História
Kip McKean tornou-se membro de uma das Igrejas de Cristo, a de Crossroads, na Flórida, EUA, em 1973. Quem o levou para essa igreja foi Charles [Chuck] Lucas, que, em 1967, na Flórida, iniciou um programa denominado Multiplying Ministries (Multiplicando Ministérios ou Ministérios Multiplicativos). Devido a ter se destacado como um evangelista fervoroso, seguindo fielmente ao programa criado por Lucas, Kip McKean foi enviado para a Igreja de Cristo de Lexington, Massachusetts, em 1979, onde sua atuação promoveu um crescimento fenomenal. Este acontecimento marcou — segundo a própria ICI — o início de seu movimento religioso. Iniciando com 30 membros, McKean foi-se isolando das demais Igrejas de Cristo, afirmando que por meio daquele grupo estaria restaurando a Igreja que Jesus formou no Novo Testamento, o Cristianismo da Bíblia.
Em 1981 foi introduzido um plano de evangelização mundial, que consistia em plantar igrejas em metrópoles-chave ao redor do mundo. Dessas "igrejas pilares" outras regiões geográficas ao redor dessas cidades seriam alcançadas. As três primeiras implantadas foram Chicago e Londres, em 1982 e Nova Iorque, em 1983. Ainda em 1983 o nome da igreja foi mudado para Igreja de Cristo de Boston, daí o nome "Movimento de Boston", surgido em 1984, que passou a designar todas as outras igrejas implantadas sob a orientação da Igreja de Boston. O caráter separatista crescia a cada dia. Muitos membros das outras Igrejas de Cristo, bem como de outras igrejas cristãs, passaram a deixar seus grupos de origem, aliando-se a Kip McKean. Isso foi causando discussões e intrigas no Movimento.
Outro incidente também causou distúrbios no Movimento: em 1985 a Igreja de Cristo de Crossroads expulsou Chuck Lucas, o "pai na fé" de Kip McKean, por conduta sexual indevida. Ninguém mais seguraria Kip McKean. Muitos líderes se recusaram a obedecer sua liderança, que queria centralizar tudo em Boston, contrariando o sistema congregacional das Igrejas de Cristo, ou seja, cada igreja local, com sua liderança própria, era responsável por si mesma. A fim de salvaguardar sua liderança, McKean empreendeu entre 1986 a 1989 uma série de mudanças no Movimento, que foi denominada de "A Grande Restauração". Para começar, separou-se definitivamente das Igrejas de Cristo tradicionais, considerando-as uma "denominação morta" .
A partir daí começou a rebatizar todos os que faziam parte do Movimento, incluindo os líderes, que agora seriam escolhidos e treinados pessoalmente por ele. Quem não quisesse se submeter, deveria sair do Movimento, não sendo mais considerado um cristão. Segundo McKean, seria preciso abandonar a "doutrina da autonomia", substituindo-a pela "doutrina da irmandade e unidade!". Em 1988 McKean criou um sistema piramidal, sendo ele o topo dessa pirâmide. Ele se tornou o Evangelista Mundial de Missões. Sua esposa, Elena Garcia McKean, passou a ser conhecida como a Líder Mundial do Ministério de Mulheres. Dividiu as nações do mundo em setores, designando um casal de líderes por setor.
Em 1990, McKean se muda de Boston para Los Angeles, de onde passa a dirigir o Movimento. A igreja de Los Angeles é considerada a "Mega-igreja", com uma assistência de 12.000 pessoas. Em 1993, a fim de substituir o nome "Movimento de Boston", McKean, juntamente com outros líderes do movimento, numa conferência realizada no Los Angeles Sports Arena, adotaram o nome Igreja de Cristo Internacional, que, dependendo da cidade onde se encontrar, receberá o nome da mesma: se estiver em São Paulo será chamada de Igreja de Cristo Internacional de São Paulo; se estiver no Rio de Janeiro será designada Igreja de Cristo Internacional do Rio de Janeiro etc. O alvo de Kip McKean é implantar igrejas nas 216 nações do mundo.
Em 1993 os Porter voltam para os Estados Unidos, assumindo a liderança em São Paulo Othon e Gabriela Neves (atuais Líderes do Setor Geográfico do Brasil). A ICI expandiu-se para outras cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte (1994) e Salvador (1997), atraindo principalmente jovens desiludidos com a religião de modo geral. Muitos são universitários. Em agosto de 1996, utilizando da H.O.P.E. Worldwide (Ajudando as Pessoas ao Redor do Mundo), uma ONG (organização não governamental), com sede em São Paulo, criada pela ICI em 1987 para ser seu "braço benevolente", a ICI promoveu uma campanha de doação de sangue, reunindo cerca de 32.000 pessoas na Cidade de São Paulo.
Para esse evento, contratou o grupo musical baiano, Olodum — com raízes no Candomblé — para fazer um show, a fim de atrair pessoas para evangelizá-las. Seus adeptos juntaram-se aos participantes, evangelizando-os. Com sua atividade diária de proselitismo, a ICI já conta com 5 igrejas implantadas no Brasil, uma membresia em torno de 2.600 pessoas, e uma assistência de 4.000 aos domingos. Mas, para quem se espanta com tal crescimento, há um dado interessante: segundo informou John Porter, numa palestra realizada em São Paulo, em novembro de 1997, dos 800 novos convertidos naquele ano, o movimento perdeu 500! Uma perda de quase 65%. A ICI tem como desafio principal trazê-los de volta ao rebanho de McKean.
A Presunção da Igreja Internacional de Cristo.
A Igreja Internacional de Cristo julga ser a única e verdadeira igreja de Cristo, formada por verdadeiros discípulos, pois afirma ter restaurado o discipulado bíblico. Somente a ICI possuiria as características da verdadeira igreja: ensino bíblico, amizades, união, disposição financeira, alegria e crescimento diário. Declarou Kip McKean: Com essa convicção das Escrituras, veio a característica principal, só encontrada em nosso movimento – a igreja verdadeira e composta só de discípulos. (...) Não conheço nenhuma outra Igreja, grupo ou movimento que ensine e pratique o que ensinamos.
Na prática, consiste em que cada recém-chegado ao movimento fique sob os cuidados de uma outra pessoa, que será, daí por diante, seu discipulador, a quem o neófito prestará contas de tudo o que fizer ou desejar fazer. O discípulo deverá confessar seus pecados diariamente fazendo uma lista deles e entregando ao discipulador, baseando-se em Tiago 5:16. Deve estar disposto a ir a qualquer lugar, deixar qualquer coisa, incluindo emprego, faculdade, enfim, tudo o que o discipulador determinar. Deve prestar contas de seu dízimo e de suas atividades de proselitismo: "Quantos você convidou? Por que não convidou? Quando vai convidar? Você já orou hoje? Por que você não veio na reunião de quinta-feira? Você diz que estava doente, mas por que não se esforçou e veio assim mesmo? Seja radical!" (CCAP, 2009) Segundo o movimento, um discípulo verdadeiro faz discípulos, senão, não é um cristão verdadeiro. Se o discipulador entender que houve falhas, a pessoa discipulada era severamente repreendida do ponto de vista emocional, reforçando a dependência emotiva com o movimento. (Obs.: eu mesmo fui testemunha e alvo desse tipo de abordagem, quando cursava a UFRJ. Conheci muita gente quebrada emocionalmente, com a vida destruída, por causa dessa abordagem maligna por parte dos membros dessa seita. Haviam saído da seita, mas os danos emocionais estavam feitos - pessoas inteligentes, que passaram a buscar ajuda psicológica profissional pelo estado em que ficaram após 1-2 anos de seita)
Refutação: A imputação de culpa e fobias é uma parte importante na metodologia de discipulado da ICI. O verdadeiro discipulado baseia-se no amor e na profunda dependência do Espírito Santo. Nenhum cristão é chamado para policiar e dominar a vida espiritual dos seus irmãos (Gl 5.5; 2 Co 1.24; Rm 14; Jo 8.31). Quanto à confissão de pecados, que o discípulo na Igreja de Cristo Internacional é obrigado a efetuar, baseando-se em Tiago 5;16, que diz "confessem os seus pecados uns aos outros", convém lembrar que este é um ato recíproco, nunca unilateral. Nessa igreja o discipulador ouve o discípulo confessar seus pecados, mas não confessa os seus próprios ao discípulo, uma vez que o discipulador tem, também, seu próprio discipulador. Ora, o "confessem os seus pecados uns aos outros" indica reciprocidade, ou seja, é toma-lá-dá-cá, do mesmo modo que encontramos na Bíblia:
- "Amai-vos uns aos outros" (João 13:34; 15:12, 17; Romanos 12:10; 1ª Tessalonicenses 4:9; 1ª Pedro 1:22; 1ª João 3:11, 23; 4:7, 12; 2ªJoão 1:5).
- "Perdoai-vos uns aos outros" (Efésios 4:32; Colossenses 3:13)
- "Suportai-vos uns aos outros" (Efésios 4:2; Colossenses 3:13)
- "Aconselhai-vos uns aos outros" (Romanos 15:14; Colossenses 3:16)
Relações familiares: Se a família do membro não responde às tentativas agressivas de recrutamento, o membro da igreja é regularmente exortado por seus líderes a rejeitar as relações com os membros familiares, a favor da sua nova "família espiritual". Como 80% das pessoas que fazem parte do Movimento de Boston estão entre as idades de 18 a 28 anos, normalmente elas se separam dos pais, e às vezes seus cônjuges também são abandonados, porque não quiseram se unir ao Movimento.
Refutação: Essa forma de pensar é conhecida como Pelagianismo. Foi rejeitada pela Igreja no 5° século. No século V, Pelágio havia debatido ferozmente com Agostinho sobre este assunto. Agostinho mantinha que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao pecado e não pode não pecar.
Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão afetara apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazê-lo e embora considerasse Adão como "um mau exemplo" para a sua descendência, suas ações não teriam consequências para a mesma, sendo o papel de Jesus definido pelos pelagianos como "um bom exemplo fixo" para o resto da humanidade (contrariando assim o mau exemplo de Adão). Isso é exatamente igual ao modo da ICI encarar o Senhor Jesus: Apenas como um bom exemplo a ser seguido.
O pecado original (hereditário) não consiste na imitação de Adão (como pretendia Pelágio), mas na falta e corrupção da natureza humana, gerada naturalmente da semente de Adão (Gn 6.5; Sl 51.5; Jr 17.9; Mt 15.18-20; Rm 1.21-25; 3.9-23; 5.12-19; Ef 2.1). B. B. Warfield, um teólogo da cidade de Princeton, considerou o Pelagianismo “a reabilitação da visão pagã do mundo”, e concluiu com grande clareza: “Há duas doutrinas fundamentais sobre salvação: a que ensina que a salvação vem de Deus, e que ensina que a salvação é vinda de nós mesmos. A primeira é a doutrina fundamental do Cristianismo; a última, do paganismo universal”. (Horton apud Neto, 2009)
Vida após a morte: Dividem a humanidade em dois grupos: os justos (membros da ICI) que vão para o céu e os ímpios que vão para o inferno. Como "ímpios" designam todos os que não fazem parte da ICI, mesmo que afirmem ser cristãos ou discípulos de Cristo.
Conclusão:
A Igreja de Cristo Internacional é um grupo sectário que deve ser evitado. Junto com sua doutrina errada de que o batismo é necessário para salvação, é também um grupo legalista, manipulativo e que usa culpabilidade e doutrinas aberrantes para manter seus membros em submissão. Destruiu muitas vidas e continua afastando muitas pessoas do verdadeiro Cristianismo.
A ICI é uma seita agressiva e perigosa, porque suas doutrinas parecem estar superficialmente alinhadas com a ortodoxia. Seus adeptos, na maioria, são sinceros no que crêem (Jo 16.2). Todavia, os ensinos dessa seita levam as pessoas para bem longe de Jesus e criam, na mente de seus adeptos, uma frustração sem precedentes, pois o seu ideal espiritual nunca é tangível. É como diz Provérbios 14.12: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte”. Conforme disseram Stephen Arterburn e Jack Felton, a “fé tóxica é um relacionamento perigoso e destrutivo com uma religião que permite que a religião, não o relacionamento com Deus, controle a vida da pessoa”. (CCAP, 2009)
FONTES:
- Site de ex-membros da Igreja de Cristo de Boston: http://www.reveal.org/
- Christian Apologetics and Research Ministry, por Matthew J. Slick, B.A., M. Div.
- "A Igreja de Cristo Internacional - Boston ". Disponível na internet em http://www.cacp.org.br/pseudocrista/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=1917&menu=11&submenu=1. Acesso em 23/12/2009.
- Pelagianismo: A Religião do Homem Natural. Primeira Parte: Um Pouco de História. Michael S. Horton. http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm. Consultado em 30/12/2009.