domingo, 12 de novembro de 2023

RESULTADO DO NOVO NASCIMENTO PELO ESPIRITO SANTO: AS DUAS NATUREZAS E A GUERRA INTERIOR


¹⁶ Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
¹⁷ Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
¹⁹ Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia,
²⁰ Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
²¹ Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
²² Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. 

(Gálatas 5:16,17,19-22)

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Como vimos no artigo anterior (se quiser rever, clique aqui: A OBRA REDENTORA DE CRISTO NA ALMA HUMANA: O NOVO NASCIMENTO ), Jesus explicou a Nicodemos que a imperiosa necessidade do homem em relação a Deus é nascer de novo. O novo nascimento, com a implantação da natureza divina pelo Espírito Santo no interior humano quando este se identifica com Cristo e o reconhece como Seu único Salvador e Senhor. É preciso nascer de novo, uma vez que estamos mortos em nossos delitos pecados, como ensina o apóstolo Paulo (Efésios 2:1), sendo o novo nascimento então a nova geração da vida espiritual genuína (ou seja, aquela que volta-se exclusivamente para Deus) no espírito humano.

Parênteses: No que se refere à criação do homem por Deus, todo homem (e mulher) é composto por três partes: corpo, alma e espírito: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (1 Tessalonicenses 5:23)  O corpo, parte física de quem somos, é a “tenda terrestre”, a conexão com este mundo, pelo qual experimentamos o reino natural. A alma é o centro das decisões. Na alma vive sua mente, vontade, emoções e personalidade e é a nossa parte espiritual, sendo criada por Deus quando Ele, em Gênesis, soprou nas narinas do corpo feito do pó da terra (parte física) o fôlego da vida: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." (Gênesis 2:7). O espírito é a parte espiritual do homem que permite a conexão com Deus. É a parte mais íntima do seu ser, o seu centro, a fonte da sua identidade. O espírito é a parte mais profunda do nosso ser, que tem a função de possibilitar a comunhão perfeita com Deus. O espírito e a alma estão intimamente ligados; só Deus conhece a "linha divisória" entre eles, onde acaba um e começa o outro.

Nenhuma outra criatura foi criada por Deus com esta terceira parte, o espírito, apenas o homem. Sem o novo nascimento a comunhão com Deus, que é Espírito, é impossível. Com o novo nascimento, nosso espírito renasce, possibilitando com isso possamos ter comunhão com Deus. A alma, centro das decisões, pode assim escolher manter comunhão com Deus, usando para isso o espírito renascido. No entanto, perceba que o novo nascimento refere-se tão somente ao espírito humano. A alma é a mesma, e o corpo é o mesmo. Logo, como disse antes, há sempre uma escolha a ser feita pela alma: mantenho comunhão contínua com Deus ou não? 

Observe: independentemente do novo nascimento ou, indo mais além, de identificar-se com Cristo e reconhecê-Lo como Seu único Salvador e Senhor, o homem ainda é capaz de pecar. Sim, o novo nascimento não elimina de nós essa possibilidade; continuamos tendo a capacidade de fazer o mal, de errar. A alma pode escolher o errado, independentemente de poder, agora, escolher o certo; pode escolher desobedecer a Deus, independentemente de poder escolher obedecê-Lo. A conclusão é que com o novo nascimento, nós, que tínhamos uma única natureza - pecadores, passamos a ter duas naturezas. A Bíblia vai chamar essas duas naturezas de carne (ou seja, a velha natureza pecaminosa) e espírito (a natureza espiritual, gerada pelo novo nascimento). 

Cada uma dessas duas naturezas tem suas particularidades. A antiga natureza - carnal recusa-se a servir a Deus, inclinando-nos sempre para o terreno (o que a Bíblia vai chamar de mundo, sendo essa inclinação conhecida como mundanismo). Vai nos inclinar para a busca do atendimento das nossas concupiscências (nossos ardentes desejos pelos prazeres que satisfazem nosso ser, independente da natureza moral desses prazeres sob a ótica de Deus). 

Parênteses: Quando falamos em natureza moral dos atos e pensamentos humanos, estamos nos referindo sempre como Deus enxerga esses atos e pensamentos, nunca como a sociedade os vê. A moral da sociedade é, via de regra, contrária a moral de Deus, ensinando como certo aquilo que Deus vê como errado, ensinando como santo aquilo que para Deus é imoral, injusto e ímpio. É bom que fique claro que o padrão moral nunca, em hipótese alguma, será o padrão humano, mas sempre o divino, e que cada um de nós uma dia seremos julgados por Deus pelos nossos atos, analisados com base no padrão de Deus.  

A antiga natureza carnal produz, assim, as obras da carne, como Paulo fala às igrejas que estavam na região da Galácia - Derbe, Listra, Icônio e Antioquia, na Pesídia (leia mais sobre as obras da carne, clicando em: UMA PALAVRA SOBRE AS OBRAS DA CARNE EM TEMPOS DO FIM ). A lista paulina de obras que a carne naturalmente realiza não é exaustiva, mas é muito abrangente: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices e glutonarias - e "coisas semelhantes a estas", acrescenta o apóstolo, exortando-os mais uma vez dizendo que aqueles que cometem tais coisas "não herdarão o reino de Deus". Essas obras da carne são o produto natural da nossa natureza decaída, da nossa corrupção espiritual. Observe que Paulo diz que essas obras da carne "são manifestas", isto é, são bem conhecidas; o mundo está cheio de ilustrações do que a natureza humana corrupta produz, incompatíveis com a influência do Espírito de Deus. Quanto à existência e natureza dessas obras da carne, ninguém pode ignorar, pois estão diariamente diante de nós. São obras das trevas, nunca de Deus; quem as pratica, pratica as obras das trevas e, por implicação direta, do próprio príncipe das trevas, o diabo. 

Em oposição às obras da carne, Paulo fala sobre o fruto do Espírito. Aquelas no plural, pois são variadas; este no singular, pois é único. Esse fruto constitui-se dos aspectos do caráter de Jesus que o Espírito Santo forma no homem quando este é regenerado. Os aspectos individuais desse fruto não são graças isoladas, mas sim interligadas, brotando de uma única raiz e constituindo um todo orgânico, funcionando de modo conjunto na vida de quem nasceu de novo. As obras da carne não têm tal unidade e não são dignas de serem chamadas de fruto. Elas não são o que um homem deveria produzir, e quando o grande Lavrador chegar, não encontrará nenhum fruto ali, por mais cheia de atividade que tenha sido a vida da pessoa.

Agora, observe: o apóstolo Paulo vai dizer que o Espírito (Espírito Santo) e a carne (a natureza carnal) estão constantemente em oposição, um contra o outro. Enquanto o Espírito busca moldar em nós a vida de Cristo, a carne busca nos aprofundar em nossa natureza maligna. A questão aqui, portanto, é a quem serviremos: a carne ou ao Espírito? A quem permitiremos que tome conta da nossa vida? Antes, havia só a carne; agora há também a natureza espiritual, que pode estar ou não sob a influência de Deus. É cada alma que deve tomar essa decisão todos os dias da sua vida sobre a terra. 

Parênteses: É por causa das inclinações (decisões) da alma em direção à carne que vemos os mais escandalosos absurdos no meio cristão. Dar lugar à carne é muito mais fácil que dar lugar ao Espírito, porque dar lugar à carne é parte da nossa antiga natureza. Adultérios, prostituição, incesto, swing (troca de parceiros sexuais), poligamia, orgia, pornografia e todo os demais tipos de imoralidade sexual - práticas incluídas no termo fornicação, do grego porneia - tem sido práticas infelizmente vistas entre aqueles que se dizem cristãos (exemplo: https://revistamarieclaire.globo.com/Comportamento/noticia/2014/09/religioso-casal-cria-site-de-swing-para-troca-de-parceiros-cristaos-e-versiculos-da-biblia.html). Se forem realmente convertidas à Deus, essas pessoas precisam com urgência máxima reverem o que a Bíblia ensina sobre o pecado, se arrependerem e abandonarem essas práticas. O mesmo se aplica às demais obras da carne. O texto paulino é muito claro: o que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus, independente de membresia ou frequência à igreja. "Ficar fora do reino de Deus" é auto-explicativo, mas para não deixar dúvidas, significa ser condenado à perdição eterna! No entanto, quantas pessoas, que se autodenominam cristãs, vivem nelas e dizem que esperam pelo céu! No entanto, o apóstolo é bem claro quanto a isso, não apenas aqui em Gálatas mas em todas as suas epístolas: "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis." (Romanos 8:13)    

Concluindo: No interior de cada crente em Cristo há uma grande batalha sendo travada: a batalha entre a carne e o Espírito. Eles estão em oposição contra um ao outro (Gálatas 5:17). O Espírito e a carne humana são conflitantes entre si de forma irreconciliável. O crente se vê dividido entre essas duas tendências, visto que possui em si mesmo, as duas naturezas que correspondem a essa luta, ou seja, o "velho homem" e o "novo homem".  Assim enquanto a carne nos “empurra” em uma direção, o Espírito de Deus nos puxa para outra: o Espírito Santo nos conduz a vivermos vidas santas; já a carne nos leva a vivermos no sentido contrário. É importante compreendermos que é impossível o cristão estar sobre influência do Espírito e da Carne ao mesmo tempo – ou um, ou outro dominam a nossa vida, cf. Gálatas 5:17. 

O fator decisivo no conflito, e que nos proporciona a vitória, é portanto a presença do Espírito. Sem isso, a fé cristã não seria melhor do que qualquer filosofia ou religião, e certamente não seria superior à lei. Mas é preciso permitir que o Espírito de Deus assuma o controle da nossa vida e isso todos os dias do nosso viver! Somos conclamados a odiar o pecado (a prática pecaminosa) com todas as nossas forças! Se somos realmente cristãos, ou seja, se realmente nascemos de novo, precisamos lutar contra a natureza pecaminosa que há em nós! Isso chama-se mortificação: "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena" (Colossenses 3:5). Somos eu e você, querido(a) leitor(a), que devemos fazer morrer a natureza carnal. Ela não morre sozinha, é preciso matá-la todo o dia! Essas paixões carnais que nós temos não podem ser alimentadas, senão nós não conseguiremos vencê-las jamais e estaremos perdidos. É preciso lutar! Quanto mais lutarmos, mais fortes espiritualmente falando nos tornaremos (o que não significa imunidade ao pecado) e quanto mais fortes, mais devemos lutar!

Note: de acordo com o que estamos falando até agora, concluímos que nenhum cristão na face dessa terra, enquanto aqui estiver, nesse corpo, é impecável. Nenhum! Eu não sou, você também não é. Mas isso não significa que vamos viver na prática do pecado como se o pecado fosse correto, nós que da escravidão do pecado fomos libertos por Cristo! Eventualmente podemos errar e pecar, mas não devemos insistir no pecado, uma vez que sabemos muito bem como Deus vê o pecado. Pecou? Arrependa-se, peça perdão ao Senhor e busque não mais praticá-lo! Deus é fiel e justo; se confessarmos nossos pecados Ele irá nos perdoar: "⁸ Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. ⁹ Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. ¹⁰ Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós." (1 João 1:8-10) Assim, querido(a) leitor(a), se você, nascido de novo, pecou contra o Senhor, vá até Ele! Ele perdoa e purifica todo aquele que vai a Ele com sinceridade e verdade! Arrependa-se e confesse a Ele seu pecado, e então receba o perdão de Deus em sua vida!

Mas pastor, nunca haverá vitória definitiva sobre a natureza pecaminosa? Sim, querido(a) leitor(a), uma dia haverá a extinção completa dessa maldita natureza que nós possuímos, quando então seremos incorruptíveis eternamente diante do nosso Deus. Quando será isso? Quanto nos formos ressuscitados dentre os mortos por Deus (leia I Coríntios cap. 15). Todo aquele que nasceu de novo tem sobre si a promessa de ser corporalmente ressuscitado por Cristo, independentemente do tempo em que tenha morrido! Nossos irmãos e irmãs em Cristo, que faleceram no passado, por mais distante que sejam, um dia serão ressuscitados dos mortos! Todo aquele que creu em Jesus e O recebeu será ressuscitado! A morte física, para estes, não é um adeus, mas sim um até breve! Afirmo: nós tornaremos a ver aqueles que partiram para a eternidade antes de nós! Se filhos(as) de Deus, os veremos ressuscitados, com seus corpos glorificados! 

Para finalizar, o apóstolo Paulo apresenta um mistério: está prometida uma transformação desse corpo para o corpo glorificado do qual estamos falando, antes da morte! A isso chamamos de arrebatamento: "⁵¹ Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, ⁵² num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (1 Coríntios 15:51,52). Escrevendo aos Tessalonicenses, ele explica: "¹⁴ Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. ¹⁵ Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. ¹⁶ Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. ¹⁷ Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1 Tessalonicenses 4:14-17)

Para sua reflexão, ouça a música "O Rei Está Voltando", clicando no vídeo abaixo.

Sim, querido(a) leitor(a): Jesus está voltando! Ele virá mais uma vez a esta Terra, não como o Servo sofredor que Isaías descreve, mas sim como o Rei da Glória! A cada dia que passa mais próximo está o dia do retorno do Senhor; logo, menos tempo nos resta para tomarmos as decisões que implicarão em nosso destino eterno. Vamos falar sobre isso nas próximas postagens! Até lá!

Graça, misericórdia e paz sejam contigo!

domingo, 5 de novembro de 2023

A OBRA REDENTORA DE CRISTO NA ALMA HUMANA: O NOVO NASCIMENTO


¹ Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
² Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
³ A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
⁴ Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?
⁵ Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.
⁶ O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.
⁷ Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.
⁸ O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.
⁹ Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus:
¹⁰ Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? 

João 3:1-10

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Nos dias de Jesus, há mais de 2.000 anos, havia em Israel várias seitas religiosas, com suas ideias e doutrinas diferentes. Uma dessas seitas era a seita dos fariseus, cujo nome muito provavelmente significa "separado", denotando assim o comportamento dos membros desse grupo. De quem os fariseus se separaram? Daqueles, especialmente sacerdotes, que interpretaram a Lei de forma diferente deles? Das pessoas comuns da terra? Dos gentios ou judeus que abraçaram a cultura helenística? De certos grupos políticos? Todos estes grupos de pessoas os fariseus buscavam evitar, por conta de sua resolução de se separarem de qualquer tipo de impureza proscrita pela lei levítica — ou, mais especificamente, pela sua interpretação estrita dela. Por exemplo, eles entendiam que comer sem previamente se lavarem (abluções - Marcos 7:3-4) os tornavam impuros em relação a Deus. Mateus 23 chama a atenção para as suas (1) posições de autoridade religiosa na comunidade, (2) preocupação com reconhecimento exterior e honra, (3) intenso proselitismo e (4) ênfase na observação das minúcias legalistas da lei, interpretadas segundo seu próprio entendimento. Em certa ocasião, Jesus os condenou, não pelo que faziam, mas por negligenciarem “os assuntos mais importantes da lei, justiça, misericórdia e fidelidade”.

A Bíblia, no Evangelho de João, cita nominalmente um desses fariseus: Nicodemos. Ele era um renomado mestre da Lei e também um membro do Sinédrio, conselho judaico que funcionava basicamente como um tribunal legislativo e judicial, composto de sacerdotes, anciãos e escribas, com atribuição de julgar questões religiosas, políticas e judiciais. Na época, havia um Sinédrio maior, chamado de Grande Sinédrio (composto por 70 homens mais o sumo-sacerdote), que era o órgão religioso supremo na Terra de Israel, e pequenos sinédrios locais (composto por 23 homens) nas cidades de Israel.  

As causas mais importantes eram apresentadas pelos judeus ao Sinédrio, na medida em que os governantes romanos da Judéia lhe haviam deixado o poder de julgar tais casos, e também de pronunciar a sentença de morte, com a limitação de que uma sentença capital pronunciada pelo Sinédrio não era válida, a menos que tivesse sido confirmada pelo procurador romano (cf. João 18:31; Josefo, Antiguidades 20, 9, 1). Conforme explica o website Jewish Virtual Library, o Sinédrio julgava os infratores acusados, mas não podia iniciar as prisões. Era necessário um mínimo de duas testemunhas para condenar um suspeito. Não havia advogados. Em vez disso, a testemunha acusadora declarava o crime na presença do arguido e o arguido poderia convocar testemunhas em seu próprio nome.

Por conta dos ensinos de Jesus, que combatiam a hipocrisia dos fariseus (mandavam que outros cumprissem seus ensinos, mas eles mesmos não cumpriam), os membros desse grupo odiavam o Senhor e procuravam matá-lo. O ódio religioso é muito antigo; Jesus, sendo 100% Deus e 100% homem, foi alvo desse sentimento maligno. Aliás, segundo os Evangelhos, o Sinédrio conspirou para matar Jesus pagando a um de seus discípulos, Judas Iscariotes, trinta moedas de prata em troca da entrega de Jesus em suas mãos. No entanto, quando o Sinédrio não conseguiu fornecer provas de que Jesus tinha cometido um crime capital, os Evangelhos afirmam que falsas testemunhas se apresentaram e acusaram o Nazareno de blasfémia – um crime capital sob a lei mosaica. 

Retornando a Nicodemos, este foi encontrar-se com Jesus, à noite. A intenção de Nicodemos era que esse encontro fosse oculto a todos, por vergonha e medo dos demais membros do Sinédrio, que como dito odiavam ao Senhor. As multidões observavam os líderes judeus. Eles queriam saber o que os líderes acreditavam sobre Jesus (João 7:26, 48). Logo, se esse encontro fosse durante o dia, o Sinédrio poderia vir a saber e Nicodemos perderia tudo. Ele não continuaria a ser um homem importante. As pessoas não o respeitariam e ele seria excluído do convívio com seus pares. Toda a sua vida mudaria. Além disso, ele seria acusado de alta traição, estando sujeito a julgamento e condenação.

Parênteses: Muitos não vem a Jesus à luz dos olhos de testemunhas, por medo e vergonha do que dirão a seu respeito. Mas vem a Jesus de modo secreto, oculto, mantendo o anonimato. Tem medo de perder amigos, família, posições, poder e influência. Outros o fazem por medo da morte; há países, ainda hoje, onde ser reconhecido como cristão é equivalente a estar continuamente sob ameaça de prisão e de morte. Não tenho o propósito de julgar as ações dessas pessoas. No entanto, uma verdade é que quem vai a Jesus e que tem ouvidos para ouvir o que Ele diz, acabará inevitavelmente assumindo publicamente o relacionamento com o Mestre.

Muito embora Nicodemos tenha vindo à noite falar com Jesus, posteriormente ele reconheceu Cristo publicamente.  Nicodemos tornou-se um dos discípulos de Cristo, tendo sido atraído pelo amor do Senhor, notoriamente manifesto pelos bondosos sinais sobrenaturais que Jesus frequentemente realizava. Ele decidiu ir até Jesus porque estava faminto por um conhecimento mais profundo do Senhor. E o Senhor não recusou recebê-lo, nem ouvi-lo. É interessante notar que Nicodemos, ao falar com Jesus, usa o termo plural ("sabemos", 1a. pessoa do plural - "nós"), o que poderia implicar que outros fariseus tinham o mesmo pensamento a respeito de Jesus - "és Mestre, vindo de Deus". De qualquer modo, a fala desse homem a respeito de Jesus era extremamente formalista, quase como uma "concessão" (e não um reconhecimento sincero) por aquele que, muito provavelmente, estava cheio de vaidade por causa de sua posição e conhecimento.   

Parênteses: Nicodemos é o tipo de grande número de homens hoje em dia. Todas as pessoas que têm uma espécie de ligação frouxa e superficial com o Cristianismo ecoam substancialmente as suas palavras. Eles elogiam Jesus Cristo por Sua divindade e por Sua obra redentora, e parecem pensar que estão conferindo uma honra ao Cristianismo quando condescendem em dizer: "Nós, os eruditos especialistas em literatura; nós, os árbitros do gosto; nós, os guias de opinião; nós, os redatores de jornais, revistas e periódicos; nós, os líderes dos movimentos sociais e filantrópicos, reconhecemos que Tu és um Mestre." 

Apesar da fala superficial de Nicodemos, Jesus o conhecia. Jesus conhecia não apenas as suas palavras, mas os seus sentimentos, seu interesse em saber mais sobre Ele; conhecia, principalmente, qual era a real necessidade daquele homem. Deus conhece além das nossas palavras que dizemos: Ele conhece o nosso real interior! Ele sabe o que realmente estamos querendo quando nos aproximamos Dele, quando oramos e o que dizemos em oração! As palavras bonitas não impressionam a Jesus, mas a realidade do coração sim; mesmo as palavras ditas sem qualquer eloquência ou retórica, se ditas do fundo da alma, em contrição e fé, são palavras que o Senhor ouve e atende! 

Qual era a real necessidade de Nicodemos? Jesus disse a ele: é nascer de novo: "A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". O novo nascimento era e continua sendo a necessidade mais básica e a mais importante que ele, eu e você possuímos! É mais importante que qualquer outra necessidade que tenhamos ou que venhamos a ter. Esse novo nascimento é que nos possibilita sermos súditos do Rei dos reis e servos do Senhor dos senhores, súditos e servos de Jesus! O novo nascimento, ou regeneração, é uma grande transformação espiritual realizada em todos aqueles que crêem e recebem a Jesus como Senhor e Salvador, operada no interior humano pelo Espírito Santo. Logo, o novo nascimento é inseparável do arrependimento e da fé. 

A pessoa nascida de novo vive na certeza de que, a justiça de Deus lhe foi imputada, e agora, lhe foi proposta uma nova orientação moral, baseada numa nova criação na semelhança de Cristo (2 Coríntios 5:17: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."). A regeneração não leva o homem a perfeição sem pecado, mas leva a renúncia, dia após dia, da irreligiosidade e das paixões mundanas, para que “vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tito 2:12).  É a transformação do coração do homem, onde a vida divina é transmitida a alma humana (João 3:5; I João 5:11,12), como concessão de uma nova natureza (II Pedro 1:4: "Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo."). 

Deus já havia dito, no Antigo Testamento, por meio dos seus profetas, que operaria uma transformação no interior humano. Assim, por meio do profeta Jeremias, Deus disse: "⁷ E dar-lhes-ei coração para que me conheçam, porque eu sou o Senhor; e ser-me-ão por povo, e eu lhes serei por Deus; porque se converterão a mim de todo o seu coração." (Jeremias 24:7). Usando o profeta Ezequiel, por duas vezes Deus prometeu dar ao Seu povo... um novo coração! Esse novo coração os possibilitariam a obedecer a Deus: "¹⁹ E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; ²⁰ Para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Deus." (Ezequiel 11:19,20; Ezequiel 36:26,27). Note que, como dissemos, é esse novo coração - coração de carne e não de pedra, ou seja, um coração sensível à voz de Deus - que torna o homem capaz de andar e guardar a Palavra de Deus. Isso era algo que Nicodemos devia saber por ser mestre em Israel, mas que no entanto ignorava completamente, como disse Jesus (João 3:10). 

Esse novo nascimento é feito em nós pelo Espírito Santo. Observe que não é, em hipótese alguma, voltar a nascer como nascem todos os homens. Não é voltar ao ventre materno e ter novo corpo, como erroneamente ensina o espiritismo kardecista. Não é, portanto, reencarnação, ensino contrário a tudo o que a Bíblia ensina. Permita-me enfatizar: o novo nascimento é operado pelo Espírito Santo de Deus, que é Deus, na alma de um homem ou mulher já nascido(a), que se arrepende dos seus pecados e que aceita a Cristo como Salvador e Senhor, levando-o(a) a viver segundo a Vontade de Deus. É somente por essa transformação que podemos ser, então, filhos(as) de Deus: "¹² Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; ¹³ Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:12,13). Há poder sobrenatural, poder de Deus, para que sejamos transformados em filhos(as) de Deus, poder este que é operado por Deus em nossa alma! Para sermos membros da família de Deus, Deus precisa nos comunicar Sua vida e natureza! É um ato de Deus e não do homem, onde a natureza do Deus vivo é implantada no homem quando este homem crê e recebe a Cristo em Sua vida como Senhor e Salvador e aceitá-Lo implica, obrigatoriamente, em identificar-se com Cristo em todos os aspectos! (veja mais: RESGATANDO O CONCEITO BÍBLICO SOBRE A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO (PARTE 7): A EXPIAÇÃO ).

Parênteses: Observe com atenção: o novo nascimento não é o mesmo que frequentar igreja, ainda que isso tenha o seu lugar. Leia mais sobre em ENTRAR PARA A IGREJA NÃO É O MESMO QUE CONVERSÃO

Por que precisamos nascer de novo? A conclusão mais óbvia possível é porque estamos mortos! Isso mesmo: estamos mortos em nossos delitos e pecados, desde que Adão pecou. Paulo nos ensina isso de forma muito clara: "¹ E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados" (Efésios 2:1). Mortos para com Deus, por conta da nossa natureza corrompida que possuímos, que nos leva contínua e crescentemente para longe de Deus. Chamamos isso "morte espiritual", como já explicamos em outra postagem (ver: CRISTIANISMO BÍBLICO FOR DUMMIES - I ). O novo nascimento é portanto a revivificação: o homem sai do seu estado de morte espiritual e desunião, e entra numa vida espiritual de união e comunhão com Deus.

A base mais profunda da necessidade do novo nascimento reside, desse modo, no fato do pecado. Querido(a) leitor(a), a afirmação enfática e urgente de nosso Senhor é facilmente testificada a partir de um simples e honesto exame das profundezas de nossos próprios corações à luz de Deus. Pense no que significa quando dizemos: 'Ele é Luz, e Nele não há escuridão alguma.' Pense naquela pureza absoluta, que, para nós, é uma terrível aversão a tudo o que é mau, a tudo o que é pecaminoso. Pense em que tipo de homens devem ser aqueles que podem ver o Senhor. E então olhe para si mesmo. Estamos preparados para ultrapassar esse limite? Estamos preparados para contemplar esse rosto? É possível que tenhamos comunhão com Ele? Se meditarmos corretamente sobre dois fatos, a santidade de Deus e nosso próprio caráter, sentiremos a real necessidade daquilo que Jesus Cristo realmente declarou o caso quando disse: “Deveis nascer de novo”. Sem essa profunda transformação, não há Céu para nós; não há comunhão com Deus para nós. Devemos estar diante Dele e sentir que um grande abismo está estabelecido entre nós e Ele, de forma a irmos à Jesus e então sermos pelo Espírito Santo regenerados!

Agora, pergunto: você já foi até Jesus, aceitando-O como Seu único e suficiente Senhor e Salvador? Sem isso, querido(a) leitor(a), as portas do Reino de Deus permanecerão cerradas diante de você. Você está e continuará de fora do Reino! E, naquele grande dia quando Cristo voltar à Terra, você ficará eternamente do Senhor. Deus respeita e respeitará sempre a sua escolha; no entanto, hoje Ele lhe concede a oportunidade de mudar o seu futuro em relação a Ele. O que Ele falou com Nicodemos fala com você também: você precisa nascer de novo! Essa é a sua mais importante necessidade! E essa necessidade é totalmente independente de quem você seja, de quaisquer grandes privilégios que você possa herdar por seu nascimento natural ou educação, ou religião, ou a posição que ocupa na sociedade civil ou religiosa. Todos os homens, sem exceção, precisam nascer de novo se querem entrar no Reino de Deus, se querem ser filhos de Deus!

Para sua meditação, ouça o hino abaixo:

 Graça, misericórdia e paz lhe sejam multiplicadas!