segunda-feira, 9 de junho de 2014

NEM TANTO AO MAR, NEM TANTO A TERRA: EQUILÍBRIO EMOCIONAL É O MELHOR, SEMPRE!


"Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi" (Emoções, Roberto Carlos).

Emoções... agitações de sentimentos, por vezes antagônicos, conflitantes. Postula-se que a palavra deriva do latim emovere, onde o e- (variante de ex-) significa "fora" e movere significa "movimento". As emoções são tão complexas e intrincadas que não existe uma teoria psicológica para as emoções que seja geral ou aceita de forma universal. Do mesmo modo, as emoções são tão poderosas que quando manifestas em plenitude sobrepujam a lógica - por isso, já dizia Blaise Pascal: "O coração emite razões e reações que a própria razão desconhece".

Donde vem as emoções? Por certo, não dá para explicar sua existência à luz do darwinianismo. Tampouco dá para explicá-las à luz dos fenômenos bioquímicos complexos da química cerebral. Tanto o primeiro quanto o último são reducionistas, empobrecendo um fenômeno tão maravilhoso e tão complexo! A melhor e mais completa explicação sobre as emoções é teológica, isto é, teo-lógica, dentro da lógica de Deus: As emoções que possuímos vem de Deus. Deus, ao criar o homem do pó da terra, conforme o Livro de Gênesis, sopra em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Esta é uma descrição bela e simples, que possibilita o entendimento de qualquer pessoa. A alma humana (nephesh) é formada, assim, pelo contato entre o fôlego de vida (nshamah chay) soprado por Deus com a matéria, o pó da terra (`aphar). Ao soprar o fôlego de vida, Deus soprou em Adão - o primeiro homem - aquilo que Ele possui, aquilo que é próprio de Deus. Deus não soprou "ar" (mistura de gases: O2, N2, CO2, etc), mas soprou nas narinas daquele ser algo espiritual, derivado do próprio Deus. Esse "sopro divino" trouxe consigo elementos próprios à sua natureza.

Olhe por um minuto para o restante da criação de Deus: todos os animais possuem algo chamado instinto. Instinto é o impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole. Quando observamos uma leoa cuidar de seus filhotes podemos até nos encher de ternura; porém, aquele animal faz tal coisa por mero instinto. Não há uma consciência moral - "o dever de mãe" - por parte da leoa com seus filhotes (note que a recíproca é verdadeira: quando o animal cresce, ele segue seu caminho sem nenhum laço emocional com sua progenitora, apesar desta ter cuidado dele; do mesmo modo, ela não dá nenhuma importância a seu filhote quando crescido - não há uma família, a leoa não vira avó, rs). Nem há um sentimento de amor ou carinho do animal com sua prole. Nós atribuímos isso aos animais - nossas características morais e emocionais, porém só nós as possuímos verdadeiramente. Não devemos reduzir o homem, coroa da criação de Deus, ao restante da criação, pois são coisas separadas. A nossa alma é diferente da alma dos animais, sendo criada de forma diferente da deles. O Espírito Santo não considerou relevante informar ao homem como a alma dos animais foi criada, mas em Sua Sabedoria infinita considerou tal coisa no que tange ao homem.

As emoções que possuímos, portanto, vieram de Deus no momento em que Ele resolveu em Seu eterno propósito criar o homem e são constituintes inseparáveis da alma humana. Noutras palavras, não há nenhuma possibilidade de que o homem não possua emoções, por isso seria equivalente remover a alma humana, o que se dá somente por ocasião da morte. Toda pessoa viva possui emoções - e as mais variadas possíveis: raiva, amor, compaixão, tristeza, ternura, amizade, etc.  Essa variação também aponta para Deus. No início, estas emoções estavam todas em equilíbrio em nossa alma. Estávamos em perfeita harmonia com Nosso Criador, com a criação e conosco mesmo. Com a queda, contudo, o pecado gerou em nós um processo de desequilíbrio e de afastamento de Deus, sendo ele mesmo (os efeitos do pecado) um ato inicial quanto um processo ininterrupto na vida do homem.

Parênteses (1): São várias as religiões e filosofias orientais que trazem ao homem uma proposta de "reequilibrar seu interior", de "entrar em harmonia com o cosmos", etc, por meio de técnicas de relaxamento e meditação. Contudo, do ponto de vista bíblico, tal coisa é impossível: o homem só poderá ter o perfeito reequilíbrio de seu interior quando este homem, convertido à Cristo, tiver seu exterior transformado pelo poder de Deus, quando o que é mortal se revestir da imortalidade e que aquilo que é corruptível se revista da incorruptibilidade (I Co 15.50-53). Até lá, o controle emocional só é possível por meio do Espírito Santo, que habita no crente, controlar suas emoções quando - e somente quando - este permitir tal controle. Tais técnicas são, na verdade, consideradas pecado por parte de Deus, pois são a tentativa (pífia, por sinal), do homem prover para si mesmo aquilo que necessita independente de Deus; noutras palavras, essas técnicas são a manifestação do mesmo pecado que o homem cometeu no Éden: querendo ser igual a Deus, desobedeceu Seu Pai e Criador e condenou, com isso, toda (T-O-D-A) a criação a estar sob influência direta do pecado. Fecha parênteses.

Assim,  o pecado que cometemos no Éden desestabilizou toda a nossa tricotomia. O corpo a cada dia que passa envelhece, adoece e se decompõe; não existe um único órgão, osso, célula do corpo humano que não seja passível de adoecer, envelhecer e por fim morrer. Nosso espírito (parte nossa responsável pelo nosso contato e ação no mundo espiritual) está morto em nós (separado de Deus) e nossa alma está em total confusão, fazendo as vezes do espírito, e cheia de complexos, culpas, medos, fobias, etc... além das confusões emocionais. As tão conhecidas "crises emocionais"! Um turbilhão de emoções avassaladoras, com altíssimo poder em si mesmas - tanto para construir, quanto para destruir! As emoções são tão intensas e tão incompreendidas que diante delas temos duas reações básicas: ou extravasá-las ou reprimi-las. Ambas as reações podem ser - e são, na maioria das vezes - negativas, porque interferem naquilo que somos essencialmente.

Somos ensinados a reprimir nossas emoções. Há uma robotização do ser humano, buscando cada vez mais anular as emoções em detrimento da razão. Desde crianças somos ensinados a reprimir: "não chora senão você apanha!", "homem não chora!", etc. Assim acontece nas empresas, nas indústrias, nas escolas e, pior ainda, nas igrejas (especialmente nas tradicionais, ainda que tristemente esta realidade seja a mesma em muitas igrejas ditas renovadas). Muitos são os teólogos atuais, modernos, que combatem radicalmente qualquer manifestação emocional no culto: "não pode bater palmas ou dar brados - os famosos "aleluias! Glórias a Deus!", porque o culto é silencioso e contemplativo" (!?!). Noutras palavras, alegria está riscada do culto a Deus! Nada de riso! A única emoção permitida aqui são as lágrimas! Triste herança do catolicismo romano, onde a liturgia é tão rígida e inflexível - tal qual o homem a planejou - que não há espaço para manifestações humanas na adoração e serviço a Deus. "Sigam o rito, porque seguindo o rito, com cara amarrada e boca fechada, Deus se agradará de vós", dá para ouvir em cada expressão carrancuda dos teólogos e pastores anti-emoção. De onde veio isso? Da influência platônica na teologia da Igreja. Platão, no século IV a.C, apregoava que o homem deveria suprimir sua sensibilidade, suas emoções, pois elas o impediriam de agir moralmente, ou seja, racionalmente. Para ele, filosofar era agir puramente de forma racional!

Sabe o que isso produz? Gente doente! Doente de alma! Pessoas cheias de patologias almáticas. Gente que vê bagunça e diabo em tudo, cheios de neuroses e psicoses! Não parecem gente, parecem máquinas! São "Exterminadores do Presente", inflexíveis, durões! Afinal, o que vale é a regra do culto; a fidelidade a Deus é a fidelidade à regra do culto - regra esta criada pelo próprio homem! Ora, quem disse - e onde está escrito na Bíblia - que o culto não pode ter o aspecto emocional envolvido como participante? Quem estabeleceu quais emoções - e suas manifestações - podem e quais não podem, quais são aceitas e quais não são - e pior ainda - por Deus?!?

1 CELEBRAI com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
2 Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.
3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
4 Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
5 Porque o SENHOR é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.

(Salmo 100)

Celebração, júbilo, alegria, canto, gratidão, louvor... tudo isso envolve as emoções!!!! E esse Salmo é só um pequeno exemplo!

Obviamente - e não podia deixar de ser assim - há o outro lado da moeda: há aqueles que postulam que as emoções devem ser extravasadas a qualquer custo, a qualquer preço. Desse lado, olhando para dentro da igreja, estão aqueles que são contrários a toda a forma de liturgia. O culto a Deus, para estes obrigatoriamente precisa envolver barulho, agitação, movimento. É a turma do "levante os braços", "dê um brado", "pule no seu lugar", "grite no ouvido do seu irmão", etc. Ainda que as movimentações físicas tenham o seu lugar no culto, aqui estamos tratando dos excessos. Ou seja, nesse extremo, não há lugar para a introspecção, para a reflexão silenciosa. Não há espaço para a razão, para a lógica, pois o único apelo é à emoção e feito com base puramente emocional. Noutras palavras, as emoções são o único parâmetro aceitável para medir a espiritualidade pessoal e coletiva. Daí, entendem que precisam cair no chão e sair rolando, que precisam berrar para serem ouvidos, que precisam pular numa perna só e por aí vai, típico do movimento neopentecostal.

Assim, na forma litúrgica do discurso neopentecostal, percebe-se que há uma fixação em expressividade emocional intensa. Qualquer forma comedida e tímida de louvar a Deus no momento de culto é radical e toscamente constrangida se não estiver sob o formato de expressão intensa e ampla de emoções, o que é julgado por ideal. O Louvor a Deus é medido por essa expressividade emocional que precisa ser extensa e intensa, senão não é caracterizado como louvor ao Pai. Um formato litúrgico é imposto como o verdadeiro e o idealmente aceito. Esse formato litúrgico é equivocado, pois se baseia na exclusividade de apenas um item da dimensão humana como fator expressivo do louvor, desconsiderando todas as outras muitas dimensões da subjetividade humana. Um parâmetro de louvor ideal equivocadamente se estabelece levando em consideração somente um aspecto do humano (grifo adicionado). Um louvor comedido de emoções e catarses é típico de "almas sem Cristo e que não oferecem o melhor para Deus". Dizem: "deem o seu melhor para Cristo". E esse "melhor" a que o clero litúrgico se refere é a expressividade ampla, extensa e intensa de emoções e gestuais. Nesse "melhor para Cristo", o âmbito do cristianismo genuíno fora decepado para ceder formato a um reducionismo na vida do suposto adorador. A vida de adorador se avalia pelas emoções expressas no culto, somente. É a chamada Adoração Extravagante. De onde tiraram respaldo bíblico para esse nome não se sabe. (Prof. Karene Monte, http://www.batistaspi.com.br/site/wp-content/uploads/2013/04/Excel%C3%AAncia-no-Planejamento-do-Culto.pdf)

A bem da verdade, reitero: tanto a repressão quanto o extravasamento sem limite algum das emoções são situações a serem evitadas pelos crentes em Cristo. O culto a Deus pode conter ambos os elementos, emoção e razão. Isso não é pecado, nem é errado. Mas o que não pode haver é o desequilíbrio, o descontrole, como por exemplo vemos hoje em muitos lugares sendo praticado sob a justificativa de "manifestação espiritual". Muito do "mover espiritual" que hoje vemos não passa de "mover da alma", sem o devido controle do Espírito. As unções de animais, por exemplo, nada mais são do que essa manifestação da alma humana no extravasamento de suas emoções mais complexas. Quando o mover é genuinamente espiritual, não será preciso alguém "iniciar" esse mover; o próprio Espírito Santo fará isso. Quando o mover é Dele, gerado por Ele, e quando é da alma humana, o contraste é muito grande.O mesmo raciocínio se aplica aos dons espirituais e ao batismo com o Espírito Santo.

Parênteses (2): os mestres tradicionais tendem a menosprezar a necessidade e a realidade dos dons espirituais. Segundo eles, são coisas que não existem (como o batismo com Espírito Santo), fruto das emoções humanas. Eu tendo a compreendê-los em sua tese (não significa aceitá-los), por conta da abundante quantidade de excessos e falsificações que há por aí. As falsificações são tantas que é quase impossível não se deparar com uma (como a tal "unção das vassouras", sic). Porém, é importante dizer algumas coisas sobre isso. Primeiro, que muitas dessas falsificações não são feitas por malícia, mas por pura questão emocional. Segundo, que se há falsificações, há o verdadeiro o qual é inversamente proporcional em quantidade com as falsificações, ou seja, se há muito de um, há pouco de outro (nesse caso, há pouco mesmo, quase raro). Agora, o que não dá para fazer - nem aceitar - é dizer que ambos os fenômenos espirituais não existem em nossos dias. Fazer isso é (1) forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz (na famosa tese antibíblica do cessacionismo); (2) ignorar as evidências existentes (aconselho ler o livro "A Igreja do Século 20: A História Que Não Foi Contada", de John Walker, que traz uma análise séria e imparcial sobre os fatos históricos. Se quiser posso citar outros 10 autores). Se o excesso e a falsificação conduz à negação da realidade representada, então a lógica impõe que toda falsificação e excesso conduz invariavelmente ao mesmo. Seguindo essa linha lógica, a conclusão estapafúrdia seria que a Igreja verdadeira não existe mais, porque no mundo existe a falsa igreja; não existem mais mestres e profetas verdadeiros, porque existem os falsos e por aí vai. Outro erro nessa lógica é afirmar que estas experiências são falsas. Ora, se são falsas, é porque existe a verdadeira. Só faz sentido dizer que uma coisa é falsa se pudermos dizer que há uma coisa equivalente, porém verdadeira. Isso não conduz à negação, de forma alguma. Fecha parênteses.  

Parênteses (3): Há anos assisto a esse debate Hamletiano interminável sobre batismo com Espírito Santo e dons espirituais. Pergunto: o que isso produziu na história da Igreja? Qual foi a real contribuição que esse debate trouxe para a edificação da Igreja? Continuo perguntando: se essa questão é secundária - como teorizam alguns - então porque fazer "carro de batalha" com ela? Porque insistir com um tema "secundário", que tanto causam contendas e conflitos, que muitos prejuízos trouxeram a causa do Evangelho? Porque os cristãos responsáveis, sérios e tementes a Deus gastam seu precioso tempo (e principalmente tempo do Reino, contrariando assim a orientação apostólica de "remir o tempo") com essas questões secundárias, de somenos importância - e isso há décadas? Para que esse debate interminável? Ora, se é secundário como dizem alguns, então que prevaleça a liberdade cristã: se um grupo assim o crê, não seja combatido por outro que não crê e assim respectivamente, não é isso? O foco não deveriam então ser as questões principais, que realmente importam à fé, questões fundamentais? Porém, a evidência tão notória acerca do debate acalorado sobre essas e outras questões - ditas secundárias - aponta para outra realidade, diferente do discurso poético: quem diz que essas questões são secundárias e não cessa de combatê-las, diz uma coisa na poesia, outra coisa na prática; para estes, tais questões não são secundárias, mas sim PRIMÁRIAS. A bem da verdade, o que existe é a ação de um momento fletor e de uma força cisalhante, intencional ou não, para ou fazer mudar a opinião ou trazer ruptura (divisão) à Igreja. Quem ganha com isso? Eu, com certeza, não ganho nada. O Reino não ganha nada. Duvido que um cristão responsável, sério e temente a Deus ganhe alguma coisa também. Fecha parênteses.    

Sou radicalmente contrário aos excessos, porque via de regra todo excesso leva aos extremos; estes, quando assumidos, levam a extremismos e radicalismos desnecessários e inúteis. Não sou favorável, assim, nem ao extremo do "culto repressor", nem tampouco do "culto libertino, sem regras". Não vejo como arrancar as emoções da alma humana, mas pela Palavra de Deus vejo que elas são passíveis de serem controladas pelo Espírito Santo, podendo ser usadas em todas as atividades humanas, inclusive na adoração a Deus, pessoal e/ou coletiva. Já vi e vivi muito para cair na armadilha do reducionismo, classificando pejorativamente meus irmãos tradicionais como frios; há muita gente que pertence a este grupo de irmãos que tem uma fé mais viva e intensa que muito crente dito avivado: gente que ama a Deus, que ora, que jejua, que lê Bíblia e que é fiel ao Senhor (já servi e tenho o prazer de servir com muitos assim!). Porém, do mesmo modo, me recuso a cair na mesma armadilha ao classificar os meus irmãos renovados ou pentecostais como emocionalistas e falsificadores do que é espiritual. Tenho plena certeza de que há irmãos com experiências espirituais verdadeiras, gente séria e temente a Deus, que vivencia dia-a-dia essa realidade. Do mesmo modo, já servi e tenho o prazer de servir com gente assim!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!