("Jó" 1957. Por Gerhard Marcks, na igreja de Santa Clara em Nuremberg, Alemanha. Fonte: Wikipedia)
Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal.
E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente.
E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente. (Jó 1:1-5)
Então respondeu Jó ao SENHOR, dizendo:
Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.
Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia.
Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás.
Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.
Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza. (Jó 42:1-6)
Jó era um servo de Deus próspero materialmente. Ele tinha muitas posses e havia com frequência banquete na casa dele, promovido pelos seus filhos. Além da prosperidade material, Jó era reconhecido pelo próprio Deus (!) por seu alto padrão de vida moral e espiritual: Jó era um crente temente ao Senhor, um crente fiel, ele era “homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (1.1). Essas características na vida deste servo fiel não passavam desapercebidas por Deus. Se olharmos mais a fente, estudando em detalhes a vida de cada um dos servos de Deus, tanto no Velho quanto no Novo Testamento, veremos que Deus conhece o coração, a fé e as obras de cada um deles. Assim foi por exemplo com Davi - "homem segundo o coração de Deus" - e foi também com os "irmãos boanerges" - Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, que traduzido significa "filhos do trovão" (Mc 3.17). Portanto, diante dessa realidade, podemos crer que nada em nosso ser, nem um detalhe sequer, escapa dos olhos Daquele que nos valoriza mais do que muitos passarinhos! Ele nos conhece e nos ama, ainda que tenhamos bons e maus momentos, boas e más caractéristicas em nosso caráter e fé. O Senhor não ignora a sua vida nessa terra. Ele conhece tanto as suas obras quanto a sua fé. Ele conhece o estado e o progresso de ambas (Ap 2.19). O SENHOR CONHECE QUEM CONFIA NELE! "O Senhor é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele" (Na 1.7)!
O Senhor reconhece Jó como sendo “seu servo” e reconhece a integridade espiritual de Jó diante DEle (1.8). QUEM NÃO ANSEIA POR ISTO? Quem não anseia em ser reconhecido por Deus e Dele receber o louvor? Ora, nós muitas vezes ficamos esperando o louvor de homens, do chefe, do pastor, do pai, da mãe, do marido, da esposa, do professor... quanto mais não deveríamos desejar com todas as nossas forças obter de Deus o louvor a nosso respeito? Digo que esse reconhecimento público da parte de Deus deve ser o nosso alvo (I Co 4.5)! Esse louvor que vem da parte do Senhor tem repercussão eterna, nos trazendo profunda edificação!
Sim, é o Senhor quem sonda a nossa vida (Sl 139.1). Sua sondagem demonstra o interesse DEle em nós. Ele faz a sondagem por nos amar, porque Ele conhece o que está por detrás daquilo que é aparente aos olhos humanos. Podemos parecer aos demais ser um fracasso, mas Deus no céu pode enxergar diferente. Do mesmo modo, podemos nos considerar um sucesso, "a última bolacha do pacote", mas Deus não nos ver assim. Na engenharia, o proósito da sondagem é fornecer informações do subsolo como espessura e dimensão de cada camada do solo até a profundidade desejada; existência de água com a posição do nível de água encontrado durante a investigação do solo; profundidade da camada rochosa ou do material impenetrável e as propriedades do solo ou da rocha como permeabilidade, compressibilidade e resistência ao cisalhamento (cf. PEREIRA, Caio. Tipos de Sondagem de Solo. Escola Engenharia, 2015. Disponível em: https://www.escolaengenharia.com.br/tipos-de-sondagem/. Acesso em: 27 de outubro de 2019). Assim, a sondagem de Deus tem como propósito nos despertar para o nosso real estado diante de Seus olhos, fazendo-nos conhecer e reconhecer quem realmente somos e como realmente estamos, espiritualmente falando. Por exemplo, a Igreja de Esmirna vivia debaixo de tribulação, blasfêmia e pobreza. Mas o Senhor Jesus viu nela uma Igreja rica e com ela se identificou (Ap 2.9). Porém, a Igreja de Laodicéia era rica. Mas o Senhor Jesus viu nela uma Igreja desgraçada, miserável, pobre, cega e nua. Para ela, Ele se apresenta como Testemunha fiel e verdadeira (Ap 3.17).
Não devemos nunca desanimar com a sondagem do Espírito Santo. Ao contrário, devemos pedir-Lhe que faça essa sondagem constantemente em nossa vida, de forma que Ele aponte em nós aquilo que precisamos vencer (Sl 139.24). O SENHOR QUER NOS CONHECER HOJE! (Mt 7.23). Agora, note isto: Deus é sempre onisciente. Ele sempre conhece tudo e todos, passado, presente e futuro estão diante Dele como uma coisa só. Mas Deus quer se relacionar conosco não nessa base, mas na base familiar. Assim, Deus quer nos conhecer e ser por nós conhecido, amar e ser amado, como qualquer relacionamento sadio. DEUS PODIA IMPOR QUALQUER COISA PELO SEU PODER, MAS PREFERE PERSUADIR-NOS A AMÁ-LO E CONHECÊ-LO POR SEU AMOR POR NÓS.
O OBJETIVO DE DEUS É NOS LEVAR A CONHECÊ-LO NUM NÍVEL MAIS PROFUNDO E A CONHECERMOS A NÓS MESMOS. O Senhor conhecia a Jó. Ao conhecer a Jó, o Senhor sabia aquilo que Satanás ignorava: que Jó não blasfemaria contra o Senhor, ainda que perdesse todos os seus bens e saúde. Considere isto: Jó tinha um relacionamento com o Senhor. Sua fé era uma fé real, genuína. Deus conhecia as intenções do coração de Jó por detrás de seu temor a Ele, por detrás de sua integridade e de sua retidão. O SENHOR CONHECIA O AMOR DE JÓ POR ELE. Assim, o Senhor conhece o nosso amor por Ele (Ap 2.19). Conhece a realidade desse amor, a base desse amor e a profundidade desse amor.
Deus permitiu que Satanás tocasse na vida e nos bens de Jó e Jó manteve-se fiel. Aí Satanás sai de cena: não há mais nenhuma menção deste no livro de Jó a partir desse ponto. O RELACIONAMENTO É E SEMPRE SERÁ SOMENTE ENTRE NÓS E DEUS. Querido(a) leitor(a), eu gostaria que isso ficasse firme no seu coração: se você é um(a) cristão(ã) verdadeiro(a), se você entregou verdadeiramente sua vida à Cristo e assim nasceu de novo, seu relacionamento é única e exclusivamente com o Senhor Jesus! Ele é o dono da Sua vida e mais ninguém! Portanto, é ao Senhor e somente a Ele que você deve temer e considerar a opinião a seu respeito. Satanás não tem nenhum direito sobre você! Você não deve temer de maneira nenhuma a Satanás, com medo de suas ameaças e impropérios. Jesus, que ama você e te salvou com o Seu sangue, venceu o diabo e todas as hostes do inferno na cruz e é infinitamente mais poderoso que ele - Jesus é Deus; satanás é um anjo caído, uma criatura rebelde. Esse ponto é fundamental! Hoje, muitos crentes vivem com medo do diabo - medo de feitiçarias, de mau olhado, de presságios, de encostos (!?!?!), de vultos, de encruzilhadas... quando nada disso tem qualquer poder sobre a vida de quem pertence a Cristo! As pessoas correm atrás de amuletos de poder, de objetos ungidos, de rituais libertadores (como os famosos "cultos de descarrego", "cultos de libertação", etc.) numa escravidão sem fim, quando, na verdade, não precisam disso! Nenhum cristão verdadeiro precisa de "oração forte", "quebra de maldições", "libertação espiritual", óleo ungido, rosa ungida, alho/crucifixo/bala de prata; ele já possui o que realmente tem poder contra o diabo: está coberto com o Sangue de Jesus! Seu nome está escrito no Livro da Vida! Veja o que a Bíblia declara:
- E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. (Hebreus 2:14,15)
- E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. (Colossenses 2:13-15)
Talvez você pergunte: mas o que aconteceu na vida de Jó não foi por causa de Satanás? A resposta é NÃO! DEUS, e não Satanás, foi quem permitiu a este agir na vida de Jó. Depois que a resposta de Deus a acusação de Satanás é dada por meio da fidelidade de Jó, Satanás sai de cena, como disse anteriormente. No fim das contas, Jó sempre esteve debaixo da soberana vontade de Deus, mesmo em seu sofrimento. Em argumentação anterior, expliquei em detalhes o eterno triunfo de Deus sobre Satanás: Jó tornou-se a eterna resposta de Deus e o exemplo, para toda criação, de que é possível ao homem amar a Deus a despeito de suas circunstâncias (ver: https://apenas-para-argumentar.blogspot.com/2019/08/o-patriarca-jo-e-o-eterno-triunfo-de.html) e Cristo consumou essa vitória na cruz!
Jó, sem entender nada do que aconteceu, passa a conjecturar as causas do seu infortúnio. “Porquê”, é a pergunta na mente de Jó. “Se sou justo e fiel, porque experimentei esse grande mal?” Seus amigos tentam responder sem sucesso. Ao final, Deus aparece e faz uma série de perguntas a Jó, mas não responde suas perguntas. Sabe por que Deus não respondeu as perguntas de Jó? Pela mesma razão que muitas vezes não nos responde às nossas perguntas: Porque não é o NOSSO CONHECIMENTO SOBRE O BEM E O MAL QUE NOS EDIFICA, mas sim a VIDA que vem do Senhor! Não são respostas que fazem com que creiamos mais em Deus, ou Nele confiemos mais. As respostas não são essenciais para nossa fé. “Porque aconteceu isso comigo ou com fulano?” é a pergunta que pode nos perturbar anos a fio. PRECISAMOS NOS RELACIONAR COM DEUS NA BASE DO AMOR E DA CONFIANÇA, MESMO QUANDO NÃO TEMOS RESPOSTAS - E ISSO É VIDA, PURA E PRÁTICA VIDA!
Somente no final, entendemos o propósito de Deus na vida de Jó. Jó conhecia ao Senhor de ouvir sobre Ele, e com isso passou a amá-Lo e Nele crer. Só conhecia por meio de pregações e sermões ungidos. Mas o Senhor queria se fazer conhecer num nível mais profundo – vendo-O (42.5; Jr 31.34). A pregação da Palavra de Deus é fundamental! Mas ela é apenas mais um estágio no nosso relacionamento com o Senhor. Os estudos bíblicos são importantíssimos, mas eles são apenas a base para que nos relacionemos com Deus de forma correta. Noutras palavras, o relacionamento com Deus vai além de meramente escutar bons sermãos e participar de bons estudos bíblicos. Tudo isso tem o seu lugar e mportância na nossa fé e deles não devemos prescindir, mas há algo mais, algo além, que só teremos com o dia-a-dia do relacionamento com o Senhor! Como se vive? Como se aprende a viver? Obviamente, vivendo um dia após o outro! Como se relacionar com outra pessoa? Se relacionando: desabafando com ela, chorando nos seus ombros, buscando aconchego e proteção no seu colo, compartilhando impressões e pensamentos, rindo juntos, brincando juntos, aprendendo que há coisas que mesmo boas para nós desagradam a outra pessoa, brigando com ela (quem nunca brigou com Deus tal como Jó, ou como Jacó? rsrsrs), sendo surpreendido por alguma ação inesperada da parte dela, admirando suas qualidades, etc.
A religião formata Deus - é o famoso "Deus só é bom se for fixo", como diz o pr. Caio Fábio (ver: https://caiofabio.net/deus-so-e-bom-se-for-fixo). Nas palavras desse pastor, "Deus de pedra a gente topa, mas vivo e humano-divino, andando e nos chamando a andar, a gente não quer. Sim, porque se prefere qualquer coisa fixa, seja um ídolo de barro, pau, pedra, ouro, gesso, bronze, etc; ou seja um “Deus” feito de pacotes de salvação; de unções especiais feitas por homens especiais; ou algo coberto pela aura de uma espiritualidade ativada pela via de um rito, de um culto, de uma oferta, ou de qualquer outra forma de controle e gestão do sagrado — do que simplesmente crer que quem vê Jesus, vê o Pai; e tem tudo [...] Os mercenários, os lobos, ou os doutores de Deus, tentam convencer o povo de que se não forem obedecidos, ou seguidos em suas sabedorias, no primeiro caso haverá maldição; e, no segundo caso, uma viagem sem volta para fora da “sã doutrina”; a qual, só é sã porque é a deles; e eles são os “sãos” que não precisam de médico". Por isso, como já ponderei na argumentação de minha autoria "FARISAÍSMO, ONTEM E HOJE... QUE AMANHÃ, NUNCA MAIS!" (ver: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com/2014/03/farisaismo-ontem-e-hoje-que-amanha.html) eu repudio toda e qualquer religião: ela é farisaica em sua essência e exercício! Qualquer conceituação sobre Deus que não gere vida zoe na vida bios e que não tenha relação com a vida não é verdadeira! E os amigos de Jó bem que tentaram "empurrar" na vida de Jó seus conceitos religiosos sobre Deus...
A verdade, querido(a) leitor(a), é uma só: Conhecer ao Senhor num nível mais profundo requer um desvencilhar maior desse mundo, mesmo as coisas lícitas. Conhecer ao Senhor nesse nível significa não ter socorro nenhum, louvor nenhum, glória nenhuma; significa ser injustiçado e ferido. Significa virar pó. O SENHOR COLOCA O CONTROLE DE SUA VIDA LONGE DE SEU ALCANCE, PARA QUE VOCÊ DEPENDA SOMENTE DELE, E ISSO FAZ COM QUE VOCÊ SE APROXIME MAIS DO SENHOR. Logicamente, quanto mais próximo, mas íntimo! Você quer intimidade com o Senhor? Bem, Ele deseja tê-la contigo! Mas é do modo Dele, não do seu! Temos tanto de Deus quanto, na verdade, gostaríamos de ter. O contentamento religioso sempre é o inimigo da vida espiritual. As biografias dos santos que viveram antes de nós nos ensinam que o caminho para a grandeza espiritual sempre foi por meio de muito sofrimento e dor no íntimo. As adversidades que experimentamos nos servem como disciplina positiva, ou seja, para nos aproximar do Senhor que nos ama! Por tudo isso, Ele irá envolvê-lo em um amor tão imenso, tão poderoso, tão abrangente, tão maravilhoso que suas perdas parecerão ganhos e suas pequenas dores, alegrias. ESSE É O CAMINHO PARA SER CHEIO DO ESPÍRITO – O CAMINHO DA MORTE, E MORTE DE CRUZ,CAMINHO DE REJEIÇÃO E PERDA.
Crescer espiritualmente significa crescer na Graça e no Conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!
Pense nisso!
Graça e paz!
(SERMÃO MINISTRADO EM 10/07/2016)