"Depois se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a majestade real; mas ele virá caladamente, e tomará o reino com lisonja. E aos violadores da aliança ele com lisonjas perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas." (Daniel 11:21,32)
"Violadores do pacto", em hebraico וּמַרְשִׁיעֵ֣י בְרִ֔ית. Traduzido ao pé da letra, "aqueles que agem perversamente em relação a aliança". Segundo o Ellicott's Commentary for English Readers, esses violadores são aqueles que se tornaram intolerantes para com a fé em Deus. O Barnes' Notes on the Bible pontua que estes são os judeus que apostataram, abandonando a Lei de Deus e aceitando viver a religião dos estrangeiros. Interessante notar que a Vulgata chama os violadores de "ímpios contra o pacto". Por sua vez, o Gill's Exposition of the Entire Bible afirma que tratam-se daqueles que abandonaram a Lei de Deus, o livro da aliança, e passaram a viver de forma contrária a ela (a Lei). A Bíblia de Estudo de Genebra (BEG) diz que os violadores tinham o nome de judeus, mas de fato não eram judeus, pois eles vendiam suas almas e traíam seus irmãos por ganhos; com isso, a BEG amplia o conceito de violação da aliança, estendendo-a ao relacionamento entre aqueles que comungavam da mesma fé: violar seria agir com deslealdade para com o "irmão".
O Pulpit Commentary pontua a historicidade do versículo 32: "Homens como Alcimus, o sumo sacerdote depois de Menelau, eram transgressores da aliança sagrada, e foram corrompidos pelas lisonjas de Epifânio. Ele usou-os para ganhar as pessoas para seus pontos de vista. Mas o povo que conhece o seu Deus será forte e fará façanhas. Mesmo quando Epifânio parecia mais bem sucedido, havia uma oposição profunda a esse processo helenizador." Por meio de lisonjas, Epifânio dividiu a lealdade dos judeus entre si e para com Deus. A oposição veio pelas mãos de Matatias e seus filhos, sendo conhecida como a revolta dos Macabeus.
Pelo viés profético, em conexão com o Apocalipse de João, pode-se afirmar que esse versículo refere-se a uma época na qual dar-se-á a invasão de Israel pelo Anticristo. Assim, seguindo-se essa forma de interpretação, o Anticristo usará lisonja para corromper qualquer um que rejeitar as promessas de Deus a Israel, particularmente o direito do povo judeu à Terra Prometida. A Grande Tribulação terá chegado e, embora muitos cristãos abandonem o Senhor, os verdadeiros soldados de Cristo estarão engajados na batalha pelo Rei. Nesse caso, as “lisonjas” mencionadas no versículo 32 são as palavras ditas pelo anticristo. Ele será um grande orador e muitos serão enganados por ele. As pessoas do mundo vão pensar que finalmente chegou uma pessoa política que vai fazer o que precisa ser feito. Haverá muita união e otimismo sobre o que esse homem fará por causa de sua capacidade de falar. Mas tudo será mentira.
Eu gostaria de ressaltar o conceito de violadores da aliança. Violadores da aliança que são pervertidos por lisonjas. Por bajulação, puxação de saco, etc. Gente que abandonou a Deus e que se vende por umas lisonjas. Gente que tem uma necessidade incontida de ser sempre elogiado e que não mede esforços, senso capaz de qualquer coisa para obter esses elogios. Gente vendida que não tem nenhum pudor em vender ninguém, se o preço a ser pago for um bom rapapé.
Perceba que é fácil encontrar gente assim. Quem já não experimentou o ferrão de um(a) violador(a) da aliança que você tinha com ele(a), e quando foi ver tudo foi feito por causa da bajulação de outrem, porque aquela pessoa trocou você por outro pela adulação que recebeu? Não que o elogio em si seja ruim, não é isso! Mas o problema da adulação é justamente esse: para quem é vendido, sem princípio, sem ética, a adulação serve para criar a estrutura sustentadora interna para a perversão!
O que é essa aliança? De forma muito básica, é toda relação de fidelidade e confiança mútua que estabelecemos com alguém. Na prática, quando gostamos da relação com alguém e queremos manter essa relação de forma duradoura, entramos em aliança com essa pessoa. Um casamento é uma aliança entre duas pessoas, que diante de Deus se comprometem a viver uma para a outra em todos os momentos e situações, por toda a vida, estabelecendo que só a morte poderá separá-las. Uma amizade é uma relação de aliança, onde os envolvidos se comprometem a viver um nível de relacionamento de intimidade e confiança; aliás, na amizade, muita confiança, honestidade e fidelidade são depositadas mutuamente nas pessoas envolvidas. Davi e Jônatas, filho de Saul, tinham esse nível de aliança: "E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma. E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma." (I Sm 18.1,3)
Uma aliança, na Bíblia, é algo muito profundo. A expressão usada nos tempos bíblicos era "cortar uma aliança", expressão derivada do hebraico Karath Berith, “cortar uma aliança". Aliança vem do hebraico briyth (ברית, translit. Berith), aparecendo 227 no Antigo Testamento. Outros termos utilizados são compromisso, pacto, testamento, etc.
A celebração de uma aliança no Antigo Testamento envolvia um ritual sanguinolento. Um animal era morto e suas partes eram dispostas em duas filas, simbolizando ambos as duas partes que entravam em aliança. Então, cada pessoa deveria passar pelo meio das partes do animal morto, afirmando com isso que o mesmo que aconteceu com o animal deveria acontecer com quem quebrasse a aliança. Deste modo, a fórmula hebraica de juramento (Gn 21.31; 26.31; 31.53; I Sm 20.17,42) é uma implícita auto-maldição, simbolizada pelo ato de passar por entre as partes do animal cortado no meio. Você pode ver isso no Livro de Gênesis, na aliança que o Senhor Deus celebrou com Abrão: "E disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho. E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu. E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades. Naquele mesmo dia fez o SENHOR uma aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates." (Gn 15.9,10,17,18) Perceba como Deus considera o assunto da aliança: de máxima importância! Ele é chamado o "Deus da Aliança" (El Berith)! Note também que Deus confere extremo valor não só a aliança feita com Ele, mas a aliança que fazemos entre nós, seres humanos: "Ainda fazeis isto outra vez, cobrindo o altar do Senhor de lágrimas, com choro e com gemidos; de sorte que ele não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer da vossa mão. E dizeis: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio, e aquele que encobre a violência com a sua roupa, diz o Senhor dos Exércitos; portanto guardai-vos em vosso espírito, e não sejais desleais." (Ml 2.13-16) A aliança pode ser rompida/violada? Da parte do Senhor não, mas da parte humana sim; mas há penalidades para quem viola a aliança (veja por exemplo Mt 19.9).
Aliança é um relacionamento baseado em algo sério, não é casual. É um compromisso para que as duas partes manifestem publicamente a seriedade de suas intenções de uma para a outra. Assim, a quebra da aliança (a violação da aliança) tem consequências sérias: se não honrar a aliança, haverá dano. A aliança é tão levada a sério por Deus que Ele só age por meio de aliança: "Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos e que retribui diretamente aos que o odeiam, para os destruir; não será remisso para quem o odeia, diretamente lhe retribuirá." (Dt 7.9,10)! Deus faz aliança conosco por que Ele quer fazer, não por necessidade; Ele quer nos mostrar com isso a importância e a profundidade do compromisso! Deus não aprova a leviandade humana! A aliança dá garantia de estabilidade no relacionamento: o relacionamento será mantido mesmo nos momentos de angústia e de tribulação (por isso, no casamento, nos comprometemos a amar, respeitar e ser fiel ao outro na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza... na alegria e na chatura... no bom ânimo e na rabugice, kkkkkkkkkkkkk).
Os violadores da aliança são pervertidos pela bajulação. Olhe como isso se encaixa muito bem: quantos são os casos onde a traição se dá por causa de bajulação? Quantos homens e mulheres não passaram a trair seu cônjuge porque deram ouvidos a bajulações: "como você é atraente, bonita(o), com corpo escultural, faz inveja a muita mulher/homem...". Quantos irmãos foram separados porque um se envaideceu por conta das bajulações que passou a receber? Quantos ministros de Cristo se afundaram em lama, manchando suas vidas, por conta de terem cedido aos poderosos prazeres gerados por um bajulador: "como você prega bem!", "que unção!", "que sabedoria", "jovem de Deus", e por aí vai! Perceba isso: Quem já violou a aliança em seu coração - quem passou a desconsiderar a aliança que fez com alguém ou com Deus - ser pervertido por conta da bajulação é só questão de tempo. Tempo muito curto, na maioria das vezes.
Na bajulação, sempre tem interesse pessoal escuso envolvido: É gente que bajula para subir na hierarquia e, assim, ganhar o lugar
(geralmente de outro, o qual sem bajulação ele não nunca ocuparia por
não ter competência, ou no caso de ministério pastoral, chamada), derrubando quem ocupa a posição. É gente que bajula para se manter na posição. Bajula-se como instrumento de conquista: bajulando um, de forma que esse traia outro e assim passe a ocupar o lugar deste.
Note o poder maligno que a bajulação possui! Provérbios declara: "O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma rede aos passos." (Pv 29.5) Davi chega a dizer que "na
boca deles não há palavra sincera, suas mentes tramam continuamente o
mal. Suas gargantas são como um túmulo aberto, e com suas línguas
seduzem e enganam." (Sl 5.9) Esse poder da bajulação é, de fato, gerado no inferno: "boca bajuladora provoca destruição!" (Pv 26.28) É instrumento de Satanás para separação, para traição, para inimizade, para desamor! Todo aquele que bajula está permitindo-se agir em prol dos interesses do diabo, nunca e em hipótese alguma de Deus! Na bajulação sempre está envolvida a mentira, a insinceridade! A bajulação é exatamente isso: um elogio insincero com segundas intenções. Quem bajula, está querendo inflar o ego de alguém para conseguir algo para si ou quer aparentar ser o que não é. Essa é a perversão: passar a ser servo/obreiro do diabo, mesmo dizendo-se servo de Deus! Um violador da aliança que foi pervertido usará do mesmo expediente: ele, via de regra, também será um bajulador! Por essa razão é que há muitos pastores bajuladores: porque, tendo violado a aliança com Deus, deram ouvidos à bajulação e assim passaram a incluir a bajulação em suas vidas e ministérios! Bajulam nos púlpitos, com mensagens para o ego dos ouvintes; mensagens triunfalistas, psicologizadas, suaves aos ouvidos de quem as escuta. Bajulam nos gabinetes, bajulam nas festas onde banqueteiam-se e refestelam-se. Atenção com a malignidade infernal da bajulação: Ela será usada pelo PRÓPRIO ANTICRISTO! BAJULAÇÃO É ARMA DO DIABO!
Nos últimos últimos dias, surgirão muitos falsos pastores que usarão de bajulação com vistas a ampliarem os domínios de suas denominações decaídas. Violadores da aliança, pervertidos pelo engano! Muitos hão de os seguir, dando ouvidos às suas bajulações e por causa delas, pervertendo o Caminho. Bajulação é a arma desses enganadores: "Estes são murmuradores, queixosos, andando segundo as suas concupiscências; e a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse." (Jd 1.16) Esse mesmo verso na versão King James Atualizada é ainda mais incisivo: "...e usam de adulação para conquistar seus objetivos". Veja o que Paulo diz sobre estes falsos: "Porquanto essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas sim a seus próprios desejos. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos incautos." (Rm 16.18)
Deus requer de cada um de Seus filhos e servos que estes falem a verdade em todos os casos. Mesmo que venha a desagradar, a verdade deve ser dita. Isso não significa que os cristãos tenham que ser grosseiros e mal-educados; Paulo nos exorta dizendo que a nossa maneira de falar seja sempre agradável e bem temperada com sal, a fim de sabermos como devamos responder a cada pessoa (Cl 4.6), um jeito de falar sempre moderado pela Graça de Deus. Note como um verdadeiro filho de Deus se comporta: "A verdade é que jamais nos utilizamos de linguagem bajuladora, como bem sabeis, nem de artimanhas gananciosas. Deus é testemunha desta verdade." (I Ts 2.5) Será que você pode falar como Paulo falou aos Tessalonicenses: "jamais utilizei de linguagem bajuladora"? Será que você pode dizer isso acerca do intitulado pastor que está em sua denominação? Mesmo que você não venha a ocupar o cargo que tanto deseja (no trabalho, na igreja, no clube, etc.), mesmo que você não venha obter aquele "favorzinho especial", não entre pelo caminho da bajulação! Na vida, há momentos em que é melhor perder - isso será ganho, na verdade - do que aparentemente vencer, aparentemente ganhar e na verdade essa vitória ser uma dura perda, uma vitória de Pirro. Os fins não justificam o uso de todos e quaisquer meios para serem obtidos! Lembre-se do que Jesus disse: "Aquele que ama a sua vida, a perderá; entretanto, aquele que odeia sua vida neste mundo, a preservará para a vida eterna." (Jo 12.25)
Tudo começa com a violação da aliança. Não seja um violador da aliança. Respeite as alianças que você fez com Deus e com outras pessoas. Respeite a aliança com seu cônjuge (marido/esposa), com seu amigo(a), com seus pais, com seus irmãos em Cristo e com Seu Deus. A estrofe "a aliança do Senhor eu tenho com você" não pode ser só parte de mais uma musiquinha religiosa enche-linguiça: tem que ser verdade! Deus não quer que tenhamos relacionamento correto somente com Ele, mas também uns com os outros! Como podemos trair nosso irmão/cônjuge que conosco andou e comeu e depois adorar a Deus? Quebramos aliança e depois adoramos a Deus, desrespeitando a essência de Deus? Nós não podemos prejudicar deliberadamente aqueles que conosco estão aliançados, violando a aliança! A Nova Aliança no Sangue do Senhor Jesus, na Graça, não nos dá permissão de violar a aliança com Deus e uns com os outros!
Quebrou a aliança? Violou o pacto, dando ouvidos a bajulação? Passou a ser um(a) bajulador(a)? Arrependa-se e busque restaurar a aliança violada! Você está na contra-mão da Vontade de Deus enquanto permanecer nessa condição, permitindo que Satanás use sua vida! Deus não aceitará você nem sua oferta de louvor e adoração enquanto não houver o religare de Deus na sua vida: "Assim sendo, se trouxeres a tua oferta ao altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali mesmo diante do altar a tua oferta, e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão, e depois volta e apresenta a tua oferta." (Mt 5.23,24)
Pense nisso!
Graça e paz!