ἔπεχε σεαυτῷ καὶ τῇ διδασκαλίᾳ. ἐπίμενε αὐτοῖς· τοῦτο γὰρ ποιῶν καὶ σεαυτὸν σώσεις καὶ τοὺς ἀκούοντάς σου. (I Tm 4.16 - TR-1894)
epeche seautō kai tē didaskalia; epimene autois; touto gar poiōn kai seauton sōseis kai tous akouontas sou. (I Tm 4.16 - WH-1881 - Transliterado)
A palavra "doutrina" é a tradução do termo grego "didaskalia"; este é melhor traduzido por "ensino". Conforme a construção do texto no grego, καὶ τῇ διδασκαλίᾳ, significa "e teu ensino". Com isso, se fôssemos traduzir ao pé da letra o versículo, ficaria da seguinte maneira: "Preste atenção para reter/permanecer você mesmo e no ensino. Continue/persevere nestas coisas, fazendo isso você salvará a ti mesmo e teus ouvintes". Trata-se, portanto, de uma dupla recomendação, de Paulo para Timóteo e de Deus para nós, hoje.
Tome cuidado consigo mesmo. Isso pode ser entendido como referente a qualquer coisa, de natureza pessoal, que qualifique positivamente (ou negativamente) para a obra. Obviamente, aquilo que for positivo deve ser cultivado; aquilo que for negativo deve ser eliminado. Isto pode ser aplicado tanto com relação à piedade pessoal; à saúde; aos costumes; aos hábitos de vida; ao temperamento; aos propósitos; ao contato com os outros.O ministro de Cristo deve manter sua atenção fixa em seu próprio comportamento e conduta, porque pode, com seus atos, palavras e comportamento, contribuir para o destino eterno de seus ouvintes/leitores, quer positivamente ("salvará os que te ouvem") ou negativamente ("porá a perder/desviará aqueles que te ouvem", por contraposição lógica).
O comportamento pessoal é muito importante na vida de um servo de Cristo, especialmente se for um ministro (diáconos, presbíteros, evangelistas, pastores, bispos, apóstolos, professores, missionários, ministros de louvor, líderes de departamentos, etc). Este comportamento deve ser condizente com a realidade da fé em Deus, pois a fé em Deus é transformadora da natureza humana. Ou seja, a fé em Cristo produz inevitavelmente na vida humana o novo nascimento, com a geração da nova natureza, divina, no interior do homem. Esse novo nascimento precisa, obrigatoriamente, ser evidenciado pelos frutos - o que a Bíblia chama de "frutos dignos de arrependimento"; afinal de contas, segundo Tiago, a fé sem obras é morta, inativa, inoperante, incapaz de gerar vida. Se alguém crê em Cristo, tal fé obrigatoriamente gera a vida de Deus na vida humana e esta vida é manifesta de forma notória! Esta mudança de vida é fruto observável na vida de qualquer pessoa que verdadeiramente tenha crido em Cristo como Senhor e Salvador e é a evidência de genuína conversão (e salvação dos pecados); qualquer cristão verdadeiro experimenta tal mudança e, portanto, um líder cristão deve principalmente trazer esta evidência em sua vida.
Note: não estamos aqui, de modo algum, falando em perfeição absoluta, ou vida sem pecado. Não. Mas o que estamos dizendo é que se uma pessoa crê em Cristo verdadeiramente, ela recebe suporte divino para não viver mais continuamente no pecado e, por sua nova natureza, passa a odiar o pecado. Porém, de um ministro de Cristo, é exigido um pouco mais - é exigido que ele tenha cuidado consigo mesmo, isto é, que ele exerça vigilância contínua sobre sua própria vida (como apascentar alguém sem apascentar primeiro a si mesmo?) de forma a não causar escândalo, trazer blasfêmia ao nome de Deus (Rm 2.24) ou que o Caminho da Verdade venha, de alguma maneira, a ser blasfemado (II Pe 2.2). Há uma ética cristã, bíblica, a ser observada por qualquer cristão genuíno, especialmente por um ministro cristão genuíno. Este ethos cristão é a forma com que alguém que traz sobre si o nome de Cristo deve se comportar, de forma a claramente distingui-lo como povo de Deus; trata-se, portanto, da identidade, do modo de ser, do caráter cristão.
Assim, em relação à moral, o ministro de Cristo deve estar de pé. Em seu contato com os outros e em seus hábitos pessoais, ele deve ser correto, consistente e cavalheiro, de modo a não dar oportunidade a nenhuma ofensa desnecessária. A pessoa de um ministro deve ser pura e limpa; suas maneiras, como irá mostrar a influência justa da fé cristã sobre o seu temperamento e comportamento; seu estilo de conversa, como um exemplo para os velhos e os jovens, e, como não ofender as leis de cortesia e urbanidade. Não há verdadeira fé, nem vida espiritual, em uma pessoa imunda em seus pecados; em modos grosseiros; que se conduz de forma inconveniente; com hábitos desleixados - ser um verdadeiro cavalheiro deve ser tanto uma questão de consciência do ministro do evangelho como de um verdadeiro cristão. A fé salvadora refina as maneiras - ela não os corrompe; torna a pessoa cortês, educada, e gentil - nunca produz modos grosseiros, ou hábitos ofensivos (Barnes' Notes on the Bible).
Deve cuidar do estado de seu coração, de sua consciência, de seus afetos, seu espírito, seu caráter, sua linguagem, tudo deve manter-se embaixo do santo controle do Espírito e da Palavra de Deus. É necessário que esteja instruído com a verdade e vestido com a couraça da justiça. Sua condição moral e sua marcha prática devem concordar com a verdade que ministra; do contrário, o inimigo, com segurança, ganhará vantagem sobre ele. O mestre deveria ser a expressão vivente do que ensina; ao menos, tal deveria ser o objeto perseguido por ele com sinceridade, com veemência e com perseverança. É de desejar que esta santa medida esteja constantemente ante “os olhos de seu entendimento” (C. H. Mackintosh, in: http://camposdeboaz.com.br/tem-cuidado-de-ti-mesmo-e-da-doutrina-c-h-mackintosh).
Um ministro de Cristo não usa de palavras de baixo calão em seus diálogos e nem aprova tal coisa; não aprova nada que fira a moral que ele professa nem faz uso dessas coisas. Nos tempos modernos, atuais, não "compartilha" nem "curte" textos com palavrões, com xingamentos e ofensas ou que incentivem tal coisa; nem fotos de nudez ou que incentivem a nudez, a pornografia, o sexo livre e irresponsável. Ele(a) tem todo cuidado com "brincadeirinhas"/"piadinhas" que possam dar base a chocarrices e parvoíces com quem quer que seja, sempre evitando-as ao máximo.Nem troca de farpas, indiretas, etc. Em tudo o que faz, o ministro de Cristo busca a glória de Deus. No trato com quem quer que seja, o ministro respeita os sadios limites impostos pela Palavra de Deus. Ele(a) não fica com conversas inapropriadas, nem compartilha "selfies sedutoras" ou "nudes" via whatssap, facebook, e-mail ou por qualquer outro meio - nem mesmo fotos com roupas sensuais. Ele(a) não aparece seminu(a) em talk shows ou programas de auditório, nem em revistas masculinas/femininas.
Abre parênteses: não adianta ficar no "churicantaslabarai" no culto na Igreja, tendo "visagem e revelamento" no mistério Kodak, rodopiando e rolando no chão, se fora desse ambiente a vida é desregrada; se no dia-a-dia vive na fornicação, falando mal de pastor e de Igreja e espalhando contendas aonde vai. O mesmo Espírito Santo que dá dons é Aquele que dá Seu Fruto, o caráter de Cristo em nossa vida. Deus é um só, o Espírito é um só e a fé é uma só, onde quer que estejamos. Fecha parênteses.
O comportamento de um ministro de Cristo não pode ser usado por Satanás como instrumento da perdição, como ferramenta para fazer desviar da fé a vida do povo de Deus! Isso não pode acontecer em hipótese alguma! Se um ministro não tem cuidado de si mesmo, ele não salvará nem a si mesmo, nem aqueles que o ouvem - e isso é muito sério! "Cada vez mais e mais pessoas são pegas na armadilha dos escândalos. Cresce o número de perdidos ao passo que aumentam as barreiras para conversão de pecadores. Hoje, cada crente verdadeiro corre grande perigo de que, caso venha a se desviar, nunca mais encontre o caminho de retorno a fé cristã. O mundo está cada vez mais acelerado, o diabo cada vez mais diabólico e homem cada vez mais endiabrado. Temo a dizer que talvez nunca, em toda a história, o laço do passarinheiro revelou-se tão eficaz quanto nos nossos dias! O escândalo faz cada vez mais seus prisioneiros, trazendo censura ao genuíno ministério cristão na face da Terra (II Co 6.3) por aqueles que acabam julgando tudo e todos pela atitude de alguns." (ESCANDALOSOS E SEUS ESCÂNDALOS, http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2013/05/escandalosos-e-seus-escandalos.html)
Facilmente é possível perceber que ela possui, no mínimo, dupla interpretação. A primeira delas, direta, traz o ensino de que é desejável, aprazível, correto que o pregador não seja cortês. Noutras palavras, um pregador "correto" deveria ser, portanto, descortês. Só que a palavra "descortês" (aquele que não é cortês) é sinônimo de grosseiro, rude, violento. Pergunto: o correto, por parte de um pregador, é ser rude? É ser grosseiro? É ser violento? Pois é isso que a fase "bem-dita" está dizendo, induzindo diretamente a um erro. Agora, por outro lado, assumindo que foi realmente o ev. Leonard Ravenhill que proferiu essa frase (porque não há citação da referência, de forma a podermos confirmar se é dele mesmo a autoria dessa frase), ela precisa ser interpretada dentro de um contexto. Como não o sabemos, vamos a segunda possibilidade de interpretação - a indireta: o problema do "pregador cortês" é com o quê ele é cortês! Nesse caso, com base na análise da linha teológica e de pensamento do ev. Leonard Ravenhill exarada em seus sermões, obras, etc., (e a Bíblia, sempre) eu diria que o problema é quando o pregador é cortês com o pecado de seus ouvintes, isto é, quando ele suaviza a mensagem que prega para não desagradar aqueles que a ouvem. Percebeu a diferença? Aqui tratei de um exemplo bem simplório, apenas para que o leitor possa entender; pouca repercussão ele gera (a não ser em mentes muito, mas muito confusas).
Na frase abaixo, faça o mesmo exercício anterior. Qual é interpretação direta? Para que ensino antibíblico moderno essa interpretação direta aponta, com a "chancela" de John Henry Jowett (já que é atribuída a ele)?
Observe que mesmo o ensino direto, bíblico, precisa vir dentro de um contexto. Já dizia a máxima da hermenêutica: "texto, sem contexto, é pretexto. Só serve para jogar no cesto". Contexto é tudo que vem antes e depois do texto; pode ser um versículo, dois, três; um capítulo, um livro ou toda a Bíblia. Vejamos um exemplo bem simplório: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou." (Jo 6.27) Fora de qualquer contexto, o que o texto acima parece ensinar? Que o trabalho cotidiano - isto é, ter um emprego, de forma a ter um salário - para se alimentar é (1) perda de tempo e (2) errado; o homem deve trabalhar para o Senhor Jesus (como ou fazendo o quê não sei), de forma que com seu trabalho receba, como pagamento, uma comida que permanece para a vida eterna (ainda ensina salvação por obras!). Percebe quanta baboseira, quanta heresia mesmo, pode ser gerada a partir de um ensino sem contexto (e ainda com a chancela de um ministro de Cristo, o que confere peso de veracidade do ensino)?
Hoje há uma proliferação de falsos ensinos e falsos mestres contra os quais a Igreja de Cristo precisa ser alertada, à luz da Palavra de Deus, pelos genuínos ministros de Cristo. Mais do que nunca, faz eco ao nosso coração a solene e grave advertência do Espírito (I Tm 4.1) quanto à apostasia dos últimos tempos. Hoje, há muitas pessoas que seguem ensinos de homens; outros, que seguem ensino de demônios. O falso ensino tem se misturado com o verdadeiro, e somente a partir do exame sério e comprometido das Escrituras, do ensino bíblico responsável, será possível fazer a distinção entre ambos. Periodicamente, ventos de doutrina sopram contra a Igreja levando muita gente boa, muitos filhos e filhas de Deus, em roda. Portanto, o ministro de Cristo precisa ser sóbrio e ter cuidado com o seu ensino, direto ou indireto. É preciso estudar muito as Escrituras, comparando texto com contexto, além de ler bons comentários, dicionários, enciclopédias e livros de autores reconhecidamente cristãos, de forma a ter clareza bíblica sobre o que vai ensinar.
Moralmente, é extremamente perigoso que um homem ensine em público o que sua vida prática desmente – perigoso para si mesmo, desonroso para o testemunho e prejudicial para aqueles a quem ensina. Que deplorável e humilhante é para um homem, quando contradiz com sua conduta pessoal e sua vida doméstica a verdade que apresenta publicamente na Igreja. Isto é algo que há de se temer sobremaneira e que terminará indefectivelmente nos resultados mais trágicos. (C. H. Mackintosh, in: http://camposdeboaz.com.br/tem-cuidado-de-ti-mesmo-e-da-doutrina-c-h-mackintosh). Por outro lado, às vezes um falso ensino pode ser gerado pelo simples descuido com aquilo que é teoricamente bíblico e correto, mas mal interpretado ou aplicado; isto se dá às vezes por preguiça e desleixo, às vezes por desconhecimento. O problema está no impacto que isso causa ou possa vir a causar na vida espiritual de uma pessoa. Há erros que não afetam a eternidade e que são passíveis de conserto; há erros que podem fazer com que uma pessoa se perca de Cristo para sempre, apostatando da fé. A pergunta é se vale a pena correr o risco de não ter a salvação, para si ou para os ouvintes, por ensinar o erro (diretamente ou indiretamente, com o tal curte/compartilha/publica/divulga) pelo desmazelo com a própria vida com o ensino propriamente dito.
Lembre-se: A quem muito foi dado, muito será cobrado. Está escrito: "E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." (Lc 12.48b)
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!
O cuidado deve ser de ambos (quem fala e quem ouve).
ResponderExcluirÉ uma grande responsabilidade. Devemos saber o que dizer,como dizer e principalmente se está dentro da palavra de Deus.
Além de levar o ouvinte para um destino nada agradável, responderá diante de Deus no juízo.
É de grande urgência que todo cristão entenda de fato tudo o que foi dito neste texto. Entenda que deve cuidar do seu comportamento e de tudo o que diz,ou divulga.
Excelente leitura!
Precisamos com urgência nos arrepender de tamanho mal praticado contra os irmãos. Priorizar a santidade, o Temor ao Senhor e já que sabemos ou deveríamos saber, que Ele é Deus de Justiça e que fará um mais severo juízo aos líderes do que aos liderados.Precisamos ser criteriosos em tudo aquilo que falarmos, e com nosso modo de vida. De fato Jesus é o nosso padrão por excelência, um altíssimo padrão . É grande nossa responsabilidade! Sabemos que de tudo teremos que prestar contas. Ele leva tudo muito a sério . Não brinca com as almas e com o destino eterno delas. Só o fato de que nossas obras hão de ser julgadas ,já é para tremermos e temermos nas " bases ".
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