sexta-feira, 7 de março de 2014

FARISAÍSMO, ONTEM E HOJE... QUE AMANHÃ, NUNCA MAIS!

"Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós." (Mt 23.13-15)

Hipócritas... é assim que Jesus chama a classe religiosa que se considerava muito conhecedora de Deus e do sobrenatural, os grandes mestres da teologia judaica, os fariseus. Estes, os fariseus, se consideravam os únicos donos da verdade divina, donos de Deus, como se Deus tivesse dono. Se consideravam os únicos santos, os únicos puros, os únicos sábios, os únicos em qualquer coisa que se referisse a fé judaica. Todos que não fossem fariseus eram considerados por estes como publicanos e pecadores; afinal os fariseus consideravam a si mesmos como os servos mais espirituais e devotos de Deus. Contudo, no afã de trazer o povo de volta a uma submissão estrita à Palavra de Deus, o afastavam cada vez mais e mais desse Deus, assim como eles há muito já estavam distantes desse mesmo Deus, falado a verso e prosa em seus ensinos.

Jesus nos diz que estes fariseus (e os escribas, responsáveis por copiarem a lei), eram hipócritas, apesar de todo seu zelo religioso. Por quê? Porque, em síntese, eles praticavam a justiça de homens, apesar de se referirem à justiça de Deus. Essa justiça de homens tinham muitas características que a distinguia da justiça divina: enquanto a justiça divina era exercida na base da misericórdia, a justiça humana era exercida com base no senso do "mais santo e mais justo que você" (sou melhor do que você, que não é nada perante mim). Enquanto a justiça divina absolvia o arrependido, a justiça humana condenava os inocentes. Enquanto a justiça divina manifesta-se no interior para o exterior, envolvendo a mudança de comportamento, a justiça humana era algo apenas exterior, vazio, sem vida - verdadeiros sepulcros caiados, copos de botequim limpos apenas exteriormente. Enquanto a justiça divina vinha pela fé em Deus, a justiça humana era advinda das obras.

Toda atividade de proselitismo ("faraígelismo") feito pelos fariseus não gerava frutos para o Reino de Deus. Na verdade, Jesus diz que todo este afã em fazer discípulos por parte dos fariseus produzia filhos do inferno para o inferno, duas vezes mais piores que seus mestres. Jesus diz adicionalmente que eles fechavam aos homens o Reino dos céus; assim, além deles mesmos não entrarem, não deixavam mais ninguém entrar! Mesmo aqueles que iam entrando são "barrados" pelos fariseus com suas atitudes farisaicas.  Jesus os acusa de "devorar a casa das viúvas", talvez persuadindo-as a fazer grandes doações. Interessante isso, deles procurarem as casas das viúvas, porque as viúvas eram uma das classes de pessoas mais necessitadas e carentes, sem condições de se auto-defenderem, naquela época. Assim, os fariseus agiam com o mesmo princípio de Amaleque, o qual atacava a retaguarda dos filhos de Israel quando estes saíam do Egito, ferindo os fracos que iam atrás, estando Israel cansado e afadigado; e não temeu a Deus. (Dt 25.17,18)

Ao olhar isso tudo e ao ver a atitude de muitos ditos pastores e líderes evangélicos, não posso deixar de ver semelhanças entre suas atitudes e as dos fariseus. Infelizmente, a religião dominou o coração de muitos e muitos, transformando a fé simples em Jesus numa verdadeira religião farisaica. A bem da verdade, o cristianismo nunca conseguiu ser livre totalmente das amarras da religião. A reforma trouxe grande bênção, restaurando a importância da Palavra, mas nunca foi a intenção dos reformadores resolverem o problema do institucionalismo e da religião. O fato é que homens se cercaram de seus ritos mortos sem vida, voltando-se para si mesmos cheios de vaidade e vanglória, considerando-se maiores, melhores, mais sábios e espirituais que todos os demais. Gente que ama o institucionalismo, e que coloca o institucionalismo acima do organismo-organizado que é o Corpo de Cristo, incapazes de entender o que é comunhão na prática.

Parênteses: Aliás, o orgulho é uma das marcas distintivas de um fariseu: todo fariseu orgulha-se daquilo que ele pretensamente pensa saber, ter ou ser, espiritualmente falando, acima dos "pobres pecadores e publicanos". Orgulho, ou altivez de espírito... sempre precederá a queda. Grandes impérios, orgulhosos, com seus grandes imperadores, prepotentes, ruíram ao longo da história. Onde está hoje o império Assírio? E o Babilônico, com Nabudonosor e companhia? Onde está hoje o império Austro-Húngaro? E o Sacro Império Romano-Germânico? E Hitler, onde está? Todos reis, todos imperadores e seus impérios caíram. Todos os orgulhosos um dia caem, mais cedo ou mais tarde. Fecha parênteses.

As variações do farisaísmo moderno observam-se em dois grandes extremos: o primeiro extremo é aquele do rompimento total com tudo que é bom e justo na fé, quando o líder torna-se ele mesmo uma espécie de "deus encarnado", a quem Deus atende a tempo e hora e quem tem a "autoridade" de mudar o ensino da Bíblia (os famosos apóstolos, bispos, pastores, etc. modernos), onde a liberdade é exercida sem responsabilidade alguma. O segundo extremo é aquele do cerceamento total da liberdade cristã (afinal, a liberdade para quem sempre viveu e ainda vive preso assusta deveras: "Como assim ser livre? Como assim não controlar as coisas?"), com a criação de uma infinidade de regrinhas humanas para conferir "decência e ordem" ao exercício da fé, uma verdadeira religião mais pesada ainda do que as demais existentes, cheia de pompa, de aparência "de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo" coisas que "não são de valor algum senão para a satisfação da carne." (Cl 2.23). Em ambas, vê-se o elemento farisaico.

Sinceramente, não sei qual dos dois tipos de religião é pior. A primeira, faz da fé cristã algo mais parecido com o movimento hippie da década de 60, com a exceção de haver um super-líder a frente do grupo, um "semi-deus" com seus "atributos divinos auto-conferidos", quase um Thor-gospel. Esse, considera-se e é considerado a "última bolacha do pacote", poderoso; o único que pode decifrar o "código de Deus", cheios de paramentos e togas. Já o segundo também tem seu super-líder, o qual é geralmente uma pessoa que se destaca na religião, de boa oratória e fama (o qual pode falar a bobagem que for, que se ele não violar o código máximo da religião, todos o aplaudirão de pé e dirão "esse é homem de Deus", sic). Aqui também os paramentos e as togas são vistas; louvam uns aos outros por suas togas, túnicas, diplomas, títulos, etc. Mesmo o Espírito Santo foi esquecido, em ambos os sistemas religiosos; deixado de lado, foi substituído pelos sistemas, dogmas, liturgias - referências e referenciais puramente humanos - ou mesmo pela total ausência delas! Hoje, Aquele que dirigia a vida e as decisões da Igreja está relegado a uma doutrina sobre Ele, quando muito!

Parênteses: nada tenho contra títulos e diplomas, desde que eles não ocupem no coração o lugar que pertence unicamente a Deus; desde que eles não se transformem em falsos deuses, nem transformem seus proprietários em falsos deuses. Títulos e diplomas são coisas boas, se usados e entendidos de forma correta. Fecha parênteses.    

Não me admira que algumas pessoas estejam rompendo com esse sistema religioso (veja a matéria "A NOVA REFORMA PROTESTANTE E A RESTAURAÇÃO DA IGREJA", em: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2010/08/nova-reforma-protestante-e-restauracao.html), reunindo-se em comunidades que se constituem numa alternativa ao atual modelo de cristianismo - capitalista, psicologizado e encastelado, resgatando assim a simplicidade da fé cristã. Eu mesmo estou cansado da religião, em todas as suas formas, que só fazem produzir pessoas arrogantes, cheias de si mesmas; estou cansado da multidão de ritos externos, que nada produzem no interior. Estou cansado dessa coisa que aparenta vida, sem ter vida e que ainda por cima é chamada "cristã"; dessa doutrina de homens que não ensina para a vida, mas que serve apenas para manter a morte, para discussões intermináveis sobre a natureza do ser e do nada no melhor estilo de Jean-Paul Sartre. Estou cansado dessa fábrica de aperfeiçoamento dos defeitos de caráter chamada religião! Isso se dá porque Deus foi transformado em "doutrina sobre Deus", Cristo em mero tema de mensagem sem Cristo e o Espírito Santo só é mencionado na bênção apostólica! Foi isso que a religião fez: reduziu Deus de forma a caber certinho no conjunto de idéias sobre Deus; como diz o Pr. Caio Fábio, um Deus que foi domesticado, tornado previsível, que age apenas e somente no limite da lógica humana! Como ele diz, em seu artigo "DEUS SÓ É BOM SE FOR FIXO!" (http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=02434):

O interessante, entretanto, é que os humanos, que sempre criaram “imagens de escultura” para serem seus deuses, ou que, modernamente, cultuam, por exemplo, a igreja, a religião, gurus, etc..., como verdadeiros deuses —, ficam, entretanto, chocados, quando se diz que a “teologia” acabou, que a filosofia cristã especulativa e grega é uma estultícia, e que em Jesus está tudo... Sim, Deus aberto, explicito, santamente arreganhado. Diante disso, questão é: como se pode cultuar uma imagem fixa e criada pelo homem e, ainda assim, ficar escandalizado quando se diz, fundado no fato de que “quem vê o Filho, vê o Pai”, que quem vê Jesus, vê Deus? A resposta é tão obvia quanto o pecado humano: “Deus de pedra a gente topa, mas vivo e humano-divino, andando e nos chamando a andar, a gente não quer”. Sim, porque se prefere qualquer coisa fixa, seja um ídolo de barro, pau, pedra, ouro, gesso, bronze, etc; ou seja um “Deus” feito de pacotes de salvação; de unções especiais feitas por homens especiais; ou algo coberto pela aura de uma espiritualidade ativada pela via de um rito, de um culto, de uma oferta, ou de qualquer outra forma de controle e gestão do sagrado — do que simplesmente crer que quem vê Jesus, vê o Pai; e tem tudo. [...]

Enquanto isto...Os mercenários, os lobos, ou os doutores de Deus, tentam convencer o povo de que se não forem obedecidos, ou seguidos em suas sabedorias, no primeiro caso haverá maldição; e, no segundo caso, uma viagem sem volta para fora da “sã doutrina”; a qual, só é sã porque é a deles; e eles são os “sãos” que não precisam de médico. Por esta razão, Jesus continuará a ser a manifestação e encarnação do Pai para os cristãos, desde que sempre seja visto pelos olhos mal-intencionados de uns; ou apenas fanaticamente condicionados dos que confessam tudo isto, mas têm pavor que o povo acredite, e não precise mais de suas “sacerdotalidades” a fim de prosseguirem na jornada. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos!” —advertiu o velho apóstolo João!

Daí, meu repúdio a religião: ela é farisaica em sua essência e exercício! Qualquer conceituação sobre Deus que não gere vida zoe na vida bios e que não tenha relação com a vida não é verdadeira! Qualquer conceito, "teologia", dogma, ensino ou doutrina que escravize o homem não provém do Espírito Santo! Qualquer fé dita em Jesus que não produza transformação de vida não é fé em Cristo Jesus! A fé cristã é simples, a religião cristã é complicadíssima, cheia de termos difíceis e contraditórios; a primeira até uma criança entende, a segunda, nem com muito estudo dá para se entender! A primeira é a prática de Cristo, pura e simples; a segunda é impossível de ser praticada, pois é filosofia e filosofismo, a não ser pelo fariseu filosofista. A primeira produz irmãos e amigos, faz com que os homens habitem na família de Deus, a segunda produz inimigos mesmo entre irmãos! É inconcebível um evangelho farisaico que aprisiona Deus, porque Deus jamais será contido ou aprisionado por qualquer coisa, humana, sub-humana ou sobre-humana!

O deus da religião está morto, como dizia Nietsche; é um deus fraco, um deus olímpico, cheio de pecados e esquisitices como o homem, de quem foi formado. Porém o Deus da Bíblia é vivo; Ele é, era e há de Ser, um Deus vivo que age como tal, que não se conforma ao homem, mas que lhe é superior; um Deus que não habita em tendas da filosofia, nem em templos feitos por mãos dos "especialistas de Deus", mas o Deus que está acima das religiões, incomparável! Deus tremendo, Todo-Poderoso, El-Shadday! Deus que fala o que quer falar, quando quer falar; que age como quer, quando quer! É inadmissível crer num Deus moldado pelas regras farisaicas, injusto e incompassivo, aprisionador do homem e da criação! Minha alma rejeita de pronto aquilo que tentam fazer passar pelo Meu Senhor; como dizia o velho hino "E ao ver as gravuras, os quadros pintados, daquilo que dizem ser o Meu Senhor, meu ser não aceita o que está na tela, é falsa a inspiração do pintor [escritor, teólogo, pensador, filósofo, religioso]. Não creio, não creio num Cristo vencido, [subjugado, domesticado pelo homem], cheio de amargura, semblante de dor! Mas creio num Cristo, de rosto alegre, pois creio num Cristo que é vencedor!"  

Justiça, paz e alegria no Espírito Santo, isso é que é o verdadeiro Reino de Deus. Porém, o reino de Deus segundo os homens domesticadores de Deus é o inverso: Injustiça, guerras e chateação! Um reino confuso, deprimente, previsível, monótono, cartesiano, de um deus computadorizado e descrito numa linguagem quase matemática, cheia de lógicas humanas! Por essas e por outras, ninguém entrava no Reino de Deus na época antiga, dos fariseus, combatidos por Jesus; porque havia tanto pré-requisito, tanto isso-e-aquilo, que o reino de Deus fora usurpado pelos homens, porteiros do Reino! Jesus, contudo, afirma que eles não eram porteiros do Reino como pensavam de si mesmos, tampouco entravam nesse reino e não conduziam ninguém para ele; na verdade estavam mais para um Caronte, barqueiro do Hades na mitologia grega, que carregava as almas dos recém-mortos sobre as águas dos rios Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos,  sob preço de uma moeda. Eles jamais aceitaram a graça, a liberdade e a vida conferidas por Cristo, nem mesmo o Senhorio deste! Criticavam a Cristo abertamente; chegaram a dizer em certa ocasião que o Mestre expulsava demônios pelo maioral dos demônios, a fim de minar Seu ministério terreno e dispersar Suas ovelhas! (Mt 12.24)

É preciso muito cuidado para não incorrermos nos mesmos erros dos fariseus. É muito fácil errar na mesma coisa que eles erraram, e esse erro é muito difícil de ser percebido, sendo-o geralmente quando já é tarde demais. Combater aquilo que está claramente, nitidamente contrário as Escrituras é uma coisa; criticar aquilo que sua mente racional não alcança ou mesmo aqueles que propõem tais coisas, depreciando e apontando defeitos só porque você não entende (e nem quer entender) é outra (veja o artigo "FIDE ET RATIO: A UNÇÃO ESPIRITUAL", em: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2010/10/fide-et-ratio-uncao-espiritual.html). Cuidado para que em seu zelo farisaico você não se veja lutando contra a Igreja, buscando causar confusão e dispersar o rebanho de Deus, porque essa será uma luta inglória para você. O farisaísmo é assim mesmo: tudo que não concorda, busca destruir, a fim de manter sua soberania ideológica. Conquanto que não o pensamento não seja antibíblico (antibíblico, não anti-teológico, porque muitas e muitas vezes os sistemas teológicos são antibíblicos - como o tal cessacionismo, é preciso comparar tudo com as Escrituras), respeite quem pensa diferente e o pensamento diferente, procure compreender as bases desse pensamento e, quem sabe, aprender mais um pouco. Lembre-se que "em parte conhecemos, em parte profetizamos" (I Co 13.9). Se é em parte, não é o todo, não é a totalidade do que se há para saber.  

Se você, leitor(a) viu seu comportamento refletido nesta argumentação, meu conselho é que você se arrependa e mude sua vida. Jesus ama você e quer transformar a sua vida, quer Ele te dar vida e vida em abundância! Vida livre, vida viva, vida pulsante, cheia de vida! A liberdade cristã sempre anda junto com responsabilidade cristã; mas sempre é preciso primar pela liberdade cristã! Não podemos - e nem devemos - voltar a nos colocarmos debaixo de jugo de fariseus legalistas, antes devemos estar firmes na liberdade com que Cristo nos libertou! Liberdade exercida de acordo com a Palavra, andando em Espírito e sendo por Ele guiados, de forma que o o fruto do Espírito seja gerado em nossa vida e não as obras da carne. Quanto ao primeiro, não há lei, mas contra o segundo a lei permanece! Farisaísmo ontem e hoje; que amanhã nunca mais! Sê livre, em Nome de Jesus!

Pense nisso. Deus está te dando visão (e vôo) de águia!