quarta-feira, 24 de junho de 2015

PASTORES BIVOCACIONADOS: ERRO DE ORDENAÇÃO OU DE INTERPRETAÇÃO?

"Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia  (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo". (I Tm 3.1-7)

 Esse texto, parte integrante da I Epístola de Paulo a Timóteo, é reconhecido no âmbito da Teologia como se constituindo nos pré-requisitos para que um crente em Cristo Jesus exerça a atividade pastoral e juntamente com as epístolas de II Timóteo e Tito (com alguns excertos em II Coríntios e noutros livros da Bíblia, no Antigo e Novo Testamentos), se constituem na base bíblica para a Teologia Pastoral, parte integrante da Teologia Prática.  Teologia Pastoral é "teologia", porque tem principalmente a ver com as coisas de Deus e sua Palavra. É "pastoral" porque trata dessas coisas divinas no aspecto que pertence ao pastor. É "prática" porque se relaciona com o trabalho do pastor tal como ele é, nomeado para influenciar os homens, aplicando-lhes os ensinamentos das Sagradas Escrituras.

Assumindo que o pastor tem sido chamado por Deus para o sagrado ofício; que ele tenha sua mente equipada com a ciência da teologia e com um sistema de doutrinas; que ele aprendeu os métodos de interpretação da Palavra de Deus corretamente; que ele é hábil nas leis designadas por Cristo para o governo da sua Igreja; e que ele tem estudado a arte da retórica sagrada, - assumindo tudo isto, a Teologia Pastoral visa ajudá-lo no grande trabalho prático de trazer toda a sua preparação para a edificação do povo do Senhor e da salvação dos homens. O seu objetivo é, considerando os ministros como homens já bem educados, é ajudá-los na arte sagrada de trazer almas para Cristo e treiná-las para a glória de Deus.

I. Pastor Bivocacionado: O que diz a Bíblia? Primeiro, às Escrituras!

Segundo o Rev. Thomas Murphy, D.D., ex-pastor da Frankford Presbyterian Church, em Filadélfia, em sua obra "Pastoral Theology: The Pastor in the Various Duties of His Office" (1877), "os ensinos imortais nas Epístolas de Timóteo e Tito devem ser o modelo e a substância de toda teologia pastoral". Portanto, vamos nos analisá-las mais detidamente por um instante, a fim de obtermos o saber sobre este tema. Vejamos então. Quem aspira (deseja, almeja) a nobre função pastoral, segundo Paulo, deve ser:
  1. (i) irrepreensível (gr. anepileptos, "inculpável"). Para que os bispos não se vejam privados de autoridade, Paulo ordena que se faça uma seleção daqueles que desfrutem de excelente reputação e sejam eximidos de qualquer nódoa extraordinária.
  2. (ii) marido de uma mulher. A única exegese correta é a de Crisóstomo, que o considera como uma expressa proibição de poligamia na vida de um pastor.
  3. (iii) vigilante (gr. nephaleos, "sóbrio").
  4. (iv) sóbrio (gr. sophron, "auto-controlado ou moderado", "discreto", "temperado").
  5. (v) honesto (gr. kosmoios, "ordenado, ou seja decoroso - de bom comportamento, modesto"). 
  6. (vi) hospitaleiro (gr. philoxenos, "amante de hóspedes"). 
  7. (vii) apto para ensinar (gr. didaktikos, "que tem didática", "que sabe ensinar"). Tanto pela posse de conteúdo quanto pela capacidade de transmitir esse conteúdo, no caso a Palavra de Deus. Sobre isso, comenta o Pr. Josemar Bessa em seu blog "O Calvinista": "não é suficiente que uma pessoa seja eminente no conhecimento profundo, se não é acompanhada do talento para ensinar [...] Os que são incumbidos de governar o povo devem ser qualificados para a docência." (http://www.ocalvinista.com/2011/01/qualificacoes-para-o-pastorado-joao.html).
  8. (viii) não dado ao vinho (gr. paroinos, "tardando em vinho", "bêbado", aquele que permanece perto, continuamente ao lado ou na presença de vinho). A imagem é de um homem que sempre tem uma garrafa (odre) na mesa indicando seu vício. 
  9. (ix) não espancador (gr. plektes, "espancador", "briguento"). "A interpretação de Crisóstomo é correta, a saber, que os homens inclinados à embriaguez e à violência devem ser excluídos do ofício episcopal." (Pr. Josemar Bessa, op. cit.)
  10. (x) não cobiçoso de torpe ganância (gr. aischrokerdes, de aischrós = imundo, vergonhoso, desonroso, indecente + kerdos = ganho, o lucro). É descaradamente ganancioso, avarento, excessivamente aquisitivo especialmente na busca de acumular riquezas, um buscador de ganho de formas vergonhosas. Descreve um homem que não se importa como ele ganha dinheiro nem como ele faz isso. Aischrokerdes adequadamente descreve muitos que não se importam como ganham dinheiro, desde que consigam ganhá-lo.
  11. (xi) moderado (gr. epieikes, "gentil", "paciente").
  12. (xii) não contencioso (gr. amachos, "pacífico", "abstendo-se de combates"). Inimigo de contendas. Descreve alguém que "sabia como suportar as injúrias pacificamente e com moderação, que perdoava muito, que engolia insultos, que não se amedrontava quando se fazia necessário ser corajosamente severo, nem rigorosamente cobrava tudo o que lhe era devido. A pessoa que é inimiga de contendas é aquela que foge das demandas e rixas, como ele mesmo escreve: "Os servos do Senhor não devem ser contenciosos" [2 Tm 2.24]." (Pr. Josemar Bessa, op. cit.)
  13. (xiii) não avarento (gr. aphilarguros, "não amante de prata").
  14. (xiv) que governe bem a própria casa (gr. "proistamenon idiou oikou kalōs"). Vem do gr. "proistemi", "estar diante, isto é, (na hierarquia) para presidir, ou (por implicação) para praticar - manter, governar". Deve governar a própria casa e fazer isso de forma bem feita. Dá a idéia de uma família bem ajustada, onde todos os membros se submetem e obedecem o líder, o pai de família, como é confirmado pelo restante do texto.
  15. (xv) não neófito (gr. neophutos, "nova planta", "novo convertido", "noviço"). Não pode ser alguém falto de experiência ou maturidade; inexperiente, ingênuo, imaturo (emocional e espiritualmente).
  16. (xvi) bom testemunho dos que estão de fora [da igreja, isto é, dos não-crentes] (gr. "kalēn marturian tōn exōthen"). Fala do testemunho pessoal para com aqueles que não são crentes. Sobre isso, comenta o Pr. Josemar Bessa: "O apóstolo, porém, quer dizer que, no que concerne ao comportamento externo, mesmo os incrédulos devem esforçar-se por reconhecer que ele [o crente] é uma boa pessoa. Pois ainda que sem causa caluniem todos os filhos de Deus, todavia não podem afirmar que alguém seja perverso quando na verdade leva uma vida boa e inofensiva na presença de todos. Essa é a sorte de reconhecimento de retidão que Paulo está a referir-se aqui." (Pr. Josemar Bessa, op. cit.)
Agora, deixe-me fazer uma pergunta: onde está escrito aqui, ou possa ser interpretado, que um pastor só o é de fato e de direito se tiver como única vocação o ministério pastoral? Onde está escrito, na Bíblia, que um pastor não pode ter uma dupla vocação? Ou o tal do "sola scriptura" só vale quando é de interesse pessoal? Pergunto isso porque tenho visto - e ouvido (sic) - uma série de argumentos, postagens, blogs, etc. que defendem que um pastor não pode trabalhar secularmente, que o pastor que assim age é "menos pastor" que aqueles que só exercem ministério pastoral. De onde - de que passagem bíblica - tiraram isso?? De onde concluíram que um pastor que exerce ministério de tempo integral é "a pessoa mais ocupada do mundo", enquanto aquele que exerce ministério em tempo parcial (porque trabalha secularmente) "é relaxado, de vida mansa"? Onde está escrito que um pastor univocacionado é mais pastor que um bivocacionado? Qual dos pré-requisitos paulinos acima explicados afirma isso?

 Permita-me apresentar um fato: PAULO FAZIA TENDAS (At 18.3) paralelamente enquanto exercia o ministério dado pelo Senhor para ele. O texto diz que esse era o ofício de Paulo (do gr. techne, "habilidade", "ocupação". Techne se refere à capacidade de produzir um objeto por meios racionais, habilidade de produção manual, à arte, à especialidade no trabalho. Para mais, ver revistas.pucsp.br/index.php/hypnos/article/download/18042/13402). Por que ele fazia tendas? Não deveria ele, o apóstolo Paulo, se dedicar unicamente ao ministério? Afinal, não é o próprio apóstolo que escreve em I Co 9.14 que "assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho"? Então Paulo estaria desobedecendo a ordem do Senhor?

 Em Atos 18:3, fica claro que Paulo trabalhava para seu próprio sustento, como tinha feito em Tessalônica, para que pudesse manter-se acima das suspeitas de auto-interesse em seu trabalho como mestre da Palavra (1Co 9.15-19; 2Co 11.7-13) (Ellicott's Commentary for English Readers). Embora Paulo tivesse direito ao apoio financeiro das igrejas que ele plantou para seu próprio sustento, e das pessoas a quem ele pregou (cf. I Co 9.14 e outros textos), ele trabalhou em sua vocação. Um trabalho honesto, pelo qual um homem pode obter o seu pão, não é para ser olhado com desprezo por ninguém (Matthew Henry's Concise Commentary). Paulo trabalhou num ofício secular, para seu próprio sustento e para aqueles que com ele estavam, também em Éfeso (At 20.34). O apóstolo não tinha vergonha do trabalho honesto como um meio de subsistência; nem considerava com qualquer menosprezo um ministro do evangelho trabalhando com suas próprias mãos. Assim, Maimônides (no Tract. Talin. Torah, Capítulo I., Seção 9), diz: "o sábio geralmente pratica algumas das artes, para que não seja dependente da caridade dos outros" (Barnes' Notes on the Bible). Paulo, que estudara grandes temas e obtivera grande conhecimento com Gamaliel, chamado por Cristo para o apostolado, aprendera desde jovem uma profissão, como todo jovem judeu, e a exercia de bom grado.

 Note que após Paulo explicar aos Coríntios o mandamento do Senhor sobre o sustento do ministro cristão, ele, a partir do vers. 15,  explica que abriu mão desse direito: "Mas eu de nenhuma destas coisas usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória [...] Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho". Ou seja, o mandamento do Senhor para a Igreja é que esta sustente seus pastores financeiramente, com dobrados honorários se governarem bem e forem mestres da Palavra (I Tm 5.17) e isso é tido como um dever da Igreja e um direito do ministro por força do mandamento; porém, o ministro cristão pode abrir mão desse direito, renunciando ao mesmo, se assim desejar, em prol do próprio Evangelho que ele prega! E isso era considerado por Paulo como "glória pessoal" cf. comenta Expositor's Greek Testament!

A bem da verdade, não há nada na Palavra de Deus que inviabilize ou impossibilite que um pastor seja bivocacionado, como vimos. Outros textos podem ser analisados e a conclusão será a mesma. 


II. Minha Chamada Pessoal para o Ministério da Palavra. 

Sob pena da acusação de parecer justificar-me, esse princípio paulino é parte integrante de meu testemunho pessoal, algo que foi-me concedido pela graça do Senhor Jesus e do qual muito o glorifico! Permita-me contar um pouco desse testemunho:

Eu nasci com uma doença congênita chamada "coarctação da aorta". Para quem não sabe, essa patologia refere-se ao estreitamento da aorta de modo que dificulte a irrigação das partes inferiores, fazendo com que as artérias torácicas internas e as intercostais anteriores e posteriores - estas ramos diretos da aorta-, se anastomosem para manter a circulação nas porções inferiores do corpo. Por conta dessa doença, eu quase não tive infância; quando corria e brincava, como toda criança, sentia dores fortíssimas na perna (porque o fluxo sanguíneo era muito reduzido) com terríveis câimbras à noite. Essa doença me impedia de progredir nos estudos (faltava muitas aulas, por diversas consultas em médicos e hospitais, minha rotina como criança). Cheguei a perder (reprovar) a 1a. séria primária. Assim, com 8 anos para 9 anos de idade, fui internado no Instituto Estadual de Cardiologia Aluísio de Castro, no RJ, para ser ter a coarctação corrigida cirurgicamente, algo que foi um sucesso: removeram 5cm da seção estenosada da aorta e substituíram por um tubo de dracon. Após esse período, retornei para a minha vida infantil e escola. E Deus me abençoou com inteligência: daí para frente, nunca mais perdi série alguma! Todas as séries eu me saí muito bem, com boas notas.

Encontrei (ou fui encontrado por, rs) o Senhor Jesus aos 17 anos de idade. Aos 18, fiz vestibular para a UFRJ e orei ao Senhor, pedindo que Ele fizesse Sua vontade em minha vida, que se fosse da vontade Dele que eu passasse no vestibular. E assim Ele me permitiu ser aprovado para Engenharia Química (curso de doido, diriam alguns, rsrsrs). Quando o médico que me acompanhou durante a infância soube da minha aprovação, exclamou: "e esse menino ainda passou no vestibular!", tamanhas eram as incertezas que haviam quanto a minha vida pós-cirurgia. Iniciei o curso e foi muito bom!

Aos 19 anos, num culto da Igreja que eu frequentava, de linha Pentecostal, no bairro de Vila Isabel/RJ, após a pregação, o pastor convidou aqueles que queriam receber oração uma oração à frente. Eu fui. Estava ali para agradecer todas as bênçãos e para pedir ao Senhor que me ajudasse no curso superior escolhido. Um irmão, ao orar por mim, foi usado pelo Senhor e disse que eu seria pastor. Não entendi nada! Eu, pastor? Interessante que quando esse irmão abriu os olhos e viu diante dele um garoto, ficou se questionando se aquilo que havia dito tinha sido do Senhor mesmo ou dele. Até hoje quando lembro a expressão de espanto do irmão fico rindo sozinho! Ao sair do culto, atônito ainda com tudo aquilo (foi a primeira vez que passei por essa situação, nunca tinha visto isso antes), vi o pastor da Igreja saindo com um baita carrão, muito bonito (e caro) e ouvi comentários do tipo "é, vale a pena ser pastor! Olha o carrão dele!". Meu coração se encheu de revolta com aquele comentário! Naquele mesmo momento, disse ao Senhor ali na rua que "se fosse Ele mesmo que havia falado comigo sobre o tal ser pastor, eu aceitaria com uma condição: ter meu sustento próprio, sem receber dinheiro da Igreja; que nisso eu glorificaria Seu nome. Que Ele me desse todo o necessário para que eu nunca precisasse ter nada da Igreja". Nada de riqueza nem ostentação, mas uma vida sossegada diante de Deus.

 E Deus honrou meu pedido, era de Deus mesmo aquela palavra que o irmão profetizou para mim há 23 anos! Acabei conhecendo meu atual pastor e Igreja. Eu queria muito fazer seminário - não para ser pastor, mas para aprender mais a Palavra (desde a minha conversão Deus colocou um amor por Sua Palavra em minha vida. Eu queria aprender, até porque ficava muito chateado quando no evangelismo alguém perguntava alguma coisa que eu não sabia responder!) Foi quando Deus agiu mais uma vez: Ele colocou no coração do meu pastor em criar um seminário teológico, em 1997: A Escola Ministerial Rhamá! Deixando a modéstia de lado, penso que eu fui um dos melhores alunos do curso! Meu Deus, como aprendi e como gostava (e ainda gosto) de aprender!  Acabei sendo o primeiro pastor ordenado pela Igreja Batista Reviver, hoje Igreja Batista Ministério Reviver, junto com a esposa do pastor, hoje Pra.Valdinéia, no ano de 2001. (Veja mais em: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2014/05/a-igreja-batista-ministerio-reviver.html) Deus havia cumprido a Sua palavra em minha vida, dita pela boca do seu servo 9 anos antes! E, com a mudança do meu pastor para a cidade de Barra Mansa, na região sul-fluminense, fui empossado pastor-titular da Igreja sede, no RJ, pastorado que exerço com muita alegria e ações de graça! Assim, minha chamada para o ministério deu-se após eu já ter sido abençoado por Deus com uma profissão!

 Apenas para argumentar (ad argumentandum tantum, rs), como ministro da Palavra, já discipulei e batizei inúmeros irmãos em Cristo, resgatando vidas das trevas, do pecado, do diabo e dos vícios. Formei (e formo) obreiros para a Seara do Mestre (diáconos, professores de Escola Bíblica, evangelistas e pastores). Atualmente, sou Diretor e Mestre do Seminário Teológico que estudei, hoje Escola Teológica Reviver; autor de diversas matérias (apostilas) de cunho teológico, bíblico e profético além de professor de várias disciplinas. Criei esse blog, que Deus tem usado para abençoar vidas nos mais diversos países do mundo. Minhas ovelhas são fortes na Palavra e incentivadas a estudarem e porem em prática os princípios bíblicos em suas vidas e famílias. Sou amado e querido por elas. Estou sempre disposto a aconselhar e não me nego a receber ninguém em meu gabinete. Sou tido por meus irmãos (e até por não crentes) como uma pessoa séria, de princípios e bom testemunho (bom testemunho dos de fora), tanto na vida moral (meu sim é sim e meu não é não mesmo) como em minha vida profissional (tenho o mais alto título acadêmico concedido pelas Leis brasileiras - o doutorado). Alguns crentes me consideram "pastor linha dura" (rsrsrsrs), porque não temo em repreender, em exortar, em corrigir, em chamar pecado pelo nome e não "passar a mão" sobre o pecado de ninguém.  Meu ministério consiste em forte ênfase em mudança de vida (conversão genuína e não aparência), crescimento e edificação na fé pela Palavra e pelo bom testemunho, aconselhamento e ensino. Creio nos dons e carismas do Espírito Santo como algo para os dias atuais, mas não sou tolerante com "circo gospel" em nome de Deus.  Creio no batismo com o Espírito Santo como experiência distinta da salvação. Creio na restauração da Igreja ao padrão neo-testamentário (Atos não apenas como história, mas como padrão doutrinário). E isso sem ser pesado para a Igreja!

III. Ministério Bivocacional e a Igreja.   

Por fim, mas não menos importante, creio à luz da Palavra que um pastor de tempo parcial não é menos pastor que um de tempo integral. Não é vagabundo, nem preguiçoso, nem um "pastor de fim de semana", como maldosamente alguns comentam, fazendo pouco caso dessa classe de ministro cristão. Pastores que exercem seu ministério em tempo parcial são tão dignos, tão pastores como os demais. Aliás, permita-me uma correção: um pastor bivocacionado pode estar recebendo um salário por seu trabalho secular, mas ele é um pastor em tempo integral! Eu, em todos os momentos, sou pastor e exerço meu ministério; algumas vezes numa área, outras vezes noutra. Alguns irmãos, por não conhecerem a Palavra e estarem cheios de preconceitos e doutrinas de homens, fazem julgamentos muito pesados e inapropriados sobre a questão e, como de praxe, interpretam os textos bíblicos à luz desses preconceitos. Há muitos mitos que cercam esse tema de um pastor bivocacionado: alguns dizem que se um pastor bivocacionado tem fé suficiente, ele simplesmente largará o emprego e confiará em Deus para satisfazer suas necessidades. Outros dizem que se ele for um bom pregador, terá uma igreja bem grande; e se for pastor de uma pequena congregação ele é bivocacionado porque não é pastor de uma igreja (mito do tamanho de igreja: igreja se mede, segundo esse mito, pela quantidade de pessoas).   

Rev. Ray Gilder, coordenador nacional da SBC Bivocational and Small Church Leadership Network (Rede de Lideranças Bivocacionais e Pequenas Igrejas da Convenção Batista do Sul), em seu artigo intitulado "8 Reasons to Be a Bivocational Pastor", assim pergunta: "Qual é o mérito de alguém criticar um homem que está disposto a trabalhar o dobro para que poder sustentar sua família e dar liderança pastoral para a igreja por ele pastoreada?" O mais interessante é que para o pastor Frank Page, presidente do comitê executivo da SBC, "o modelo de igreja bivocacional é o melhor caminho para fazer discípulos no séc. XXI" (http://www.bpnews.net/43375/bivocational-church-model-best-page-says). Ainda segundo Page, "alguns diriam que 35 mil das nossas 46 mil igrejas, talvez mais do que isso, estão nas duas categorias de pequena igreja (com 125 membros ou menos) ou bivocacional". Reconhecendo a importância do ministério bivocacional, Rev. Bobby Welch, Presidente da Southern Baptist Convention (Convenção Batista do Sul), durante a East Tennessee Bivocational Evangelism Conference, disse que  "uma vez que quase metade das nossas igrejas Batistas do Sul são lideradas por pastores bivocacionais, eu acredito que é hora de nós reconhecê-los e honrá-los" (http://www.bpnews.net/20354). 

É ululante que um pastor bivocacionado precisa ser ainda mais disciplinado do que um alguém com vocação somente na área pastoral. É preciso muita disciplina, mas isso não é nada impossível; nada que com treinamento e perseverança não possa ser alcançado. Uma grande vantagem do ministério bivocacionado é na formação e no treinamento de lideranças. Uma igreja onde o pastor exerce seu ministério full time tem a tendência a ser uma igreja onde o pastor é absoluto em tudo - só ele prega, só ele dirige reunião, só ele aconselha, só ele ensina, só ele evangeliza, só ele visita, só ele faz tudo - até por pressão da própria igreja, que vê seu pastor como uma espécie de "empregado da igreja", "profissional de púlpito" (óbvio que isso é uma tendência, não uma regra geral). Já em Igrejas pastoreadas por ministros bivocacionados, muito dificilmente o pastor será o "faz tudo", nem será pressionado a sê-lo. Por necessidade, os cristãos têm de se envolver no ministério porque o pastor bivocacionado não pode fazer tudo (cf. Rev. Ray Gilder, as pessoas não vêem o pastor como superman - http://www.lifeway.com/Article/pastor-bivocational-minister-demands-benefits) e os membros aceitam esse fato; isso é muito positivo, porque mobiliza a Igreja e faz com que mais pessoas da membresia se sintam verdadeiramente úteis e desenvolvam também seu chamado e ministério. Daí, o pastor precisa capacitar pessoas dentro dos seus ministérios e delegar funções, desenvolvendo equipes ministeriais, exercendo verdadeiramente a liderança (não chefia) da Igreja. (leia: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2009/12/entendendo-natureza-e-o-papel-dos-cinco.html)

Finalmente, concluindo, diante das dificuldades e ameaças que a Igreja enfrenta no séc. XXI,  "[...] especialmente em tempos onde pastores são muitas vezes vistos com suspeita, quero evidenciar que esse direito [de ser sustentados exclusivamente pela Igreja] pode ser renunciado ou relativizado por motivos nobres e estratégicos, o que também está de acordo com o ensino apostólico (2 Co 9.15)", explica o pastor Sérgio Augusto de Queiroz em seu artigo "Fabricando tendas e edificando vidas: Uma reflexão sobre o chamado ministério "bivocacional"" (http://www.cristianismohoje.com.br/artigos/especial/uma-reflexao-sobre-o-chamado-ministerio-bivocacional). "[...] Não se trata, repito mais uma vez, de lutar contra o modelo tradicional relacionado ao ministério pastoral, mas de investir em um modelo paralelo de liderança cristã baseado na experiência do apóstolo Paulo, como uma alternativa teologicamente sã, eclesiologicamente viável e missiologicamente eficaz, para um mundo onde a cosmovisão cristã vem perdendo força em razão do pluralismo religioso e do laicismo estatal" (pastor Sérgio Augusto de Queiroz, op.cit.)

Eu glorifico a Deus por poder servi-Lo! Tenho honrado ao Senhor com minha vida, trabalho e ministério e naquele dia receberei Dele o galardão; eu e todos aqueles que O serviram fielmente conforme o chamado divino que receberam!  

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

domingo, 21 de junho de 2015

UMA PALAVRA ACERCA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência. (Art. 208, Código Penal)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;  
(TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais.  CAPÍTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS: Constituição da Rep. Fed. do Brasil, 1988)
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Para começar essa argumentação, já de saída, eu EXPRESSAMENTE AFIRMO que, como pastor cristão-protestante, sou RADICALMENTE CONTRÁRIO A QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA, especialmente aquela que tem como motivação a fé religiosa. Não há nenhuma lógica ou racionalidade ou legalidade, quer no mundo secular, quer no espiritual, na prática da violência em nome da fé (e em qualquer violência, diga-se de passagem). Violência não deveria haver sequer no mundo, mas infelizmente a humanidade tem a tendência para a prática do mal desde o pecado original no Éden. Hoje, olhando a Terra, vemos ela "corrompida diante de Deus, e cheia de violência [...] cheia da violência dos homens" (Gn 6.11,13) tal qual fora naqueles dias.

A Bíblia Sagrada, regra de fé e conduta dos cristãos protestantes, condena a violência como pecado e, portanto, resultado do distanciamento do homem de Deus. Sobre isso, ensina o salmista que "o Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência" (Sl 11.5). Salomão afirma que "a violência dos ímpios arrebatá-los-á, porquanto recusam praticar a justiça" (Pv 21.7). O profeta Ezequiel nos revela que o coração do querubim da guarda, no processo de se tornar em Satanás, se encheu de violência (Ez 28.16). Por sua vez, conforme o profeta Oséias, "só prevalecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar, e o adulterar; há violências e homicídios sobre homicídios", situação que ele atribui a realidade de que "na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus" (Os 4.1,2), uma palavra atualíssima para nossos dias.  Ressalte-se que o Senhor Jesus jamais incentivou a violência, sempre condenando-a como pecado, nem mesmo quando esta se voltou contra ele próprio! Segundo a Bíblia: "E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia". (Lucas 9:51-56)

Esse texto do Evangelho de Lucas, aliás, é bem apropriado. Os samaritanos eram descendentes dos Babilônicos, dos Cuteus, dos de Avá, dos de Hamate e de Sefarvaim (II Rs 17.24), enviados para a cidade de Samaria que estava devastada e despovoada, com uma leve mistura de sangue judaico (II Cr 30.6; 34.9). Por conseguinte, eram uma espécie de raça aparentada dos judeus, e os habitantes da Judéia referiam-se a eles pelo nome de cuteanos.  Por sua natureza mista, foram rejeitados nos serviços do templo, quando do retorno do cativeiro babilônico e em 409 a.C., orientados pelo sacerdote Manassés (excluído de Jerusalém por Neemias por ter casado ilegalmente com a filha de Sambalate, horonita), obtiveram a permissão do rei persa Dario Noto de erigir um templo no monte Gerizim. Uma vez iniciada essa adoração, imediatamente ficam em posição de rivalidade, como seita cismática, e sua história posterior apresenta as características usuais desse antagonismo. Recusavam toda e qualquer hospitalidade aos peregrinos a caminho de Jerusalém, assaltando-os e maltratando-os no decurso da jornada. No tempo da revolta dos macabeus, os samaritanos se inclinaram perante a tempestade, e seu templo, no monte Gerizim, era dedicado ao Zeus Xênio (que posteriormente foi destruído por João Hircano, em 128 a.C.). Muita inimizade havia entre os samaritanos e os judeus. Entre os anos 6 a 9 d.C., os samaritanos espalharam ossos no Templo de Jerusalém, por ocasião da Páscoa. Em 52 d.C., samaritanos massacraram um grupo de peregrinos galileus em En-ganim. Os judeus consideravam os samaritanos como cismáticos, sendo o ponto principal de discórdia o templo no monte Gerizim como local de adoração.

Os discípulos queriam fazer descer fogo do céu para consumir aquela aldeia de samaritanos. Aquelas pessoas não quiseram receber os mensageiros que o Senhor Jesus enviou. Os discípulos juntaram a isso toda a animosidade que havia entre judeus e samaritanos e assim concluíram que o único remédio era a destruição daquelas pessoas e cheios de zelo propuseram isso ao Senhor, algo prontamente rejeitado por Jesus, apesar do tratamento rude dispensado. O Senhor os apelidou de Filhos do Trovão (Mc 3.17) pelo temperamento iracundo deles. Jesus os repreendeu, pois percebeu em João e Tiago uma grande dose de ressentimento pessoal e ostentação misturado com o zelo por Ele. Destruir os homens estava na contramão do Seu propósito encarnacional - salvar os homens. Algo que os homens precisam atualmente considerar: "O homem pecaminoso está sempre pronto a destruir, a matar, a queimar, a provocar confusão, a cometer atos de violência, até mesmo em nome da justiça. Jesus, no entanto, sempre rejeitou a violência dos homens. Todos os seus milagres foram atos de misericórdia, jamais de destruição; Ele veio para aliviar o sofrimento, não para aumenta-lo. Os verdadeiros seguidores de Jesus não podem ser homens violentos. Este mundo ainda necessita aprender esta grande lição" (Novo Testamento Interpretado Vers. por Vers.; R.N. Champlin, Ph.D.)

É bom dizer que aqueles que se chamam cristãos (protestantes e católicos) são alvo de perseguição religiosa em diversos países do mundo. Os cristãos, aliás, são alvo de perseguição por sua fé desde os séculos I e II d.C. pelo império Romano. Cristo foi condenado à crucificação por Pôncio Pilatos, prefeito da província romana da Judéia. De fato, onde houver alguém que se comprometa a seguir a Jesus de coração, ali haverá um cristão perseguido. O site Portas Abertas possui uma lista que relaciona 50 países segundo o grau de perseguição que os habitantes cristãos mais enfrentam (disponível em https://www.portasabertas.org.br/cristaosperseguidos/). Portanto, um cristão, como vítima de perseguição, sabe reconhecer o alto valor da liberdade de fé e de culto, tal como estabelece a Constituição do Brasil e suas leis. Sabe o quão caro e valioso é poder cultuar a Deus sem ter o culto interrompido com violência e os fiéis levados presos ou fuzilados, os bens confiscados, taxados de inimigos do Estado. Portanto, um cristão NÃO PODE, EM HIPÓTESE ALGUMA, usar de violência ou promovê-la contra adeptos de outras religiões, infringindo a Lei que os protege como a nós. Todos são iguais perante a Lei, de forma que Lei protege aos adeptos de todas as religiões no livre-exercício de sua fé. O Brasil não possui uma religião oficial, graças a Deus, ou viveríamos aqui o mesmo terror que experimentamos noutros países! Vale dizer que a transgressão da Lei é crime - algo que os cristãos também reconhecem como algo muito sério: aos olhos de Deus toda a humanidade é transgressora de Sua Lei, pois todos pecaram e destituídos foram da glória de Deus (Rm 3.23). Daí que Cristo morreu por nós, perdoando os pecados dos que Nele crêem, perdoando a transgressão para com a Lei de Deus e tornando justo todo aquele que Nele crê.

No dia 14/06, a menina Kailane Campos, de 11 anos, vestida a rigor conforme preconiza sua religião, o candomblé, recebeu uma pedrada na cabeça, além de ser ofendida com xingamentos, após participar de uma reunião, no bairro de Vila da Penha. A agressão teria sido feita supostamente por evangélicos. A agressão foi registrada na 38ª DP (Brás de Pina) como crime de intolerância religiosa e lesão corporal, segundo noticiou o site Gospel Prime (http://noticias.gospelprime.com.br/evangelicos-apedrejam-menina-candomble/. Acesso: 21/06/15).  Eu considero o episódio como lamentável e me coloco no lugar da menina e de sua família: eu não gostaria em hipótese alguma de ter um membro de minha família alvo de pedradas só porque seu credo religioso desagrada outra pessoa. Eu, como pastor, já fui também alvo de pedradas e de amêndoas durante um culto que fazíamos num terraço, em Quintino; a pedra atingiu a cabeça de minha esposa! Aliás, tenho familiares e amigos de diversos grupos religiosos, e como pastor me relaciono muito bem com todos eles! E digo: as pessoas que cometeram essa barbárie precisam ser detidas pela polícia o quanto antes. Precisam ser punidas, INDEPENDENTE DA FÉ QUE PROFESSEM ou nenhuma fé! Não é aceitável, sob qualquer argumento que seja, esse fato ou fatos semelhantes! Não há justificativa religiosa, ética ou moral que aprove isso!

Porém, permita-me argumentar mais um pouco. Até que essas pessoas que cometeram essa brutalidade sejam presas pela polícia e a história seja esclarecida, nada há que comprove que a agressão foi realizada por evangélicos. A mídia tem tratado isso como se já estivesse sido determinado inequivocamente a autoria da agressão que foi feita por pessoas dessa religião, mas isso ainda não foi comprovado nem estabelecido pela Justiça. Sobre isso, Paulo Teixeira, em seu artigo "A pedrada na menina do candomblé e a crucificação dos evangélicos: Por que a ocorrência está ganhando enorme repercussão?" comenta: "Ninguém, nem mesmo a polícia, sabe quem são os agressores, todavia, indiscriminadamente, insiste-se em dizer que os mesmos são evangélicos, supostamente por estarem com bíblias nas mãos [...] Tem-se notado que ilicitudes assim, veladamente ou explicitamente, são sempre atribuídas ao segmento evangélico, levando muitos a estigmatizá-lo como um grupo intolerante." (http://artigos.gospelprime.com.br/candomble-intolerancia-evangelicos-pedrada-menina/. Acesso: 21/06/2015, 1h10min). Eu não atribuí a pedrada que minha esposa levou a um grupo religioso específico, simplesmente porque não posso ter certeza disso. Seria irresponsabilidade minha acusar o grupo A ou B sem a devida prova! Assim, acusar os evangélicos sem haver provas pode acabar gerando um aumento da animosidade, fomentando em pessoas desequilibradas reações agressivas contra Igrejas Evangélicas.

Eu, minha mãe, minha esposa e meus irmãos de fé não gostaríamos em hipótese alguma de sermos agredidos ao sairmos da Igreja após o nosso culto cristão. Tenho certeza que todos os irmãos de outras denominações concordarão comigo. As Igrejas já sofrem perseguição no Brasil e no RJ, sendo alvo de xingamentos e ameaças por vizinhos de outros credos (sou testemunha disso: sou vizinho de muro de uma Igreja Assembléia de Deus e vejo a perseguição que movem contra os irmãos. Quando a Igreja funcionava na Rua Oscar em Quintino/RJ, durante um culto, vi um sujeito iracundo interromper o culto de nossa Igreja e xingar meu pastor, Pr. Kennedy Fábio, e ameaçar bater nele. Depois, nos mudamos para a Rua Cupertino 395 e ali também aconteceu coisa semelhante. Depois nos mudamos para Vila da Penha, e agora eu como pastor da Igreja cansei de sofrer ameaças. Além de eu mesmo já ter sido inúmeras vezes afrontado, como crente e como pastor, desde piadinhas de gente sem noção, na rua e até no trabalho, até ameaças físicas. E estou certo que não sou o único crente e pastor a passar por isso).

Outro ponto importante, que deve ficar claro, é que o termo "evangélicos" é genérico, envolvendo mais de um grupo confessional que muitas vezes não guardam relação entre si nem no governo, nem na liturgia, nem na interpretação da Bíblia. Assim, cada Igreja é uma Igreja diferente, com liderança própria, com governo próprio, sem necessariamente haver uma relação de dependência.  É PRECISO DAR NOMES AOS BOIS. Foi estabelecido inequivocamente a autoria por alguém que professa ser evangélico? Qual o grupo a que pertence ou diz pertencer? É bom que fique claro que muita gente que se diz evangélica não o é, de fato nem de direito. Muita gente acha que é evangélico porque simpatiza com uma Igreja. Só que é preciso muito mais do que isso para ser evangélico de verdade. Aqui, pontuo o ser evangélico como ser alguém realmente convertido (e portanto comprometido com) a essa fé. Ser membro de uma Igreja é um processo variável que depende da denominação (Batista, Assembléia, Metodista, etc), mas no geral é algo que só se dá após provas da conversão pessoal por meio da aceitação de Cristo como único e suficiente salvador pessoal, do testemunho de vida, do abandono dos vícios e do pecado espontaneamente, por vontade própria, e pelo batismo nas águas, após um processo de discipulado, onde a cada momento verifica-se se a pessoa realmente converteu-se a Cristo genuinamente. Vou dar um exemplo: nenhum praticante de adultério, nenhum ébrio, nenhum devasso, etc. é considerado evangélico sem provar, pelos seus frutos pessoais, a transformação de sua vida pelo poder do Evangelho. Daí, não é batizado nas águas e nem aceito como membro da Igreja. Nenhum ex-adepto de outra religião é considerado evangélico e recebido como membro da Igreja sem renunciar sua antiga religião, se quiser fazer parte da Igreja (os evangélicos são monoteístas, crendo num único Deus, o Deus da Bíblia, que se revelou ao homem), o que não impede que assista ao culto evangélico.

Abre parênteses 1: Esse ponto é muito importante, pelo que vou enfatizá-lo: nem todo mundo que se diz evangélico é evangélico verdadeiramente. Além dos muitos simpatizantes que seu autodenominam evangélicos sem o serem, há aqueles que vivem suas vidas religiosas independentemente do ensino de suas lideranças. Isso é um fato notório que vem desde a época do imperador Constantino, que fez o desfavor de obrigar que adeptos de outras religiões entrassem para a Igreja à força. São pessoas que vivem em rebelião contra Deus e contra a Palavra de Deus; muitos são excluídos da membresia da Igreja quando descobertas as suas práticas. Porém, outros vivem dissimuladamente, escondendo quem verdadeiramente são; continuam na prática do pecado, dos vícios, do mundanismo de forma encoberta e na Igreja fazem cara de santo.  Outros, observam apenas aquilo que agrada-lhes da fé cristã, descumprindo o demais. Todos os dois grupos são hipócritas, falsos crentes. Um pastor cuida apenas dos fiéis em sua atividade pastoral, daqueles que se submetem a Cristo; os rebeldes não se submetem nem a Cristo, nem a pastor humano, nem a Bíblia, nem a regra denominacional. Fecha parênteses 1.

Abre parênteses 2: Há radicalismo verdadeiro no mundo religioso-cristão? Sim, infelizmente há. Por exemplo, há pastores que insistem em partir para a violência contra pessoas que não professam a mesma fé, desrespeitando primeiramente o próprio Deus a quem dizem servir e depois ao próximo, a quem Jesus ordenou que amássemos. Coisas como desrespeito a símbolos religiosos - o "chute na santa", ou ataques a centros espíritas ou a templos de religiões afro-brasileiras, DEVEM SER COMPLETAMENTE REPUDIADAS POR AQUELES QUE SÃO CRISTÃOS VERDADEIROS. Do mesmo modo, depredação de templos religiosos estão RADICALMENTE FORA DAQUILO QUE A BÍBLIA ENSINA.  Como protestantes, temos o direito de crer de forma diferente das outras religiões e credos; temos o direito de expor as nossas crenças e de fazermos proselitismo ("evangelismo") das mesmas, isso é garantido pela Constituição do Brasil. Mas outras religiões e credos têm o mesmo direito e nada, em absoluto, deve ser feito para alterar isso. O católico, o espírita, o budista, o protestante, enfim todos têm direito a expressarem suas IDÉIAS, suas CRENÇAS, a fazerem PROSELITISMO, de forma a fazem novos adeptos, inclusive de MUDAREM DE RELIGIÃO, se assim lhes for conveniente. NINGUÉM, EM HIPÓTESE ALGUMA, DEVE SER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA POR SUA CRENÇA RELIGIOSA. Debates de idéias, ortodoxia, fundamentalismo bíblico não devem ser confundidos com violência, com depredação de patrimônio particular ou de objeto de culto religioso; estes - os debates - são sempre bem-vindos. A Bíblia nos exorta - a nós, crentes em Cristo, a "estarmos sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (I Pe 3.15). Condenar o pecado - e o conceito de pecado é bíblico, pertencente a fé cristã, é correto; amar o pecador, buscando com zelo e mansidão mostrá-lo o seu pecado e a solução para o pecado, que é Jesus, também pertence a mesma fé. Esse blog JAMAIS INCITA OU INCITARÁ A VIOLÊNCIA, mas sim o pensamento, a reflexão e a argumentação bíblico-teológica (ou até mesmo científica, social, etc se assim for conveniente e interessante) à luz daquilo que a Bíblia verdadeiramente ensina o que, infelizmente, nem sempre é praticado pelas igrejas e religiões. Esse blog é de orientação bíblica-ortodoxa, não-ecumênico, não-relativista, bordando a práxis da humanidade sob esse ponto de vista. Fecha parênteses 2. (http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2012/08/radical-ou-biblico-moderado-ou-liberal.html)

É preciso que os agressores da menina Kailane Campos sejam presos pela polícia e condenados segundo o rigor da lei brasileira. É preciso determinar ainda se agiram sozinhos ou a mando de alguém - a autoria da agressão. Porém, é preciso ficar bem claro que os verdadeiramente evangélicos, que seguem verdadeiramente a Bíblia e são verdadeiramente convertidos à Cristo JAMAIS ATACARIAM QUALQUER PESSOA. Os evangélicos são um povo que busca viver em paz com todos, obedecendo as leis e respeitando as autoridades. São pessoas de todos os escalões da sociedade, que muito contribuem pelas obras e pela pregação do Evangelho para recuperação de drogados, de prostitutas, para a restauração familiar e redução da violência em todos os níveis. O interesse dos evangélicos é na salvação de todos os homens por Cristo Jesus, segundo o que estabelece essa fé religiosa; salvação que se dá unicamente pela conversão à Cristo a partir da pregação da Palavra de Deus e do convencimento do pecado, da justiça e do juízo pelo Espírito Santo. Para isso, pregamos o Evangelho, boas novas de salvação, a todos os homens independente de nacionalidade, raça, cor, credo e religião, conforme a ordem de Nosso Senhor registrada em Marcos 16:15,16 e Mateus 28:19,20, sem escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; sem impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso e sem vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso.

Os que se dizem evangélicos e agridem, incitam ódio, podem se chamar como quiserem. Mas não são evangélicos. Quem afirma isso é o Evangelho, é o próprio Cristo.

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A SOBERNIA DE DEUS E AS OPINIÕES HUMANAS


Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo e lhe ensinou sabedoria e lhe mostrou o caminho de entendimento? (Is 40.13,14)


Soberania é um atributo de Deus, ou seja, algo que é parte indissociável de Sua natureza e que condiciona o caráter de Deus. Segundo o dicionário Houaiss, soberania é a superioridade derivada de autoridade, domínio, poder. Daí o termo "soberano", que significa "que tem saber e presença absolutos, e, em conseqüência, conduz, protege, rege, domina (o destino, a vida, etc)".  Portanto, a soberania de Deus é algo ligado a Sua onipotência: Deus é soberano, Ele governa sobre todas as coisas existentes, que no mundo visível quer no mundo invisível, com todo poder e autoridade. O próprio termo "onipotência" significa "faculdade de decidir com soberania".

Toda a Bíblia ressalta a soberania de Deus. Porém, se há um livro da Bíblia que mais dá destaque a Soberania de Deus é o livro de Isaías. Nesse livro, Deus é visto como Rei dos reis, assentado no Seu Santo, Alto e Sublime Trono governando todas as coisas (Is 6.1-3).  Israel, cujo trono que aparentemente havia ficado vazio com a morte de Uzias e portanto sem esperança, estava debaixo de um Trono superior, de um Soberano superior, que estava assentado eternamente no Seu Trono. O rei humano havia morrido, o que possibilitava que o Rei Celestial fosse contemplado! O Rei de Israel sempre esteve no Trono e sempre estará, regendo Seu povo; Seu governo jamais terá fim, pois Seu Trono é sempiterno!  O Senhor Adonai estava no Seu Trono! Nada escapa do Seu controle ou foge do Seu domínio!

Parênteses: Aliás, assim é com todas as nossas perdas, com todas as nossas tristezas, com todas as nossas decepções, com todas as nossas dores; elas têm a missão de revelar-nos o trono de Deus! A posse das coisas que são tomadas de nós, as alegrias que nossas dores reduziram a pó, têm a mesma missão, e o propósito mais elevado de todo o bem, de todas as bênçãos, de todos os bens, de toda alegria, de todo o amor - a maior missão é levar-nos a Ele. O que os nossos sofrimentos, nossas dores, perdas, decepções fazer por nós?  Bem, para aqueles a quem perda é ganho, significa ser posto na posse das riquezas duradouras! É um meio de revelar Aquele que "é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente"!  A mensagem para nós de todas estas nossas dores e aflições é "Subi para cá." Em todos essas coisas, nosso Pai está nos dizendo: "Buscai o meu rosto." Devemos responder, 'O teu rosto, Senhor, buscarei . Não esconda Tua face de mim.'  Tomemos cuidado para que não nos percamos em nossas dores e tristezas. Elas nos absorvem, por vezes, com arrependimentos vãos. Elas nos amarguram às vezes com pensamentos rebeldes. Elas muitas vezes quebram as molas da atividade e do interesse pelos outros, da simpatia para com os outros. Mas sua verdadeira intenção é abrir a fina cortina, para nos mostrar "as coisas que são," as realidades do Deus entronizado, as abas que enchem o templo, os serafins pairando, e da tenaz do altar que purifica nossos lábios. Fecha parênteses.

Deus soberano é o Deus cuja palavra jamais cairá por terra, jamais voltará para Ele vazia (Is 55.11); afinal, Se Ele mandou, quem não o temerá, quem não o obedecerá? (Am 3.8) Isaías declara: "Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás? [...] Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?" (Is 14.27; 43.13). Ninguém é capaz de resistir ao Senhor, nem impedir Seu agir - nenhum homem, anjo, demônio ou diabo tem a mínima, a ínfima chance de impedir o agir de Deus, do Deus Soberano e Eterno! Ninguém está em pé de igualdade com Ele, nem para resistir-Lhe e muito menos para aconselhar-Lhe. A própria sabedoria foi possuída pelo SENHOR no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras, foi ungida desde a eternidade, desde o princípio, antes do começo da terra (Pv 8.22,23). Sim, sobre a própria sabedoria é dito: "Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo; Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo, Quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo; Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens" (Pv 8.24-31).

Ora, não há maior tolice em supor que Aquele que detém toda a Sabedoria e Conhecimento precisa de algum tipo de conselho ou de opinião humana! Como aconselhar o Onisciente Soberano Senhor? Como dar palpites em Sua Obra ou em Seus caminhos? É impossível tal coisa; quem intenta isso ouvirá ecoando desde o passado "Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência." (Jó 38) No entanto, é exatamente assim que alguns crentes tem entendido sua relação com Deus. Com suas palavras sem conhecimento vão escurecendo o conselho; dizendo-se doutos, mostram-se na prática o contrário, pois tencionam emitir opiniões acerca dos caminhos e decisões do Eterno! Acham que Deus "muda de posição" por causa de suas opiniões pessoais! De suas teses acerca do que Deus deve ou não fazer, de como deve ou não agir. Opinião, segundo o dic. Houaiss significa: "1. maneira de pensar, de ver, de julgar; asserção, afirmação que o espírito aceita ou rejeita. 2. julgamento pessoal (justo ou injusto, verdadeiro ou falso) que se tem sobre determinada questão; parecer, pensamento. 3. posição precisa, ponto de vista que se adota em um domínio particular (social, religioso, político, intelectual etc.); idéia, teoria, tese. 4. parecer, julgamento emitido após reflexão ou deliberação; voto, partido. 5. hipótese, idéia não verificada ou sem fundamento; presunção. 6.  julgamento de valor sobre alguém ou algo; conceito". Pergunto: qual desses sinônimos combina com a relação entre Deus, na expressão de Sua Onisciência e Soberania, e o homem no que tange ao processo de tomada de decisão e no agir de Deus? Meu julgamento pessoal sobre qualquer coisa sobrepor-se-á de algum modo ao julgamento de Deus, ou o complementará? Meus pensamentos são de algum modo superiores aos do Senhor? Minha posição precisa, meu ponto de vista afetará alguma coisa Àquele que desde o eterno passado já determinou todas as coisas?     

Isaías pergunta "Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro, o ensinou?" Como explica o comentário Barnes' Notes on the Bible"quem tem equipado, ou disposto a mente ou espírito de Javé? O que o ser superior ordenou, instruído, ou dispôs em seu entendimento? Quem qualificou-o para o exercício da sua sabedoria, ou para a formação e execução de seus planos? O sentido é que Deus é supremo. Ninguém o tem instruído ou guiado, mas seus planos são seus, e foram todos formados pelo próprio Senhor sozinho. E como esses planos são infinitamente sábios, e como Ele não é dependente de ninguém para a sua formação ou execução, o seu povo pode ter confiança Nele, crendo que Ele será capaz de executar seus propósitos. [...] Ele não é dependente de conselhos de homens ou anjos. Ele é supremo, independente e infinito. Ninguém está qualificado para instruí-lo; e todos, portanto, deve confiar em Sua sabedoria e conhecimento.Esse desejo de "aconselhar Deus" é comum, especialmente quando não gostamos, por qualquer razão, do caminho que Deus traçou para nossa vida. A bem da verdade, o homem que não conhece a Deus é conduzido pelas suas paixões e opiniões pessoais; porém o homem regenerado busca andar segundo a Vontade de Deus para sua vida. Essa idéia de "aconselhar Deus" está ligada a auto-suficiência humana, onde o o indivíduo se basta, tem tudo o que precisa e pode estar em pé de igualdade "palpitando" em como Deus deve fazer Sua Obra.

Será que a Bíblia afirma que Deus considera o que o homem diz ou pensa acerca de Seus propósitos, que Deus leva em conta a opinião humana? Precisamos ter cuidado com a interpretação de versículos isolados, buscando justificar nossos "achismos" e "opiniões pessoais". Uma boa recomendação é nunca interpretar versículos ou passagens fora de seus respectivos contextos onde estão inseridos. A interpretação de um texto bíblico, além disso, precisa considerar, dentre outros, a língua original no qual foi escrito (grego, hebraico ou aramaico); o ensino geral das Escrituras; a teologia; a história, geografia, política, economia, metrologia, etc. que esteja envolvida; contexto histórico, padrões de retórica, análise gramatical, semântica e exegética, gêneros literários, citações do Antigo Testamento no Novo Testamento, relações entre a hermenêutica e as teologias bíblica, histórica, sistemática e homilética; etc. Se uma possível interpretação entra em choque com algum versículo ou passagem, esta interpretação precisa ser revista pois com certeza está errada.Vejamos alguns exemplos de versículos onde aparentemente Deus pediria a opinião humana ou a consideraria em Suas deliberações:

a) Isaías 1:18 - "Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã". Trata-se de um ultimato autoritativo da parte de Deus, do juiz para o acusado. O termo hebraico "venivākechâh" (argüir, arrazoar) é derivado de "yakach" e é traduzido por "mostrar, provar", de modo que o texto tenha o significado de duas partes em conflito que discutem um caso. Conforme o comentário Barnes' Notes on the Bible explica, "aqui ela (a palavra) denota o tipo de contenção, ou argumentação, que ocorre em um tribunal de justiça, em que as partes reciprocamente indicam os motivos das suas causas". Mr. Cheyne traduz "vamos levar nossa disputa ao final" (Pulpit Commentary). Portanto, esse versículo não aborda de forma alguma o pedido de Deus da opinião humana (nesse caso, sobre a transgressão do próprio homem), nem dá margem para uma consideração desta (para absolvição), conforme se vê na condenação proferida nos versículos anteriores do cap. 1.

Nota: a palavra "opinião", do hebraico dea´ (דֵּעִי) derivada do termo "yada'"  aparece apenas 5 vezes na Bíblia, no Antigo Testamento, todas no livro de Jó, ora traduzida como "opinião" (32:6,10,17), ora como "conhecimento" (36:3; 37:16). Nenhum desses casos aborda Deus considerando a opinião humana.

b)  Atos 15:28 - "Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias". Precisamos analisar esta passagem à luz do contexto. Atos 15 trata da Assembléia na Igreja de Jerusalém movida pela conversão dos gentios a Cristo. Havia um grupo que pertencia a Igreja, dos fariseus que haviam crido em Cristo, que ensinava que a fé no Senhor não era suficiente para a salvação; era necessário praticar os ritos judaicos, como a circuncisão e guardar a Lei de Moisés (vv.1,5), o que gerou grande contenda (v. 7).  Pedro então toma a palavra e explica que Deus confirmou a fé dos gentios em Cristo Jesus, "dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós. E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé" (vv. 8,9) e que, portanto, os que queriam que estes gentios convertidos observassem a Lei estavam tentando a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo muitíssimo pesado (o qual Deus não pôs nem fez tal exigência) (v. 10). Note que a primazia na decisão foi do Espírito, que desceu sobre os gentios; a Igreja apenas corroborou com aquilo que Deus já havia feito (como na casa de Cornélio, At 10.44-46), não o contrário. Não foi a Igreja que tomou a decisão e o Espírito concordou, mas o Espírito decidiu e a Igreja piedosamente discerniu a Vontade do Senhor e corroborou com ela. Não é à toa que o versículo começa "pareceu bem ao Espírito" e então acrescenta "e a nós" (não o inverso, isto é, "pareceu bem a nós" e depois "ao Espírito").    

Poderíamos abordar outros versículos mal-compreendidos e mal-interpretados, mas creio que estes dois aqui já demonstram o erro embutido no ensino de que Deus considera as opiniões humanas no seu processo de tomada de decisão baseado em erros de hermenêutica e exegese bíblicas.

A igreja ao longo de sua história volta e meia deparou-se com o problema dos modismos e ventos de doutrina. Dente de ouro; fanerose; canela de fogo; sapato de fogo; vassoura de fogo;  unção dos 4 seres; unção de bicho; regressão; adoração a anjos; unção do emagrecimento; cadeira reservada para anjos e outras crendices como suco do céu com sabor de morango; do disco ao contrário; do 666 para tudo que é lado; etc. Tudo isso passou. Já tivemos o clímax do G12; M12; J12; MDA; etc. Hoje, está quase extinto. Atualmente temos a teologia da prosperidade e venda de unção por R$ 900. Em breve passará também. A igreja é inabalável e permanece apesar dos ventos que sopram contra ela. O problema é o estrago que isso tudo causa: gente desviada da fé, irmãos que romperam com seus pastores e igrejas em prol da novidade e que quando tudo passou ficaram perdidos; gente ferida, magoada, rejeitada; igrejas que racharam, divisões, sectarismos, porfias, invejas, ciúmes, etc.  Assim, muito cuidado com o modismo, com o que está sendo ensinado!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

sábado, 13 de junho de 2015

O FARISEU, A PECADORA E O MESTRE

 

Mensagem pregada pelo Pr. Rodrigo Aguilar, no templo da Igreja Batista Ministério Reviver em Vila da Penha/RJ.

E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento. Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos de sua cabeça. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz. (Lucas 7:36-50)

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=9tD31PT9D9w

Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=1GMQnud64lE

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

DAVI NA CAVERNA DE ADULÃO: CONSOLO PARA OS ABATIDOS DE ESPÍRITO!

Mensagem pregada pelo Pastor Marcos Aurélio, no templo da Igreja Batista Ministério Reviver em Vila da Penha/RJ


Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

JONAS: LIÇÕES PARA A IGREJA HOJE!


Mensagem pregada pelo Evangelista Seminarista Wander Menezes, no Templo da Igreja Batista Ministério Reviver - Vila da Penha/RJ.

Para ouvir a mensagem, clique nos links abaixo:

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=H8sPRzTFmZg

Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=JkMPBrC6-q4

Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=gM6jog0GP7A

Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=H6IYFkiAyek

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

TÁ SENDO PISADO? O PROBLEMA ESTÁ NA QUALIDADE DO SAL...


"Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens." (Mateus 5:13)

Quimicamente, o sal é o produto da reação entre um ácido e uma base. Assim, dependendo do ácido e da base, vários tipos de substâncias chamadas genericamente de "sal" podem ser produzidas. Conhecemos muito bem um sal muito abundante na Terra: o sal de cozinha, ou cloreto de sódio (Na Cl), resultante da reação entre o ácido clorídrico (HCl) e o hidróxido de sódio (NaOH), cuja principal fonte é a água do mar, existindo ainda em jazidas subterrâneas, fontes e lagos salgados. O mar, aliás, contém aproximadamente 50 trilhões de toneladas de sal, segundo os cientistas, representando uma concentração média de 35 gramas/litro de sal. O sal de cozinha nada mais é do que o sal marinho extraído da água e refinado por processos físico-químicos específicos, sendo adicionado iodo para combater o bócio (aumento do volume da glândula tireóide).

Abre parênteses: Há mais de um processo de refino do sal marinho, produzido em salinas por meio da evaporação da água por ação solar. Os mais comuns são o mecânico e o processo a vácuo. De forma geral, o processo mecânico envolve a remoção de substâncias metálicas e lixo, a lavagem do sal, moagem, nova lavagem (onde as impurezas são removidas em suspensão), uma etapa de clarificação e adição de iodo. Depois passa por uma etapa de secagem, adição de anti-umectantes, armazenamento e embalagem. O processo a vácuo envolve a dissolução do sal em água, de forma a obter uma solução saturada de sal. Segue-se uma etapa de clarificação, com a remoção de substâncias insolúveis, adição de substâncias (tipicamente hidróxido de cálcio e carbonato de sódio) para precipitação dos sais de magnésio e de cálcio, concentração e cristalização, secagem num secador de leito fluidizado (processo de transferência de massa) e adição de iodo (segundo a lei brasileira, deve ter um teor igual ou superior a 40 miligramas até o limite máximo de 100 miligramas de iodo por quilograma de cloreto de sódio.). O sal refinado é de alta pureza (cerca de 99,5% de NaCl). Leia mais em: http://waset.org/publications/9996829/development-of-a-process-to-manufacture-high-quality-refined-salt-from-crude-solar-salt).  Fecha parênteses.

Assim, a composição química do sal pode variar. Por exemplo, no sal de rocha (sal-gema ou sal fóssil, extraído a partir da mineração), o teor de NaCl pode ser de apenas 90%, o que implicará no poder conservante e no uso do sal como condimento. O sal marinho, não refinado, contém também menos NaCl que o sal refinado, o que faz com que o sal marinho possua um sabor menos salgado do que o sal refinado. Existe, por exemplo, o sal light, contendo apenas 50% de NaCl (o restante é KCl, cloreto de potássio). No sal-gema, a presença de diversos tipos de impurezas conferem cores distintas: vermelho ou rosa, com óxidos de ferro; amarela, com hidróxido de ferro; gris ou negra, com matéria orgânica ou óxidos de magnésio, etc.

Se o sal perder o sabor, como poderá ser feito salgado de novo? Sal sem sabor, sal que não salga; não pode haver uma maior contradição, pois o que se espera do sal, por sua natureza química, é que ele salgue, transfira seu sabor para a substância onde ele é aplicado ou adicionado, onde ele está presente. E nosso Senhor nos diz que é possível isto ocorrer, ou seja, o sal tornar-se insípido, perder o sabor. Perder o sabor é a tradução da palavra grega "moraino", usada apenas 4 vezes na Bíblia, em Mateus 5:13, Lucas 14:34, Romanos 1:22 e I Coríntios 1:20, sendo traduzido por "tornar-se louco", "fazer loucura" e "tornar-se insípido".

Muitas propostas de explicação já foram dadas para a perda de poder "salgador" do sal. Uma delas propõe que o sal usado pelos judeus vinha de Jebel-Usdum, nas margens do Mar Morto, conhecido como o sal de Sodoma. Não era um sal manufaturado, isto é, um sal refinado; era obtido a partir de lagoas de sal no interior que secam no verão ou obtido a partir pântanos ao longo da costaNa verdade, é um fato bem conhecido que o sal daquela região, quando em contato com o solo, ou exposto à chuva e sol, se torna insípido e inútil. A partir da forma em que é recolhido, muita terra e outras impurezas são recolhidas necessariamente com ele (Barnes' Notes on the Bible). Pela ação climática, todo cloreto de sódio era dissolvido, ficando apenas as impurezas e, desse modo, o "sal" sem sabor (e sem utilidade). O mais importante é que todas as explicações passam pelo teor de impurezas contidas no sal, tornando-o insípido quando o sal perdia todo NaCl. 

O fato é que o sal, no contexto bíblico-judaico, era muito importante, como explica o pr. Mateus Ferraz. "O sal, no contexto judaico, tinha um significado muito profundo. Além das características naturais, como conservante e tempero, o sal na cultura judaica antiga fazia parte de um simbolismo todo especial. Em um nível social, comer sal com alguém representava compartilhar de sua hospitalidade, atribuindo a ele sua subsistência. Mais profundo ainda é o fato de que qualquer um que compartilhasse do sal de seu anfitrião tinha a obrigação moral de cuidar de seus interesses. Em uma esfera ainda mais importante o sal tinha uma relação direta com o ritual mais importante no relacionamento daquele povo com Deus, a oferta. Em Lv 2.13, Deus estabelece que toda oferta deveria ser temperada com sal antes de ser oferecida, o que caracterizava um pacto incorrupto, que não se podia violar. Assim sendo, além da preservação da carne e da adição do sabor, o sal lembrava o povo de Israel de sua aliança imutável e eterna com o grande “Eu sou”. A partir daí surge a chamada aliança de sal (Nm 18.19) que caracterizava uma aliança inquebrável e irrevogável. Isso nos revela uma verdade importantíssima a respeito desse simbolismo bíblico. Quando um judeu se referia ao sal, ele não se referia apenas a um tempero comum. Assim, Jesus não estava apenas fazendo uma metáfora vazia, mas queria passar uma mensagem." (https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/alerta-a-igreja-o-destino-do-sal-insipido/)

Conforme o comentário Ellicott's Commentary for English Readers, segundo Talmude, quando o sal se tornava impróprio para uso sacrificial (quando ele ficava insípido), ele era lançado em dias de chuva sobre as encostas e degraus do templo para evitar que os pés dos sacerdotes escorregassem. W. M. Thomson, em sua obra "The Land and the Book", comenta que o sal quando se tornava sem sabor pela ação da chuva, do sol e dos ventos, para nada mais servia; não havia lugar para ele na casa, quintal ou jardim, sendo então varrido para a rua, sendo tratado com desprezo pelos homens. Por sua vez, Schoetgenius teoriza que o sal mencionado por Jesus era um tipo de usado na Judéia, um sal betuminoso, obtido do Lago Asfaltite (Mar Morto). Esse sal tinha um odor característico e era usado em grande quantidade sobre o sacrifício com o propósito de prevenir a inconveniência do sacerdote e dos adoradores sentirem o cheiro de carne queimando e acelerar a ação do fogo, queimando mais rapidamente o sacrifício. Grande quantidade deste sal era armazenado no templo e ele era facilmente deteriorado, sob efeito do sol, do ar e da umidade, sendo então lançado sobre o pavimento do templo para prevenir que os pés do sacerdote escorregassem durante o sacrifício (Schoetgen. Horae Hebraicae, vol. i., pág. 18-24).

Sal que perdeu o sabor é um sal inútil. Não serve para tempero, não serve para conserva, não serve para nada. É um sal que tornou-se hipócrita na essência, na sua natureza de sal; você olha para ele e diz que é útil, que é bom, que é desejável para dar gosto e para conservar. Porém ao usá-lo você verifica que não adiantou nada, é como se não houvesse usado. O churrasco continua doce, e você não consegue comer. A carne fica sem seu conservante e irá inevitavelmente apodrecer pela ação bacteriana. Esse sal não presta para nada, só para ser lançado no lixo. Sal da terra que é mais terra do que sal. Não há nenhum valor nesse sal, nada de especial nele. Você olha para ele no chão e pisa nele, porque ele não vale nada. Afinal, o que há de especial num sal que não salga? Nada. Ninguém se dá o trabalho para extrair esse sal, nem para vende-lo pois ninguém o comprará; nem para armazená-lo, pois só ocupa espaço inutilmente. É sem valor comercial, não agregando bem algum a ninguém.

"Vós sois o sal da terra", disse Jesus. Os crentes são o sal da terra. Aqueles que tem em sua nova natureza a capacidade de salgar, de dar sabor, de ser conservante, evitando a putrefação espiritual e a decadência moral da humanidade. A História da Igreja traz o registro de muitas felizes ocasiões onde os crentes salgaram a sociedade onde viviam. Na época de John Wesley "os xingamentos nas fábricas pararam, os homens e as mulheres começaram a se preocupar com vestimentas limpas e simples, extravagâncias como chá caro e vícios como o gim foram deixados por seus seguidores, vizinhos deram um ao outro ajuda mútua através das sociedades." "O que Wesley pregava? Santidade, honestidade, salvação, boas relações familiares, vários outros temas, mas acima de tudo a fé em Cristo". (http://www.juventudemetodista.org.br/home/2011/03/john-wesley-o-jovem-que-transformou-uma-nacao-em-poucas-palavras/) Sobre esse período, comenta o Sem. Jailson Jesus dos Santos em seu blog "Descrentes dos crentes: a igreja sem credibilidade no mundo":  "no avivamento britânico, em 1739, a Inglaterra caminhava para o caos, os piores vícios prevaleciam. A bebida era algo tão comum que os embriagados viviam mais nos bares do que nos lares; tamanha era a criminalidade que não podiam andar nas ruas, à noite. Todavia, quando Deus derramou do Seu Espírito sobre os Wesleys e Whitfield, a Inglaterra mudou sua rotina; os bêbados deixaram os bares e voltaram para os lares;os escravos tornaram-se cidadãos, os marginais voltaram ao convívio social. A sociedade que estava em ruínas foi reformada por Deus. Sobre este período o historiador Samuel Green disse: “Toda a maneira de ser do povo inglês se modificou" (http://jailsonipb.blogspot.com.br/2010/02/descrentes-dos-crentes-igreja-sem.html). Durante o grande avivamento em Northampton, Estados Unidos, dois séculos atrás, bares, prostíbulos e casernas foram fechados, por falta de clientes e pela conversão dos proprietários. Sociedades salgadas pelo bom sal!

Mesmo no Brasil, experimentamos uma época de sal salgado. Lembro-me dos antigos, dos irmãos mais velhos na fé, falarem sobre os crentes brasileiros nas décadas de 50 a 80. Pastores sérios, conhecedores da Palavra, tementes ao Senhor, de vida ilibada; irrepreensíveis em todas as áreas da vida. O título de pastor era sinônimo de honestidade e de verdade. Seus casamentos eram exemplares. Homens de uma palavra só, de um sim, sim e de um não, não. Quando um pastor dava sua palavra, chovesse ou fizesse sol você podia estar certo que ele iria fazer exatamente o que disse. Mesmo no comércio local, se um pastor ou mesmo um crente empregasse sua palavra dizendo "eu pagarei no dia X" (sim, porque raramente eram ricos), o dono do comércio ficava tranquilo, porque no dia acertado ele iria fazer o pagamento. Quando aconteciam os escândalos - eram raros - eles eram tratados realmente como escândalos: aquele irmão ficava marcado pelo seu pecado; se saía da Igreja, dificilmente era recebido em outra. Só retornava a comunhão após um longo processo de averiguação e tratamento espiritual. Era uma época que ser crente era ser repudiado pelo mundo, ninguém queria ser identificado com "os Bíblias"! Ser crente implicava obrigatoriamente em renunciar o mundo e seus prazeres! Tudo mudava com a conversão, exteriormente - o linguajar, as roupas, o lazer, o namoro, o comportamento, os valores, as amizades, etc - e interiormente - o amor por Deus, o desejo de conhecer a Palavra, de fazer seminário, de fazer a Obra, de evangelizar, etc.

E hoje, em pleno séc. XXI? Hoje, vivemos a era do liberalismo bíblico-teológico, do relativismo moral, do performismo espiritual repleto de atos proféticos, de palavras de ordem ao sobrenatural, de comandos ativadores das forças do além. Dos crentes envolvidos com a política partidária, ocupando cargos no senado e no congresso nacional, cheios de bandeiras ideológicas ditas "cristãs". A Igreja hoje tem "grana", tem "status". Tem "música moderna, gospel". Hoje, temos apóstolos - Yes, we have! Tem "pastor" para os mais variados gostos: "cheirador" de Bíblia, topetudo hollywoodiano inventor de diálogos na Bíblia, "comedor de angú", "patriarca filho de matriarca do útero profético, descobridor do DNA de Deus", "pastor da unção 900" (R$ 900 para a prosperidade), restaurador da fé judaica (símbolos judaicos no culto cristão, como a arca, shofar, talit, etc - até o templo judaico andaram reconstruindo), xingador de palavrão sobre o pretexto da graça, derrubador de bandido com a unção do sopro, etc.  Ao escrever esse postagem, vi uma "pastora" num programa de talk show, vestida de rosa como se fosse uma princesa medieval: ela relativizou o conceito de pecado como opinião pessoal, ensinou que relacionamento com fumante torna-se obrigatoriamente fumante (comparando com o sexo antes do casamento), além de outras "pérolas".  

E qual o resultado disso tudo? Há um avivamento na nação? É ruim, ein! A sociedade está cada vez mais promíscua, cada vez mais corrompida pelo pecado.  Ninguém respeita mais ninguém. Impera a violência - sexual e não-sexual a qual juntamente com o consumo e venda de drogas é algo sem controle pelo Estado. A cada dez minutos, uma pessoa é assassinada no Brasil. Hoje, uma pessoa que é vítima de assalto e/ou sequestro raramente escapa com vida; os ladrões não apenas roubam, mas barbarizam com suas vítimas. O cidadão de bem vê-se prisioneiro do medo de sair de sua própria casa; quer de carro, quer de ônibus, quer de bicicleta ou mesmo a pé ninguém está livre da ação dos bandidos, que agora esfaqueiam suas vítimas. Há taxistas que estupram e roubam passageiras. Meninas de 17, de 13 anos de idade e até menos são estupradas na rua, em casa, na escola... por desconhecidos, por pais, avós, tios, padrastos, professores... jovens são estupradas nas faculdades, nas universidades, nos clubes... mulheres, por seus cônjuges, por médicos... Há até padres e pastores que violentam, estupram mulheres e crianças, e ainda fazem pose de espirituais!

Abundam casos de corrupção, como o Petrolão (considerado na mídia o maior caso de corrupção do mundo, aprox. R$ 87 bilhões desviados - http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-04-03/petrolao-tira-r-87-bilhoes-da-economia-brasileira.html), em todas as esferas da sociedade. Temo que não exista nenhum órgão ou empresa que não possua um caso de corrupção. São milhões, bilhões de reais desviados. Quando você vai ver, nenhum dos acusados ou culpados tem a menor necessidade de roubar dinheiro das empresas. São pessoas riquíssimas, de altíssimos salários! Corrupção para todo lado! Mesmo nos mais baixos escalões, tudo envolve um "jeitinho", "uma cervejinha", "um cafezinho", eufemismos para pedidos de propina, onde criam-se dificuldades para que sejam vendidas facilidades. Enquanto isso, os jornais de grande circulação estão repletos de crimes, de barbáries. Prevalecem os mandos e desmandos politiqueiros. Os políticos passam seus mandatos discutindo amenidades, num jogo de poder que dá nojo, numa enganação só; enquanto isso muitos municípios não contam com água tratada e nem saneamento básico - nem mesmo asfalto nas ruas, como o meu. Mentem descaradamente, prometendo saúde enquanto os hospitais estão superlotados e falidos, sem médicos, sem profissionais, sem aparelhos, sem medicamentos - até sem limpeza e elevador funcionando (como o Hospital Estadual de Cardiologia Aloísio de Castro, no RJ); prometem segurança enquanto a criminalidade só faz crescer; prometem educação, enquanto as faculdades públicas não tem sequer limpeza, e as escolas da rede pública não educam nem formam ninguém. Discutem leis que não servem para a sociedade - ou envolvem coisas de foro íntimo, como a "lei da palmada" (sic) ou envolvem a "lei da faca" (que prevê multa - pergunto: um moleque meliante, como o que matou o médico na Lagoa, irá pagar multa?? Quem acha que essa lei vai diminuir crime está redondamente enganado... portar arma de fogo sem licença é crime tipificado no código penal, mesmo assim cada vez mais os bandidos estão mais e mais armados, andando com suas armas na sociedade como se não estivessem fazendo nada demais... ridículo!)

E a Igreja? Bem, a Igreja está na política, na famosa "bancada evangélica", com deputados e vereadores, discutindo leis "importantíssimas" para a sociedade, como a lei que obriga a Bíblia nas escolas (sic). Nada contra que a Bíblia seja lida, mas calma aí: quem tem que ensinar a Bíblia é a Igreja, tanto aos pais quanto às crianças. Se a criança é bem ensinada, se a família é bem doutrinada na Palavra de Deus pela Igreja, então não há o que temer, nem porque pressionar para que a escola ensine os "valores cristãos". Esse é o cerne do problema, aliás: o papel da Igreja como sal salgado! O sal está cada vez mais insípido! Cada vez mais, o sal não está salgando mais nada, porque perdeu o sabor. Perdeu o sabor porque permitiu que o mundo entrasse na Igreja, que o mundo influenciasse sua forma de crer e de ser. Perdeu o sabor porque relativizou o pecado - porém o pecado continua sendo um absoluto, com seus efeitos absolutos sobre o homem! Porque relativizou a ética cristã, deixando o mundo ditar para a Igreja suas podridões morais! Muitos jovens cristãos crentes já transaram antes do casamento; outros ainda transam e a Igreja diz que está tudo bem?! As jovens cristãs estão cada vez mais com as nádegas à mostra, em seus minivestidos arrochados no corpo - e até algumas ditas pastoras e obreiras fazem o mesmo! Estão mostrando tudo, sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha na cara de pau, na presença de seus maridos, noivos, "namoridos" ou na ausência! Casais crentes estão se divorciando como nunca, em índices quase tão altos quanto no mundo não crente! O linguajar os crentes é tão podre (ou mais) do que os não-crentes; sobre isso, o Pr. Augustus Nicodemus Lopes comentou em seu blog que "não poucas vezes se depara com murais compartilhando fotos meio-eróticas, palavrões, para não falar de comentários cheios de palavras chulas e palavrões do pior tipo" feitos por crentes (a exemplo do Pr. Augustus, tenho crentes em meu facebook que fazem exatamente a mesma coisa!). Já os pastores, por sua vez, não combatem mais o pecado. Eles preferem pregar uma mensagem psicológica de "bom viver", uma mensagem de "auto-ajuda gospel"! Mensagem doce para não perder pessoas e com elas dinheiro! Só pensam em dinheiro, em poder, e em mais dinheiro! Em fama, em mídia! Em aumentarem seus reinos pessoais!

Diante disso, só resta fazer a mesma pergunta que Jeremias: "De que se queixa, pois, o homem vivente?" (Lm 3.39a) Parodiando Jeremias, pergunto: De que se queixa, pois, a Igreja? Sim, de que se queixa? Diversos crentes se manifestaram diante do que foi realizado na Parada Gay, em São Paulo, em 2015, onde os manifestantes que ali estavam fizeram uso de símbolos cristãos, como a cruz, como estratégia de marketing e para provocação dos cristãos. Num dos momentos, uma transexual apareceu "crucificada" na parada gay. O movimento gerou reações: a CNBB emitiu nota na qual vem "expressar nosso repúdio diante dos lamentáveis atos de desrespeito ocorridos",  diante das "claras manifestações de desrespeito à consciência religiosa de nosso povo e ao símbolo maior da fé cristã, Jesus crucificado" (http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/06/bispos-divulgam-nota-contra-uso-de-imagens-religiosas-na-parada-gay.html). Enquanto isso, deputados evangélicos protestaram contra parada gay e "rezam" no plenário (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/06/1640504-bancada-evangelica-faz-manifestacao-contra-parada-gay-e-reza-pai-nosso-no-plenario-da-camara.shtml). Até repudiar fabricantes de perfumes os pastores estão fazendo, no afã de "defender os valores cristãos"! E o que isso tem mudado a sociedade? Há milhares de denominações evangélicas, cada vez mais igrejas dos mais variados nomes, com os mais variados costumes e liturgias, porém a sociedade está mais deteriorada do que nunca! A Igreja perdeu a influência na sociedade! Querido(a), a verdade é que a igreja está sendo pisada pelos homens! E se isso está acontecendo, a responsabilidade é unicamente nossa! O sal está sem sabor, está sem sua única qualidade de interesse! Vamos responder assim a pergunta de Jeremias: "Queixe-se cada um dos seus pecados" (Lm 3.39b). E se alguém acha que o ser pisado é só esta manifestação, está redondamente enganado: a mídia faz chacota com a igreja em todos os momentos! Nas novelas, nos talk shows, nos jornais, nas rádios, nos filmes, etc; quase todo dia tem uma piadinha sobre crentes e igrejas. Ser perseguido pela fé em Cristo é bênção! Porém, as perseguições que aí estão são por culpa nossa mesmo! "O que provoca a zombaria são práticas e costumes estranhos em nome do Espírito Santo, escândalos, ostentações de riquezas e busca descarada do dinheiro dos incautos em nome de Deus, e o engajamento infeliz de segmentos evangélicos numa guerra contra aqueles que deveriam ser objeto de nossa pregação sobre a cruz e não da nossa ira. Nem sempre os evangélicos sofrem no Brasil por serem cristãos sérios, firmes, verdadeiros e fiéis a Deus" (http://bereianos.blogspot.com.br/2014/06/perseguidos-por-causa-de-cristo.html#.VXtwyo3bJjo). Já que não influenciamos, somos influenciados. E aí, tome pisada! E é só o começo...

Precisamos urgentemente de uma restauração dos valores bíblicos, de forma a modificar nossa ética e moral à luz dos princípios da Palavra de Deus. Não será o dominionismo (Reconstrucionismo ou Reino Agora: ensina que, antes da volta de Cristo o crente terá domínio sobre cada área da vida e sociedade humana; Jesus não poderá voltar, até que a igreja tenha subjugado a Terra e conseguido o controle das instituições governamentais e sociais da mesma), contrário ao que ensina a Palavra de Deus, que trará a posição de honra da igreja, mas sim sua identificação com Cristo Jesus. Não será a amizade com o mundo que trará a presença de Deus em nosso meio; muito pelo contrário. O plano de Deus sempre foi ter um povo peculiar, de propriedade exclusivamente Sua, não um povo semelhante com o mundo: "Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra" (Dt 7.6). É justamente  a observância da Palavra de Deus, quanto na presença de Deus em nosso meio, que nos torna diferentes das demais nações: "Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? (Dt 4.5-8).

Estamos, amados,  experimentando uma época de opróbrio, de vergonha, de vexame.  Nossos rostos deveriam corar de vergonha! Não estamos exercendo influência salina na sociedade! Qual é o nosso opróbrio? Salmo 79 esclarece: "Somos feitos opróbrio para nossos vizinhos, escárnio e zombaria para os que estão à roda de nós. Porque diriam os gentios: Onde está o seu Deus? Seja ele conhecido entre os gentios, à nossa vista, pela vingança do sangue dos teus servos, que foi derramado" (vv.4,10) O opróbrio, amado(a) leitor(a), é o povo (mundo) não ver que Deus está no nosso meio. Isso é a vergonha. Isso é o nosso opróbrio.  Muita gente pensa errado; pensa que para o Nome de Deus ser glorificado a Igreja precisa contar com respeito e reconhecimento. Isso é um princípio errado. Deus nunca pediu isso, que para o Nome Dele ser glorificado nós tínhamos que ser alguma coisa. Para o Nome Dele ser glorificado, nós não precisamos de números, de posição, de estar por cima. O nome Dele não é envergonhado simplesmente por existirem pessoas que estão contra, que atacam, que perseguem; não é isso que traz vergonha para Deus. Deus no nosso meio não significa que somos fortes e numerosos. A causa do opróbrio é a ira de Deus ("Até quando, Senhor? Acaso te indignarás para sempre? Arderá o teu zelo como fogo?" - Sl 79.5). Se estamos sendo envergonhados, é porque Deus está irado conosco! Quando Deus está conosco, Ele vai nos defender; caso contrário, alguma coisa está errada! Deus só defende quando o povo realmente representa a santidade e a fidelidade a Deus. Do contrário, Deus permite o opróbrio, a vergonha, porque Ele quer nos levar de volta para Ele! Precisamos nos arrepender! Precisamos mudar o nosso coração e com ele o nosso rumo como igreja, como noiva de Cristo, como povo peculiar de Deus! Somente com o arrependimento sincero e genuíno, com a confissão e abandono do nosso pecado de apostasia de Deus e do Seu plano para nós como Igreja, é que Deus removerá o opróbrio: "Não te lembres das nossas  iniqüidades passadas; venham ao nosso encontro depressa as tuas misericórdias, pois já estamos muito abatidos. Ajuda-nos, ó Deus da nossa salvação, pela glória do teu nome; e livra-nos, e perdoa os nossos pecados por amor do teu nome." (Sl 79.8,9)

Deus quer tirar a vergonha Dele não estar no nosso meio. Precisamos, como sacerdotes do Nosso Rei Jesus, chorar o choro do Espírito, que nos leva a implorarmos por socorro e por perdão – individual e coletivamente (Jl 2.17,18). Somente assim, a Igreja voltará a ser a comunidade do Espírito, onde a presença do Senhor é notória para aqueles que dela fazem parte e, especialmente, para os que estão fora! Só assim, o sal poderá ser novamente útil para o Senhor!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!