Isolar é separar fisicamente de algo ou alguém. Geralmente, o isolamento dá-se por razões de saúde pública. Assim, do ponto de vista médico, isolamento é o "edifício ou pavilhão destinado aos doentes acometidos de moléstias infecto-contagiosas, ou àqueles que se acham em observação por suspeita desse tipo de doença". Porém, o isolamento também acontece por razões político-ideológicas.
A história nos mostra que o isolamento foi a única opção de sobrevivência de vários grupos - chamadas "minorias", perseguidos por sua ideologia política, religiosa, cultural ou mesmo racial. Por exemplo, figura a criação do Gueto de Varsóvia, pelos alemães durante a 2a. Guerra Mundial, isolando os judeus moradores daquela cidade do convívio com as demais pessoas. Assim, a palavra "gueto" passou a designar todo estilo de vida ou tipo de existência resultante de tratamento discriminatório. Registre-se que os judeus foram o povo que mais esteve em guetos (gueto de Veneza, gueto Romano, de Praga, etc).
O conceito foi modificado depois da II Guerra, sob a pressão do movimento dos direitos civis e passou a referir-se aos enclaves compactos e saturados a que os afro-americanos eram relegados quando migravam para os centros industriais do Norte dos EUA. (Wacquant, 2004)
Para Wacquant, gueto denota uma área urbana restrita, uma rede de instituições ligadas a grupos específicos e uma constelação cultural e cognitiva (valores, formas de pensar ou mentalidades) que implica tanto o isolamento sócio-moral de uma categoria estigmatizada quanto o truncamento sistemático do espaço e das oportunidades de vida de seus integrantes. (Wacquant, 2004)
Assim, nem todo aquele que está isolado se encontra nesta condição por vontade própria. Alguns até agem deste modo, visando proteger valores culturais (ou ideologias) considerados fundamentais. Assim, deste modo, observa-se a reação de um grupo de evangélicos que decidiram isolarem-se dos grupos evangélicos dominantes e institucionalizados - "Os Novos Evangélicos e a Nova Reforma Protestante", como retratado pela Revista Época há alguns meses. O objetivo é o retorno aos antigos valores bíblicos, os quais àqueles irmãos entendem haverem se perdido no meio institucionalizado.
Porém, em algumas ocasiões, o isolamento pode ser fruto de coerção ou perseguição ideológica, onde um grupo, detentor de poder sobre um segundo grupo, atua no sentido de confinar este segundo grupo em fronteiras bem definidas. Infelizmente, muitas Igrejas agem exatamente deste modo, especialmente naquelas que o sistema de governo confere um status quase messiânico ao líder principal da instituição.
Nestas instituições, onde o líder máximo é visto como uma espécie de subdeus - infalível, perfeitíssimo em todos os atos, sempre certo, senhor de todos os homens - a "guetização" é inevitável. Ou o grupo inteiro se isolará do "restante do mundo" por considerarem-se a si mesmos como a máxima e perfeita expressão da vontade divina (e consequentemente todos os demais, meros "mortais, desgraçados, sempre errados, párias do inferno" são indignos de sequer "um tostão de sua voz") ou uma parte do grupo, que contém o "Pontifex Maximus" isolará a outra parte a qual, por qualquer razão, discorda de sua "posição soberana".
Qual é a melhor forma de isolar um grupo? É criar uma imagem negativa dele para o restante da coletividade, atribuindo-lhe adjetivos que o estigmatizem: "rebeldes", "sem amor", "legalistas", "problemáticos", etc. são os adjetivos mais comumente usados. Tais adjetivos geralmente visam minar a auto-estima e a posição do grupo a ser isolado, minimizando a sua posição diante dos demais. Com a minimização da posição, eleva-se a posição do grupo isolador e, consequentemente, do seu líder.
A pergunta que não quer calar é se este tipo de coisa cabe para aqueles que se dizem discípulos de Cristo. É a igreja local de articulações e politicagens? Será que a única forma de conviver harmonicamente num grupo é não ter opiniões, ou pelo menos não manifestá-las? Será que a Bíblia exige concordância absoluta com a opinião de uma pessoa, quando se trata de assunto de foro íntimo e particular, em questões não-essenciais? São os líderes evangélicos "inerrantes" em todos e quaisquer assuntos? São eles auto-suficientes, ou seja, eles se bastam em qualquer assunto que envolva a igreja ou a fé cristã?
Será que a igreja transformou-se numa espécie de coletividade Borg, da série de SciFi "Star Trek: Nova Geração", onde a individualidade é aniquilada em prol da coletividade? "Nós somos os Borgs. Resistir é inútil. Sua cultura irá se adaptar para servir a nossa. Nós acrescentaremos suas qualidades biológicas e tecnológicas a nossa." Será que não estamos permitindo uma massificação e uma coletivização do indivíduo, tornando-o um ser sem vontade ou idéias?
O texto de Provérbios, citado no início desta argumentação, diz que aquele que se isola busca satisfazer seu próprio desejo. Isso é verdade. Considerando que aquele que isola outrem na verdade isola-se também (questão do referencial do observador, um princípio da física), o texto é pertinente e aplicável. A expressão "satisfazer o próprio desejo" remete às concupiscências da carne, fruto de uma natureza pecaminosa e egocêntrica. "Meu interesse", "minha posição", "minha honra", meu isso, meu aquilo; na verdade, a ânsia de que a vontade do eu seja feita na terra e no céu.
A palavra "insurge" é a tradução do hebraico gala´, que significa "ser obstinado". O texto, deste modo, diz que aquele que se isola (hb. parad, "separa") está obstinado contra toda a sabedoria. Teimoso! Turrão! Cabeça-dura! Ele não atenta para a sabedoria, não pondera seus caminhos e intenções de coração. Não vê que ao isolar outros, isola-se a si mesmo e nisso não há sequer um átomo de sabedoria! Acha-se sábio, mas na verdade o é apenas aos seus próprios olhos!
O que há de tão ruim em considerar as opiniões e conselhos de outrem? O que há de mal em parar para ouvir (não apenas com o ouvido) o que outros têm a dizer? É impossível que não haja nada que sirva nas palavras daqueles que estão juntos, caminhando sob o mesmo propósito, sofrendo com as mesmas lutas e comemorando as mesmas vitórias! É I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L!!!! O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos (Pv 1.5). Quem é entendido procura adquirir sábios conselhos. Ele sabe que "não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselhos há segurança" (Pv 11.14). Infelizmente, o orgulho acaba agindo como "rolha de cerume" nos ouvidos de muitos líderes evangélicos, causando-lhes surdez aguda.
O que fazer? Com relação ao surdo, só resta orar para que Deus abra-lhe os ouvidos, antes que a surdez derive a cegueira e esta leve o agravado a cair no abismo - ele e quem com ele estiver. Já com relação ao isolamento, meu conselho é aproveitar para refletir na Palavra e com a Palavra. Deixar ser ministrado por Deus; deixar ser tratado pelo Senhor. O deserto - o maior lugar de isolamento que já existiu - é definitivamente a grandiosa Escola Ministerial e Profética do Altíssimo, onde o Senhor treina em oculto àqueles aos quais Ele desejar revelar publicamente. Sim, é verdade. Em algumas ocasiões, o próprio Senhor conduz Seu ungido e/ou Seu povo ao deserto, para serem provados e para serem ministrados por Deus, de forma a estarem aptos para aquilo que o Senhor têm reservado para suas vidas.
Foi assim com Moisés e Israel. Foi assim com João Batista e com Jesus. Foi assim com Paulo. E pode ser assim com você também!
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!
REFERÊNCIAS
Wacquant, Loïc. QUE É GUETO? CONSTRUINDO UM CONCEITO SOCIOLÓGICO. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 23, p. 155-164, nov. 2004.
Apaz amigo....ja estou seguindo seu blog,visite o meu e fique a vontatde se quiser seguir-lo...
ResponderExcluirhttp://gilmaravogel.blogspot.com/
Caro amigo Pr. Ricardo,
ResponderExcluirMuita boa sua análise dessa questão,
Penso que o isolamento ou o afastamento do convívio com outros crentes ou irmãos, nunca foi o propósito definitivo de Deus para a vida dos seus filhos. Quando ocorre ou é por consequência de problemas causados por nós mesmos, ou por líderes orgulhosos e egoístas como afirmou, ou ainda pode fazer parte de um processo (um meio e não um fim) de restauração ou de preparação de Deus para algo maior.
Os desertos, as cavernas, os montes, e até mais contextualizadamente o "secreto" de nosso quarto, são momentos de isolamento que considero também aulas práticas das escolas preparatórias de Deus para os seus, moldando-os e adestrando-os para o cumprimento dos Seus desígnios.
Como bem disse, o discernimento correto para distinguir se o que nos fez estar em isolamento é: fruto de nosso erro ou de outrem e requer um momento de reflexão ou se estamos vivenciando um processo de preparação e restauração são fundamentais para a saúde espiritual de todo crente.
O bom e correto discernimento sempre nos levará, no momento adequado, para a aproximação e o ajuntamento com aqueles que, usando suas palavras, "...estão juntos, caminhando sob o mesmo propósito, sofrendo com as mesmas lutas e comemorando as mesmas vitórias"
Abraços,
Pr. Magdiel G Anselmo.
É de todo lamentável irmãos se isolarem.Jesus na Sua oração sacerdotal não deixou brechas para isso,muito pelo contrário.aSua oração foi por estreita comunhão,pois Ele e o Pai nuuca se isolaram um do outro.Ainda quando na carne,essa comunhão sempre existiu.Como também iremos carregar as cargas uns dos outros,se nem sequer temos como (pelo distanciamento)saber quais são elas?
ResponderExcluirComo a definição bem o diz,isolamento é para pessoas doentes,pois é assim que estamos quando nos isolamos dos demais.A igreja também é para cuidar dos seus enfermos primariamente.È preciso pois,falar e ser ouvido,revelar qual é o mal que está aflingindo para ser-lhe dado o remédio adequado.É de coração para coração.Assim deve ser entre irmãos.
Os dias são trabalhosos;mas o Senhor deseja que vivamos em comunhão,mas para que isso ocorra é necessário procurar com humildade buscar vida com Deus e nos permitir o tratamento do Papai em nosso ser,para que assim possamos viver em paz conosco e com o nosso próximo!É importante ressaltar que a Igreja de Cristo é o nosso bem maior;onde com todas às dificuldades é lá que encontramos abrigo,alimento sólido para fartar a nossa alma;por isso é muito entristecedor quando nos deparamos com essa situação de isolamento!Sem comunhão não há união;'' óh quão bom e agradável que os irmãos vivam em comunhão..."
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