sexta-feira, 6 de julho de 2018

O SERVIÇO DE ADORAÇÃO CRISTÃ E OS CULTOS CRISTIANIZADOS: O ENSINO BÍBLICO SOBRE O GENUÍNO CULTO CRISTÃO

"Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto." (Mt 4.10)

O serviço de adoração cristã, também conhecido como culto cristão, é de forma básica o centro e o propósito da vida do homem convertido a Cristo. Quem entregou a vida ao Senhor Jesus possui ou deve possuir em sua vida a contínua "ambição" de adorá-Lo, quer de forma pública quer na vida privada; esta ambição é impulsionadora, levando a ações de adoração ou que promovam a adoração a Deus. Mais do que somente um culto, adoração é um estilo de vida (Sl 34.1; 1 Co 10.31; Cl 3.23). Adorar é amar a Deus (Mt 22.37-38).

Há princípios para o culto cristão, é bom que se diga. Se o culto é para Deus, então deve buscar agradar a Deus (e não necessariamente ao homem). E como a fé cristã é revelada pelo próprio Deus, então devemos buscar na Bíblia os princípios que devem nortear a adoração cristã. Assim, nosso Senhor nos ensinou que Seu Pai e nosso Pai, Seu Deus e nosso Deus, procura homens que O adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23). Como o Pai procura esse tipo de adorador, é óbvio concluir que Ele se satisfaz com aquele que O adora desse modo e com esta adoração. Portanto, a conclusão é que não se agradará com outro tipo qualquer.

A adoração em espírito é uma autêntica. A autenticidade depende do coração da pessoa, não dos atos externos. Não é dependente de ritos ou tradições. Depende sim da atitude, motivação e sinceridade. A oferta de Abel foi aceita e de Caim rejeitada não por causa do que ofertaram, mas por causa do coração (Hb 11:4). O culto de Israel pré-cativeiro tinha elementos litúrgicos e ritualísticos, mas não tinha atitude e sinceridade (Is 1). Deus é espírito e a adoração deve ser feita em espírito, sem dependência de qualquer objeto (instrumentos musicais, bancos, púlpito, etc.). Estes objetos não são necessariamente errados ou proibidos, mas não são essenciais. Por sua vez, a adoração tem que ser correta, de acordo com a Palavra de Deus e Jesus Cristo (os dois são chamados de “verdade”; Jo 17:17; Jo 14:6). É a adoração "em verdade". É uma adoração de quem busca viver segundo a Verdade (escrita e viva), ou seja, não é uma adoração hipócrita, de quem esconde-se por detrás de religião para ocultar seu verdadeiro eu, seus sentimentos e ações.  A adoração sincera, feita do coração, mas não segundo a verdade bíblica, ou de acordo com os princípios bíblicos, não é uma adoração aceitável a Deus (exemplo: a adoração sincera que se faz a um ídolo, seja ele de escultura ou de carne e osso). Uma adoração feita de forma correta, mas sem o coração e a sinceridade, também não é uma adoração aceitável a Deus. A verdadeira adoração é a que reune tanto a sinceridade do coração como a forma bíblica correta.

Vejamos mais alguns princípios bíblicos para o culto cristão, conforme explica o pr. Pr. Kenneth Eagleton, em sua obra "O Culto Cristão":

1. O culto deve ser oferecido com todo o coração, amor e vontade. Culto por obrigação ou por rotina ou rito não tem valor – Is 29:13; Os 6:6; Mt 15:8-9.

2. O culto não depende de lugar físico ou geográfico (Jo 4.21). O culto cristão não é realizado em templo como no AT. O “templo” (prédio) de uma igreja cristã não é sagrado. Deus está presente em todo lugar. O culto pode ser celebrado em prédio próprio, alugado, casa ou mesmo debaixo de uma árvore. A ideia de um Deus territorial, limitado pela geografia, encontra-se nas religiões pagãs ou animistas. Fazer oração ou culto no monte (montanha) não tem mais poder do que em outro local. Esta ideia também se encontra no paganismo (Torre de Babel, Gn 11.4; lugares altos das religiões pagãs, 1 Re 13.33).

3. É feita "com decência e com ordem" (I Co 14.33,40).

4. Não possui vãs (e cansativas) repetições (Mt 6.7).

O culto cristão pode e deve conter músicas (letras e ritmos pré-selecionados, refletindo verddes bíblicas e gloficando ao Senhor Jesus, de preferência cânticos congregacionais de amplo conhecimento, para que todos possam participar - lembre-se: a música não é o foco do culto e o culto não é show musical), instrumentos musicais (não há restrição bíblica para o tipo de instrumento), ensino bíblico, leitura da Palavra de Deus, pregação ou sermão (um ensino, um desafio, encorajamento ou uma advertência baseada na Palavra), oração (pode ser de dedicação do culto a Deus, louvor, gratidão, confissão de pecados, intercessão por outras pessoas e também de pedidos pessoais ou do grupo), testemunhos e bênção apostólica. Pode ter a celebração da Ceia do Senhor. Pode ter batismo nas águas de novos discípulos. Pode ensejar ações de libertação (quando há manifestação de demônios durante o culto). Pode ter coletas (de dinheiro, de comida, etc.). O importante é nunca perder o foco, do porquê e o quê estamos fazendo ali - Jesus é o porquê e a adoração a Ele é o quê. Sempre. Ele SEMPRE deve ser TUDO em nós!  

Hoje, infelizmente, vivemos uma época de apostasia generalizada da Bíblia. Muitos líderes cristãos estão se desviando da fé bíblica em prol de crescimento númerico e financeiro, do aumento de projeção e poder pessoal e temporal. Não estão preocupados com o que a Bíblia tem a dizer sobre seus atos. Com isso, há uma inserção de elementos espúrios e antibíblicos no culto cristão, um sincretismo perigoso que tem gerado reprovação da parte de Deus. Deus reprovou durante TODO o Antigo Testamento o culto sincrético de Israel; não temos o direito de presumir que Ele o aceitará agora da Igreja, isso seria uma grande tolice.  Esses elementos sincréticos (combinação de práticas cristãs com as de outras religiões), não só do catolicismo, mas principalmente do espiritismo ou animismo (por exemplo, o uso de amuletos e elementos como o sal grosso e o sabonete de arruda para o afastamento e a proteção contra os maus espíritos, dança em giras, mesa de orações, etc.) são desvirtuados da verdade e, portanto, não são expressões de adoração válida.

Esse tipo de culto é, assim, muito interessante para os donos de igreja, senhores de escravos espirituais. O fiel passa a depender do "ungido”, do "homem de Deus", com sua oração forte, autoridade de expulsar demônios, determinador de dia e hora de bênçãos, invocador de anjos, dom de abençoar objetos e capacidade de declarar bençãos e determinar prosperidade, para conseguir o favor de Deus. O fiel se sente distanciado de Deus e dependente do clero, intermediário entre o fiel comum e as bençãos de Deus. A procura por Deus no culto público passa a ser utilitarista, focada principalmente na busca e no agradecimento de suas bençãos. É Deus meio para um fim.

Resume-se esses cultos em 2 coisas: no dualismo e na performance. O dualismo assume que existem duas entidades separadas - bem e mal - que são igualmente poderosas. No dualismo “cristão”, Deus representa a boa entidade e Satanás representa a entidade do mal, ambas com poder equivalente, que estão em constante luta pela vida do fiel. O fiel, assim, precisa da mediação do ungido/profeta/Mr.Kodak o qual detém os "dons certos" que ativam a vitória. No entanto, a verdade é que, embora Satanás tenha algum poder, ele não é igual a Deus Todo-Poderoso, pois ele foi criado por Deus como um anjo antes de se rebelar. Foi criado e sempre será isso: uma criatura, eternamente ínfima e desprezível perante Aquele que é, que era e que há de vir! Segundo as Escrituras, não há dualismo, não há duas forças opostas de igual poder chamadas bem e mal. O bem, representado pelo Deus Todo Poderoso, é a força mais poderosa do universo sem exceção. O mal, representado por Satanás, é uma força menor que não é páreo para o bem. O mal sempre será derrotado em qualquer luta cara a cara com o bem, pois o Deus Todo-Poderoso, a essência do bem, é todo-poderoso, enquanto o mal, representado por Satanás, não é. Nem a vida cristã e muito menos a adoração cristã deve ser dualista: servimos a Deus por gratidão e por Seu Incomensurável Ser Eterno, por Sua Grandiosidade, Majestade, Glória, Poder, Soberania, Amor, Redenção, etc. Nunca por causa do medo do diabo, de maldições, etc. Aliás, o medo (NUNCA O AMOR) rege esses cultos, enfatizado pelo Kodakman: "deus está me revelando... sua vida está debaixo de maldição... to vendo um demônio correndo no seu quarto... tem outro ali no seu relógio... o diabo isso, o diabo aquilo...". Fala-se 99% mais no diabo do que em Deus, mais em maldições do que na Cruz.

Outro ponto é a performance. Esses cultos focam na pirotecnia espiritual. São cultos onde é criada propositalmente uma atmosfera sobrenatural, mística, na qual "o milagre vai acontecer", "grande culto da vitória e da conquista, você não pode perder". e assim vai. Dá a entender que os outros cultos não são nada, esse é o culto onde Deus marcou (sic) o dia da vitória. As músicas são estrategicamente selecionadas para aumentar ainda mais as expectativas (não como um suporte na adoração) e a pregação, quando há, ou tem foco no "poderoso Kodakman" ou no diabo ou na bênção ou nos três ao mesmo tempo. Esqueça exegese e hermenêutica, esqueça Cristo e a cruz em cultos desse tipo. Simplesmente não são o foco. O nome de Cristo é usado em vão, como o "garantidor da bênção naquele dia", um meio para um fim: é o Cristo sendo tornado ídolo no modelo utilitarista desses cultos. Tem Igrejas que montam grupos especiais para esses cultos - são chamados "grupos de libertação", geralmente composto por mulheres uniformizadas que se assentam ao redor de uma mesa (as "Kodakwomen") e ficam dali palpitando na vida dos outros sobre o que não entendem. Sobre esses grupos de libertação, o pr. Caio Fábio escreve: "Sobre o grupo de libertação, o que penso é simples: não há grupo de libertação, pois em nome de Jesus todos podem e devem ajudar a todos no caminho da libertação. Também não há dias especiais para isto, posto que todos os dias devem ser dias de expectativa de libertação e cura. Também devo dizer que quando a Palavra do Evangelho é pregada com graça, verdade, sinceridade e unção, todas as coisas acontecem. A Palavra cura e liberta. Porém, eu creio e pratico a oração com imposição de mãos para cura e libertação espiritual, também conforme Jesus nos evangelhos. Mas isto é tão natural quanto qualquer outra coisa. Afinal, era assim com Jesus. Ou seja: veja se Jesus marcava dias de curas... veja se Ele distinguia uma coisa da outra... veja como Nele tudo acontecia sempre, porém com total espontaneidade e senso de propriedade."

Ele prossegue em sua análise: "Todas essas coisas da religião são como “sacrifícios de bodes e touros”. Ou seja: têm valor de uma catarse psicológica, gerando uma sensação de alívio; mas não produzem a libertação mesmo, sendo apenas um paliativo psicológico. Digo que são “sacrifícios de bodes e touros” pois não realizam a obra do descanso na fé e na Cruz, de uma vez por todas, mas apenas criam gente viciada em se “libertar” todas as semanas; assim como uma beata vai a uma missa buscar uma “remissão de pecados” para aquele dia." 


Então, conclui: "Quando a verdadeira consciência do Evangelho da Graça nos possui, a gente passa a crer e ver que a Verdade, sendo pregada e praticada, produz toda sorte de libertações. E a verdade não é apenas a Verdade que se prega, mas também a verdade que o Evangelho faz as pessoas enxergarem nelas mesmas como revelação das causas de suas opressões, as quais, saiba: na maioria das vezes são produto dos “demônios psicológicos” que as almas culpadas, com baixa auto-estima, cheias de insegurança, e viciadas na barganha com as divindades, criam em si próprias a fim de culparem “um diabo” exterior, enquanto elas mesmas não se enxergam, e, por essa razão, nunca ficam libertas. A obra do diabo é criar cultos mágicos de libertação que apenas usem o nome de Jesus, mas não libertem as pessoas do medo de Deus, que é o que as impede de se confessarem, e se entregarem de vez ao amor de Deus para cura de suas vidas. A maioria dos demônios que se manifestam nos cultos evangélicos de libertação são “entidades próprias”; e seus donos são os que pedem para ser libertos enquanto não desejam que a Verdade os cure pela revelação da verdade acerca deles mesmos. Assim, o diabo leva a culpa dos pecados dos crentes, e ainda é feito culpado das culpas dos crentes! Se tivesse que comprar eu diria que o diabo é o bode expiatório no “arraial dos crentes”. Porém, somente o Cordeiro de Deus ‘tira’ o pecado do mundo!" (https://www.caiofabio.net/conteudo_detalhe.php?codigo=01832)

Todo esse negócio de culto onde Jesus e Sua obra não são o centro na adoração é negócio cultual. É motivado por grana, por poder, por soberba. Por despeito. Por rixa. Já viu como tem confusão nessas reuniões? Como o "ungido" ou as "ungidas" polarizam a igreja entre aqueles que "estão a favor daquele tipo de reunião e, portanto, são de Deus" e aqueles que "são do inimigo porque estão contra"? "Deus me revela que tem gente contra esse culto, e blábláblá"... Se traz essa desunião, pode até ser vontade do dono de igreja que o culto exista, mas nunca do Verdadeiro Dono! Irmão do diabo porque discorda? Que heresia é essa? Quem são essas pessoas para dizerem com tanta ceteza que alguém é de Deus ou do diabo? Para determinarem isso ou aquilo? Isso é um grande atrevimento! Crentes antigos, irmãos amados, sendo taxados de filhos das trevas por discordarem desse sincretismo?

Para concluir, devemos dizer que Cura e libertação etc. acontecem sem haver dia marcado, sem horário marcado, sem agenda prévia; são fruto da pregação do Evangelho que é "poder de Deus". Culto de conquista não existe - é antibíblico até no nome, pois homem nenhum é capaz de conquistar coisa alguma - ou recebemos de graça pela Graça ou não recebemos.  Aliás, se o diabo detém qualquer coisa que Deus queira fazer na vida humana, qualquer bênção, então o diabo é no mínimo tão poderoso quanto Deus e aí voltamos ao dualismo. O propósito do culto cristão é adorar coletivamente ao Senhor, resultado da vida de adoração particular. O que passa disso é culto cristianizado, sincrético, misturado e bolorificado: o primeiro é expressão de vida espiritual, já o segundo só traz tribulação!


Querido(a) leitor(a): se você está frequentando, ou pensando em frequentar um culto assim, meu conselho é que você deixe disso imediatamente. Como não há base bíblica alguma nesses cultos, tudo pode acontecer.  Por exemplo, na África do Sul uma jovem morreu após o dito ungido ordenar que ela deitasse com um alto-falante sobre o peito, como prova de fé em milagres (veja: https://noticias.gospelmais.com.br/mulher-morre-culto-pastor-alto-falante-torax-85011.html). Noutro caso "mais brando", o ungido mandou o fiel abrir a boca e cuspiu dentro (veja: https://segundoevangelho.com/pastor-cospe-agua-dentro-da-boca-de-fiel-em-culto-neopentecostal/). Ou seja, tudo é livre, tudo é plenamente justificado, afinal é o ungido que sabe o que é necessário "ser feito em você" para que você alcance a vitória, não importando o que a Bíblia ensina. É a ética de Maquiavel, pura e simples.  




Pense nisso. Graça e paz!