fuga, em meio a derrota. O problema é que o que Deus fez no passado usando Seu servo Davi (e Moisés, Arão, Samuel, Josué, Paulo, etc.) não é garantia automática de que Ele fará o mesmo no presente! Significa que Ele pode fazer, mas passsar do ato potencial para o real depende de muitas coisas - dentre elas, do plano de Deus para nossa vida particular! Aqui, jaz o imenso erro dos pregadores da teologia da prosperidade e dos pregadores triunfalistas: o fato de Deus ter realizado maravilhas no passado de Seu povo Israel (e na vida da Igreja, no Livro de Atos) não significa uma obrigação de que tais coisas sejam feitas no presente - Deus não vai abrir um caminho na Baía de Guanabara para você atravessar a distância entre Niterói e Praça XV a pé enxuto pelo mar porque você está sendo sendo perseguido no seu trabalho - ainda que Deus possa abrir o mar novamente sem sombra de dúvida!
Os registros bíblicos servem, de forma geral, para que conheçamos a Deus e Seu plano para a humanidade e inspirar nossa fé em Deus, na Sua bondade e Amor sempre firmes e invariáveis por nós por meio de Cristo Jesus! Porém, no plano pessoal, essa Bondade e Amor podem se manifestar de forma totalmente diferente não só do passado bíblico, como daquilo que pensamos e esperamos. Noutras palavras, o Amor de Deus (e Seus outros atributos) são sempre firmes e imutáveis, como Ele o é, mas a manifestação desse Amor (e dos outros atributos) pode dar-se (e frequentemente é assim) de uma maneira completamente incompreensível para nosso entendimento humano: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos". (Isaías 55:8,9)
O salmista continua, contudo, a mensagem, destacando a soberania de Deus. Todos os povos pertencem a Deus. Gileade, Manassés, Efraim e Judá representam as cidades tementes a Deus, o Seu povo. Por sua vez, Moabe, Edom e Filístia representam as nações descrentes, os povos ímpios. Sobre esses, Deus diz, que lançaria o seu sapato. Lançar o sapato, nos países árabes, é considerado grande ofensa. Há um forte contraste com a honra atribuída a Efraim e Judá e a desgraça de Moabe e Edom. Moabe, famoso por seu orgulho (Isaías 16:6), é comparado ao vaso que é trazido ao guerreiro vitorioso para lavar seus pés quando ele retorna da batalha. O velho inimigo de Deus e Seu povo é degradado para se tornar mero escravo: em outras palavras, torna-se sujeito a Israel e um vassalo deste. Edom é como o escravo a quem o guerreiro arremessa suas sandálias para carregar ou limpar.
Sobre todas as nações da Terra Deus é Senhor e Rei. Nenhuma delas escapa da soberania divina, nenhum plano ou ação delas estão fora do conhecimento e intervenção divina. Portanto, Israel não deveria temer o fato de Edom ter se levantado contra eles, como se Deus os estivesse entregado nas mãos dos seus inimigos. Israel, ao contrário, deveria confiar em Deus, sabendo que Deus estava no controle de tudo, inclusive de Edom!
Tudo que existe e acontece, quer os reputemos como bom ou mal, estão sob o controle de Deus. Nada, nem você querido(a) leitor(a), escapa desse controle!
O povo de Deus aqui aprende importante lição: Que as adversidades não são, sempre, o fruto da ira divina; mas as adversidades momentâneas tem um importante papel dentro dos eternos propósitos de Deus para todas as coisas, inclusive nós mesmos! Mesmo elas refletem o Amor de Deus por nós! Devemos confiar em Deus, independente das circunstancias que estejamos passando ou venhamos a enfrentar. Todas as coisas, independente delas, cooperam juntamente para o nosso bem! Por detrás da permissão de Deus para que soframos reveses e intempéries está sempre um plano maior, um plano de Amor e de Graça, que em última análise culminará no nosso bem e felicidade! Mesmo as perseguições imperiais, movidas contra a Igreja nos séculos II a IV, serviram aos eternos propósitos de Deus para a Igreja daquela época e de todas as épocas!
Quem me conduzirá à cidade forte? Quem me guiará até Edom? Não serás tu, ó Deus, que nos tinhas rejeitado? tu, ó Deus, que não saíste com os nossos exércitos? Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas; porque ele é que pisará os nossos inimigos. Aqui, a nação reconhece que o socorro eficaz, a ajuda definitiva, vem somente de Deus. Não é do homem que vem o socorro! Não é da inteligência, da riqueza, dos planos, dos combinados, das potestades, dos santos, dos espíritos, de coisa alguma abaixo de Deus que vem o socorro efetivo. Nem de você mesmo, de suas capacidades e conhecimento e inteligência e obras! Só de Deus vem o socorro! Jesus disse: “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Sem Jesus, nada em absoluto pode ser feito! Só a partir da confiança posta inteiramente em Jesus, o Autor e Consumador da Nossa fé, poderemos dizer: “em Deus faremos proezas”!
Pense nisso!
Graça e paz!
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
ELEIÇÕES, CONFUSÕES E DISSENSÕES ENTRE IRMÃOS, AMIGOS E FAMÍLIA
As eleições para Presidente da República, no Brasil, em 2018, polarizaram o país. Claramente, é fácil constatar que se formaram dois pólos, dois extremos, com relação aos candidatos: um pólo, defensor do candidato de direita com suas idéias; este, apresentado como "solução" para o "mal que grassa a nação", por si mesmo e por seus apoiadores, mal este identificado com o governo de 16 anos (4 mandatos, portanto) do Partido dos Trabalhadores (PT). Por sua vez, o outro candidato adversário político, ligado ao PT e portanto às suas idéias de esquerda, posicionado noutro pólo, como suposta alternativa contra o candidato de direita e, tal qual o chamam, sua "ideologia facista".
Essa polarização atingiu segmentos de toda a sociedade. Intolerância e extremismos estão por todos os lados! Há, por exemplo, famílias divididas por seus membros adotarem pólos diferentes como se fossem verdades absolutas. E, de forma inédita, até Igrejas estão sendo divididas! Acabou a paz no seio de muitas congregações por conta de polarizações nessas eleições! Irmãos sendo ofendidos e magoados, chamados de "falsos irmãos" por apoiarem um candidato diferente de seu pastor! Muitas pessoas decepcionadas com o Evangelho!
Veja algumas expressões de tristeza e inconformismo com relação ao comportamento da igreja, de irmãos e de pastores nas eleições, extraídas de rede sociais:
- "esse é o reflexo do Cristo que vocês pregam ? Amor? Respeito?"!
- sou mulher e evangélica [...] estou muito triste com os "líderes evangélicos " e com os "cristãos".
- O que mais, eu achei triste foi a religião se meter em política, defendendo, torturador. Eu não sou evangélica, mais sei o que está escrito na Bíblia. Sabe como eu vou definir alguns crentes agora? Me prove em quem você votou, eu te direi quem tu és. Respeito os evangélicos, porque nem todos são assim. Mais perderem um pouco a credibilidade. Muito triste, tinham que dar o exemplo.
- Fui atacada por um que foi meu líder e professor de EBD na adolescência e hj é pastor. Nunca veio no meu inbox me dar uma palavra amiga ou saber se eu e minha família estávamos bem. Mas teve capacidade de mandar áudio de quase 5min em apoio a este candidato. Respondi com educação e exortação cristã meus motivos para não votar nele. E fui acusada de ter uma vida contrária a palavra de Deus e estar perdida. Estou vendo pessoas que cresceram comigo na igreja exaltando este homem. Meu marido acha que sou radical e estou errada de ser contra o candidato, ele tbm é cristão e já tivemos duras brigas por ele escolher a religiosidade ao zelo por nossa relação.
- A igreja sairá menor e pior dessas eleições por conta de opções pessoais. Poucos foram os pastores que orientaram sobre política, e não falaram e indicaram políticos. Recebi uma ovelha de outra comunidade no culto de ontem à noite, pois na sua igreja só se falava em políticos...
- Como me faz mal não me sentir bem para ir ao culto ou mesmo as orações das quartas, parece que tiraram uma parte de mim!!!!!!
- eu cheguei a pensar em ir embora do Brasil pois está difícil acreditar no acontece hoje com os líderes, pensei que só eu estava na contra mão do que está acontecendo nas igrejas brasileiras nesse ano de eleição, ontem chorei angustiada pelo resultado.
- eu me decepcionei demais com a Igreja Católica hoje ao ver um padre defendendo um candidato que prega tortura, quando o nosso Cristo foi torturado numa cruz. É incoerência demais. Cheguei ao ponto de duvidar do cristianismo.
- Enfrentei questionamentos de colegas de escola, não-crentes, me perguntando: os evangélicos concordam com isso? Estão se referindo às falas de ódio e as mentiras de Fakenews. Estou respondendo que são "neo-evangélicos", com uma nova ética, totalmente estranha à bíblia.
- Sou neta de pastor, tenho 4 tios pastores, meu lugar preferido sempre foi a igreja, mas já a algum tempo fui descobrindo o cabresto, a mistura nefasta da religião com o desejo pelo poder político, a ganância e a reprodução e manutenção acrítica do capitalismo. Fui reformulando minha religiosidade. Está quase impossível frequentar uma igreja. Os discursos são bizarros. Agora, nós estamos vendo a bomba explodir, mas a igreja não representa o discurso de Cristo faz tempo.
- eu saí da igreja por não encontrar mais lugar pra mim nela. [...] Era pra sermos um povo diferente, referência, mas não somos. Não mais.
- Tenho me sentido uma alienígena dentro da minha comunidade de fé que em massa apoia discurso de ódio [...]. Tristeza me define. Mas não consigo ver Jesus encarnado em nenhuma palavra sequer proferida por esse candidato. Por conta desse posicionamento da igreja, perdemos muitas vidas que realmente precisavam ser alcançadas. Peço à Deus que me guie.
- como evangélica, estou me sentindo um peixe fora d'água no meio deles, pois dizem que é inadmissível, uma cristã votar no [...], não tenho nem vontade de ir na igreja mais.
- Estou apavorada com o que estou vendo. Foi decretada a banalização do evangelho com essa postura da liderança evangélica.
A bem da verdade, essas eleições revelaram a apostasia de muitas denominações evangélicas. Sim, querido(a) leitor(a): salvo por algumas exceções, muitas denominações apostataram da fé - e isso há muito tempo! Apostataram quando trocaram Cristo e Seu Reino pelo reino desse mundo, com seus líderes e benefícios. Apostataram quando a Bíblia Sagrada passou a ser considerada, na prática, um livro secundário para as questões de fé e de vida, superada pela palavra dos "ungidos" - profeteiros, apóstolos, pastores, presidentes, bispos, etc. Apostataram quando incorporaram o mundo, seus princípios e técnicas e metodologias como princípios, regras e ações internas e externas. Fizeram G12, MDA, etc. não para ganharem almas para Cristo, mas para aumentarem o número de pessoas e dízimos em suas denominações, para expandirem seu poderio religioso e político! E por falar em poder político, venderam a Cristo novamente, abrindo púlpitos para políticos fazerem campanha! Como foi proibido pelo TRE, pastores (e crentes em geral) se tornaram verdadeiros "cabos eleitorais" de candidatos, deixando de pregar a Cristo e o Evangelho para fazer campanha para político A ou B!
Infelizmente, é possível constatar que muitas denominações não dão a mínima para o Evangelho! Não dão a mínima se as pessoas estão indo para o inferno - ou se a própria denominação está indo, porque do jeito que a coisa vai, tá difícil! Não dão a mínima para os perdidos, que não entregaram suas vidas ao Senhor; nem dão a mínima para os desviados, para os irmãos afastados por causa das lambanças que a própria igreja comete! Sim! Muita gente hoje está desviada é por responsabilidade da própria denominação, a qual não vive o que prega! Que tem discurso bonito, mas vida zero - isso quando tem discurso, porque hoje a tônica é "dá teu dinheiro e ganhe o mundo em troca" - pastores se tornaram especialistas em pedir grana! Quem não dá é classificado como maldito, ladrão, roubador de Deus... nunca é abençoado, nunca é amado, nunca é acolhido! Para esses caras, a bênção de Deus é conseguida se pagar um preço em grana - na cabeça deles, "Deus só abençoa quem dá"! Mas eles não estão sozinhos nisso: quem se sujeita a esse tipo de coisa, quem fomenta e sustenta essa prática, está tão errado e perdido quanto seus líderes! Dinheiro para luxúria!
Somos a terceira maior igreja do mundo e precisamos de 100.000 crentes para sustentar um missionário dentro da Janela 10-40. Investimos, em média, somente R$ 1,30 por pessoa por ano para missões transculturais (fonte: http://www.jocum.org.br/a-grande-omissao). Se cada crente brasileiro investisse em média R$ 10,00 mensais em missões transculturais, que seria 100 vezes mais que o investimento atual, poderia multiplicar a força missionária em 100! Mas estão interessados nisso? NÃO! Não investem nem para ganharem os perdidos da esquina da igreja! A atividade mais "largada de mão" de uma igreja é a atividade de evangelismo (e missões)! NINGUÉM quer saber! O pessoal gosta de reuniaozinha de fofoquinha! Gostam de "reunião informal" de jovens! Gostam de "cultinho", onde via de regra alguém vai pedir grana, uma pessoa e/ou grupo vai "aparecer" cantando na frente para os outros assistirem e um sujeito vai falar abobrinha no púlpito!
Bíblia? Esquece! "Isso é muito difícil de viver, pastô!" é a "desculpa esfarrapada" de quem não quer viver o Evangelho! Note como essas denominações apoiaram um candidato em detrimento de outro nessa eleição, sob a justificativa de uma aparente defesa da ideologia cristã! Ora, se a justificativa é a ideologia, então não deveria ser votado NENHUM NEM OUTRO! Ambos apoiam ideologias não-cristãs! O aborto não é prática cristã, por exemplo, mas o armamento pessoal também não é! Ou vamos puxar o gatilho, vamos "sentar o dedo" em nome de Deus, agora??! Na verdade, esse ideologismo dito "cristão" da igreja (e dos candidatos) é DESCULPA ESFARRAPADA! Primeiro, porque muitos não vivem o que pregam - pregam contra o adultério e o divórcio, mas pessoalmente "manda ver"! Pregam contra a cobiça, mas são os primeiros a incentivá-la! Segundo, porque não há na Bíblia uma hierarquia de valores: para Deus, fornicação é tão pecado quanto a fofoca e a mentira! Se o aborto é um problema para a igreja, a liberalização de armas de fogo também deveria o ser, porque em ambos os casos há mortes não-naturais envolvidas!
A bem da verdade, essas eleições foram usadas por Deus para mostrar a todos os homens o verdadeiro estado que se encontra a igreja. Deus não tem problema com isso: na Bíblia Ele mostra abertamente, para quem quiser ler, os pecados do Seu povo e de seus servos. O fato é que depois dessas eleições não dará mais para negar a triste realidade de que a igreja é um corpo dividido. Isso ficou bem claro: a igreja rapidamente dividiu-se por conta de suas paixões políticas. Isso significa que cada um escolheu um candidato diferente? Não, antes fosse isso. Isso significa que as opções políticas diferentes fizeram com que irmão se levantasse contra irmão, com ira, ódio e animosidade. Ofensas foram trocadas - irmãos ofendidos em suas denominações e fora delas, por outros irmãos e até por pastores. Não satisfeitos em vivermos entre "inimizades, porfias, [...] discórdias, dissensões, facções" (Gl 5.20), tratamos os irmãos em Cristo de quem discordamos com um nível de agressividade, arrogância, desrespeito e falta de amor realmente espantosos para seguidores de Jesus, o Príncipe da Paz.
Recomendo forte e urgentemente que as denominações que apostataram da fé nessas eleições - ou que pelo menos manifestaram sua apostasia nesse pleito eleitoral - se reconciliem com Deus. Se arrependam e voltem ao primeiro amor. Vocês, que portam o nome de Cristo, parem de envergonhar o Evangelho! Lembrem-se do porquê vocês estão nesse mundo: para a Glória de Deus! Daí, vivam como verdadeiros cristãos fazendo tudo para a glória de Deus: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem a igreja de Deus; assim como também eu em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos." (I Co 10.31-33)
Adicionalmente, é preciso considerar que mesmo famílias não escaparam desse espírito divisionista que atacou a sociedade brasileira: famílias de cristãos e não-cristãos foram igualmente rachadas por essa paixonite política. Pais contra filhos, filhos contra pais, maridos contra esposas, irmãos contra irmãos, amigos contra amigos... um caos! Filhos que "botaram o dedo" na cara de seus pais, agindo de forma totalmente desrespeitosa! Muita gente desfez amizades antigas por conta de brigas políticas, que começaram nas redes sociais na internet; brigas que se estenderam até o ambiente familiar. Veja alguns exemplos:
(1) "Amigos de infância brigando, ofendendo-se, excluindo um ao outro do convívio pela internet e, nos casos mais graves, até da relação pessoal. O motivo? Discussões sobre política nas redes sociais, especialmente a respeito das eleições. E nem familiares escapam das brigas, que acabam por interferir na relação real das pessoas." (fonte: https://www.correiodoestado.com.br/politica/amigos-e-familiares-entram-em-confronto-na-internet-por-causa-das-elei/230024/. Acesso: 29/10/2018)
(2) "A guerra nas famílias durante as eleições: Clima de intolerância marca também as brigas entre parentes, e expõe a violência e o desrespeito nos conflitos geracionais." (fonte: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-guerra-nas-familias-durante-as-eleicoes. Acesso: 29/10/2018)
(3) "Acirramento eleitoral em 2018 já causa até expulsão de casa por divergência política. Como consequência direta do acirramento político, esses ambientes de diálogo viraram palco de rupturas em relações familiares e de amigos. Por conta das discussões, há casos até de pessoa expulsa de casa por divergências eleitorais, enquanto outra foi proibida de visitar parentes." (fonte: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/eleicoes-2018/acirramento-eleitoral-em-2018-ja-causa-ate-expulsao-de-casa-por-divergencia-politica/. Acesso: 29/10/2018)
O que faremos? Eu recomendo fortemente que aqueles que se envolveram em todo tipo de agressão e de ofensas, quer nas redes sociais, quer fisicamente, procure os ofendidos e se reconcilie com eles. E, em tratando-se de cristãos, recomendo fazer isso depressa, pois a vida espiritual, com Deus, ficará estagnada - podendo deteriorar - caso o perdão e a reconciliação não ocorram: "Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo." (Mateus 5:23-26)
A verdade é que a ofensa àqueles que amamos pode gerar o ódio. Pelo fato de terem dado sua afeição, lealdade, serviço e confiança, a ofensa penetra com mais força em suas almas e exige mais reparos do que se tivesse sido feito por um conhecido ou por um estranho. Pequenas ofensas podem inflamar feudos familiares ou conjugais, apesar de que coisas tão insignificantes teriam sido facilmente ignoradas em outros relacionamentos. É um fato lamentável da perversidade do homem que ele geralmente mostra menos misericórdia com a família e os amigos do que com estranhos. Portanto, reconciliar envolve, da parte do ofensor, a sinceridade e a humildade de reconhecer seu erro, além do amor pela pessoa que ofendeu. Não há possibilidade de reconciliação se esses elementos não estiverem presentes. O irmão ofendido, diz Provérbios, é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte e as contendas são como ferrolhos de um palácio
(Pv 18.19). A versão King James Atualizada é bem clara a esse respeito: "É muito mais difícil reaver a amizade de um irmão ofendido que conquistar uma cidade fortificada; e as discussões são como as grandes portas trancadas de um castelo."
A sabedoria aqui é a de evitar ofensas com irmãos, especialmente com os da igreja (Ef 4:3,16; Rm 14:16-19; Tg 3:18). Considerando que uma relação íntima é difícil de ser restabelecida pelas ofensas feitas, o melhor é evitá-los. Use de grande cautela ao lidar com amigos, de forma a evitar que se cruze a linha que destrói ou fira o relacionamento, especialmente na igreja.
O foco da fé cristã está invariavelmente posto no amor, primeiramente em Deus e então no próximo, como se lê: "Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo." (Lc 10.27) Não dá para ser cristão e não considerar o próximo como tão importante como a si mesmo, valorizando-o e respeitando-o em sua individualidade e particularidade. Não dá para ser cristão amando a Deus, a quem não vemos, e não amando o próximo, a quem vemos.
Pense nisso.
Graça e paz!