quinta-feira, 14 de abril de 2011

ONDE MORA O MONSTRO?

"O MONSTRO MORA AO LADO". Este é o tema de capa da edição especial da Revista Veja da semana. A reportagem aborda o terrível ato, de uma crueldade sem precedentes: Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo/RJ, entrou na Escola e abriu fogo contra alunos em salas de aula lotadas, assassinando 12 crianças inocentes e ferindo outras 13. Ao final, suicidou-se.

O que teria motivado este rapaz a agir com extrema maldade? Alguns teorizam que ele teria sido vítima de bullying(1) quando aluno daquela Escola, o que, aliado a sérios transtornos psicológicos, acabariam gerando um profundo desejo de vingança. Outros, afirmam tratar-se do resultado de uma composição entre fanatismo religioso e doença mental. Outros, o problema seria possessão demoníaca. Já para outros, seria o resultado do uso de drogas. No âmbito da psiquiatra, talvez ele sofresse de esquizofrenia paranóide (2). Enfim, cada brasileiro terá uma explicação diferente para os motivos que levaram Wellington a cometer tal violência despropositada. As verdadeiras causas, porém, jamais serão conhecidas, tendo-se em vista que o assassino está morto.

"O monstro mora ao lado". Wellington morava próximo a Escola. Até o dia do crime, não passava de uma pessoa calada, de poucos amigos, que ia do trabalho para a casa e vice-versa. Muito raramente, jogava bola com os outros rapazes de sua idade. Não tinha namorada. Morava sozinho, solitário. Ninguém poderia jamais saber que aquele estranho vizinho cometeria um dos mais terríveis crimes noticiados pelos principais jornais do país. A exemplo de milhares de brasileiros, confesso que fiquei muito chocado ao ver tamanha barbárie. Que Deus possa consolar cada pai e cada mãe que perdeu seu precioso filho de maneira tão brutal e covarde!

"O monstro mora ao lado". O monstro mora ao lado, ou na verdade o monstro mora dentro? Definir onde mora o monstro é muito importante. Se, mesmo que por um breve momento, aquelas pessoas soubessem que o pacato rapaz era, na verdade, um monstro perigoso, teriam prontamente agido em prol de evitar o mal maior. Não posso deixar de lembrar da estória do Dr. Jekyll e Sr. Hide, livro de ficção científica escrito pelo autor escocês Robert Louis Stevenson e publicado originalmente em 1886. A obra é conhecida por sua representação vívida do fenômeno de múltiplas personalidades, divididas no sentido que dentro da mesma pessoa existe tanto uma personalidade boa quanto má, ambas muito distintas uma da outra.

Será que muitos pais não estão percebendo a transformação experimentada por seus filhos, ao longo dos anos, manifestando o que há de pior neles? Nem todos os monstros que existem sofrem de doenças mentais. Muitos monstros são, na verdade, um produto de marcas e sofrimentos, de crueldades e de traumas, vividos por eles em uma ou em várias fases de suas vidas. Lembro-me de um episódio, em 1987, no bairro carioca de Cascadura, quando pude impedir que uma rixa entre dois colegas de sala de aula se transformasse num assassinato, na saída da escola, com arma de fogo.

Graças a Deus, sempre exerci uma espécie de liderança nas escolas onde estudei. Naquele dia, um dos rapazes, franzino ao extremo (ao ponto de ser apelidado pela turma de "filé de borboleta") havia levado um pistola para a escola para dar cabo de outro colega, de porte muito grande para sua idade. O motivo: uma briga boba em sala, por causa de futebol (sim, não foi pelo apelido, em hipótese alguma!). Devido ao respeito que gozava por ambos os colegas, pude evitar o mal maior: no recreio tomei conhecimento das intenções do "filé" e, na saída, consegui dissuadi-lo do seu intento, além de mandar o outro para casa. Graças primeiramente a Deus e depois a minha atitude, o monstro foi contido e todos puderam seguir normalmente com suas vidas.

Estou certo de que as mães daqueles rapazes jamais souberam o que quase aconteceu. Do mesmo modo, muitas mães e pais não sabem aquilo que seus filhos e filhas fazem fora do alcance de seus olhos, só quando o mal acontece. Não percebem as mudanças que vão ocorrendo, ou se o fazem, atribuem estas mudanças "a coisas de jovens", algo de "pouca importância". Assim, por exemplo, o vício das drogas toma conta de moças e rapazes, só vindo a ser descoberto quando o filho ou a filha aparece morto por overdose ou assassinado por "não pagar a dívida" ao traficante. Ou os pais só percebem que a "filha do coração" mudou para pior quando a barriga cresce ao ponto de não dar mais para esconder. Ou quando o filho torna-se pai na adolescência. Resumindo, só percebem o mal quando "a Inês é morta".

Do mesmo modo, fico a pensar que muitas mulheres se casaram, na verdade, com um monstro. Um monstro que de uma hora para outra revela sua verdadeira natureza; que antes fazia o papel de bom moço e que repentinamente "vira à cabeça". Antes, carinhoso e cheio de amor; agora, frio, calculista. Quem sabe até violento. Quantas não são violentadas pelos "maridos"? Quantas não apanham desses marginais enrustidos? Quantas não perdem a vida, nas mãos desses crápulas?

Sou pastor evangélico, creio na restauração tanto de pessoas como de relacionamentos. Creio no casamento enquanto instituição divina, ordenado por Deus como monogâmico, heterossexual e indissolúvel. Mas é preciso reconhecer: em alguns casos extremos, o divórcio pode ser livramento de Deus para muitas mulheres; pode se constituir no instrumento do Senhor para preservar a vida de suas filhas. Afinal, não é para todos os casamentos que vale a máxima "o Senhor uniu": Deus não une ninguém a monstros, mas une seus filhos e suas filhas. Muitos casamentos acontecem por interesses escusos - ou por causa meramente de sexo, ou por causa de dinheiro, ou para poder sair de casa, ou por gravidez indesejável, ou por outros motivos. Casamentos precipitados, sem a direção de Deus, feitos de qualquer maneira, sem considerar coisa alguma. O divórcio acaba se constituindo, deste modo, em um mal necessário, numa sociedade cada vez mais doente e miserável, cada vez mais repleta de pessoas "duas faces", ora Jekyll, ora Hide.

Aqui, vale a exortação: antes de namorar alguém, veja atentamente com quem você está se relacionando. Quem hoje namora um filho ou uma filha do diabo amanhã virá inevitavelmente a ter problemas com o seu "sogro". Casamento não muda ninguém, apenas acentua o que cada um verdadeiramente é, no íntimo. Se já o namoro "vai mal das pernas", um eventual casamento será o caos. Neste caso, o monstro maior - o diabo - fará parte da família! Sua vida não é um filme de Hollywood: final feliz não é obrigatório; depende de você buscar orientação de Deus antes de tomar decisões.

Onde está verdadeiramente o monstro? Onde ele mora? O monstro pode morar com você, debaixo do mesmo teto; pode dividir a mesma cama; o mesmo prato de comida. O monstro que não nasce monstro, mas se torna monstro. O monstro que ninguém quer ver, que ninguém quer tratar, que ninguém quer reconhecer como monstro: o filho-monstro, a filha-monstra, o marido-monstro, a esposa-monstra...a família monstro! Como impedir a transformação de um querido em monstro? Primeiro, procure notar as transformações e mudanças de comportamento do seu filho ou de sua filha. Percebeu algo estranho, aja enquanto é tempo: converse com seu precioso filho/filha, dê-lhe toda atenção que é devida, busque a ajuda de Deus e, se for preciso, dos médicos! Aja hoje, para não ter que chorar amanhã ou, pior: para não chorar em conjunto com muitas outras pessoas, vítimas do monstro!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!
______________________________________________________________

(1) termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - «tiranete» ou «valentão») ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender. (Wikipedia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying)

(2) http://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/atirador-do-rj-vestiu-personagem-e-morreu-no-papel-analisa-psiquiatra.html. Acesso em 14/04/2011, às 18h.