Vendem-se casas. Casas são vendidas. Qual é o sujeito da frase? Quem executa a ação "vender"? Não dá para saber, o sujeito é indeterminado. A única coisa conhecida é que um sujeito desconhecido, indeterminado, tem uma ação conhecida e determinada: vender. Há que se perguntar se o sujeito aqui, em questão, vende o que é dele ou de outrem. Infelizmente, há muitos que vendem o que não lhes pertencem. Lucram às custas da perda de outros, repassando por preço o bem sobre o qual não tem nenhum tipo de direito de posse ou de venda. Simplesmente, apossaram-se daquilo que não lhes pertencia e agora estão a vender tal coisa para incautos e ignorantes, ou até mesmo para espertalhões. Afinal, se há uma verdade no mundo dos malandros é que sempre haverá alguém mais malandro do que o outro. Há sempre enganadores e enganados; um enganador hoje pode ser o enganado de amanhã.
Mas voltemos ao vender. No mundo, há muitas coisas que podem ser vendidas. Casas, roupas, jóias, brinquedos... até mesmo almas dos homens. A ganância, a sede de lucro, é de tal intensidade que nem mesmo os bens espirituais são ignorados. A Bíblia nos mostra que vender almas é algo possível e típico de pessoas sem Deus, cuja motivação mais íntima é vender, vender e vender: "mercadorias de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho fino, de púrpura, de seda e de escarlata; e toda espécie de madeira odorífera, e todo objeto de marfim, de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de mármore; e canela, especiarias, perfume, mirra e incenso; e vinho, azeite, flor de farinha e trigo; e gado, ovelhas, cavalos e carros; e escravos, e até almas de homens" (Ap 18.12,13). Que pessoas são essas? São pessoas que espiritualmente habitam numa cidade chamada Babilônia, uma cidade espiritual, terrível, maligna, onde ninguém respeita ninguém, nem respeita coisa alguma.
Infelizmente, não poucos são aqueles que vivem nesta cidade. Sim, porque pelo comportamento continuado vê-se facilmente a origem pátria. Afinal, humanamente falando, é fácil identificar um estrangeiro em solo nacional, quer por suas roupas, quer por seus costumes, quer por seu comportamento, quer por sua fala. Porém, o mais terrível é que há moradores nesta cidade que, por definição, não deveriam jamais habitar nela. Tratam-se dos cidadãos do Reino de Deus. Para entender a amplitude do problema, é preciso primeiro entender como alguém torna-se cidadão do Reino de Deus. Em sua obra The Pilgrim's Progress (O Peregrino), o antigo escritor cristão e pregador John Bunyan ilustra o processo pelo qual um homem muda de nacionalidade espiritual.
Resumidamente, a mudança de nacionalidade envolve (1) o reconhecimento de que é pecador, (2) fugir em direção à porta estreita (Mt 7.13,14) e (3) chegar-se à Cruz de Cristo, onde lhe cairá o fardo dos ombros, será justificado, e receberá um vestuário e um diploma de adoção na família de Deus, ou seja, será considerado nova criatura, filho de Deus, salvo por Cristo e reservado para vida eterna. Quando isso acontece, dizemos que aquela pessoa foi "comprada" para Deus pelo sangue de Cristo: "E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação" (Ap 5.9). Pelo sangue de Jesus, derramado no Calvário, fomos comprados para Deus, para sermos propriedade exclusiva Dele, e para vivermos para a glória de Deus. Esse resgate não foi mediante ouro ou prata, ou coisas corruptíveis!
O preço do resgate do homem do pecado, das trevas, do diabo foi o preço do sangue de Jesus, derramado por ocasião de Sua morte na Cruz do Calvário. Esse preço foi pago a Deus, o preço da justiça de Deus, que exige a morte do pecador, uma vez que esse é o justo pagamento por seus pecados. Assim, como diz o versículo bíblico supracitado, Jesus comprou com o Seu sangue homens para Deus. Ora, aquilo que é comprado passa a pertencer legalmente ao comprador. Passa a ser sua propriedade exclusiva. Assim também nós fomos postos pelo sacrifício de Cristo: povo de propriedade exclusiva de Deus: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". (I Pe 2.9)
Daí, o comércio de almas, de vidas, de um redimido por Cristo é um pecado diante de Deus. Ninguém pode comercializar o que não lhe pertence. O grande problema aqui é que muitos, em sua cobiça insaciável, vendem a própria vida! Vendem-se, o que é uma afronta Àquele que os comprou e, para aumentar ainda mais a afronta, vendem-se por ninharias. Sim! Todos os bens da Terra reunidos têm valor irrisório, ínfimo, diante do precioso Sangue de Jesus! Nenhum bem material jamais poderá pagar o preço pela alma humana! No entanto, muitos não entendem isso, ou não conhecem, ou não dão a mínima para essa verdade básica nas Escrituras.
Assim, há, por exemplo, pastores que vendem-se: eles deixam de pregar o puro Evangelho, para o que foram chamados, e passam a suavizar a mensagem de Cristo, no afã de aumentar o número de membros e com isso o montante das ofertas arrecadadas. Combater o pecado? Jamais! Isso afasta gente! Nesse raciocínio errado e pecaminoso, é preferível manter o pecador na Igreja sem confrontação bíblica, do que correr o risco de ter que reduzir sua prebenda ao final do mês. Daí, fazem inúmeras concessões com a mensagem do Evangelho e, sem perceberem, criam outro evangelho, o qual é anátema (maldito) por definição. O anátema traz pessoas? Ótimo, essa é a solução para o bolso, pensam esses pregadores sem pregos, de martelos de penas. O pecador permanece na Igreja com o seu pecado, achando que tudo está bem entre ele e Deus, sem saber que sua vida corre um risco terrível! Um evangelho maldito, de falsidade; isso é o que está sendo anunciado em muitos lugares, tanto por famosos midiáticos quanto por não famosos, desconhecidos! Um evangelho que não é boa-nova der Deus, que cura levianamente, de forma superficial: "Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." (Jr 6.13,14) Pregadores ávaros, vendidos e vendilhões! Não combatem o pecado porque tem interesses escusos, porque a grana do pecador enche os seus bolsos, lhes proporcionando bens materiais e/ou status pessoal.
E não para por aí: muitos são os crentes que acham que isso está correto, que pastor não tem que pregar contra o pecado, principalmente quando trata-se da visita de um parente ou amigo seu. São crentes que estão a se vender em troca da aceitação pessoal, da manutenção da amizade cheia de concessões que mantém com os não-crentes. Mude a mensagem! Fale de coisas boas, que atraem e acalentam; não venha falar de pecado nesse dia! É o brado dos corações, quando não dos próprios lábios, daqueles que deveriam estar entre os primeiros a exortar aos pecadores que se convertam dos seus pecados! Novamente, diz o Senhor por meio do profeta Jeremias: "Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra. Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?" (Jr 5.30,31)
A quem você pertence? A quem pertence à Igreja? A quem pertence a salvação? A você ou a Deus? Porque então você insiste em se vender; em vender sua fé, sua unção, sua alma e quiçá sua salvação? Você pertence a Deus! O Espírito Santo é Deus! O Evangelho e a Igreja são de propriedade de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Se quer ganhar dinheiro, vá trabalhar! Largue o ministério - porque você não está sendo digno dele - arrume um emprego secular e vá à luta camarada! Agora, se quer seguir com o seu chamado, aprenda a depender exclusivamente de Deus, sem negociar com a Palavra. Precisou exortar? Faça! Precisou disciplinar? Não perca tempo!
E se você, por sua vez, quer que seu parente ou amigo se converta, pare de fazer negócio com a fé e ore por ele, para que Deus use seus dons na Igreja de forma que ele venha a se converter! Pare com essa meninice de ficar chateadinho(a) por causa da mensagem pregada, que combate o pecado! A Igreja não é sua, o pregador não é seu, o Espírito Santo não lhe pertence e a mensagem não foi gerada por você; do mesmo modo, a alma do pecador que está a ponto de ir para o inferno não é assunto para menino na fé, para neófito.
Na Igreja o homem vai para ouvir a verdade de Deus acerca de sua vida, de seu estado espiritual e de sua condição eterna; para ouvir que o Único que pode mudar sua vida chama-se Jesus Cristo e que ele precisa se arrepender dos seus pecados, confessá-los a Deus, receber a Cristo como Único e Suficiente Salvador e Senhor e permanecer firme na fé. Esse é o propósito evangelístico da Igreja, sem o qual a Igreja perde sua função e identidade de Igreja, não passando de mero clube social, sem Deus e sem vida. Assim, não peça ao pregador para vender a mensagem, a Igreja ou a fé; mas peça ao Espírito de Deus que traga a Sua Palavra de forma que o pecador venha ouvir e compungir o seu coração! Do mesmo modo, não deixe se vender, por coisa alguma. Não tenha vergonha do Evangelho, nem dos efeitos que ele gera sobre o homem! Lembre-se: "Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego." (Rm 1.16)
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia