Essa postagem foi extraída do blog do Bispo Hermes C. Fernandes (http://hermesfernandes.blogspot.com/), de autoria do próprio.
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QUANDO VOCÊ SE TORNA UM EMPECILHO AO PROJETO PESSOAL DE ALGUÉM
Por Hermes C. Fernandes
sexta-feira, dezembro 07, 2018
Era uma vez um rei rico e poderosíssimo que do alto de seu palácio avistou uma modesta propriedade e a cobiçou. Tratava-se de uma vinha como outra qualquer, tão comum naqueles dias no território de seu reino. Porém, algo o incomodava. Todos os dias, ao acordar e abrir a janela de seu quarto, ele dava de cara com o seu vizinho Nabote, cultivando cuidadosamente sua plantação. Se aquela vinha fosse em qualquer outro lugar, ele não se importaria. Mas era justo ali, bem debaixo de seu nariz. Ouvir Nabote e seus servos cantarolando enquanto colhiam as uvas soava-lhe como um insulto.
O rei Acabe, então, começou a se perguntar: “Por que esta vinha não pode ser minha? Se sou o dono do palácio, por que não posso ser também seu dono? Posso transformá-la em uma horta!”
Ele não queria apenas se apropriar daquela terra, mas também acabar com o que nela estava plantado. Seu sonho era arrancar videira por videira e substitui-la por hortaliças. Tudo isso por um mero capricho.
O fato é que o ser humano nunca se dá por satisfeito. Quanto mais tem, mais quer. E como diz o adágio, a grama do vizinho é sempre mais verde que a do nosso próprio quintal. O outro sempre tem o que nos falta. Então, o que nos resta, senão tentar nos apropriar do que é seu?
Num belo dia, Acabe resolve fazer uma oferta a Nabote. Ele estava disposto a dar a Nabote uma vinha melhor do que aquela em qualquer lugar do reino, ou a pagar em dinheiro o valor que fosse pedido, mas, para seu desgosto, Nabote rejeitou sua oferta, alegando que a vinha era uma herança que recebera de seus pais.
Não há preço que pague por aquilo a que atribuímos valor. Para Nabote, a vinha não era somente um meio de subsistência para a sua família, mas uma herança pela qual deveria zelar. Se Acabe lhe oferecesse dez vezes o seu valor, ele certamente recusaria.
Muito antes que Acabe construísse ali o seu nababesco palácio, os ancestrais de Nabote já cultivavam aquelas terras. Portanto, o intruso ali era Acabe, não Nabote. Os direitos de um se baseavam na posição que ocupava, os do outro, na ocupação em que se posicionava. Nabote pertencia a Jezreel. Acabe, a Jezabel.
Acabe sentiu-se ofendido pela recusa da oferta. Voltando para casa, deitou-se em sua cama e virou-se para a parede. O que é uma vinha para quem tem um palácio? Ele não sossegaria enquanto aquela propriedade não fosse transformada em seu quintal.
Sua mulher, a perversa rainha Jezabel, perguntou-lhe a razão de sua angústia, e ao tomar conhecimento do ocorrido, propôs-se reverter a situação em seu benefício. Mas não sem antes chamar-lhe atenção:
“Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come pão, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote.”
Em outras palavras: “Acabe com isso, Acabe! Vira homem! Pare de ficar choramingando pelos cantos! Você é ou não é o rei desta bagaça! Se ele se recusa a vender a propriedade, vai lá e toma. Faça valer sua autoridade! Sabote a Nabote!”
Há pessoas que têm o dom de incitar o que há de pior em nossa natureza. Ainda que pareçam desejar o nosso bem, encorajando-nos a uma tomada de posição, usam de artifícios nada louváveis, desafiando-nos o brio.
A malévola rainha escreveu cartas em nome do rei, usou seu anel real para assiná-las, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade. Provavelmente, Acabe nem sequer leu o que fora assinado com o seu anel. Outro pensou e decidiu por ele. Triste quando somos colocados numa posição involuntariamente, sem que tenhamos sido consultados. Triste quando alguém se acha no direito de decidir o que é melhor para nós.
Quem não consegue nos manipular, geralmente se aproveita da ingenuidade das pessoas para manipulá-las contra nós. Nabote demonstrou que não era manipulável. Portanto, Jezabel decidiu resolver a questão manipulando pessoas para deporem contra ele.
Sua ordem foi direta e específica, porém, revestida de uma falsa aura de espiritualidade. Descaradamente, ela manda convocar um jejum. Quem poderia questionar algo que fosse acompanhado de uma disciplina espiritual tão valorizada naqueles dias? Porém, o tal jejum era apenas uma estratégia baixa para encobrir seu verdadeiro intento. Assim como há quem se utilize até de um pedido de oração para espalhar boatos maldosos com o objetivo de destruir a reputação alheia.
Dois “filhos de Belial” (assim eram chamados homens ímpios que se vendiam por qualquer trocado) foram subornados para testemunharem contra Nabote, afirmando por A mais B que ele havia blasfemado contra Deus e contra o rei. A sentença para isso não poderia ser outra, senão a morte.
Ali, diante de um povo aparentemente piedoso, Nabote foi friamente executado por apedrejamento, e assim, sua terra pôde ser encampada pelo rei.
Para o casal de monarcas, Nabote não passava de um empecilho que precisava ser removido de seu caminho. Por recusar a oferta do rei, pagou com a própria vida.
Existem maneiras distintas de se livrar de um empecilho. Antes de tirar-lhe a vida, trataram de destruir sua reputação. Mas o que realmente queriam era sua propriedade. Assim como há quem justifique uma decisão injusta em um suposto erro alheio. Por trás dos motivos alegados, há razões inconfessáveis. Decisões que parecem ser tomadas de última hora, já estavam sendo engendradas há anos, esperando tão somente a oportunidade para ter em que se justificar.
O que era uma vinha, cujos frutos se eternizavam ao serem processados e transformados em vinho para alegrar a tantos, agora se tornava numa horta cujo objetivo seria o de saciar necessidades imediatas e o capricho de um rei ensandecido e insensato. Cultivar uma vinha é sempre mais trabalhoso. Há que se esperar, esperar e esperar, até que as uvas brotem. Uma vez colhidas, terão que ser pisadas para a extração do mosto, e em seguida, colocadas para fermentar até que surja o bom e desejável vinho. Já a horta é para quem tem pressa e almeja resultados imediatos, e que para tal, é capaz até de sacrificar a honra, a lealdade, a amizade, e o compromisso um dia assumido diante de Deus e dos homens.
* Baseado em fatos reais relatados em 1 Reis 21:7-15
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
GUERRAS ORDENADAS POR DEUS: ENTENDENDO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS
Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás a paz.
E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás.
E o Senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.
Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.
Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações.
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus. (Deuteronômio 20:10-18)
Guerra! A Bíblia, no Antigo Testamento, traz o registro de inúmeras batalhadas travadas pelo povo de Deus, por Israel, sob o comando de Deus. Podemos inferir, com base nisso, que Deus apóia a guerra? Ou que o cristão deve pegar em armas para defender-se? É um tema sério, que precisamos analisar sob diversas perspectivas.
Longe da pretensão de querer esgotar o assunto, proponho a seguinte análise.
I. DEUS É DEUS DE AMOR E DE MUITA LONGANIMIDADE, MAS DE JUSTIÇA TAMBÉM.
Inicialmente, note que o mesmo Deus que comandou Israel como General Supremo no Antigo Testamento, também deixou claro que Ele nunca teve prazer em nada disso. O texto de Ezequiel assim descreve o sentimento de Deus para com a morte de ímpios: "Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei" (Ezequiel 18:23,32). Deus diz claramente que não deseja e nem tem prazer na morte de ímpios, ou seja, o sentimento Dele é de desprazer, de tristeza, de insatisfação com isso. Os sentimentos de Deus para com a morte de pessoas como consequência do pecado NUNCA serão o de prazer ou felicidade. O Deus da Bíblia, a quem João nos diz que é Amor, não é de forma alguma um sádico. A Bíblia, da criação à nova criação, revela um Deus que é santo, justo e bom. Deus tem bons planos para o mundo que ele fez. Seu caráter divino é revelado com precisão e perfeição pela sua reconciliação "todas as coisas" para si mesmo em e através de Jesus (Colossenses 1: 15-20).
Todas essas descrições de Deus descrevem-no como inabalável na retribuição ao mal, embora Ele não tenha deleite, também inabalável em amor e encorajamento em direção àqueles corações que estão voltados para Ele. O desejo óbvio de Deus é que os pecadores se arrependam e vivam. Deus leva ao limite máximo a Sua paciência, aguardando que os pecadores se convertam para só em último caso, depois de todas as oportunidades de arrependimento esgotarem, executar Seu justo juízo. Ele faz isso por amar o homem, mesmo o pior dos pecadores. Foi assim que Ele lidou com os povos cananeus na época do Antigo Testamento e é assim que Ele lida com cada pessoa, povo, tribo, língua e nação no Novo Testamento. Observe que Deus ordenou guerra contra Canaãs somente após 400 anos de espera para seu pecado atingir "a medida completa" (Gênesis 15:16). Isto é, Deus não puniu os cananeus pelo pecado imediatamente - sua misericórdia se prolongou por muito tempo, porque sua compaixão e graça são longas. E se os cananeus se tivessem voltado para Deus, eles seriam salvos e poupados. A história de Raabe fornece evidências para isso (Josué 2). Ela é salva por causa de sua fé em Deus, apesar do fato de ser prostituta e cananéia. Mesmo a história de Raabe não é única no Antigo Testamento, contradizendo o argumento de que o Deus bíblico é xenófobo ou um "purificador étnico": Jetro, o midianita, é trazido para o rebanho de Israel em sua fé (Êxodo 18) e Rute, a moabita, é claramente trazida para o rebanho de Israel por causa de sua fé em Deus (Rute 1). Os filhos de José e de Moisés são também de etnia mista, trazidos para a família de Deus.
Acrescente-se aqui que é dito nos textos judaicos (o Talmude) que quando os anjos quiseram recitar uma canção de louvor quando o Mar Vermelho cobriu os egípcios, Deus os repreendeu, uma vez que Ele não se regozija com a queda dos perversos: “Como podem cantar quando meu povo está morrendo?” (Talmude, Tratado Sinédrio, 39b). O que Deus estava dizendo aos anjos era que, em certo sentido, aquele não era um dia feliz. Ele não criara os egípcios para o mal; no entanto, por eles terem escolhido o mal, era necessário agora erradicá-lo. (fonte: http://www.aish.com/ci/s/When_Evil_Falls.html)
II. A REALIDADE MORAL DAS CIDADES-ESTADO CANANÉIAS.
Precisamos também ver essas terríveis retribuições em seu cenário histórico. A disseminação da maldade era tão penetrante que a imoralidade, a degradação e a barbárie invadiram todas as facetas da vida. As crianças eram sacrificadas aos deuses pagãos em rituais com requintes de crueldade. Nos templos cananeus havia prostitutas masculinas e femininas (homens e mulheres “sagrados”) e toda sorte de excessos sexuais eram praticados (orgias, bestialismos, sodomias, etc.). Acreditava-se que esses rituais faziam prosperar, de alguma forma, as colheitas e o gado. As mulheres, na adoração aos falsos deuses cananeus, mantinham relações sexuais com os "prostitutos cultuais" buscando deles engravidarem; quando homens, esses mesmos prostitutos se submetiam a penetração anal. As sacerdotisas prostitutas que se autoconsagravam à deidade não tinham a permissão de engravidarem, assim se submetiam também, assim como seus equivalentes masculinos no sacerdócio, à penetração anal. Os adoradores masculinos que penetravam nos sacerdotes e nas sacerdotisas acreditavam que se uniam com a própria deusa.
Em 1921, o maior cemitério de crianças sacrificadas no antigo Oriente Próximo foi descoberto em Cartago. Está bem estabelecido que esse rito de sacrifício infantil originou-se na Fenícia, o vizinho do norte da antiga Israel, e foi levado a Cartago por seus colonizadores fenícios. Centenas de urnas funerárias cheias de ossos cremados de bebês, a maioria recém-nascidos e de algumas crianças até os seis anos de idade, bem como animais foram descobertos em Cartago. (cf. WHITE, Andrew. Abortion and the Ancient Practice of Child Sacrifice. Journal of Biblical Ethics in Medicine, v. 1, n. 2, p. 27, 2003.)
O infanticídio era uma prática comum. Em Deuteronômio 12:31 diz-se dos habitantes de Canaã que "eles até queimam seus filhos e suas filhas no fogo para seus deuses" (2 Rs 3:27). A adoração ao divindade pagã chamada Moloque envolvia esse tipo de ritual. Acredita-se que os ídolos de Moloque eram estátuas de metal gigantes de um homem com a cabeça de um touro. Cada imagem tinha um buraco no abdômen e possivelmente braços estendidos que faziam uma espécie de rampa ao buraco. Um incêndio era acendido em ou em torno da estátua. Os bebês eram colocados nos braços ou no buraco da estátua. Quando um casal sacrificava o seu primogênito, eles acreditavam que Moloque iria assegurar a prosperidade financeira para a família e para as crianças futuras.
A adoração de ídolos era abundante e a sociedade totalmente contaminada. Não havia a conceituação entre bem e mal, entre certo e errado. Tudo era permitido. Hoje perdemos a distinção entre entre o bem e o mal. A tolerância é apresentada como o grande valor religioso. De fato, a tolerância à diversidade é um alto valor cristão, mas hoje em dia a tolerância é entendida como a virtude de aceitar quase todo comportamento sob o sol. Vale tudo - em nome da tolerância! Um resplandecente relativismo moral é o resultado, e as crianças crescem com cada vez menos absolutos morais para guiá-las. Raramente ouvimos o termo pecado, mas ao invés disso, uma dúzia de palavras mais brandas são empregadas. Certamente o Senhor não tolerará essa abominação à sua santidade para sempre. Jesus é cristalino sobre o castigo dos malfeitores, pois no dia do juízo Deus dirá aos malfeitores: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Nossa sociedade não se importa muito em ouvir sobre a dor e a punição, e prefere o Jesus manso e moderado de alguns escritores contemporâneos.
Acrescente a esses pecados outros, como a crueldade e opressão com os mais fracos (como os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, os pobres, os inválidos, os doentes, etc.), a exploração da miséria econômica gerando mais miséria em todas as áreas da vida humana e o enriquecimento ilícito, por meio da inversão de valores e da corrupção, tudo justificado pela religião. Segundo o blog "Meu Scriptorium", "O exército passou a fazer parte da classe dominante das cidades. Os camponeses, que pagavam tributos em troca de proteção e de outros serviços, passaram a ser extorquidos, pagando uma quantia acima do valor justo para fins de acúmulo de riquezas e de luxo para a corte ou para que esta promovesse guerras de conquista [...] os camponeses passaram a ser cada vez mais espoliados, e para pagar os pesados tributos precisavam trabalhar muito, e, além disso, havia ainda a corvéia, isto é, o trabalho forçado e sem remuneração nas terras do rei e em obras públicas como aquedutos, estradas, cidades, armazéns, palácios, templos, etc." (fonte: https://meuscriptorium.wordpress.com/2010/08/24/condicao-social-e-politica-da-canaa-pre-israelita/)
Isso acabou enchendo o "cálice" da ira de Deus e ensejando o Juízo para aqueles povos. E, como dito, Deus usou Israel como instrumento desse Juízo. Vale ressaltar que a vitória de Israel nessas batalhas só era alcançada por causa da intervenção da parte de Deus. É importante ressaltar que Deus permitiu que Seu povo também sofresse derrota diante das nações inimigas quando eles, que deveriam ser exemplos para outras nações, passaram a praticar o mesmo pecado que elas (Isaías cap. 1).
III. GUERRA: PROTEÇÃO DE DEUS A UM POVO QUE NÃO ERA NADA. NEM POVO.
No Antigo Testamento, Deus luta por Israel para garantir sua terra para seu povo, para que seu plano de redenção possa se concretizar. Para garantir que Seu povo sobreviva, um bando de escravos que sequer possuíam noções elementares de saúde pública e vida em sociedade, diante de nações já estabelecidas e bem equipadas e treinadas na arte de guerra. Muito tempo depois de sua introdução em Canaã, Israel ainda sofreu sob a superioridade dos "carros de ferro" dos cananeus.
Por causa da superioridade militar, que as armas de ferro davam aos cananeus, é que os hebreus se queixavam a Josué de não poder tomar-lhes as cidades: "A montanha não nos é suficiente; todos os cananeus, que habitam a planície, possuem carros de ferro, tanto os de Bet-San e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael. Então Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manasses: "Tu és um povo numeroso e tua força é muita; não terás só uma parte, antes, terás a montanha, cuja floresta desbravarás, e seus limites pertencer-te-ão. Expulsarás os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e da sua força" (Jos,17f 16-18). Mais tarde, dir-se-á que Yabin, rei cananeu de Hazor, possuía um exército de 900 carros de ferro (Jz 4.3).
Aquelas nações cananéias eram "mais fortes e mais numerosas" que o povo de Israel (Dt 7.1). Sem a ajuda de Deus, o povo liberto do Egito seria facilmente subjugado e novamente escravizado pelos cananeus com toda certeza. Note que o povo de Israel recém saído do Egito não era grande coisa, numericamente falando: "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos" (Dt 7.7). Eles não tinham mérito, grandeza, riqueza, poderio ou renome.
Como já vimos, os cananeus eram muito superiores em tudo ao povo escolhido de Deus, quer na esfera militar, quer na esfera social (artes, comércio, arquitetura, etc.). Tirá-los do Egito para deixá-los desprotegidos era o mesmo que condená-los a morte. Ao contrário, Deus os havia removido do Egito e seria o Guarda de Israel em todos os momentos, mesmo naqueles que eles fizeram por merecer o contrário. Pedir que Deus não proteja Seu povo, ao qual Ele amou e ama, é o mesmo que pedir a um pai ou a uma mãe que não defenda e proteja o filho indefeso que gerou.
IV. GUERRA NO NOVO TESTAMENTO: BATALHA ESPIRITUAL CONTRA SERES ESPIRITUAIS.
Essas guerras foram travadas em um determinado momento da história de Israel e não devem ser repetidas pela Igreja nem ser justificadas por quaisquer povos no mundo atual. Embora alguns tenham usado o material da "guerra divina" no Antigo Testamento como base para a máquina de guerra (especialmente durante a colonização das Américas), tais aplicações do material bíblico simplesmente não se harmonizam com a história das Escrituras. Esse tipo de guerra era particular para Israel quando se mudou para a terra de Canaã. Para o cristão, não há lugar algum para pegar em armas à maneira de Israel para conquistar uma terra.
No ensinamento de Jesus, que é uma revitalização da lei do Antigo Testamento, a tarefa do povo do Reino de Deus é amar seus "inimigos" (incluindo as nações inimigas) e servi-los com as boas novas do Reino (Mateus 5: 43-8, 28: 18-20). O livro de Efésios ensina poderosamente que, por causa da vitória de Deus em Cristo, o cristão não guerreia nem por terra nem por lugar no mundo. O mundo inteiro está sob a autoridade de Cristo (Mateus 28:18), e assim o mundo é do Senhor. Onde quer que um cristão viva no mundo de Deus, ele ou ela se envolve em uma batalha espiritual contra os governantes cósmicos que inutilmente promovem a guerra contra a vitória de Deus em Cristo (Efésios 5: 1-9, 6: 10-18). A "guerra" cristã envolve aprender a viver corretamente o triunfo que Deus proveu em Cristo e em Seu Reino. Esta instrução subversiva em Efésios revela que o Reino de Deus é e será estabelecido não através da coerção e ou dominação, mas através do amor auto-sacrificial, à maneira de Cristo.
As guerras ditas em "nome de Deus" na era cristã não possuem respaldo nenhum da parte de Deus e por Ele nunca foram ordenadas. Cruzadas, Inquisição, Holocausto, etc. não passam da simples materialização da extrema malignidade humana, que para cumprir seus mais podres e sórdidos desejos é capaz de até mesmo justificar seus atos mais cruéis como sendo "da parte de Deus". Argumentar em termos de similaridade que essas aberrações modernas tem respaldo no Antigo Testamento demonstra total ignorância quanto aos processos históricos e espirituais tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento. A história da revelação de Deus ao homem se passa em cenários humanos, não sendo produto que imaginações idealizadoras humanas; o Deus que se revela faz isso a partir da perspectiva histórica, de forma gradual.
A bandeira de Cristo jamais será a mesma que Constantino adotou. A cruz não é instrumento de conquista de outras nações, nem de "conversões forçadas". A cruz é antes local de renúncia pessoal, de rendição, de humilhação, de vergonha e de dor. Local de morte, pela qual cada cristão passou um dia e deverá obrigatoriamente passar todos os dias de sua vida, "matando" o seu eu com seus pecados pessoais, de forma a viver a nova vida de Deus em Cristo. A bandeira de Cristo é a bandeira do kenosis, do auto-esvaziamento de si mesmo: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8).
V. E SOBRE AS GUERRAS MODERNAS?
E sobre as guerras, hoje? É correto um cristão "pegar em armas" para defender seu país? Note que nesse caso estamos nos referindo a outro assunto: não se trata de guerras religiosas, ou guerras com viés e ideologia religiosa ("em nome de Deus"); tratam-se de guerras sócio-políticas e econômicas. Sobre estas guerras "não-religiosas, Norman L. Geisler comenta: "A guerra em defesa dos inocentes não é assassinato. Uma guerra contra um agressor injusto não é assassinato. Deus, às vezes, ordena que os homens usem a espada para resistir aos homens maus. O militar não desempenha uma função má (Lc 3.14)". Vale dizer que há uma guerra urbana sendo travada em várias capitais mundiais entre a polícia e grupos de meliantes. Nesse caso, as forças policiais são agentes da lei e têm a função estatal de proteger os inocentes, constituindo-se no braço do Estado nessa função. É a isso que se refere o apóstolo Paulo em Romanos 13: há um povo e um Estado (a potestade superior); a função do Estado é defender seu povo e para isso ele (o Estado, não o povo) faz uso da espada. O Estado é, assim, "ministro" (servo) "de Deus para o nosso bem". Quando o mal é praticado, esse ministro de Deus traz a espada (note que a espada não é trazida à debalde, isso é, à-toa).
Quando mais próximo do fim dos tempos, mais guerras e rumores de guerras surgirão. O ódio crescerá entre as pessoas e os povos, haverá muitas traições e escândalos. O amor se esfriará, enquanto assistiremos a vertiginosa escalada da violência em todas as esferas da sociedade e do mundo modernos. O pecado será intensificado e os limites éticos e morais serão removidos, mesmo na esfera legal. Isso é inevitável. Nenhum governante humano poderá impedir ou reverter esse processo, mesmo que ele seja "cristão" e cheio de "boas intenções e idéias". O mal no mundo não está ligado a partidos ou ideologias políticas, está ligado ao homem independentemente da ideologia ou religião que professe ou da condição social ou posição que possua.
Obviamente que essas guerras não são o ideal de Deus para a vida humana sobre a Terra. Deus várias vezes deixou isso claríssimo no Antigo Testamento; no Novo Testamento escancarou ainda mais essa verdade por meio do Seu Filho. Deus nos criou para vivermos no Paraíso terrestre, mas nós concedemos ao diabo o "direito" de agir na Terra e trazer todo o inferno com ele. Haverá, contudo, um dia onde os homens não aprenderão mais a guerra e as armas de guerras serão convertidas em instrumentos agrícolas: "E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse." (Mq 4.3,4)
E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás.
E o Senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.
Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.
Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações.
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus. (Deuteronômio 20:10-18)
Guerra! A Bíblia, no Antigo Testamento, traz o registro de inúmeras batalhadas travadas pelo povo de Deus, por Israel, sob o comando de Deus. Podemos inferir, com base nisso, que Deus apóia a guerra? Ou que o cristão deve pegar em armas para defender-se? É um tema sério, que precisamos analisar sob diversas perspectivas.
Longe da pretensão de querer esgotar o assunto, proponho a seguinte análise.
I. DEUS É DEUS DE AMOR E DE MUITA LONGANIMIDADE, MAS DE JUSTIÇA TAMBÉM.
Inicialmente, note que o mesmo Deus que comandou Israel como General Supremo no Antigo Testamento, também deixou claro que Ele nunca teve prazer em nada disso. O texto de Ezequiel assim descreve o sentimento de Deus para com a morte de ímpios: "Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei" (Ezequiel 18:23,32). Deus diz claramente que não deseja e nem tem prazer na morte de ímpios, ou seja, o sentimento Dele é de desprazer, de tristeza, de insatisfação com isso. Os sentimentos de Deus para com a morte de pessoas como consequência do pecado NUNCA serão o de prazer ou felicidade. O Deus da Bíblia, a quem João nos diz que é Amor, não é de forma alguma um sádico. A Bíblia, da criação à nova criação, revela um Deus que é santo, justo e bom. Deus tem bons planos para o mundo que ele fez. Seu caráter divino é revelado com precisão e perfeição pela sua reconciliação "todas as coisas" para si mesmo em e através de Jesus (Colossenses 1: 15-20).
Todas essas descrições de Deus descrevem-no como inabalável na retribuição ao mal, embora Ele não tenha deleite, também inabalável em amor e encorajamento em direção àqueles corações que estão voltados para Ele. O desejo óbvio de Deus é que os pecadores se arrependam e vivam. Deus leva ao limite máximo a Sua paciência, aguardando que os pecadores se convertam para só em último caso, depois de todas as oportunidades de arrependimento esgotarem, executar Seu justo juízo. Ele faz isso por amar o homem, mesmo o pior dos pecadores. Foi assim que Ele lidou com os povos cananeus na época do Antigo Testamento e é assim que Ele lida com cada pessoa, povo, tribo, língua e nação no Novo Testamento. Observe que Deus ordenou guerra contra Canaãs somente após 400 anos de espera para seu pecado atingir "a medida completa" (Gênesis 15:16). Isto é, Deus não puniu os cananeus pelo pecado imediatamente - sua misericórdia se prolongou por muito tempo, porque sua compaixão e graça são longas. E se os cananeus se tivessem voltado para Deus, eles seriam salvos e poupados. A história de Raabe fornece evidências para isso (Josué 2). Ela é salva por causa de sua fé em Deus, apesar do fato de ser prostituta e cananéia. Mesmo a história de Raabe não é única no Antigo Testamento, contradizendo o argumento de que o Deus bíblico é xenófobo ou um "purificador étnico": Jetro, o midianita, é trazido para o rebanho de Israel em sua fé (Êxodo 18) e Rute, a moabita, é claramente trazida para o rebanho de Israel por causa de sua fé em Deus (Rute 1). Os filhos de José e de Moisés são também de etnia mista, trazidos para a família de Deus.
Acrescente-se aqui que é dito nos textos judaicos (o Talmude) que quando os anjos quiseram recitar uma canção de louvor quando o Mar Vermelho cobriu os egípcios, Deus os repreendeu, uma vez que Ele não se regozija com a queda dos perversos: “Como podem cantar quando meu povo está morrendo?” (Talmude, Tratado Sinédrio, 39b). O que Deus estava dizendo aos anjos era que, em certo sentido, aquele não era um dia feliz. Ele não criara os egípcios para o mal; no entanto, por eles terem escolhido o mal, era necessário agora erradicá-lo. (fonte: http://www.aish.com/ci/s/When_Evil_Falls.html)
II. A REALIDADE MORAL DAS CIDADES-ESTADO CANANÉIAS.
Precisamos também ver essas terríveis retribuições em seu cenário histórico. A disseminação da maldade era tão penetrante que a imoralidade, a degradação e a barbárie invadiram todas as facetas da vida. As crianças eram sacrificadas aos deuses pagãos em rituais com requintes de crueldade. Nos templos cananeus havia prostitutas masculinas e femininas (homens e mulheres “sagrados”) e toda sorte de excessos sexuais eram praticados (orgias, bestialismos, sodomias, etc.). Acreditava-se que esses rituais faziam prosperar, de alguma forma, as colheitas e o gado. As mulheres, na adoração aos falsos deuses cananeus, mantinham relações sexuais com os "prostitutos cultuais" buscando deles engravidarem; quando homens, esses mesmos prostitutos se submetiam a penetração anal. As sacerdotisas prostitutas que se autoconsagravam à deidade não tinham a permissão de engravidarem, assim se submetiam também, assim como seus equivalentes masculinos no sacerdócio, à penetração anal. Os adoradores masculinos que penetravam nos sacerdotes e nas sacerdotisas acreditavam que se uniam com a própria deusa.
Em 1921, o maior cemitério de crianças sacrificadas no antigo Oriente Próximo foi descoberto em Cartago. Está bem estabelecido que esse rito de sacrifício infantil originou-se na Fenícia, o vizinho do norte da antiga Israel, e foi levado a Cartago por seus colonizadores fenícios. Centenas de urnas funerárias cheias de ossos cremados de bebês, a maioria recém-nascidos e de algumas crianças até os seis anos de idade, bem como animais foram descobertos em Cartago. (cf. WHITE, Andrew. Abortion and the Ancient Practice of Child Sacrifice. Journal of Biblical Ethics in Medicine, v. 1, n. 2, p. 27, 2003.)
O infanticídio era uma prática comum. Em Deuteronômio 12:31 diz-se dos habitantes de Canaã que "eles até queimam seus filhos e suas filhas no fogo para seus deuses" (2 Rs 3:27). A adoração ao divindade pagã chamada Moloque envolvia esse tipo de ritual. Acredita-se que os ídolos de Moloque eram estátuas de metal gigantes de um homem com a cabeça de um touro. Cada imagem tinha um buraco no abdômen e possivelmente braços estendidos que faziam uma espécie de rampa ao buraco. Um incêndio era acendido em ou em torno da estátua. Os bebês eram colocados nos braços ou no buraco da estátua. Quando um casal sacrificava o seu primogênito, eles acreditavam que Moloque iria assegurar a prosperidade financeira para a família e para as crianças futuras.
A adoração de ídolos era abundante e a sociedade totalmente contaminada. Não havia a conceituação entre bem e mal, entre certo e errado. Tudo era permitido. Hoje perdemos a distinção entre entre o bem e o mal. A tolerância é apresentada como o grande valor religioso. De fato, a tolerância à diversidade é um alto valor cristão, mas hoje em dia a tolerância é entendida como a virtude de aceitar quase todo comportamento sob o sol. Vale tudo - em nome da tolerância! Um resplandecente relativismo moral é o resultado, e as crianças crescem com cada vez menos absolutos morais para guiá-las. Raramente ouvimos o termo pecado, mas ao invés disso, uma dúzia de palavras mais brandas são empregadas. Certamente o Senhor não tolerará essa abominação à sua santidade para sempre. Jesus é cristalino sobre o castigo dos malfeitores, pois no dia do juízo Deus dirá aos malfeitores: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Nossa sociedade não se importa muito em ouvir sobre a dor e a punição, e prefere o Jesus manso e moderado de alguns escritores contemporâneos.
Acrescente a esses pecados outros, como a crueldade e opressão com os mais fracos (como os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, os pobres, os inválidos, os doentes, etc.), a exploração da miséria econômica gerando mais miséria em todas as áreas da vida humana e o enriquecimento ilícito, por meio da inversão de valores e da corrupção, tudo justificado pela religião. Segundo o blog "Meu Scriptorium", "O exército passou a fazer parte da classe dominante das cidades. Os camponeses, que pagavam tributos em troca de proteção e de outros serviços, passaram a ser extorquidos, pagando uma quantia acima do valor justo para fins de acúmulo de riquezas e de luxo para a corte ou para que esta promovesse guerras de conquista [...] os camponeses passaram a ser cada vez mais espoliados, e para pagar os pesados tributos precisavam trabalhar muito, e, além disso, havia ainda a corvéia, isto é, o trabalho forçado e sem remuneração nas terras do rei e em obras públicas como aquedutos, estradas, cidades, armazéns, palácios, templos, etc." (fonte: https://meuscriptorium.wordpress.com/2010/08/24/condicao-social-e-politica-da-canaa-pre-israelita/)
Isso acabou enchendo o "cálice" da ira de Deus e ensejando o Juízo para aqueles povos. E, como dito, Deus usou Israel como instrumento desse Juízo. Vale ressaltar que a vitória de Israel nessas batalhas só era alcançada por causa da intervenção da parte de Deus. É importante ressaltar que Deus permitiu que Seu povo também sofresse derrota diante das nações inimigas quando eles, que deveriam ser exemplos para outras nações, passaram a praticar o mesmo pecado que elas (Isaías cap. 1).
III. GUERRA: PROTEÇÃO DE DEUS A UM POVO QUE NÃO ERA NADA. NEM POVO.
No Antigo Testamento, Deus luta por Israel para garantir sua terra para seu povo, para que seu plano de redenção possa se concretizar. Para garantir que Seu povo sobreviva, um bando de escravos que sequer possuíam noções elementares de saúde pública e vida em sociedade, diante de nações já estabelecidas e bem equipadas e treinadas na arte de guerra. Muito tempo depois de sua introdução em Canaã, Israel ainda sofreu sob a superioridade dos "carros de ferro" dos cananeus.
Por causa da superioridade militar, que as armas de ferro davam aos cananeus, é que os hebreus se queixavam a Josué de não poder tomar-lhes as cidades: "A montanha não nos é suficiente; todos os cananeus, que habitam a planície, possuem carros de ferro, tanto os de Bet-San e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael. Então Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manasses: "Tu és um povo numeroso e tua força é muita; não terás só uma parte, antes, terás a montanha, cuja floresta desbravarás, e seus limites pertencer-te-ão. Expulsarás os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e da sua força" (Jos,17f 16-18). Mais tarde, dir-se-á que Yabin, rei cananeu de Hazor, possuía um exército de 900 carros de ferro (Jz 4.3).
Aquelas nações cananéias eram "mais fortes e mais numerosas" que o povo de Israel (Dt 7.1). Sem a ajuda de Deus, o povo liberto do Egito seria facilmente subjugado e novamente escravizado pelos cananeus com toda certeza. Note que o povo de Israel recém saído do Egito não era grande coisa, numericamente falando: "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos" (Dt 7.7). Eles não tinham mérito, grandeza, riqueza, poderio ou renome.
Como já vimos, os cananeus eram muito superiores em tudo ao povo escolhido de Deus, quer na esfera militar, quer na esfera social (artes, comércio, arquitetura, etc.). Tirá-los do Egito para deixá-los desprotegidos era o mesmo que condená-los a morte. Ao contrário, Deus os havia removido do Egito e seria o Guarda de Israel em todos os momentos, mesmo naqueles que eles fizeram por merecer o contrário. Pedir que Deus não proteja Seu povo, ao qual Ele amou e ama, é o mesmo que pedir a um pai ou a uma mãe que não defenda e proteja o filho indefeso que gerou.
IV. GUERRA NO NOVO TESTAMENTO: BATALHA ESPIRITUAL CONTRA SERES ESPIRITUAIS.
Essas guerras foram travadas em um determinado momento da história de Israel e não devem ser repetidas pela Igreja nem ser justificadas por quaisquer povos no mundo atual. Embora alguns tenham usado o material da "guerra divina" no Antigo Testamento como base para a máquina de guerra (especialmente durante a colonização das Américas), tais aplicações do material bíblico simplesmente não se harmonizam com a história das Escrituras. Esse tipo de guerra era particular para Israel quando se mudou para a terra de Canaã. Para o cristão, não há lugar algum para pegar em armas à maneira de Israel para conquistar uma terra.
No ensinamento de Jesus, que é uma revitalização da lei do Antigo Testamento, a tarefa do povo do Reino de Deus é amar seus "inimigos" (incluindo as nações inimigas) e servi-los com as boas novas do Reino (Mateus 5: 43-8, 28: 18-20). O livro de Efésios ensina poderosamente que, por causa da vitória de Deus em Cristo, o cristão não guerreia nem por terra nem por lugar no mundo. O mundo inteiro está sob a autoridade de Cristo (Mateus 28:18), e assim o mundo é do Senhor. Onde quer que um cristão viva no mundo de Deus, ele ou ela se envolve em uma batalha espiritual contra os governantes cósmicos que inutilmente promovem a guerra contra a vitória de Deus em Cristo (Efésios 5: 1-9, 6: 10-18). A "guerra" cristã envolve aprender a viver corretamente o triunfo que Deus proveu em Cristo e em Seu Reino. Esta instrução subversiva em Efésios revela que o Reino de Deus é e será estabelecido não através da coerção e ou dominação, mas através do amor auto-sacrificial, à maneira de Cristo.
As guerras ditas em "nome de Deus" na era cristã não possuem respaldo nenhum da parte de Deus e por Ele nunca foram ordenadas. Cruzadas, Inquisição, Holocausto, etc. não passam da simples materialização da extrema malignidade humana, que para cumprir seus mais podres e sórdidos desejos é capaz de até mesmo justificar seus atos mais cruéis como sendo "da parte de Deus". Argumentar em termos de similaridade que essas aberrações modernas tem respaldo no Antigo Testamento demonstra total ignorância quanto aos processos históricos e espirituais tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento. A história da revelação de Deus ao homem se passa em cenários humanos, não sendo produto que imaginações idealizadoras humanas; o Deus que se revela faz isso a partir da perspectiva histórica, de forma gradual.
A bandeira de Cristo jamais será a mesma que Constantino adotou. A cruz não é instrumento de conquista de outras nações, nem de "conversões forçadas". A cruz é antes local de renúncia pessoal, de rendição, de humilhação, de vergonha e de dor. Local de morte, pela qual cada cristão passou um dia e deverá obrigatoriamente passar todos os dias de sua vida, "matando" o seu eu com seus pecados pessoais, de forma a viver a nova vida de Deus em Cristo. A bandeira de Cristo é a bandeira do kenosis, do auto-esvaziamento de si mesmo: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8).
V. E SOBRE AS GUERRAS MODERNAS?
E sobre as guerras, hoje? É correto um cristão "pegar em armas" para defender seu país? Note que nesse caso estamos nos referindo a outro assunto: não se trata de guerras religiosas, ou guerras com viés e ideologia religiosa ("em nome de Deus"); tratam-se de guerras sócio-políticas e econômicas. Sobre estas guerras "não-religiosas, Norman L. Geisler comenta: "A guerra em defesa dos inocentes não é assassinato. Uma guerra contra um agressor injusto não é assassinato. Deus, às vezes, ordena que os homens usem a espada para resistir aos homens maus. O militar não desempenha uma função má (Lc 3.14)". Vale dizer que há uma guerra urbana sendo travada em várias capitais mundiais entre a polícia e grupos de meliantes. Nesse caso, as forças policiais são agentes da lei e têm a função estatal de proteger os inocentes, constituindo-se no braço do Estado nessa função. É a isso que se refere o apóstolo Paulo em Romanos 13: há um povo e um Estado (a potestade superior); a função do Estado é defender seu povo e para isso ele (o Estado, não o povo) faz uso da espada. O Estado é, assim, "ministro" (servo) "de Deus para o nosso bem". Quando o mal é praticado, esse ministro de Deus traz a espada (note que a espada não é trazida à debalde, isso é, à-toa).
Quando mais próximo do fim dos tempos, mais guerras e rumores de guerras surgirão. O ódio crescerá entre as pessoas e os povos, haverá muitas traições e escândalos. O amor se esfriará, enquanto assistiremos a vertiginosa escalada da violência em todas as esferas da sociedade e do mundo modernos. O pecado será intensificado e os limites éticos e morais serão removidos, mesmo na esfera legal. Isso é inevitável. Nenhum governante humano poderá impedir ou reverter esse processo, mesmo que ele seja "cristão" e cheio de "boas intenções e idéias". O mal no mundo não está ligado a partidos ou ideologias políticas, está ligado ao homem independentemente da ideologia ou religião que professe ou da condição social ou posição que possua.
Obviamente que essas guerras não são o ideal de Deus para a vida humana sobre a Terra. Deus várias vezes deixou isso claríssimo no Antigo Testamento; no Novo Testamento escancarou ainda mais essa verdade por meio do Seu Filho. Deus nos criou para vivermos no Paraíso terrestre, mas nós concedemos ao diabo o "direito" de agir na Terra e trazer todo o inferno com ele. Haverá, contudo, um dia onde os homens não aprenderão mais a guerra e as armas de guerras serão convertidas em instrumentos agrícolas: "E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse." (Mq 4.3,4)
domingo, 16 de dezembro de 2018
A PERIGOSA RELAÇÃO DE PODER NA RELIGIÃO: JESUS É NOSSA LIBERDADE TOTAL
"Uma relação de poder se forma no momento em que alguém deseja algo que depende da vontade de outro. Esse desejo estabelece uma relação de dependência de indíviduos ou grupos em relação a outros. Quanto maior a dependência de A em relação a B, maior o poder de B em relação a A. Essa dependência aumenta à medida que o controle de B sobre o que é desejado por A aumenta". (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_de_poder)
Poder e dependência caminham juntos. Como descrito acima, a relação de poder surge quando há uma relação de dependência; quanto maior a dependência, mais intensa é a relação de poder. Uma das formas de poder é o poder coercitivo, quando há imposição de vontade por ameaças e punições. Por meio do poder coercitivo a relação de dependência é assegurada e fortalecida, criando-se um ambiente de medo da punição asseverada por meio de ameaças pelo "dominador".
Desde os priscas eras, as religiões são utilizadas como instrumento de dominação, onde as relações em seu âmbito dão-se, via de regra, por meio do exercício de poder de um indivíduo tido como "especial" sobre um conjunto de outros indivíduos adeptos àquela religião. Esse "indivíduo especial", ser humano como outro qualquer, é assim visto pelos demais por seus "atributos sobrenaturais" que lhe conferem uma espécie de "garantia divina" de suas ações; afinal, esta pessoa é tida como "divinamente autorizada" naquilo que fizer, quer para o bem de seus "discípulos"/"irmãos" quer para o mal destes. Esse "líder reconhecido e autorizado por Deus", com autenticidade assegurada por sua "performance sobrenatural", pode "abençoar" ou "amaldiçoar", pode "trazer a cura" ou "trazer a doença" sobre aqueles que o seguem segundo a sua conveniência. Isso o torna "inquestionável", "acima de qualquer suspeita" naquilo que fala e faz.
Muitos, infelizmente, por suas condições pessoais de saúde física e/ou emocional, ou mesmo pelo interesse em servir a Deus, se tornam presas fáceis desses "líderes místicos". Pessoas com vários tipos de doenças, muitas desenganadas pela medicina secular, ou mesmo deprimidas por qualquer razão, acabam procurando nas religiões a solução para seus problemas. Há aquelas que, por outro lado, tem um desejo de se relacionar com Deus de alguma maneira e acabam procurando uma determinada religião para aprenderem como fazer isso. Pessoas que geralmente tem experiências sobrenaturais (nas religiões espíritas, diz-se possuírem uma "mediunidade"; no cristianismo, "um chamado"; no hinduísmo/budismo, "desenvolver a espiritualidade", etc.) e querem entender o que vivenciaram com "mestres" ou mesmo que desejam se tornar "mestres" daquela religião - querem se tornar pais/mães-de santo, médiuns, pastores, sacerdotes, padres, médiuns, etc., que buscam na religião um refúgio, proteção, apoio, respostas e orientação. É nesse ponto onde se tem início a construção da relação de poder e de dependência a qual pode acabar em várias formas de abuso; esse abuso é frequentemente mantido em silêncio por exercício do poder coercitivo.
Uma das formas de abuso relatada na literatura é o abuso sexual. Outra é o assédio sexual. Tanto o assédio quanto o abuso estão presentes em várias religiões diferentes, sob diversas justificativas ideológicas. Relativo ao catolicismo, segundo DOYLE (2003) desde 1984 o abuso sexual por parte do clero católico vem atraindo a atenção do público. O abuso é minimizado de maneira geral pelas afirmações que inicialmente negam sua ocorrência, ou desqualificam a vítima perante o agressor e à instituição na qual exerce a liderança religiosa. Há relatos, acusações (verídicas e inverídicas) e casos de abuso sexual cometidos por pais-de-santo, pastores, monges, etc., incluindo na crônica jornalística: o do pastor (fonte: https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-abusa-de-cinco-adolescentes-e-diz-que-foi-ordem-de-anjo-duas-estao-gravidas-do-milagre.html), o do padre, em Goiás (fonte: https://noticias.r7.com/cidades/padre-abusa-de-menor-deficiente-em-sauna-de-go-06062016), do monge budista chinês (fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/08/monge-budista-e-investigado-por-ma-conduta-sexual-na-china.shtml) e por aí vai.
A notícia jornalística mais recente é a do médium espírita conhecido como João de Deus, da cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, acusado por mais de 300 mulheres que afirmam terem sido vítimas de abuso sexual por parte do religioso durante tratamentos espirituais (fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/14/justica-decreta-prisao-de-joao-de-deus-apos-denuncias-de-abusos-sexuais-em-abadiania.ghtml). O médium teve sua prisão preventiva decretada pela justiça goianiense. O grande desafio será provar que houve abuso, na hipótese de realmente ter acontecido tal coisa (https://odia.ig.com.br/brasil/2018/12/5603133-investigacao-sobre-joao-de-deus-se-concentra-em-15-casos-diz-delegado.html). Se ele é ou não culpado das acusações, quem vai decidir é a justiça brasileira. E acima dela, a divina.
O fato é que quando o abuso realmente acontece, infelizmente muitas vítimas de abusadores optam em não denunciar o abuso sofrido. Muitas fazem isso por medo de represálias por conta das ameaças que os religiosos abusadores fazem. Observe que a relação de poder e dependência pode ser opressora para o dependente; por sua vez, quem detém o poder pode usá-lo como arma ao seu lado. Imagine o seguinte caso hipotético, com foco na religião qualquer que seja ela): uma pessoa qualquer teoricamente usada por Deus para fazer milagres e que é, por isso mesmo, "idolatrada" pelos seus seguidores, tida como infalível. Na mente dos seguidores, esse líder tem muito poder espiritual. Agora, se esse líder, usando-se da percepção que seus seguidores tem dele, começa a fazer ameaças (como "reverter a cura realizada", ou "colocar doenças em quem não tem" ou "destruir a vida da pessoa" ou "amaldiçoar" ou "matar a família") para encobrir algum erro conhecido, capaz de denegrir sua imagem, seus seguidores crerão nele! Isso infelizmente é muito comum de acontecer em círculos religiosos, especialmente aqueles excessivamente místicos, cheios de rituais - "pirotécnicos" ou não, "individualizados" ou "gerais" - ditados pelo líder religioso! Isso pode se replicar não só na religião, mas em qualquer relação de poder e dependência.
Fico aqui pensando que Deus está no céu olhando para isso tudo e não está gostando do que vê. Deus que está tendo Seu santo nome associado a uma infinidade de erros, crimes, pecados, mandos e desmandos, pelos mais diversos ditos "homens de deus", como se Ele fosse o autor ou o incentivador dessas coisas. Por certo, quem passa por um abuso sexual terá traumas por anos a fio, sem falar que a fé em Deus de quem passa por um abuso sexual cometido no âmbito da religião ficará abalada. Assim, quem comete este crime o faz tanto contra a vítima quanto contra Deus e ambos exigirão a justa punição do autor, cada um a seu tempo. A Bíblia Sagrada nos mostra que um dia Deus haverá de julgar toda a humanidade, cada um segundo as suas obras (Rm 2.6; Ap 20.12), quer sejam religiosas ou não, quer sejam pastores, padres, pais de santo, monges, médiuns ou qualquer outra denominação religiosa aplicável. Ninguém ficará de fora desse julgamento naquele dia, nem vivos nem mortos!
Para você, que frequenta uma religião, meu conselho é que você tenha muito cuidado! Independente da religião e do deus que professa, os líderes que ali estão são seres humanos que nada tem de divinos e que, portanto, estão sujeitos a cometerem abusos de toda a sorte, até mesmo os de cunho sexual. Um bom sinal que é hora de você colocar "suas barbas de molho" é quando o líder começa a fazer exigências pessoais descabidas, com ou sem ameaça de maldição (os famosos "sacrifícios" ou "votos de fé", como por exemplo fazer um trabalho espiritual que envolve elementos que você reconhece como errados). Se a "lâmpada" do seu "desconfiômetro" acender por qualquer razão, atenção! Deus tem bom-senso e criou o bom-senso em nós e por isso mesmo nada vai te obrigar a fazer que contrarie esse bom-senso.
Lembre-se: Deus não precisa que você dê nada a Ele! Pense: se Ele criou tudo, você acha que Ele realmente precisa de algo seu? Você acha que Ele vai mandar você sofrer qualquer tipo de abuso em Seu nome pelo líder religioso? Você acha que Deus quer isso para "provar sua fé"? Ou você acha que Deus vai mandar você ser massacrado pelo líder religioso? Ele criou você! Olhe o que Ele diz em Sua Palavra, a Bíblia: "Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miquéias 6:7,8) Viu o que Ele pede de você? Justiça, benignidade e humildade! O Deus que a Bíblia apresenta, querido(a) leitor(a), ama você! Ama ao ponto de ter enviado Seu Filho, Jesus, para morrer em Seu lugar! Isso mesmo: Deus, sabendo que você tinha que morrer por causa dos seus pecados, enviou Seu filho para ser seu substituto na morte! Hoje, crendo em Cristo, você não precisa morrer eternamente; só vai morrer uma única vez - a morte de todos os mortais, no seu corpo. Sua alma viverá, seu espírito Deus renovará e no seu corpo tudo novo se fará!
Saber que tendo a Cristo vou morrer uma única vez é fonte de consolo e segurança. Mesmo que a pessoa venha a ser portadora de alguma doença mortal - e que não seja curada por Deus com ou sem o uso da medicina - com Cristo, a morte dela será o fim de toda a dor e sofrimento no corpo físico e na alma. Todos nós queremos viver, Deus nos criou para a vida; porém, a morte já não assusta mais quando eu tenho a Cristo como Senhor e Salvador da minha vida. Com Ele, ainda que morto, viverá; o Senhor há de ressuscitar-me um dia: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" (João 11:25,26)
E mais: com Cristo, eu não preciso procurar líder religioso nenhum para ser curado, ou abençoado, ou prosperado. Primeiro porque Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens (I Tm 2.5), segundo porque em Cristo já fomos abençoados com todas as bençãos espirituais necessárias: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Efésios 1:3). E quanto as bênçãos materiais? Essas, Jesus garantiu que o Pai sabe o que nós precisamos para viver e o Pai é bondoso e misericordioso. Se for de Sua vontade, Ele dará; mas saiba que dando ou não dando tal bênção (como a cura), Ele continua te amando e um dia limpará dos seus olhos todas as lágrimas. Mesmo que seja difícil, Ele sempre nos ajudará a carregarmos nossa cruz!
Ter Jesus, portanto, é ter vida plena, vida em abundância! Vida livre e leve, sem o fardo religioso, sem um líder religioso ditador por me explorando e/ou abusando de mim. Não preciso apresentar sacrifícios de fé. Não preciso fazer campanhas ou peregrinações. Não preciso possuir ou carregar objetos consagrados. Não preciso de ritual nenhum. Adorar a Deus com Jesus é fácil e ao mesmo tempo difícil: fácil, porque não preciso de ritos nem músicas nem lugares especiais, difícil porque precisa ser em espírito e em verdade, do fundo do coração com amor a Ele.
Creia em Jesus! Ele disse: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (João 14:1-3) Ele não disse que te daria um lugar na religião, mas na casa do Pai, junto ao Pai e a Ele.
Pense nisso!
Que a Graça do Senhor Jesus e o Amor de Deus Pai seja contigo!
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Referências:
Poder e dependência caminham juntos. Como descrito acima, a relação de poder surge quando há uma relação de dependência; quanto maior a dependência, mais intensa é a relação de poder. Uma das formas de poder é o poder coercitivo, quando há imposição de vontade por ameaças e punições. Por meio do poder coercitivo a relação de dependência é assegurada e fortalecida, criando-se um ambiente de medo da punição asseverada por meio de ameaças pelo "dominador".
Desde os priscas eras, as religiões são utilizadas como instrumento de dominação, onde as relações em seu âmbito dão-se, via de regra, por meio do exercício de poder de um indivíduo tido como "especial" sobre um conjunto de outros indivíduos adeptos àquela religião. Esse "indivíduo especial", ser humano como outro qualquer, é assim visto pelos demais por seus "atributos sobrenaturais" que lhe conferem uma espécie de "garantia divina" de suas ações; afinal, esta pessoa é tida como "divinamente autorizada" naquilo que fizer, quer para o bem de seus "discípulos"/"irmãos" quer para o mal destes. Esse "líder reconhecido e autorizado por Deus", com autenticidade assegurada por sua "performance sobrenatural", pode "abençoar" ou "amaldiçoar", pode "trazer a cura" ou "trazer a doença" sobre aqueles que o seguem segundo a sua conveniência. Isso o torna "inquestionável", "acima de qualquer suspeita" naquilo que fala e faz.
Muitos, infelizmente, por suas condições pessoais de saúde física e/ou emocional, ou mesmo pelo interesse em servir a Deus, se tornam presas fáceis desses "líderes místicos". Pessoas com vários tipos de doenças, muitas desenganadas pela medicina secular, ou mesmo deprimidas por qualquer razão, acabam procurando nas religiões a solução para seus problemas. Há aquelas que, por outro lado, tem um desejo de se relacionar com Deus de alguma maneira e acabam procurando uma determinada religião para aprenderem como fazer isso. Pessoas que geralmente tem experiências sobrenaturais (nas religiões espíritas, diz-se possuírem uma "mediunidade"; no cristianismo, "um chamado"; no hinduísmo/budismo, "desenvolver a espiritualidade", etc.) e querem entender o que vivenciaram com "mestres" ou mesmo que desejam se tornar "mestres" daquela religião - querem se tornar pais/mães-de santo, médiuns, pastores, sacerdotes, padres, médiuns, etc., que buscam na religião um refúgio, proteção, apoio, respostas e orientação. É nesse ponto onde se tem início a construção da relação de poder e de dependência a qual pode acabar em várias formas de abuso; esse abuso é frequentemente mantido em silêncio por exercício do poder coercitivo.
Uma das formas de abuso relatada na literatura é o abuso sexual. Outra é o assédio sexual. Tanto o assédio quanto o abuso estão presentes em várias religiões diferentes, sob diversas justificativas ideológicas. Relativo ao catolicismo, segundo DOYLE (2003) desde 1984 o abuso sexual por parte do clero católico vem atraindo a atenção do público. O abuso é minimizado de maneira geral pelas afirmações que inicialmente negam sua ocorrência, ou desqualificam a vítima perante o agressor e à instituição na qual exerce a liderança religiosa. Há relatos, acusações (verídicas e inverídicas) e casos de abuso sexual cometidos por pais-de-santo, pastores, monges, etc., incluindo na crônica jornalística: o do pastor (fonte: https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-abusa-de-cinco-adolescentes-e-diz-que-foi-ordem-de-anjo-duas-estao-gravidas-do-milagre.html), o do padre, em Goiás (fonte: https://noticias.r7.com/cidades/padre-abusa-de-menor-deficiente-em-sauna-de-go-06062016), do monge budista chinês (fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/08/monge-budista-e-investigado-por-ma-conduta-sexual-na-china.shtml) e por aí vai.
A notícia jornalística mais recente é a do médium espírita conhecido como João de Deus, da cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, acusado por mais de 300 mulheres que afirmam terem sido vítimas de abuso sexual por parte do religioso durante tratamentos espirituais (fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/14/justica-decreta-prisao-de-joao-de-deus-apos-denuncias-de-abusos-sexuais-em-abadiania.ghtml). O médium teve sua prisão preventiva decretada pela justiça goianiense. O grande desafio será provar que houve abuso, na hipótese de realmente ter acontecido tal coisa (https://odia.ig.com.br/brasil/2018/12/5603133-investigacao-sobre-joao-de-deus-se-concentra-em-15-casos-diz-delegado.html). Se ele é ou não culpado das acusações, quem vai decidir é a justiça brasileira. E acima dela, a divina.
O fato é que quando o abuso realmente acontece, infelizmente muitas vítimas de abusadores optam em não denunciar o abuso sofrido. Muitas fazem isso por medo de represálias por conta das ameaças que os religiosos abusadores fazem. Observe que a relação de poder e dependência pode ser opressora para o dependente; por sua vez, quem detém o poder pode usá-lo como arma ao seu lado. Imagine o seguinte caso hipotético, com foco na religião qualquer que seja ela): uma pessoa qualquer teoricamente usada por Deus para fazer milagres e que é, por isso mesmo, "idolatrada" pelos seus seguidores, tida como infalível. Na mente dos seguidores, esse líder tem muito poder espiritual. Agora, se esse líder, usando-se da percepção que seus seguidores tem dele, começa a fazer ameaças (como "reverter a cura realizada", ou "colocar doenças em quem não tem" ou "destruir a vida da pessoa" ou "amaldiçoar" ou "matar a família") para encobrir algum erro conhecido, capaz de denegrir sua imagem, seus seguidores crerão nele! Isso infelizmente é muito comum de acontecer em círculos religiosos, especialmente aqueles excessivamente místicos, cheios de rituais - "pirotécnicos" ou não, "individualizados" ou "gerais" - ditados pelo líder religioso! Isso pode se replicar não só na religião, mas em qualquer relação de poder e dependência.
Fico aqui pensando que Deus está no céu olhando para isso tudo e não está gostando do que vê. Deus que está tendo Seu santo nome associado a uma infinidade de erros, crimes, pecados, mandos e desmandos, pelos mais diversos ditos "homens de deus", como se Ele fosse o autor ou o incentivador dessas coisas. Por certo, quem passa por um abuso sexual terá traumas por anos a fio, sem falar que a fé em Deus de quem passa por um abuso sexual cometido no âmbito da religião ficará abalada. Assim, quem comete este crime o faz tanto contra a vítima quanto contra Deus e ambos exigirão a justa punição do autor, cada um a seu tempo. A Bíblia Sagrada nos mostra que um dia Deus haverá de julgar toda a humanidade, cada um segundo as suas obras (Rm 2.6; Ap 20.12), quer sejam religiosas ou não, quer sejam pastores, padres, pais de santo, monges, médiuns ou qualquer outra denominação religiosa aplicável. Ninguém ficará de fora desse julgamento naquele dia, nem vivos nem mortos!
Para você, que frequenta uma religião, meu conselho é que você tenha muito cuidado! Independente da religião e do deus que professa, os líderes que ali estão são seres humanos que nada tem de divinos e que, portanto, estão sujeitos a cometerem abusos de toda a sorte, até mesmo os de cunho sexual. Um bom sinal que é hora de você colocar "suas barbas de molho" é quando o líder começa a fazer exigências pessoais descabidas, com ou sem ameaça de maldição (os famosos "sacrifícios" ou "votos de fé", como por exemplo fazer um trabalho espiritual que envolve elementos que você reconhece como errados). Se a "lâmpada" do seu "desconfiômetro" acender por qualquer razão, atenção! Deus tem bom-senso e criou o bom-senso em nós e por isso mesmo nada vai te obrigar a fazer que contrarie esse bom-senso.
Lembre-se: Deus não precisa que você dê nada a Ele! Pense: se Ele criou tudo, você acha que Ele realmente precisa de algo seu? Você acha que Ele vai mandar você sofrer qualquer tipo de abuso em Seu nome pelo líder religioso? Você acha que Deus quer isso para "provar sua fé"? Ou você acha que Deus vai mandar você ser massacrado pelo líder religioso? Ele criou você! Olhe o que Ele diz em Sua Palavra, a Bíblia: "Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miquéias 6:7,8) Viu o que Ele pede de você? Justiça, benignidade e humildade! O Deus que a Bíblia apresenta, querido(a) leitor(a), ama você! Ama ao ponto de ter enviado Seu Filho, Jesus, para morrer em Seu lugar! Isso mesmo: Deus, sabendo que você tinha que morrer por causa dos seus pecados, enviou Seu filho para ser seu substituto na morte! Hoje, crendo em Cristo, você não precisa morrer eternamente; só vai morrer uma única vez - a morte de todos os mortais, no seu corpo. Sua alma viverá, seu espírito Deus renovará e no seu corpo tudo novo se fará!
Saber que tendo a Cristo vou morrer uma única vez é fonte de consolo e segurança. Mesmo que a pessoa venha a ser portadora de alguma doença mortal - e que não seja curada por Deus com ou sem o uso da medicina - com Cristo, a morte dela será o fim de toda a dor e sofrimento no corpo físico e na alma. Todos nós queremos viver, Deus nos criou para a vida; porém, a morte já não assusta mais quando eu tenho a Cristo como Senhor e Salvador da minha vida. Com Ele, ainda que morto, viverá; o Senhor há de ressuscitar-me um dia: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" (João 11:25,26)
E mais: com Cristo, eu não preciso procurar líder religioso nenhum para ser curado, ou abençoado, ou prosperado. Primeiro porque Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens (I Tm 2.5), segundo porque em Cristo já fomos abençoados com todas as bençãos espirituais necessárias: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Efésios 1:3). E quanto as bênçãos materiais? Essas, Jesus garantiu que o Pai sabe o que nós precisamos para viver e o Pai é bondoso e misericordioso. Se for de Sua vontade, Ele dará; mas saiba que dando ou não dando tal bênção (como a cura), Ele continua te amando e um dia limpará dos seus olhos todas as lágrimas. Mesmo que seja difícil, Ele sempre nos ajudará a carregarmos nossa cruz!
Ter Jesus, portanto, é ter vida plena, vida em abundância! Vida livre e leve, sem o fardo religioso, sem um líder religioso ditador por me explorando e/ou abusando de mim. Não preciso apresentar sacrifícios de fé. Não preciso fazer campanhas ou peregrinações. Não preciso possuir ou carregar objetos consagrados. Não preciso de ritual nenhum. Adorar a Deus com Jesus é fácil e ao mesmo tempo difícil: fácil, porque não preciso de ritos nem músicas nem lugares especiais, difícil porque precisa ser em espírito e em verdade, do fundo do coração com amor a Ele.
Creia em Jesus! Ele disse: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (João 14:1-3) Ele não disse que te daria um lugar na religião, mas na casa do Pai, junto ao Pai e a Ele.
Pense nisso!
Que a Graça do Senhor Jesus e o Amor de Deus Pai seja contigo!
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Referências:
DOYLE, Thomas P. Roman Catholic clericalism, religious duress, and clergy sexual abuse. Pastoral Psychology, v. 51, n. 3, p. 189-231, 2003.
domingo, 9 de dezembro de 2018
A ESSÊNCIA DA GRAÇA É O FAVOR DIVINO SEM MÉRITO, HOJE E ETERNAMENTE
Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio.
A minha alma disse ao Senhor: Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à tua presença,
Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem está todo o meu prazer.
As dores se multiplicarão àqueles que fazem oferendas a outro deus; eu não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios.
O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte.
As linhas caem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança.
Louvarei ao Senhor que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite.
Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei.
Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura.
Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente.
(Salmo 16)
Nesse salmo, Davi medita sobre os benefícios que recebia de Deus e, por isso, se sente impulsionado a dar graças. Davi se rende e se devota inteiramente ao Senhor, declarando que a plena e substancial felicidade consiste em repousar exclusivamente em Deus. Ou seja, podemos dizer que esse salmo retrata algo que poucos entendem, ensinam e conhecem: Graça.
Essa Graça, manifesta na prática por toda bondade, misericórdia e benefícios de Deus para com Davi, é a mesma Graça de Deus hoje. Isso mesmo: mesmo em tempos da Lei, a intenção de Deus sempre foi tratar Seu povo com Graça. Dentre outras razões que fogem ao escopo aqui, por isso a Lei veio primeiro: para que, tendo experimentado a Lei, possamos reconhecer a profundidade e a altura da Graça! Quem viveu os rigores da Lei e por ela foi considerado transgressor e digno de morte, com toda certeza verá a Graça como um bálsamo e jamais dela procurará se apartar!
Esse é um dos principais problemas com sistemas religiosos legalistas. Todo legalista, que diz ter prazer em viver a Lei e que procura se auto-afirmar diante de seus co-religiosos pelo cumprimento de códigos e regras, vive na mentira e é, na verdade, um mentiroso. Ninguém jamais conseguiu viver a Lei nem jamais conseguirá vivê-la, pois a Lei foi dada para condenar. A Lei condena cada homem, mulher e criança como pecador inveterado, amante do pecado e servo do mesmo, fazendo silenciar toda auto-justificação e reduzindo todo manto escarlate de justiça pessoal à condição de pano sujo e rasgado, de trapo de imundícia!
O legalista entende que precisa pagar a Deus alguma coisa e se esforça para realmente fazê-lo. Daí, ele se esforça ao máximo para ser digno diante de Deus, de forma a "retribuir" a Deus por todos os Seus benefícios. Na prática, o legalista diz a Deus "olha, estou pagando a dívida! Vê como eu sou o melhor de todos! Vê como eu me esforço! Jejuo 3 vezes ao dia, oro 6 vezes, dou o dízimo de tudo, frequento assidamente as reuniões, faço caridade..." e por aí vai. Devedor a Deus é algo que todo ser humano de todas as eras sempre será; no entanto, essa dívida, impagável pelo lado humano, somente pode ser paga pelo sacrifício gratuito de Cristo Jesus. Esse é o único pagamento aceito por Deus - aquele que Seu Filho pagou! Por isso, aquele que crê em Jesus, que se identifica com o Seu sacrifício na cruz e que rende a vida à Ele, passa a viver na condição de devedor eternamente perdoado! Dívida cancelada, totalmente paga! Perdoado no passado, perdoado no presente e perdoado no futuro! "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz" (Cl 2.13,14) Segue-se então que agora a vida, na condição de perdoado pela fé em Cristo, é a vida de fé e gratidão, de confiança em Deus e de amor retributivo, de nossa parte, Àquele que nos amou primeiro! Cada gesto na vida, portanto, deve ser um gesto movido pelo amor a Deus, como louvor e ações de graças a Ele, e não a apresentação de um "rol de notas fiscais de pagamento"!
Graça é a relação de Deus para conosco, mas é também a nossa relação para com Ele! Não existe recebermos Graça e retribuirmos Lei! Deus não aceitará Lei da nossa parte, de forma alguma! Ou é Graça, ou estamos dizendo a Deus com nossas atitudes que a dívida com Ele permanece e, com isso, o sacrifício de Jesus foi em vão para nós!
Voltando ao Salmo 16, Davi fala da Graça. Ele começa dizendo: “Guarda-me, oh Deus, porque em ti me refugio”. Davi pede ao Senhor que lhe proteja durante todo o curso de sua vida. Deus era o refúgio de Davi – nenhum esconderijo humano, nenhuma iniciativa humana para a auto-proteção tem sucesso se o Senhor não for o verdadeiro refúgio, se a confiança não estiver Nele.
Temos muitos inimigos externos, estamos cercados por eles todo o dia: Satanás em derredor, buscando tragar a nossa alma. O mundo, com suas ofertas sedutoras. O espírito de violência que está sobre o mundo, atuando sobre os pecadores. Doenças de toda a sorte. Somos provados pelo tentador com tamanha força e com furor, com tantas artimanhas e astúcia, que faz com que nossa batalha individual e coletiva seja humanamente falando muito desigual. Ele é um anjo (caído), nós somos seres humanos! Além disso, temos muitos inimigos internos: As nossas fraquezas e tendências ao retrocesso, à queda, ao pecado, ao desânimo, à desconfiança em Deus e à desistência. Crises emocionais e espirituais. Se formos olhar para nós mesmos, para nossas próprias forças e capacidades de defesa, de perseverança, veremos o quão fracos e pequenos nós somos. Como dizia Lutero em seu hino “Castelo Forte”, “a nossa força nada faz, estamos nós perdidos”! QUANTO OS NOSSOS INIMIGOS JÁ TENTARAM – E AINDA TENTAM – NOS DESTRUIR!
O fato de estarmos hoje com vida física e espiritual, de termos vencido até aqui, é por um único motivo: porque temos feito o Senhor o nosso refúgio! Ele é a nossa fortaleza, o nosso Castelo Forte! Deus nos traz todo o dia o seu socorro e assim somos diariamente protegidos! JESUS É O NOSSO SENHOR!
“Digo ao Senhor, outro bem não possuo”: Davi diz que não pode dar nada a Deus, não só porque Deus não tem necessidade de coisa nenhuma, mas também porque o homem mortal não pode merecer o favor divino por alguma coisa que venha a fazer para Deus. “Outro bem não possuo”, Na KJV, é traduzido por “minha beneficiência não te alcança”. É impossível para os homens, por quaisquer méritos pessoais, fazerem com que Deus tenha obrigações para com eles, como se Deus se tornasse devedor aos homens. NÓS SEMPRE SEREMOS DEVEDORES PERDOADOS! Quando nos achegamos a Deus, devemos fazer isso sem nenhuma presunção. Não há bem nenhum em nós, nenhum mérito pessoal. Todo o serviço prestado ao Senhor nada é em si mesmo, somos indignos de recompensas da parte do Senhor.
Davi menciona “os santos que estão na terra”. Eles são excelentes, são nobres, notáveis. Não deve haver nada mais precioso para nós que nossos irmãos e irmãs em Cristo. Devemos dar valor e prestigiar aos que temem a Deus, buscando ter comunhão com eles, pois isso Deus considera como agradável! O verdadeiro estado do meu coração é indicado por meu amor por eles. Em todos os lugares e em todos os momentos, o amor para aqueles que amam a Deus e uma disposição para buscar o bem deles, sua felicidade e sua amizade, será uma característica da verdadeira piedade e devoção. Obviamente, tudo aquilo que destrói essa comunhão é inimigo ferrenho de Deus, devendo ser reputado como nosso inimigo também! Note, ainda, que isso não significa ter comunhão com ímpios em qualquer nível (v.4). As dores deles são multiplicadas, porque vivem impiamente, indo após deuses falsos. Não devemos oferecer as suas “libações de sangue”, nem mencionar os nomes de suas abominações com nossos lábios (Ef 5.11,12).
Davi bendiz ao Senhor que o aconselha, tanto de dia quanto à noite, falando-o em sua consciência e assim direcionando sua vida. É somente por meio da direção do Senhor que podemos fazer as escolhas certas nas horas certas. Davi não vivia segundo seu conceito de certo e de errado, mas segundo a vontade revelada de Deus para sua vida. Viver segundo o conceito de certo e errado é a pior coisa que podemos fazer, porque é justamente esse tipo de vida que nos levou ao "abismo espiritual" que vivemos! Viver segundo certo e errado é viver segundo o conhecimento do certo e do errado, do bem e do mal; é viver com base na árvore do conhecimento! Por outro lado, quem busca viver segundo a árvore da vida, vive na dependência de Deus. Deus é o guia, Ele é quem diz se é isso ou aquilo que Ele deseja de nós, não nós mesmos com nosso discernimento tosco de certo e errado. É VIVER SEGUNDO A VONTADE REVELADA DE DEUS E BUSCAR REVELAÇÃO DA VONTADE DE DEUS PARA VIVER.
A Palavra de Deus nos adverte: Onde não há conselho os projetos são vãos (Provérbios 15.22). O Senhor dos Exércitos é maravilhoso em conselho e grande em obra (Isaías 28.29). Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor (Provérbios 21.30). Eis por que precisamos desse Guia por excelência: nada somos sem o nosso Criador e sem a Sua excelsa Palavra! Deus tem prazer em nos direcionar os passos, em dirigir a nossa vida. Ele não fica feliz diante das nossas quedas, encrencas, fracassos; não tem prazer em nossa ruína. Por isso não nos deixou sozinhos nesse mundo, mas nos deu o Seu Espírito, que fala aquilo que Dele ouviu, que mora em nosso interior. Nosso Senhor nos deu a Igreja, e nos deu uns aos outros. Deus dons e ministérios. Deu a Sua Palavra. Isso tudo é graça TEMOS QUE APRENDER A OUVIR E A OBEDECER AO SENHOR PARA NOSSA PRÓPRIA FELICIDADE!
Ao exclamar, "O Senhor é a porção da minha herança", Davi se identifica com os filhos de Levi, cuja herança era o Senhor (Dt 10.9). Nossa herança é o Senhor. É Ele o Único bem verdadeiro que temos em vida, e o Único bem verdadeiro que teremos na morte! Tendo o Senhor sempre na nossa presença, diante dEle, jamais seremos abalados! Viveremos alegres e repousaremos seguros hoje, amanhã e sempre! É interessante que Davi fala de linhas. Essas linhas falam daquelas usadas na medição e na divisão da herança (terra de Canaã). Davi diz que a ele coube uma formosa herança – o próprio Senhor! A Davi, coube o Senhor na divisão da herança – Isso é Graça!
O Senhor é quem sustenta a nossa sorte! É o Senhor quem determina o nosso destino, não o acaso. É Ele quem garante o nosso futuro. Todos quantos não tem seu fundamento e confiança postos em Deus vivem em estado de irresolução e incerteza. São constantemente levados pelos dilúvios de erros que prevalecem no mundo.
Davi, por ter o Senhor sempre em sua presença, sabe que jamais será abalado! Por isso, mesmo diante de tantos inimigos e desafios, ele não fica deprimido, mas se alegra e exulta! Sua confiança no Senhor estende-se dessa vida até ao limite máximo da vida humana – a morte física. NEM A REALIDADE DA MORTE ASSUSTAVA A DAVI.
A morte, na Bíblia, é mais que um estado. Ela é uma pessoa, um inimigo a ser vencido (I Co 15.26). Um inimigo cruel, que anda junto com o inferno, tragando as almas dos homens (Ap 6.8). Porém, mesmo diante desse terrível inimigo, Davi dizia "Minha carne repousará segura"! Aleluia! Davi cria na sua imortalidade. Seu corpo não ficaria eternamente na sepultura sob o poder da corrupção, nem sua alma ficaria eternamente no lugar dos mortos; Deus haveria de o ressuscitar, para uma vida imortal. Davi, sem saber, profeticamente fala acerca da vitória de Cristo sobre a morte e sobre o inferno, vitória esta que por Cristo é extensiva a todo verdadeiro crente em Cristo, que crê e entrega a sua vida aos cuidados do Salvador e Senhor Jesus!
O Santo do Senhor (Jesus) não permaneceu com sua alma na morte, nem viu a corrupção. Deus ressuscitou a Cristo, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela (At 2.24-32). O corpo de Davi permanece nessa terra, mas sua alma está na presença imediata do Senhor. Hoje, Davi aguarda, junto com uma incontável multidão de santos, a ressurreição física do seu corpo! Nós também, fiéis em Cristo, haveremos de um dia ressuscitarmos do pó da terra. Nem mesmo a morte, nem mesmo o inferno, pode contra aquele que tem a sua vida posta em Deus! A POSSE DE CRISTO SOBRE NÓS SE ESTENDE A TODA A CONDIÇÃO DA VIDA HUMANA, ATÉ A RESSURREIÇÃO. ISSO É GRAÇA, FAVOR IMERECIDO, HOJE E ETERNIDADE A FORA! PARA TODO O SEMPRE!
Graça! Graça na proteção e no cuidado de Deus! Graça na direção para a vida e na salvação eterna, inteiramente provista e mantida por Deus! Nada que façamos, nenhum bem que entreguemos, nenhuma dádiva, nenhuma oferta, nenhum sacrifício pode hoje e nem jamais poderá, eternamente, pagar isso que Deus fez, faz e fará por nós e em nós! Não há pagamentos a serem feitos, nem há uma dívida a ser paga! Jesus pagou tudo por nós, de forma que hoje estamos quites com Deus por Cristo Jesus! Ele, o Senhor Jesus, é o Penhor da Nossa Herança! Mesmo nossas boas obras foram todas preparadas por Deus de antemão, antes da salvação, para que um dia andássemos nelas; mesmo essas boas obras são feitas em Cristo com a Graça de Cristo, pois sem Ele nada podemos fazer!
A verdade é que eu e você, querido(a) leitor(a), somos como um deserto seco, incapaz de florescer por si mesmo! Somos terra de ninguém, infrutífera, rachada! Mas a Graça de Deus é tal que escolhepara Si eu e você, desertos estéreis, e ainda nos faz florescer! Nunca apresente a Deus seu currículo de boas obras e realizações, porque para Aquele que te salvou a multidão das tuas boas obras e realizações são apenas o testemunho da Graça de Deus na sua vida! Afinal, é Ele quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13)!
Pense nisso!
Graça e paz!
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