quarta-feira, 17 de junho de 2015

A SOBERNIA DE DEUS E AS OPINIÕES HUMANAS


Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo e lhe ensinou sabedoria e lhe mostrou o caminho de entendimento? (Is 40.13,14)


Soberania é um atributo de Deus, ou seja, algo que é parte indissociável de Sua natureza e que condiciona o caráter de Deus. Segundo o dicionário Houaiss, soberania é a superioridade derivada de autoridade, domínio, poder. Daí o termo "soberano", que significa "que tem saber e presença absolutos, e, em conseqüência, conduz, protege, rege, domina (o destino, a vida, etc)".  Portanto, a soberania de Deus é algo ligado a Sua onipotência: Deus é soberano, Ele governa sobre todas as coisas existentes, que no mundo visível quer no mundo invisível, com todo poder e autoridade. O próprio termo "onipotência" significa "faculdade de decidir com soberania".

Toda a Bíblia ressalta a soberania de Deus. Porém, se há um livro da Bíblia que mais dá destaque a Soberania de Deus é o livro de Isaías. Nesse livro, Deus é visto como Rei dos reis, assentado no Seu Santo, Alto e Sublime Trono governando todas as coisas (Is 6.1-3).  Israel, cujo trono que aparentemente havia ficado vazio com a morte de Uzias e portanto sem esperança, estava debaixo de um Trono superior, de um Soberano superior, que estava assentado eternamente no Seu Trono. O rei humano havia morrido, o que possibilitava que o Rei Celestial fosse contemplado! O Rei de Israel sempre esteve no Trono e sempre estará, regendo Seu povo; Seu governo jamais terá fim, pois Seu Trono é sempiterno!  O Senhor Adonai estava no Seu Trono! Nada escapa do Seu controle ou foge do Seu domínio!

Parênteses: Aliás, assim é com todas as nossas perdas, com todas as nossas tristezas, com todas as nossas decepções, com todas as nossas dores; elas têm a missão de revelar-nos o trono de Deus! A posse das coisas que são tomadas de nós, as alegrias que nossas dores reduziram a pó, têm a mesma missão, e o propósito mais elevado de todo o bem, de todas as bênçãos, de todos os bens, de toda alegria, de todo o amor - a maior missão é levar-nos a Ele. O que os nossos sofrimentos, nossas dores, perdas, decepções fazer por nós?  Bem, para aqueles a quem perda é ganho, significa ser posto na posse das riquezas duradouras! É um meio de revelar Aquele que "é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente"!  A mensagem para nós de todas estas nossas dores e aflições é "Subi para cá." Em todos essas coisas, nosso Pai está nos dizendo: "Buscai o meu rosto." Devemos responder, 'O teu rosto, Senhor, buscarei . Não esconda Tua face de mim.'  Tomemos cuidado para que não nos percamos em nossas dores e tristezas. Elas nos absorvem, por vezes, com arrependimentos vãos. Elas nos amarguram às vezes com pensamentos rebeldes. Elas muitas vezes quebram as molas da atividade e do interesse pelos outros, da simpatia para com os outros. Mas sua verdadeira intenção é abrir a fina cortina, para nos mostrar "as coisas que são," as realidades do Deus entronizado, as abas que enchem o templo, os serafins pairando, e da tenaz do altar que purifica nossos lábios. Fecha parênteses.

Deus soberano é o Deus cuja palavra jamais cairá por terra, jamais voltará para Ele vazia (Is 55.11); afinal, Se Ele mandou, quem não o temerá, quem não o obedecerá? (Am 3.8) Isaías declara: "Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás? [...] Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?" (Is 14.27; 43.13). Ninguém é capaz de resistir ao Senhor, nem impedir Seu agir - nenhum homem, anjo, demônio ou diabo tem a mínima, a ínfima chance de impedir o agir de Deus, do Deus Soberano e Eterno! Ninguém está em pé de igualdade com Ele, nem para resistir-Lhe e muito menos para aconselhar-Lhe. A própria sabedoria foi possuída pelo SENHOR no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras, foi ungida desde a eternidade, desde o princípio, antes do começo da terra (Pv 8.22,23). Sim, sobre a própria sabedoria é dito: "Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo; Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo, Quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo; Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens" (Pv 8.24-31).

Ora, não há maior tolice em supor que Aquele que detém toda a Sabedoria e Conhecimento precisa de algum tipo de conselho ou de opinião humana! Como aconselhar o Onisciente Soberano Senhor? Como dar palpites em Sua Obra ou em Seus caminhos? É impossível tal coisa; quem intenta isso ouvirá ecoando desde o passado "Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência." (Jó 38) No entanto, é exatamente assim que alguns crentes tem entendido sua relação com Deus. Com suas palavras sem conhecimento vão escurecendo o conselho; dizendo-se doutos, mostram-se na prática o contrário, pois tencionam emitir opiniões acerca dos caminhos e decisões do Eterno! Acham que Deus "muda de posição" por causa de suas opiniões pessoais! De suas teses acerca do que Deus deve ou não fazer, de como deve ou não agir. Opinião, segundo o dic. Houaiss significa: "1. maneira de pensar, de ver, de julgar; asserção, afirmação que o espírito aceita ou rejeita. 2. julgamento pessoal (justo ou injusto, verdadeiro ou falso) que se tem sobre determinada questão; parecer, pensamento. 3. posição precisa, ponto de vista que se adota em um domínio particular (social, religioso, político, intelectual etc.); idéia, teoria, tese. 4. parecer, julgamento emitido após reflexão ou deliberação; voto, partido. 5. hipótese, idéia não verificada ou sem fundamento; presunção. 6.  julgamento de valor sobre alguém ou algo; conceito". Pergunto: qual desses sinônimos combina com a relação entre Deus, na expressão de Sua Onisciência e Soberania, e o homem no que tange ao processo de tomada de decisão e no agir de Deus? Meu julgamento pessoal sobre qualquer coisa sobrepor-se-á de algum modo ao julgamento de Deus, ou o complementará? Meus pensamentos são de algum modo superiores aos do Senhor? Minha posição precisa, meu ponto de vista afetará alguma coisa Àquele que desde o eterno passado já determinou todas as coisas?     

Isaías pergunta "Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro, o ensinou?" Como explica o comentário Barnes' Notes on the Bible"quem tem equipado, ou disposto a mente ou espírito de Javé? O que o ser superior ordenou, instruído, ou dispôs em seu entendimento? Quem qualificou-o para o exercício da sua sabedoria, ou para a formação e execução de seus planos? O sentido é que Deus é supremo. Ninguém o tem instruído ou guiado, mas seus planos são seus, e foram todos formados pelo próprio Senhor sozinho. E como esses planos são infinitamente sábios, e como Ele não é dependente de ninguém para a sua formação ou execução, o seu povo pode ter confiança Nele, crendo que Ele será capaz de executar seus propósitos. [...] Ele não é dependente de conselhos de homens ou anjos. Ele é supremo, independente e infinito. Ninguém está qualificado para instruí-lo; e todos, portanto, deve confiar em Sua sabedoria e conhecimento.Esse desejo de "aconselhar Deus" é comum, especialmente quando não gostamos, por qualquer razão, do caminho que Deus traçou para nossa vida. A bem da verdade, o homem que não conhece a Deus é conduzido pelas suas paixões e opiniões pessoais; porém o homem regenerado busca andar segundo a Vontade de Deus para sua vida. Essa idéia de "aconselhar Deus" está ligada a auto-suficiência humana, onde o o indivíduo se basta, tem tudo o que precisa e pode estar em pé de igualdade "palpitando" em como Deus deve fazer Sua Obra.

Será que a Bíblia afirma que Deus considera o que o homem diz ou pensa acerca de Seus propósitos, que Deus leva em conta a opinião humana? Precisamos ter cuidado com a interpretação de versículos isolados, buscando justificar nossos "achismos" e "opiniões pessoais". Uma boa recomendação é nunca interpretar versículos ou passagens fora de seus respectivos contextos onde estão inseridos. A interpretação de um texto bíblico, além disso, precisa considerar, dentre outros, a língua original no qual foi escrito (grego, hebraico ou aramaico); o ensino geral das Escrituras; a teologia; a história, geografia, política, economia, metrologia, etc. que esteja envolvida; contexto histórico, padrões de retórica, análise gramatical, semântica e exegética, gêneros literários, citações do Antigo Testamento no Novo Testamento, relações entre a hermenêutica e as teologias bíblica, histórica, sistemática e homilética; etc. Se uma possível interpretação entra em choque com algum versículo ou passagem, esta interpretação precisa ser revista pois com certeza está errada.Vejamos alguns exemplos de versículos onde aparentemente Deus pediria a opinião humana ou a consideraria em Suas deliberações:

a) Isaías 1:18 - "Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã". Trata-se de um ultimato autoritativo da parte de Deus, do juiz para o acusado. O termo hebraico "venivākechâh" (argüir, arrazoar) é derivado de "yakach" e é traduzido por "mostrar, provar", de modo que o texto tenha o significado de duas partes em conflito que discutem um caso. Conforme o comentário Barnes' Notes on the Bible explica, "aqui ela (a palavra) denota o tipo de contenção, ou argumentação, que ocorre em um tribunal de justiça, em que as partes reciprocamente indicam os motivos das suas causas". Mr. Cheyne traduz "vamos levar nossa disputa ao final" (Pulpit Commentary). Portanto, esse versículo não aborda de forma alguma o pedido de Deus da opinião humana (nesse caso, sobre a transgressão do próprio homem), nem dá margem para uma consideração desta (para absolvição), conforme se vê na condenação proferida nos versículos anteriores do cap. 1.

Nota: a palavra "opinião", do hebraico dea´ (דֵּעִי) derivada do termo "yada'"  aparece apenas 5 vezes na Bíblia, no Antigo Testamento, todas no livro de Jó, ora traduzida como "opinião" (32:6,10,17), ora como "conhecimento" (36:3; 37:16). Nenhum desses casos aborda Deus considerando a opinião humana.

b)  Atos 15:28 - "Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias". Precisamos analisar esta passagem à luz do contexto. Atos 15 trata da Assembléia na Igreja de Jerusalém movida pela conversão dos gentios a Cristo. Havia um grupo que pertencia a Igreja, dos fariseus que haviam crido em Cristo, que ensinava que a fé no Senhor não era suficiente para a salvação; era necessário praticar os ritos judaicos, como a circuncisão e guardar a Lei de Moisés (vv.1,5), o que gerou grande contenda (v. 7).  Pedro então toma a palavra e explica que Deus confirmou a fé dos gentios em Cristo Jesus, "dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós. E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé" (vv. 8,9) e que, portanto, os que queriam que estes gentios convertidos observassem a Lei estavam tentando a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo muitíssimo pesado (o qual Deus não pôs nem fez tal exigência) (v. 10). Note que a primazia na decisão foi do Espírito, que desceu sobre os gentios; a Igreja apenas corroborou com aquilo que Deus já havia feito (como na casa de Cornélio, At 10.44-46), não o contrário. Não foi a Igreja que tomou a decisão e o Espírito concordou, mas o Espírito decidiu e a Igreja piedosamente discerniu a Vontade do Senhor e corroborou com ela. Não é à toa que o versículo começa "pareceu bem ao Espírito" e então acrescenta "e a nós" (não o inverso, isto é, "pareceu bem a nós" e depois "ao Espírito").    

Poderíamos abordar outros versículos mal-compreendidos e mal-interpretados, mas creio que estes dois aqui já demonstram o erro embutido no ensino de que Deus considera as opiniões humanas no seu processo de tomada de decisão baseado em erros de hermenêutica e exegese bíblicas.

A igreja ao longo de sua história volta e meia deparou-se com o problema dos modismos e ventos de doutrina. Dente de ouro; fanerose; canela de fogo; sapato de fogo; vassoura de fogo;  unção dos 4 seres; unção de bicho; regressão; adoração a anjos; unção do emagrecimento; cadeira reservada para anjos e outras crendices como suco do céu com sabor de morango; do disco ao contrário; do 666 para tudo que é lado; etc. Tudo isso passou. Já tivemos o clímax do G12; M12; J12; MDA; etc. Hoje, está quase extinto. Atualmente temos a teologia da prosperidade e venda de unção por R$ 900. Em breve passará também. A igreja é inabalável e permanece apesar dos ventos que sopram contra ela. O problema é o estrago que isso tudo causa: gente desviada da fé, irmãos que romperam com seus pastores e igrejas em prol da novidade e que quando tudo passou ficaram perdidos; gente ferida, magoada, rejeitada; igrejas que racharam, divisões, sectarismos, porfias, invejas, ciúmes, etc.  Assim, muito cuidado com o modismo, com o que está sendo ensinado!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

Um comentário:

  1. A Soberania de Deus é inquestionável! Tolo é o homem que imagina poder ensinar a Deus ou opinar sobre Sua vontade. Ele não precisa do homem pra nada. O homem, sim precisa Dele. Ele é infinitamente sábio, Onipotente, Onisciente e Onipresente. Quem pensa que pode arguí-Lo? Ele faz o que quer, como quer, quando quer .E não precisa dar explicações dos Seus atos. Cabe a nós confiar em Suas decisões, sabendo que são incomparavelmente melhores que as nossas.

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