Esse princípio é também conhecido como "Navalha de Ockham", um princípio atribuído ao frade franciscano Guilherme de Ockham no séc. XIV. O princípio afirma que "as entidades não devem ser multiplicadas desnecessariamente", ou em latim "pluralitas non est ponenda sine neccesitate". Interessante é que William usou o princípio para justificar muitas conclusões, incluindo a afirmação de que "a existência de Deus não pode ser deduzida apenas pela razão". Omite-se, propositalmente, a formulação original de Ockham: "Porque nada deve ser postulado sem uma razão apresentada, a menos que seja evidente ou conhecido pela experiência ou provado pela autoridade da Sagrada Escritura". Para o frade, a filosofia, as ciências naturais e outros estudos foram bem servidos pela razão, mas Deus não é definido nem confinado pela razão. Ockham e seus seguidores acreditavam na Teoria do Comando Divino, que afirma que uma regra é boa se Deus der a regra. A “bondade” e a “moralidade” são determinadas pelo que Deus ordena, não por qualquer qualidade intrínseca que a regra possua ou pelo resultado de segui-la. É um resultado feliz da natureza de Deus que as regras que Ele dá sejam para nosso benefício.
Deve ser dito que a Navalha de Ockham é uma diretriz filosófica, não uma regra real da lógica. Ele se encaixa na mesma categoria de regras práticas, provérbios e outras generalidades. É importante dizer que a explicação mais simples não é necessariamente a correta. Ou seja, é preciso avaliar quando é possível aplicar a navalha de Ockham e quando não é possível fazê-lo. Esse ponto é muito importante e frequentemente gera muita confusão, por sua má compreensão e uso. Dizer que Deus é a causa última da Criação não exclui a forma pela qual Deus criou todas as coisas. Ou seja, confunde-se a criação com o Criador, reduzindo o Criador a condição de "coisa a ser investigada". Simploriamente, é como se fosse possível levar Deus para um laboratório e submetê-lo a uma série de experimentos a fim de determinar Sua natureza e comprovar-Lhe a existência. Isso é impossível, pois o Criador de todas as coisas não é parte de Sua criação e não está sujeito, portanto, às mesmas regras que Ele criou para reger cada coisa criada. As coisas criadas estas sim são regidas por regras também criadas por Deus.
A Bíblia Sagrada não é um livro científico. É um livro de Revelação, isto é, um livro que nos revela quem é Deus. O conhecimento de Deus é, portanto, obtido por meio de Revelação; Deus revela-nos quem Ele é e qual a Sua vontade para nossas vidas. Tal conhecimento é impossível de ser obtido de outro modo. Esse "conhecimento de Deus" chega até nós de duas maneiras distintas: revelação geral e especial. Através da revelação geral, podemos aprender muito sobre Deus e sua verdade observando o mundo ao nosso redor. A revelação especial das Escrituras nos dá uma imagem muito mais clara da criação e do mundo em que vivemos. A revelação das Escrituras serve como filtro através do qual tudo o mais deve ser interpretado. Assim, a criação de Deus nos diz que toda a realidade é a realidade de Deus; toda verdade é a verdade de Deus... se crermos em Deus como Criador, não poderemos dividir o mundo em espiritual e secular. O fato de que toda a realidade depende da palavra criativa de Deus significa que a palavra de Deus deve julgar as idéias dos homens sobre a verdade e o erro, e não o contrário.
Assim, Deus é e sempre será a explicação última de todas as coisas criadas. Por que existe luz? Porque no princípio Deus disse "haja luz" e então "houve luz". Agora, identificar a natureza da luz é outro assunto. O que é a luz? São partículas, denominadas fótons? São ondas, segundo a teoria ondulatória proposta pelo físico holandês Christian Huygens, em 1678? Que regra a luz segue? O cientista Maxwell já respondeu essa pergunta, postulando suas famosas equações, concluindo que a luz é uma vibração transversal que se propaga no mesmo meio que os fenômenos elétricos e magnéticos. É bom que se registre a lacuna: Maxwell era cristão, tornando-se ancião (presbítero) da Igreja da Escócia (leia mais sobre Maxwell em: https://www.evangelical-times.org/18573/james-clerk-maxwell-1831-1879/).
Outro exemplo: a Bíblia registra que Deus formou o homem do pó da Terra, à Sua imagem e conforme a Sua semlhança. Ou seja, Deus deu ao homem uma natureza humana no corpo físico feito a partir do pó e uma natureza espiritual, gerada pelo sopro do Seu Espírito nas narinas do homem. Os complexos bioquímicos inerentes ao metabolismo humano não foram registrados na Bíblia (imagine Deus explicando o Ciclo de Krebs para Moisés há mais de 1000 anos antes de Cristo!), mas estão presentes no homem, sendo criados por Deus quando o homem foi criado. O papel do cientista cristão não é discutir essa criação, mas investigá-la: como funciona o corpo humano? Como é constituído? Como as diversas partes que o compõe interagem entre si?
Assim como Maxwell, Deus honrou a muitos outros cristãos que por sua fé em Cristo investigaram a criação de Deus para glória do Criador. Dentre eles, podemos citar:
- Francis Bacon, pai do método científico;
- John Bartram, primeiro botânico norte-americano, que era Quaker;
- Robert Boyle, fundador da química moderna (quem nunca ouviu falar na Lei de Boyle?), estudioso das Escrituras (aprendeu grego, hebraico e aramaico para estudar a Bíblia em suas linguas originais);
- John Dalton, pai da teoria atômica moderna, também Quaker;
- Michael Faraday, que por sua convicçção de que toda criação é o trabalho manual do mesmo Grande Designer procurou a unidade fundamental entre as forças (ele demonstrou isso com a eletricidade e o magnetismo);
- John Ambrose Fleming, inventor do díodo, filho de pastor congregacional, formador do "Movimento de Protesto a Evolução", tendo escrito um livro em favor do relato bíblico da criação;
- Joseph Henry, descobridor do princípio da autoindução, cristão comprometido conhecido por sua dependência de Deus em todo o seu trabalho: procedimentos de operação padrão em todos os seus experimentos incluíam orações por orientação em cada decisão importante;
- Sir William Thomson, Lord Kelvin, afirmou a Segunda Lei da Termodinâmica: por sua fé bíblica, apoiou veementemente o ensino da Bíblia nas escolas britânicas. Ele também se opôs às doutrinas da evolução darwiniana; evolução, como ele a via, demandava uma infinidade de tempo, ao passo que as considerações termodinâmicas o conduziam a acreditar que o universo e a Terra tinham uma história limitada;
- Johannes Kepler, descobridor do movimento planetário: instruído para o ministério cristão, ele percebeu que alguém que acredita em uma criação verdadeiramente ordenada deveria procurar uma explicação mais simples do que a explicação dos epiciclios de Copérnico sobre movimentos e velocidades irregulares de planetas;
- Gottfried Wilhelm Leibnitz, coinventor do cálculo;
- Carolus Linnaeus, pai da Taxonomia: Ele acreditava que, desde que Deus criou o mundo, era possível entender a sabedoria de Deus estudando Sua criação: "A criação da Terra é a glória de Deus, como pode ser visto naobras da Natureza apenas pelo homem. O estudo da natureza revela a Ordem Divina da criação de Deus, e é tarefa do naturalista construir uma 'classificação natural' que revele esta ordem no universo". Ele também era um criacionista e, portanto, um inimigo da evolução. Ele era um homem de grande piedade e respeito pelas Escrituras. Um de seus principais objetivos na sistematização das tremendas variedades de seres vivos era tentar delinear os “tipos” originais do Gênesis. Ele acreditava que variações podiam ocorrer dentro do tipo, mas não de um tipo para outro tipo. Assim, Linnaeus acreditava que o processo de geração de novas espécies não era aberto e ilimitado, mas que as plantas originais no Jardim do Éden forneciam o que era necessário para o desenvolvimento de novas espécies e que esse desenvolvimento fazia parte do plano de Deus. (leia mais sobre Linnaeus em: https://www.icr.org/article/carolus-linnaeus-founder-modern-taxonomy e em https://creation.com/carl-linnaeus).
- Gregor Mendel, pai da Genética;
- Isaac Newton;
- Blaise Pascal;
- Louis Pasteur;
- Ambroise Paré, primeiro cirurgião moderno;
- Bernhard Riemann, formulador das geometrias não-euclidianas;
- Sir James Simpson, criador da anestesiologia: descobridor do clorofórmio, ele argumentava com os céticos de sua época com base em Gênesis 2:30, que registra que Deus colocou Adão em um sono profundo para criar Eva. O clorofórmio é considerado sua maior descoberta e ajudou a lançar as bases para os anestésicos modernos. Mas, de acordo com seu próprio testemunho, sua maior descoberta foi "Que eu tenho um Salvador!" Ele escreveu um folheto do evangelho, perto do fim de sua vida: "Mas, novamente, olhei e vi Jesus, meu substituto, açoitado em meu lugar e morrendo na cruz por mim. Olhei, chorei e fui perdoado. E parece ser meu dever dizer a você sobre esse Salvador, para ver se você também não olhará e viverá. 'Ele foi ferido por nossas transgressões ... e com Seus açoites somos curados' (Isaías 53: 5,6)."
Olhando para a fé e para as obras que esses homens - e muitos outros, diga-se - realizaram e o progresso que trouxeram, afirmo que nenhum cristão genuíno deveria ter aversão pelo conhecimento ou pela ciência. O obscurantismo científico e a aversão a ciência não são condizentes com a fé bíblica em Cristo. Por exemplo, as estultas discussões sobre as vacinas, sobre a esfericidade da Terra e outros assuntos não deveriam jamais serem produzidas por cristãos ou mesmo por eles fomentadas: isso é uma vergonha para a fé e uma razão de ofensa para o Criador. Tais assuntos já há muito foram comprovados pela ciência; questioná-los à luz de mera teoria conspiratória, sem evidência científica sólida que suporte tais questionamentos, constitui-se em escárnio do mais torpe tipo. Questionar esses assuntos somente a partir de interpretações muito mal feitas de texto isolados da Bíblia também não é válido cientificamente; todos os cientistas cristãos que questionaram em sua época o status quo o fizeram por meio do uso do método científico - hipóteses, experimentos e indução. Enfim, todo esse revisionismo pseudocientífico não passa de obra de quimeristas.
O verdadeiro cristão está para a verdadeira ciência, pois a verdadeira ciência aponta para o Verdadeiro e Único Deus em quem o cristão crê de maneira absoluta. Enquanto dogmático em relação a sua fé, o verdadeiro cristão tem o espírito inquiridor com relação a criação de Deus; ele quer entendê-la, maravilhado e assombrado com o fato daquilo que existe - o mundo material - ter sido trazido a existência pela Palavra de Deus: "Pela fé compreendemos que o Universo foi criado por intermédio da Palavra de Deus e que aquilo que pode ser visto foi produzido a partir daquilo que não se vê" (Hebreus 1:13). O verdadeiro cristão deseja entender a Criação, pois sabe que a criação manifesta a glória de Deus: "Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (Sl 19.1).
Ser criacionista não significa ser bitolado, lunático ou avesso ao saber:
significa ser um estudioso, tanto da Bíblia quanto das ciências, amigo do conhecimento! Todo criacionista sabe que há muito a ser investigado, muito a ser descoberto; porém, ele faz isso respeitando não somente os princípios científicos, mas também os princípios bíblicos e, em especial, a Deus.
Pense nisso!
Graça e paz!
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