As palavras não dizem tudo
Mesmo que o tudo
Seja fácil de dizer
Com certeza fala bem melhor o mudo
Se sua atitude manifesta o que crê
Compromisso sumiço, omisso
Ou faz o que fala
Ou se cala de uma vez
Que não venha sobre si justo juizo
Pois terrível cousa é cair nas mãos do Rei
Mesma língua que abençoa, amaldiçoa
Mesma língua canta um hino
E traz divisão
Não pode da mesma fonte
O doce e o amargo
Se Cristo habito de fato no coração
("Fonte", Vencedores por Cristo", Composição: Sérgio Pimenta)
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Compromisso é hoje em dia um tema fora de moda. Antigamente, muito se falava da necessidade de compromisso nas mais diversas áreas da vida humana. Era o compromisso com os estudos, o compromisso no seio da família, o compromisso com o namoro - que aumentava muito mais quando o namoro evoluía para o noivado e chegava ao clímax quando por ocasião do casamento, o compromisso com Deus e com a fé cristã, o compromisso com a Igreja e com suas atividades, o compromisso... Quebrar o compromisso era algo muito sério, era visto como grande traição da parte daquele que não honrava o que havia se comprometido a fazer. Por exemplo, quando o rapaz rompia o noivado com a donzela sem a devida e suficiente razão, ele era reputado como "moleque, pilantra, safado, mau caráter". Gravidez fora do casamento? Isso era uma barbárie, uma afronta à família da moça; o responsável por tal ato era obrigado a assumir o relacionamento e casar-se de qualquer jeito! Do mesmo modo, na noite de núpcias dos nubentes se não houvesse a comprovação da virgindade da moça, o casamento poderia ser desfeito sob vergonha da família! Por outro lado, honrar os compromissos era entendido como grandeza de caráter. Falava-se até em dar "o fio do bigode" (possivelmente derivado da expressão germânica pronunciada nos juramentos “bi Gott”, ou “por Deus”) como garantia do cumprimento do compromisso assumido. Hoje, ninguém quer mais ter compromisso com coisa nenhuma, enquanto exige compromisso máximo consigo mesmo.
No período das perseguições imperiais aos cristãos, II-III Séc. d.C., fazia toda a diferença para a comunidade dos fiéis o compromisso entre eles e deles com o Senhor. Servir ao Senhor até a morte - fidelidade, coisa de quem é compromissado -, era o que se esperava daqueles que professavam a mesma fé. Não importava se a vida seria ceifada. Mesmo no interior da igreja, o testemunho público era percebido pelos cristãos como indicador do nível de compromisso com a fé cristã. Somente eram escolhidos como pastores aqueles irmãos que "governassem bem as suas próprias casas, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia", pois "se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?" (II Tm 3.4,5). Ninguém era recebido como "irmão" na igreja de forma irresponsável; era preciso antes demonstrar por "A+B" que tratava-se de fato de um irmão em Cristo e isso geralmente se dava pelo testemunho público da pessoa. E naqueles dias o testemunho era rapidamente conhecido e divulgado entre irmãos, que o diga a família de Cloé em Corinto ainda no I Séc. d.C. O conselho apostólico era que fossem notados e afastados da comunhão aqueles irmãos que não desfrutavam de bom testemunho, porque demonstrava a falta de compromisso com a fé cristã.
Hoje, num mundo cada vez mais descompromissado a não ser com os próprios interesses egoístas, as coisas infelizmente mudaram:
1) Nos relacionamentos: Hoje, os namorados passaram a ser "namoridos". Sexo liberado. O rapaz dorme na casa da moça, na cama da moça. Parece até que é casado. Para os pais, isso é normal. Depois de usar e abusar da filha dos outros, o sujeito com a cara mais deslavada rompe o relacionamento e vai embora, "a caça de nova vítima", sob a argumentação de que "ela não era a pessoa certa". Por seu turno, as moças não se dão mais ao respeito, facilitando ou mesmo provocando a coisa. Elas não se valorizam como antigamente. Repreenda-as e elas lhe dirão: "papai querido, você sabe que ainda é o número um, mas nós garotas só queremos nos divertir", afinal "Girls Just Wanna Have Fun". Isso chama-se falta de compromisso: falta de compromisso do rapaz com a moça (e vice-versa) e dos pais com os filhos (e vice-versa), falta de compromisso cantado a verso e prosa nas músicas e melodias modernas.
Há casos onde o "relacionamento" (se é que pode se chamar assim) é como um iô-iô, um termina-volta-termina-volta-termina sem fim, também conhecido como defraudação. Defraudação é sinônimo de fraude. Não defraudar a ninguém é mandamento bíblico (Mc 10.19), cuja quebra é pecado e este, se não confessado e abandonado, produz a morte eterna. Assim nos ensina Tiago: "Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais em condenação." (Tg 5.12)
Outro relacionamento onde a falta compromisso é cada vez maior é a família. Ninguém mais quer fazer o seu papel dentro do contexto da família, tal como estabelecido por Deus. O pai, outrora cabeça e sacerdote da família, não é mais o modelo de homem, de marido e de pai a ser seguido - nem sequer ele se preocupa com isso. Assim, há uma geração de homens fracos sendo produzidos a cada dia, homens que não assumem sua posição, homens passivos que não exercerão seu papel agregador no lar. Como marido e companheiro, é um zero à esquerda. Como pai, não tem voz ativa para nada, não exercendo sua autoridade no lar. Como homem, há alguns que insistem que é necessário que os filhos tenham iniciação sexual na adolescência com prostitutas ou mesmo com as "namoridas". Outros são extremamente violentos - afinal, homem é ser machão.
E quanto as mulheres? Elas não fazem a menor idéia do que é ser esposa, ser adjuntora idônea. Não entendem patavina da criação de filhos, do zelo pelo marido e pelo lar. Há aquelas que são verdadeiras matronas - "chicas mandonas" e se lhes é permitido, mandam no marido, nos filhos... em todo mundo! Fazem o que querem e bem entendem, sem considerar com cuidado e amor suas ações e conseqüências. "Eu faço isso pela minha família!", é o que dizem; porém, na verdade, fazem isso por si mesmas, porque tem prazer em agir deste modo. Parte disso deve-se a "frouxidão" de alguns maridos. Porém, a conseqüência em tal relação é percebida de forma notória tanto nos filhos do casal quanto no próprio casal: as filhas aprendem a ser mandonas como a mãe, narizes em pé e dedos em riste, cheias de caprichos e vontades, não se submetendo a ninguém. Já os filhos continuarão bananas, passivos, sem iniciativa para nada, sem brio, sem força de vontade. Por sua vez, não há companheirismo para nada. Se ela precisar dele para alguma coisa, é melhor esquecer. Se são crentes, por exemplo, o marido dificilmente se firmará nos Caminhos do Senhor.
Se você acha que isso é coisa do mundo, de gente sem Deus, eu concordo. Mas hoje em dia é coisa de gente gospel também, de gente que freqüenta (?) igreja. Na prática, isso chama-se fornicação, algo que deixará muita gente fora do Céu e com vaga cativa no inferno, quer sejam os fornicadores, quer sejam os pais que entendem que a fornicação é correto e favorecem a prática - e isso independe de afiliação religiosa, partido político, título eclesiástico ou acadêmico, posição social, cor, raça, sexo, ou qualquer coisa. Ah sim, isso também é falta de compromisso: Com Deus, que infelizmente tem o Seu Santo Nome blasfemado entre os descrentes pela inconseqüência e irresponsabilidade de alguns. O mais interessante que blasfemam e depois aparecem diante de Deus, na Igreja, com cara de santo barroco cantando hinos e cumprindo a performance esperada; assim, de uma mesma fonte acabam procedendo bênção e maldição, revelando a incoerência entre a profissão e a prática.
2) Na Igreja: Antigamente, quando os homens "nasciam de novo" era quase automaticamente gerado nos corações o desejo de trabalharem na igreja, de se comprometerem com as atividades cristãs. Hoje, talvez a tarefa mais difícil que os pastores sérios enfrentam é fazer com que haja compromisso na vida de alguns membros. Para que se envolvam com a Obra de Deus é quase um parto a fórceps - e isso ainda com muitas graças a Deus quando há fruto permanente, porque na maioria das vezes tem-se o parto de um natimorto, o famoso "começa alguma coisa e não continua". Freqüência aos cultos dominicais? Espere sentado, porque em pé você vai se cansar. Escola Dominical? Se fosse possível, poderia até o próprio apóstolo Paulo em pessoa ensinar que a freqüência continuaria sendo mínima. Reunião de Oração? Depende: eu vou poder pedir também? Oração em secreto? Não dá, tem sempre muito o que fazer. Evangelismo? Nem pensar! Visitação aos enfermos? Xi, não dá, vou ter que viajar no próximo dia... Viagem urgente sabe; para o meu lazer pessoal. Leitura e meditação na Palavra? Nem um pequeno versículo.
Quando dão o ar da graça nos cultos e serviços cristãos, chegam atrasado e saem cedo. Marcas de uma vida sem compromisso com o Reino de Deus. Há prejuízo para a própria vida? Sem dúvida: a vida fica mais enrolada do que linha de pipa em carretel, as lutas se amontoam e as crises espirituais surgem. "Pastor, estou me sentindo sem fé!", "Pastor, já não tenho mais forças para ir à Igreja!" dentre outras confissões de fracasso derivadas da falta de compromisso com a vida espiritual. Não ora, não jejua, não medita nas Escrituras, não se envolve com as coisas de Deus e depois quer viver como o apóstolo João, discípulo íntimo do Senhor. Como isso é possível?!? Vida cristã é um compromisso assumido com o Senhor; sem honrar o compromisso, nada adiantará coisa nenhuma! Não adiantarão pregações, estudos, cultos, aconselhamentos... nada! Não adianta participar da "Campanha do Aperto dos Setenta Parafusos Frouxos" ou da "Campanha de São João Acende Fogueira no Meu Coração".
Dizer-se crente é muito fácil, difícil é viver como cristão verdadeiro. Ler um versículo para alguém, qualquer alfabetizado o faz. Mas o testemunho de vida se coadunar com a retórica é outra coisa! O testemunho público deixou de ser importante, algo a ser conquistado e mantido, passando a dar lugar a "tristemunhos". Testemunho hoje em dia foi confundido com coisas conquistadas ou com transformação de "ex", mas o sentido de "prática contínua de vida que evidencia a transformação do homem interior pela ação da Palavra de Deus e do Espírito Santo" foi totalmente esquecido. Como diz o hino, as palavras não dizem tudo, mesmo que o tudo seja fácil de dizer. Assim, ou faz o que fala ou se cala de uma vez!
O que fazer? Primeiro, é preciso se arrepender por viver de forma descompromissada e irresponsável. Saiba que o Senhor Nosso Deus é Deus de Alianças e que Aliança é Compromisso! Não há como obter sucesso na vida sentimental, familiar ou cristã sem o devido cuidado e manutenção dos vínculos e alianças existentes. Portanto, em segundo lugar, aprenda e pratique o compromisso e seus princípios vinculantes em todas as áreas da sua vida. Não importa no que seja: se há compromisso, honre-o com as suas forças. Maridos e esposas, honrem o compromisso de um com o outro e de ambos com o lar que vocês construíram. Mantenham vivo o compromisso com seus filhos e os ensinem a amarem e honrarem a família e os compromissos em todas áreas de suas vidas.
Quanto a vós, crentes em Cristo, vivei de forma digna da fé que vocês professam, honrando o compromisso assumido com o Senhor, a partir da freqüência e assiduidade aos cultos e serviços cristãos e da manutenção de um bom testemunho diante de todos os homens. Não importa o preço a ser pago pelo seu testemunho, pague-o glorificando a Deus. Jejum, oração e meditação na Bíblia, em secreto, de forma sistemática e persistente (compromisso no secreto), redundará na força espiritual necessária para honrar o compromisso diante dos homens (compromisso no público), fazendo com que a fonte jorre apenas água limpa, apenas bênçãos.
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!