Jó 1:1 Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal.
Jó 1:2 Nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
Jó 1:3 Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do Oriente.
Jó 1:13 Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa do irmão primogênito,
Jó 1:14 que veio um mensageiro a Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles;
Jó 1:15 de repente, deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
Jó 1:16 Falava este ainda quando veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
Jó 1:17 Falava este ainda quando veio outro e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os camelos, os levaram e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
Jó 1:18 Também este falava ainda quando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa do irmão primogênito,
Jó 1:19 eis que se levantou grande vento do lado do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova.
Jó 2:7 Então, saiu Satanás da presença do SENHOR e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.
Jó 2:8 Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se.
TODOS NÓS TEMOS UM LIMITE. Um limite de resistência física e emocional. É possível chegar nesse limite máximo. Nesse ponto, muitos não resistem: depressões terríveis, condenações intermináveis, dores intensas pelo corpo... algumas vezes, até o suicídio é cogitado e, não raro, praticado, que torna-se uma última "rota de fuga". Afinal, pensa aquele que cogita acabar com a própria vida, "ninguém liga para mim, nem para o que estou vivendo", "minha situação não tem solução; agora é daqui para pior, logo é melhor morrer de uma vez".
Na Bíblia, há o registro de um homem que viveu o "inferno na terra". Jó atingiu o limite máximo da resistência humana (física e emocional) – ele perdeu todos os seus bens, todos os seus filhos e a sua saúde, cumulativamente. Ele tinha tudo, de uma hora para outra ficou sem nada: perdeu suas posses, seus filhos e sua saúde. Por conta delas, Jó lamenta seu nascimento (Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? - Jó 3:11), onde segundo ele teria sido melhor ser abortado ou nascido morto do que aquilo que vivia. Ele lamenta pela morte não chegar para ele (Por que se concede luz ao miserável e vida aos amargurados de ânimo, que esperam a morte, e ela não vem? - Jó 3:20,21). Para ele, aquelas dores eram insuportáveis. Jó ficou em um estado deplorável: ele passou a ter halitose (“O meu hálito é intolerável à minha mulher[...]” - Jó 19:17a), febre (“[...]os meus ossos estão queimados do calor” - Jó 30:30b) e úlceras na pele infestadas por vermes, que ao serem coçadas arrebentavam novamente (“A minha carne se tem vestido de vermes e de torrões de pó; a minha pele endurece, e torna a rebentar-se” - Jó 7:5). Que situação!
Num mundo cada vez mais cruel e impiedoso, muitos vivem exatamente a mesma situação de Jó. Assim como vê-se na vida daquele patriarca, há milhares de pessoas vivendo exatamente agora terríveis realidades, como a perda da saúde, do ganha-pão, da família, da honra, do auto-respeito, etc. Veja, por exemplo, o caso recente dos venezuelanos no Brasil, no Estado do Roraima: a prostituição daquelas que outrora foram pacatas donas de casa, para poderem sobreviver.
Problemas financeiros podem levar a pessoa ao limite. Se problemas financeiros podem levar ao desespero, imagine perder todo o fruto do trabalho de uma vida inteira, como essas mulheres! Por conta das experiências sexuais forçadas pela condição financeira, depressão, ansiedade e desejos suicidas são comuns a essas pessoas (Veja: Prostitutas são as pessoas que mais tentam suicidar-se).
Mas não é só problemas financeiros: os de saúde também podem levar a pessoa ao limite. Eles são capazes de abater a alma de qualquer pessoa. Quantas famílias estão vivendo angústias e tristezas insuportáveis por terem seus queridos internados em estado gravíssimo ou os perdido, pela morte, devido a pandemia por Covid-19? Quem perdeu seu querido sabe o quanto a dor pode ser extremamente intensa, ainda mais num mundo desprovido de misericórdia e compaixão, onde prevalece os piores tipos de maldade e crueldade.
Infelizmente, problemas no relacionamento interpessoal podem também gerar o desejo de terminar com tudo rapidamente. Quantas mulheres - até adolescentes e crianças, que
estão sofrendo ou já sofreram abusos sexuais (e outros tipos de abuso)
não estão nesse exato momento cogitando acabarem com suas próprias
vidas? É muito triste constatar isso! Assim, por exemplo, acontece com aquele que sofre bullying. Com aquele que é alvo de preconceito, discriminação e opressão, como por exemplo é o caso dos LGBTQI+ (veja: Autoextermínio é até 7 vezes mais comum entre LGBTQI+). Muitas pessoas, consciente ou inconscientemente, por suas atitudes em relação ao próximo, estão contribuindo para o atingimento do limite e, tristemente, para a destruição da vida de outro ser humano.
O fato aqui é que cada um de nós possui um limite de resistência diferente nas diferentes áreas de nossas vidas, porém tão capaz de ser atingido como o de Jó. Uma vez atingido o limite de nossa resistência, perdemos as “salvaguardas” emocionais que mantém nosso equilíbrio interno. Tem lugar, então, uma enormidade de expressões e sentimentos incontroláveis:
- Insônia Intensa: “Havendo-me deitado, digo: Quando me levantarei? Mas comprida é a noite, e farto-me de me revolver na cama até a alva.” (Jó 7:4)
- Expressões Verbais de Amargura: “Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma.” (Jó 7:11)
- Sentimento de abandono da parte de Deus: “Ainda que eu chamasse, e ele me respondesse, não poderia crer que ele estivesse escutando a minha voz.” (Jó 9:16) Talvez você esteja se perguntando: “Será que o Meu Pai Está Vendo o que Estou enfrentando - e Será que Ele Se Importa com Isto?”
- Sentimento de injustiça da parte de Deus: “Porque eu, porque comigo?” (Jó 21:7-15)
- Desejo de jamais ter nascido: “Por que não morri ao nascer? por que não expirei ao vir à luz?” (Jó 3:11)
- Desejo de morrer: “A minha vida abomino; não quero viver para sempre”. (Jó 7:16). Em algumas pessoas, este sentimento é tão intenso que acaba por converter-se em sentimento de desejo de suicídio – ou mesmo na tentativa deste: “Ninguém me ama. É fácil a gente se matar quando não tem nada a perder”.
O que fazer quando esse limite pessoal de resistência é atingido? Dar vazão aos sentimentos destruidores, levando-os à cabo? Matar-se? Matar alguém? À luz da experiência de Jó, sugiro que nesses momentos, no limite de sua resistência, você vá ao limite da fé! No limite de sua resistência emocional e física, Jó levou sua fé ao limite. Não buscou em Deus explicações, justificativas, teologismos baratos ou qualquer paliativo. Ele colocou toda a sua fé no ponto mais alto que ela poderia chegar, neste estágio: Ele creu no seu REDENTOR pessoal, Vivo e não Passivo! (Jó 19:25 – “meu Redentor”)!
A exemplo de Jó nós também temos um Redentor, que está Vivo. Ele se identificou conosco, se fez homem. Se identificou até o limite da nossa resistência e não satisfeito ultrapassou este limite, para que por Seu sofrimento, fôssemos livres do nosso! Para que, tendo experimentado todas as tentações e dores possíveis, pudesse nos socorrer em nossas dores e tentações! Ele, Jesus, apanhou de vários soldados, cuspiram Nele, o açoitaram com um chicote feito para gerar dores indizíveis (chamado flagrum ou flagellum, consiste em pequenas partes de osso e metal unidos a vários cordões de couro. Durante as chicotadas, a pele era arrancada das costas, expondo uma massa ensangüentada de músculo e osso), colocaram Nele uma coroa de espinhos, o pregaram numa cruz e furaram seu tórax com uma lança (Mt 26.67,68; 27.30). Ele foi traído por seu amigo íntimo, por quem Ele amava (Jo 15.15; Mt 26.50 – “amigo, a que vieste?”), foi negado três vezes por seu amigo Pedro, abandonado por aqueles a quem amou, inclusive João. Escarneceram dele o quanto puderam! Até Seu Pai virou a face, escondendo Dele o rosto e deixando-O desamparado a sofrer no corpo e na alma, para morrer da forma mais indigna possível naquela época - uma morte de ladrão, de traidor! Morreu entre dois ladrões, numa situação de maldição (Mt 27.46) Mas Ele fez isso por causa de nós! "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53.4,5). Logo, ELE SE IMPORTA CONOSCO - e não pouco; deu a própria vida para que vivêssemos; logo, Ele está ao nosso lado nos piores e mais cruéis momentos de nossa vida, para nos ajudar e livrar!
Deus diz que você está gravado bem na palma da Sua mão! Em hebraico a palavra “gravei” significa “tatuei” - quer dizer, indelével, impossível de ser apagado. Ele não pode esticar a Sua mão sem que Se lembre de você! Deus não se esquece JAMAIS de você! (Is 49.13-16). Deus não despreza o aflito ("Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro" - Sl 22.24) Vá até Ele e dele receba a força para continuar a jornada! Vá até Ele, com confiança e fé - Ele é socorro BEM PRESENTE na hora da angústia! É Ele mesmo quem diz: "invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás"! (Sl 50.15) O próprio salmista, homem como eu e você, demonstra profunda confiança na resposta de Deus no dia da angústia ("No dia da minha angústia, clamo a ti, porque me respondes" - Sl 86.7)!
Como invocar ao Senhor, talvez você pergunte. A resposta é apresentando a Ele os sacrifícios que Ele considera agradáveis: "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus." (Sl 51.17) Ele, o Senhor, é quem te diz nessa hora: "Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos." (Is 57.15)
Para concluir, deixo-lhe um precioso louvor. Escute-o enquanto busca o Senhor seu Deus:
Graça, misericórdia e paz lhes sejam multiplicadas!
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Sermão ministrado em culto dominical, dia 24/02/2008.