domingo, 15 de outubro de 2023

RESGATANDO O CONCEITO BÍBLICO SOBRE A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO (PARTE 8): O REPOUSO ETERNO


¹ Ouve, ó Israel, hoje passarás o Jordão, para entrares a possuir nações maiores e mais fortes do que tu; cidades grandes, e muradas até aos céus;
² Um povo grande e alto, filhos de gigantes, que tu conheces, e de que já ouviste. Quem resistiria diante dos filhos dos gigantes?
³ Sabe, pois, hoje que o Senhor teu Deus, que passa adiante de ti, é um fogo consumidor, que os destruirá, e os derrubará de diante de ti; e tu os lançarás fora, e cedo os desfarás, como o Senhor te tem falado.
⁴ Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti.
⁵ Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.
⁶ Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado.
Lembra-te, e não te esqueças, de que muito provocaste à ira ao Senhor teu Deus no deserto; desde o dia em que saístes do Egito, até que chegastes a esse lugar, rebeldes fostes contra o Senhor;
⁸ Pois em Horebe provocastes à ira o Senhor, tanto que o Senhor se indignou contra vós para vos destruir.
⁹ Subindo eu ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o Senhor fizera convosco, então fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; pão não comi, e água não bebi;
¹⁰ E o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; e nelas estava escrito conforme a todas aquelas palavras que o Senhor tinha falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembléia.
¹¹ Sucedeu, pois, que ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança.
¹² E o Senhor me disse: Levanta-te, desce depressa daqui, porque o teu povo, que tiraste do Egito, já se tem corrompido; cedo se desviaram do caminho que eu lhes tinha ordenado; fizeram para si uma imagem de fundição.
¹³ Falou-me ainda o Senhor, dizendo: Atentei para este povo, e eis que ele é povo obstinado;
¹⁴ Deixa-me que os destrua, e apague o seu nome de debaixo dos céus; e te faça a ti nação mais poderosa e mais numerosa do que esta.
¹⁵ Então virei-me, e desci do monte; o qual ardia em fogo e as duas tábuas da aliança estavam em ambas as minhas mãos.
¹⁶ E olhei, e eis que havíeis pecado contra o Senhor vosso Deus; vós tínheis feito um bezerro de fundição; cedo vos desviastes do caminho que o Senhor vos ordenara.
¹⁷ Então peguei das duas tábuas, e as arrojei das minhas mãos, e as quebrei diante dos vossos olhos.
¹⁸ E me lancei perante o Senhor, como antes, quarenta dias, e quarenta noites; não comi pão e não bebi água, por causa de todo o vosso pecado que havíeis cometido, fazendo mal aos olhos do Senhor, para o provocar à ira.
¹⁹ Porque temi por causa da ira e do furor, com que o Senhor tanto estava irado contra vós para vos destruir; porém ainda por esta vez o Senhor me ouviu.
²⁰ Também o Senhor se irou muito contra Arão para o destruir; mas também orei por Arão ao mesmo tempo.
²¹ Porém eu tomei o vosso pecado, o bezerro que tínheis feito, e o queimei a fogo, e o pisei, moendo-o bem, até que se desfez em pó; e o seu pó lancei no ribeiro que descia do monte.
²² Também em Taberá, e em Massá, e em Quibrote-Hataavá provocastes muito a ira do Senhor.
²³ Quando também o Senhor vos enviou de Cades-Barnéia, dizendo: Subi, e possuí a terra, que vos tenho dado: rebeldes fostes ao mandado do Senhor vosso Deus, e não o crestes, e não obedecestes à sua voz.
²⁴ Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci.

²⁵ E prostrei-me perante o Senhor; aqueles quarenta dias e quarenta noites estive prostrado, porquanto o Senhor dissera que vos queria destruir.
²⁶ E orei ao SENHOR, dizendo: Senhor DEUS, não destruas o teu povo e a tua herança, que resgataste com a tua grandeza, que tiraste do Egito com mão forte.
²⁷ Lembra-te dos teus servos, Abraão, Isaque, e Jacó. Não atentes para a dureza deste povo, nem para a sua impiedade, nem para o seu pecado;
²⁸ Para que o povo da terra donde nos tiraste não diga: Porquanto o Senhor não os pôde introduzir na terra de que lhes tinha falado, e porque os odiava, os tirou para matá-los no deserto;
²⁹ Todavia são eles o teu povo e a tua herança, que tiraste com a tua grande força e com o teu braço estendido. 

(Deuteronômio 9:1-29) 

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No artigo anterior (RESGATANDO O CONCEITO BÍBLICO SOBRE A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO (PARTE 7): A EXPIAÇÃO), vimos como Deus providenciou uma forma daqueles dentre Seu povo escolhido, descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, não serem impedidos por seus pecados de se aproximarem de Deus. Deus instituiu o sacrifício de um cordeiro sem defeito como o meio pelo qual o pecado, tanto individual como coletivo, fosse coberto pelo sangue derramado daquele animal. No entanto, como foi apresentado naquele artigo, essa prática era repetida com frequência, porque o problema do interior do homem - sua natureza pecaminosa, inclinada continuamente para o pecado e para o distanciamento de Deus - não fora ainda resolvido.

Avançando um pouco mais na história da salvação, em direção ao livro de Deuteronômio, encontramos um cenário de apostasia (o termo significa abandono da fé; no caso, abandono de Deus, resultado da continuidade do distanciamento, que vai se agravando progressivamente) que vai se intensificando cada vez mais. Observe que apesar das grandes maravilhas que Deus realizou na vida daquelas pessoas isso não resultou em um aumento progressivo do relacionamento com Deus:

1. No Egito, Deus fez grandes sinais (RESGATANDO O CONCEITO BÍBLICO SOBRE A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO: PARTE 4 ), libertando o povo da opressão da escravidão. Deus havia prometido a eles levá-los a uma terra boa e próspera ("terra que mana leite e mel").

2. Na peregrinação em direção a terra que Deus havia prometido, Deus continuou realizando suas maravilhas: 

a) quando o povo teve sede, purificou águas insalubres (Êxodo 15:22-25);

b)  quando tiveram fome, Deus enviou pão do céu - o maná (Êxodo 16:1-4) e codornizes (Êxodo 16:11-13); 

c) fez brotar água da rocha (Êxodo 17:1-7) para mais uma vez dessedentar Seu povo;

d) deu Seus mandamentos em meio a um cenário sobrenatural: quando o Senhor desceu sobre o monte onde Moisés havia subido, este monte fumegava e buzinas tocavam, houve relâmpagos e trovões e um forte clangor de trombeta (Êxodo 19). Na ocasião, a intenção de Deus era que Seu povo fosse um reino de sacerdotes e nação santa (Êxodo 19:1-6) (no entanto, enquanto tudo isso estava acontecendo, o povo havia construído um ídolo - um bezerro de ouro - para adorar a esse bezerro).

Nada disso produziu fé permanente no coração daquelas pessoas. Todas as impressões sobrenaturais que tiveram foram apenas momentâneas; passados os dias, rapidamente esqueciam de tudo o que Deus havia feito na vida delas e voltavam a desviarem-se de Deus. O Livro de Números vai relatar uma série de ações do povo em rebelião contra Deus, demonstrando uma assustadora falta de fé: diante da terra prometida, Moisés envia 12 espias devido ao terror do povo de Israel diante da perspectiva próxima da luta que eles sabiam ser iminente desde que deixaram o Egito (Números 13:17-20). As instruções dadas aos espias giram em torno de dois pontos: a elegibilidade do território para colonização e a força militar dos seus habitantes. O relato de 10 espias dos 12 que foram enviados é o pior possível: segundo eles, não haveria como entrar na terra que Deus (!!!) havia prometido porque o povo daquela terra era "mais forte do que eles" (Números 13:31-33). Dito de outro modo, é a manifestação mais uma vez da desconfiança do povo em relação a Deus, aquilo que vemos constantemente no Livro de Êxodo: Deus nos tirou do Egito para exterminar com a gente, isto é, Deus quer o nosso mal, não o nosso bem. Isso despertou a ira de Deus sobre eles!

Parênteses: Precisamos ver milagres, sinais e maravilhas para poder crer em Deus? Ou seja, são esses milagres, sinais e maravilhas que possibilitarão que creiamos em Deus e no que Deus diz? A resposta, que vem diretamente da leitura bíblica, é um sonoro e eloquente não. Há abundância de sinais, prodígios, maravilhas, milagres no Antigo (e no Novo) Testamento; a despeito disso, a incredulidade humana insistentemente permanece - e é crescente.

O fato é que a incredulidade é "marca registrada" do ser humano. A humanidade simplesmente se recusa a crer em Deus. A fé é "fé da boca para fora", e o amor a Deus é "como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa" (Oséias 6:4). Veja quão profundo foi o estrago que nós fizemos a nós mesmos lá, no Éden! A incredulidade é sempre crescente no ser humano, que prefere confiar em si mesmo, em suas capacidades e recursos, do que em Deus. Prefere confiar em seus códigos "made by themselves" do que na Palavra de Deus, naquilo que Deus efetivamente falou e que foi registrado na Bíblia Sagrada. Nossa suposta espiritualidade e fé, via de regra, se baseiam em "escambo com Deus" ("sacrifícios modernos"), do "eu dou isso e aquilo para Deus de forma que Ele vai me dar o que eu quero", como se Deus precisasse de alguma coisa nossa, como se tudo que houvesse no Universo não houvesse sido criado por Deus e não pertencesse ao Seu Supremo Criador! Nossa fé, quando existe, precisa do suporte de "objetos materiais consagrados" aos quais atribuímos poderes sobrenaturais, mas nos recusamos a colocar nossa fé no Deus invisível e imaterial! Temos sempre desconfianças e reservas em relação a Deus, estamos sempre de prevenção em relação à Ele, precisando sempre de "garantias" de que Ele irá nos ouvir e atender.

O que vemos hoje é exatamente o que Deus disse a Moisés sobre Seu povo: por causa da incredulidade, eles eram rebeldes e obstinados, provocando vez após vez a ira do Senhor. Por favor, entenda: Deus não é alguém de se irar à toa, por qualquer motivo. Por outro lado, a Bíblia nos mostra que sim, Ele pode se irar conosco dependendo da forma que escolhemos agir. Paulo, apóstolo de Cristo, escrevendo aos cristãos que estavam na cidade de Roma (Romanos 1:18-32), fala sobre o tema:

¹⁸ Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
¹⁹ Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
²⁰ Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
²¹ Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
²² Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
²³ E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
²⁴ Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
²⁵ Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
²⁶ Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
²⁷ E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
²⁸ E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
²⁹ Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
³⁰ Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
³¹ Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
³² Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.

Paulo nos diz que a ira de Deus é revelada a nós. A ira de Deus, devida aos pecados dos homens. Todos nós, mais ou menos, fazemos o que sabemos ser errado e omitimos o que sabemos ser certo, de modo que a alegação de ignorância não pode ser permitida por parte de ninguém. O poder invisível e a Divindade do nosso Criador são tão claramente mostrados nas obras que ele fez, que toda a humanidade fica sem desculpa por não querer crer e obedecer. A humanidade se afasta de Deus, até o limite que todos os vestígios da verdadeira fé tivessem sido perdidos se não fosse a misericórdia de Deus em preservar sobrenaturalmente às Escrituras Sagradas para todas as gerações.  Note que nosso estado de apostasia em relação a Deus que Jesus, falando de Si mesmo, disse "que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (João 3:19); noutras palavras, a luz veio mas preferimos permanecer nas trevas do que renunciá-las e ir para a luz. O que fazemos, escolhendo as trevas à luz por conta do nosso coração impenitente e duro, é o que Paulo vai chamar de "entesourar ira" para nós mesmos (Romanos 2:5-8):

⁵ Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;
⁶ O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
⁷ A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
⁸ Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade.

Observe que a ira de Deus é contra o pecado e contra aqueles que insistentemente escolhem permanecer no pecado (leia mais em: PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO). Logo, a ira de Deus não é algo que reside nele por natureza; é uma resposta ao mal. É provocada. A Bíblia diz: “Deus é amor”. Essa é a sua natureza. O amor de Deus não é provocado. Ele não nos ama porque vê alguma sabedoria, beleza ou bondade em nós. Ele ama você porque assim o quis (Deuteronômio 7:7). Mas a ira de Deus é diferente, é a sua resposta santa à intrusão do mal no seu mundo. Se não houvesse pecado no mundo, não haveria ira em Deus. A ira de Deus é a sua resolução estabelecida de que o mal não subsistirá para sempre, mas que haverá um dia onde esse mal será extinto, para sempre. Toda a história bíblica leva a um dia em que Deus lidará com todo o mal de forma completa, definitiva e para sempre. Este será o dia da ira, quando Deus recompensará todo mal e levará a julgamento todo pecado. Deus fará isso com perfeita justiça. A punição para cada pecado corresponderá ao crime. Quando o julgamento for feito, todas as bocas serão caladas porque todos saberão que Deus julgou com retidão e justiça.

Parênteses: Observe que o estado desse mundo é tanto o resultado da nossa horrenda natureza de pecado e o resultado do juízo de Deus sobre ela. A ganância, a inveja, a discórdia, o engano, a violência e a falta de fé, que Paulo fala em Romanos, são o resultado dos homens não quererem reconhecer a Deus como Deus, sendo então eles entregues por Deus aos seus próprios sentimentos perversos, de forma a permitir que esses homens vivam como bem quiserem. "Preferiram o mal do que a Mim; então, que vivam no mal que escolheram como modo de vida". O mal sem freio é parte do juízo de Deus sobre os que amam o mal. Deus jamais obrigará alguém a se relacionar com Ele e a recíproca é também verdadeira: ninguém jamais poderá obrigar a Deus a aceitar o mal ou a ter um relacionamento com aqueles que vivem na prática do mal.   

Parênteses: Em João 3:36, Jesus disse: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”. Por natureza, somos filhos da ira (Efésios 2:3). É o estado em que nascemos. Qual é, no final das contas, o maior problema humano? Não é que estejamos perdidos e precisemos encontrar o nosso caminho numa jornada espiritual. Não é que estejamos feridos e precisemos ser curados. O cerne do problema humano é que somos pecadores sob o julgamento de Deus, e a ira divina paira sobre nós, a menos e até que seja eliminada.

No entanto, aqui encontramos mais um elemento importante para compreendermos o conceito bíblico de salvação em Jesus Cristo. Quando, diante da obstinação e rebelião do povo de Israel, Deus em sua Santa ira fala a Moisés que iria destruí-los, Moisés intercede por eles!  Moisés implorou a Deus que não destruísse aquele povo que era seu, que ele redimiu para si e tirou do Egito; rogou-lhe que se lembrasse de seus piedosos ancestrais e não olhasse para a teimosia e o pecado do povo; e instou que a honra divina estivesse preocupada em serem conduzidos a terra prometida por juramento, não os deixando perecer no deserto.

Interceder é um termo que significa "suplicar, orar, pedir". Em grego, expressa aquele que intercede, implora a favor ou contra algo ou alguém em um caso específico. Por exemplo: no caso da lei, qualquer pessoa que interceda a favor ou contra outra pessoa está defendendo ou processando, mas ainda assim está intercedendo. Pode ser definida, então, como sendo "a ação de intervir em nome de outra pessoa ou grupos de pessoas". O verbo interceder vem da raiz latina das palavras inter, que significa "entre", e cedere, que significa "ir". Agir como intermediário é exatamente o que você faz quando intercede. Ao interceder, você tenta ajudar as pessoas a resolverem suas diferenças ou a conseguir algo, como quando você intercede em nome de seu amigo para encorajar seu chefe a contratá-lo, ou quando amigos rivais entre si lhe pedem para interceder, orientando-os a resolver suas diferenças. 

Moisés foi o maior exemplo de intercessor no Antigo Testamento, ilustrando a importância de se colocar entre Deus e as pessoas, rogando para que Deus as salve e abençoe. Ele fez isso em inúmeras ocasiões, sempre em razão da dureza do coração do povo eleito de Deus, os quais insistentemente provocavam Deus à ira. E Deus ouvia Moisés quando este intercedia. Isso mostra que o papel do intercessor é fundamental: é preciso que haja alguém que se ponha diante de Deus para pedir o favor Dele em prol de alguém; isso é exemplo de fé e de amor, tanto pelo próximo quanto por Deus.  

O Novo Testamento traz a revelação de Jesus como sendo o intercessor fiel de todo aquele que Nele crê e confia. Moisés, exemplo de intercessor no Antigo Testamento, logicamente faleceu há muitos séculos; no entanto, Cristo ressuscitou e hoje está vivo, junto a Deus Pai, intercedendo continuamente por aqueles que por Ele se chegam a Deus: "²⁵ Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hebreus 7:25; ver também Romanos 8:34). Aqueles que crêem em Cristo tem a Cristo como Supremo Sumo-sacerdote, por eles sempre intercedendo no céu; na Terra, a Bíblia ensina que o Espírito Santo intercede por eles, no interior deles mesmos, com gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26) para a compreensão humana, mas plenamente compreendidos “por Aquele que sonda os corações”. É Ele, o Espírito Santo de Deus (que é uma das 3 pessoas da Divina Trindade) quem conhece a necessidade real de cada um de nós, reconhecendo que esta ou aquela necessidade tem destaque. 

Se o Senhor não interviesse Moisés teria sido apedrejado pelo povo de Israel, inflamado em sua incredulidade pelo relato dos 10 espias incrédulos (Números 14:10). Deus disse a Moisés que iria destruir a todos eles (Números 14:11,12):

¹¹ E disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo? e até quando não crerá em mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?
¹² Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei; e te farei a ti povo maior e mais forte do que este.
 

Moisés então intercedeu pelo povo de Deus e a Bíblia diz que Deus os perdoou conforme a intercessão de Moisés (Números 14:20). Eles não seriam exterminados enquanto povo; no entanto, como consequência da incredulidade contínua (a Bíblia fala que por 10 vezes eles provocaram a Deus, sendo desobedientes, Números 14:22), Deus diz que a geração daqueles que "viram a minha glória e os meus sinais, que fiz no Egito e no deserto" não entrariam na terra que Deus havia jurado a Abraão, Isaque e Jacó (Números 14:21-23; 27-38):

²⁸ Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros.
²⁹ Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes;
³⁰ Não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.
³¹ Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, porei nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezastes.
³² Porém, quanto a vós, os vossos cadáveres cairão neste deserto. 

A intercessão de Moisés fez com que Deus poupasse a vida do Seu povo; porém não evitou que eles colhessem o fruto amargo da sua incredulidade e desobediência. Viveram às portas da terra prometida, sem nela poderem entrar. A terra tão ansiada por eles foi-lhes negada por não quererem crer em Deus e obedecer à Sua voz. Agora, veja o que é dito na epístola aos Hebreus (Hebreus 3:7-19):

⁷ Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz,
⁸ Não endureçais os vossos corações,Como na provocação, no dia da tentação no deserto.
⁹ Onde vossos pais me tentaram, me provaram,E viram por quarenta anos as minhas obras.
¹⁰ Por isso me indignei contra esta geração, E disse: Estes sempre erram em seu coração, E não conheceram os meus caminhos.
¹¹ Assim jurei na minha ira Que não entrarão no meu repouso.
¹² Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.
¹³ Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;
¹⁴ Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
¹⁵ Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, como na provocação.
¹⁶ Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés.
¹⁷ Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?
¹⁸ E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes?
¹⁹ E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade. 

Entendeu o texto? O autor diz que a incredulidade do povo de Deus no tempo de Moisés, resultou na morte de toda uma geração que saiu do Egito, no deserto, fora da terra prometida (o registro encontra-se em Números 14:21-24;26-38). De fato, apenas a geração que nasceu no deserto, descendentes daqueles que foram o Egito libertos, é que entraram na terra (salvo duas famílias, de 2 espias chamados Josué e Calebe, que tiveram fé em Deus mesmo diante da incredulidade dos outros 10). Eles nunca experimentaram a paz de se estabelecer e aproveitar aquilo que Deus lhes havia prometido. Esse episódio foi correlacionado, para nossa exortação, da possibilidade de nós também não podermos entrar naquilo que ele chamou de "repouso para o povo de Deus" (Hebreus 4:9-11) pela mesma razão - a desobediência, que é fruto da incredulidade

⁹ Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus.
¹⁰ Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas.
¹¹ Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência. 

Observe: Deus tratou com severidade aqueles que eram incrédulos e desobedientes, com respeito àquele que era meramente um simples servo, Moisés. O que esperar, então, em relação àqueles que agissem do mesmo modo em relação ao Seu Filho? Os julgamentos de Deus executados sobre os pecadores em épocas passadas, servem para a reprovação e instrução daqueles que vieram depois, revelando uma maior amplitude e seriedade desses julgamentos. Aquelas pessoas ficaram de fora da terra prometida; você e eu podemos ficar fora do céu prometido àqueles que crêem em Jesus. Por isso, o autor do texto aos Hebreus diz que eles não deveriam, em hipótese alguma, endurecerem seus corações quando ouvissem a voz de Deus falando com eles no evangelho. 

Querido(a) leitor(a), como já dito anteriormente, há uma terra prometida onde os salvos em Cristo irão habitar. É um novo céu e uma nova terra, onde habita a justiça, que nãos e restringirá a um país em particular mas que se estenderá mundo à fora (2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:1). Deus limpará dos olhos dos salvos em Cristo toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (Apocalipse 21:4). Sobre essa época, é dito (Apocalipse 22:3-5): 

³ E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão.
⁴ E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome.
⁵ E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre. 
  

No entanto, para poder viver nessa nova realidade, é preciso ter seu nome escrito no Livro da Vida do Cordeiro (Jesus), o que só é possível se você aceitá-lo como seu único e suficiente salvador pessoal. Ele morreu e ressuscitou para que você possa ter seus pecados perdoados, mas é preciso que você decida-se por Ele no tempo que se chama Hoje. Postergar essa decisão não é uma escolha sábia; afinal de contas, não sabemos quando passaremos dessa vida material à eternidade. Não sabemos quando é a nossa hora, nem em que circunstâncias ela chegará a nós; só podemos ter a certeza de que essa hora virá um dia. E uma vez tendo passado à eternidade, as nossas escolhas que fizemos nessa vida irreversivelmente nos acompanharão para sempre. Deus nos dá o hoje, querido(a) leitor(a), para tomarmos a nossa decisão. Voltemos ao artigo da semana anterior: você precisa ter seus pecados expiados de forma definitiva!

Talvez você diga: "mas, eu conheço muita gente que diz ter aceito a Jesus como Senhor e Salvador e que vive de forma totalmente contrária ao que você diz". Sim, é verdade:  muita gente que diz que aceitou, vive de forma como se nunca tivesse aceito a Cristo em sua vida. Eles dizem ter relacionamento com Deus, mas será que isso é verdade mesmo? Ou será que eles encontraram apenas a religião que fala sobre Deus e se tornaram adeptos dessa religião? Veja: alguém pode dizer qualquer coisa sobre si mesmo, mas será que o que é dito corresponde a verdade? Há pessoas que infelizmente são frequentadores de religião, mas que ouvirão um dia do próprio Senhor Jesus, como Ele mesmo diz, "nunca conheci vocês" (Mateus 7:21-23):

²¹ Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
²² Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
²³ E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.


Não é, portanto, a confissão de fé que vale, mas sim a realidade daquilo que é confessado que tem valor para Deus, percebe? Muitos naquele dia irão falar que  fizeram várias coisas em nome de Cristo, mas isso não adiantará. Quanto mais se aproxima o dia da ira de Deus (dia da ira vindoura), mais e mais pessoas viverão de modo a escandalizarem umas às outras (leia mais em: ESCANDALOSOS E SEUS ESCÂNDALOS). O amor se esfria enquanto o mal cada vez é mais aquecido pelo inferno. A Bíblia cumpre-se diante dos nossos olhos. O fato é que cada um dará contas de si, do que fez de Cristo Jesus, inclusive eu e você. O que Deus espera de nós é que tomemos nossa decisão por Cristo independentemente do que outros dizem e fazem, pois a salvação é algo pessoal. Reconhecermos o mal na vida dos outros não nos faz melhores do que eles, não nos torna mais justos e, portanto, merecedores da absolvição por nossos pecados. No final das contas, o que permanece é a realidade de que precisamos de Deus URGENTEMENTE, independentemente do que falamos sobre Deus ou sobre nós mesmos. Se formos sinceros conosco mesmo e com Deus, Jesus promete que nos salvará e conosco estará todos os dias; Ele intercederá de contínuo junto ao Pai e o Espírito Santo intercederá por nós, dentro de nós, nos conduzindo em fé em meio a esse mundo mal e cruel. 

Moisés intercedeu por Israel. Jesus intercede pelos Seus, mas diferentemente de Moisés, Jesus apresenta um elemento adicional nessa intercessão: Seu próprio sangue, derramado na cruz. Na cruz, a ira de Deus sobre o pecado é posta em Cristo; Ele leva sobre si os nossos pecados. Nele, a justiça de Deus é satisfeita. Por isso, aqueles que crêem em Cristo, de verdade, não entram mais em condenação pelo pecado: "¹ Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Romanos 8:1 ver também 8:34). Nenhuma acusação pesa mais contra eles, porque Deus, o próprio Deus, quem os justifica: "³³ Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Romanos 8:33). E nada, nem ninguém, nem no passado nem no futuro, pode separá-los do amor de Cristo (Romanos 8:35-39). 

Jesus intercedeu na cruz por seus algozes (Lucas 23:34) e como resultado eles não foram mortos ali, naquele momento, mas isso não impediu eles passarem pelo juízo de Deus. Entrar no repouso de Deus depende da fé, não dos méritos humanos. Assim, a misericórdia de Deus no tempo presente deve ser aproveitada de forma sábia e prudente, colocando Jesus como o centro da sua vida. A decisão, querido(a) leitor(a), é e sempre será somente sua. Eu aconselho a tomar a decisão em favor de Cristo, mas você é quem decide! Pense nisso!  

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