segunda-feira, 18 de março de 2013

CRISTIANISMO BÍBLICO FOR DUMMIES - I


"Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." (I Pe 3.15)

Com a ocupação de cargos públicos de destaque por brasileiros evangélicos, a exemplo do Pr. Marcos Feliciano como Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, além do destaque conferido a outros por grande domínio na arte de retórica, como o Pr. Silas Malafaia, tem surgido na mídia um alvoroço acerca da fé evangélica. Seriam os evangélicos intolerantes? Seriam eles homofóbicos? Seriam eles subversivos? É fato comum que os evangélicos professam sua fé de acordo com a Bíblia Sagrada. Mas o que ensina a Bíblia?

Infelizmente, pouquíssimos brasileiros conhecem a Bíblia e seus ensinos. Alguns a ignoram, por considerá-la um livro ultrapassado, com ensinos restritos apenas a uma época muito antiga e a uma cultura perdida nas areias do tempo; outros, a desprezam, por não entenderem seus ensinos, achando-a "muito complicada". Tristemente, os que assim pensam sequer se esforçarem minimamente para superarem esse desconhecimento.  Ainda há aqueles cuja vida vem de encontro (ou seja, choca-se) com aquilo que a Bíblia ensina e assim reagem negativamente à Palavra de Deus, buscando desqualificá-la (e aos seus seguidores) para assim qualificar a própria vida (afinal é muito mais fácil e cômodo desacreditar a Bíblia do que cair no auto-descrédito à luz dos ensinos bíblicos). Esse último grupo vive de acordo com seu próprio padrão de justiça, não aceitando sequer opiniões contrárias, reagindo com muito radicalismo às mesmas.

Antes de entrar no tema desta postagem, que fique claro aos leitores que enquanto crente em Cristo eu me reservo ao direito de não concordar com todas as posições adotadas por outros evangélicos. Este blog contêm, inclusive, várias argumentações que se posicionam de forma contrária ao que é feito hoje em dia por alguns pastores e em algumas igrejas, por entender que essas ações não têm base bíblica. Tratam-se de ações realizadas à luz do entendimento teológico desses pastores e dessas denominações, segundo a liberdade de crença que essas pessoas desfrutam segundo a Constituição, entendimento esse diferente do meu. Não obstante, há entendimentos e práticas nas quais convergimos, originárias de um berço religioso comum - o protestantismo. Essa postagem buscará focar esses entendimentos e práticas comuns.

Um desses "entendimentos comuns" é o entendimento, à luz da Bíblia, é o conceito da queda e redenção. Esse conceito é fundamental, é básico para se compreender a Bíblia Sagrada. A história da Bíblia é a história da redenção, onde Deus atua na história humana de forma a trazer o homem caído novamente à comunhão Consigo mesmo (ou seja, a redenção). Assim, os fatos históricos registrados na Bíblia são os fatos históricos de interesse para compreensão da redenção humana, fatos estes que o homem não teria conhecimento sem o processo sobrenatural de Deus em preservar seu registro fiel, utilizando para isso homens por Ele escolhidos, os quais Deus inspirou para que escrevessem somente o que Deus tencionou. A Bíblia é a revelação de Deus acerca da queda humana e de como Deus providenciou a redenção do homem caído. Revelação acerca do mundo espiritual e de seu funcionamento básico. Revelação de Deus e da Verdade absoluta que esse Deus comunicou e comunica aos homens acerca de Si mesmo, de Sua Vontade e de todas as coisas espirituais. Qual é o propósito maior do homem? Qual é a natureza espiritual do homem? Há vida após a morte? Quem é Deus? Como se relacionar com esse Deus? Essas e outras perguntas são ampla e fartamente respondidas na Bíblia.

Abre parênteses (1): A Bíblia não é um livro científico, a despeito de Deus ser o Criador Supremo de toda criação e de ter Ele estabelecido o funcionamento harmônico e preciso de tudo o que foi criado. A Bíblia não traz revelação sobre a química, a física, a matemática. Deus, ao criar o homem, deu a ele capacidade intelectual e volitiva para descobrir e aprender as leis que regem a criação, estabelecidas nas ciências físicas, químicas e biológicas, criadas por Deus junto com toda a criação. Aquilo que o homem não poderia jamais aprender por si mesmo, porque independe de sua capacidade mental, é o que Deus revelou e deixou registrado na Bíblia: as questões espirituais. Daí toda iniciativa humana em conhecer a Deus fora da revelação bíblica é infrutífera, inútil. Fecha parênteses (1).

A revelação da história da queda tem início há muito tempo atrás, quando o homem foi criado por Deus e colocado num jardim, chamado Éden, que ficava geograficamente na região da Mesopotâmia. É claro que essa região, hoje, já sofreu diversas transformações e, portanto, somos incapazes de precisar as coordenadas exatas do Jardim do Éden. Sabemos que ele existiu, mais uma vez, pela revelação bíblica. No Éden, o homem criado por Deus com as melhores condições intelectuais e espirituais foi colocado para habitar, num local onde Deus, a cada fim do dia, vinha pessoalmente conversar com o homem e passear com ele pelo jardim. "Deus tinha um costume de falar com Adão. E esse costume era limitado a um lugar e uma hora definidos. Não era em qualquer lugar. Deus falava com o homem no jardim onde ele o havia colocado. Não era, tampouco, em qualquer hora, de uma maneira contínua ou constante. Pelo contrário, Deus falava com Adão à tardinha, pela viração do dia. Adão sabia disto. Ele esperava a visita do Senhor." (Harold Walker, COMUNHÃO: UM ENCONTRO MARCADO COM DEUS. Disponível em http://www.ruach.com.br/livretos/comunhao.um.encontro.marcado.com.Deus.pdf)

Havia, deste modo, intensa e vívida comunhão entre Deus e o homem, num horário definido e num local definido. Essa comunhão foi quebrada quando o homem deu ouvidos ao diabo, que utilizando uma serpente, induziu o homem a desobedecer a ordem direta de Deus. Foi nesse ponto da história humana - a queda do homem - que o pecado foi introduzido e com ele a morte. O homem caiu do seu estado em que fora criado, porque transgrediu a vontade de Deus. Pecado é, desse modo, uma desobediência a Vontade de Deus para o homem. Note que o pecado não é um conceito temporal, restrito ao espaço-tempo de uma sociedade. Também não são nossas opiniões pessoais que determina o que é e o que não é pecado. Não é o que achamos nem sentimos que determina o que é pecado. Meus sentimentos ou pensamentos ao dizer que uma coisa é certa não a torna certa. A única regra pela qual crença ou conduta devem ser provados é a Palavra dAquele que não pode mentir, a Palavra de Deus. O conceito de pecado é também, deste modo, objeto de revelação!


Abre parênteses (2): para saber mais sobre a origem do diabo, leia a postagem DE QUEM É A CULPA PELA EXISTÊNCIA DO MAL?, disponível em http://www.apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2011/12/de-quem-e-culpa-pela-existencia-do-mal.html e a postagem HERESIAS MODERNAS: O DIABO É CRIAÇÃO DE DEUS?, disponível em http://www.apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2012/02/heresias-modernas-o-diabo-e-criacao-de.html). Fecha parênteses (2).

A queda trouxe consequências terríveis para o homem e para a criação. Com a queda, a criação foi sujeita ao pecado, que manifesta-se das mais variegadas formas na própria criação: tsunamis, meteoros que caem na Terra, destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas, destruição das lavouras por pragas, desertos, secas, terremotos, etc. Para o homem, diversas consequências passaram a existir também, como vírus mortais, bactérias, protozoários; doenças terríveis, como artrose, problemas cardiológicos, hepáticos, renais, etc. Não há nenhuma parte do homem, nenhum órgão, nenhuma célula, por mais simples que seja, que esteja imune a doenças e deterioração e isso tudo é resultado da queda. Tanto na criação quanto no homem, a consequência da queda (gerada pelo pecado, como vimos) pode ser resumida numa única palavra: MORTE. Deus havia prevenido ao homem que no dia em que ele pecasse, a morte passaria a existir na criação (Gn 2.17). O homem pecou, e a Palavra de Deus se cumpriu: a morte entrou na criação.

Abre parênteses (3): quando você presenciar a morte na criação, quer seja a morte de um simples passarinho, quer seja a morte de um ser humano, quer seja a destruição e morte causada pelos desastres ditos naturais, quer seja a existência de doenças terríveis, lembre-se: tudo isso existe porque um dia o homem resolveu deliberadamente desobedecer a Deus. O homem é o responsável pela existência da morte, não Deus! Cada cemitério é responsabilidade do homem. Fecha parênteses (3).

Porém, a morte que o homem introduziu com seu pecado e queda na criação envolveu não apenas a questão física, biológica. Com o pecado e a queda, o homem foi separado de Deus; a comunhão que Deus tinha com o homem foi rompida. Essa separação denomina-se morte também (morte espiritual = separação do homem do Seu Criador). Esse estado de separação só pode ser resolvido por iniciativa do próprio Deus, tendo-se em vista que o homem caído é capaz de produzir apenas ações que o distanciam ainda mais de Deus. Essa morte estende-se até nós, como nos revela Deus a partir do apóstolo Paulo: "Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.10-18,23). Essa situação é tão terrível que, se não for revertida, perdurará mesmo depois da morte física, quando então a morte espiritual é chamada MORTE ETERNA - o homem separado eternamente do Seu Criador, irreversivelmente.

É importante ressaltar que morte não é aniquilação; quem morre não é aniquilado, deixando de existir. Na morte, a existência do homem muda de plano: do plano físico, para o plano espiritual. Quando uma pessoa, em estado de morte espiritual, experimenta a morte física, seu estado de morte espiritual, que até então é passível de ser revertida, torna-se irreversível. A morte espiritual torna-se morte eterna. A conclusão derivada disso é óbvia: se o céu é lugar de Deus e se o homem está morto eternamente, então seu destino eterno não é o céu, pois isso implicaria em comunhão com Deus, o que não existe por seu estado espiritual. Logo, o destino do homem morto eternamente é longe de Deus; um lugar criado não para o homem, mas para o diabo. Esse lugar tem um nome na Bíblia: é chamado inferno. Esse lugar torna-se o lugar do homem por opção deste durante sua vida biológica. Assim, o homem escolhe em vida sua morada eterna no pós-vida, escolhendo reconciliar-se com Deus ou continuar vivendo alienado de Deus, exatamente como o diabo e seus anjos escolheram um dia.

Concluindo, na queda do homem no Éden toda raça humana experimentou a queda. "Todos pecaram", é o que as Escrituras Sagradas nos revelam. Todos os homens, sem exceção nenhuma e de nehum tipo, nascem em pecado, como diz a Bíblia: "Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe." (Sl 51.5) Assim também, toda raça humana experimentou e experimenta as consequências da queda, tendo-se em vista que todos morreram, todos morrem e todos morrerão um dia. Nascemos mortos espiritualmente e um dia vamos morrer biologicamente. A questão é que se morrermos biologicamente no estado de morte espiritual vamos passar a um estado de morte eterna. Esse, aliás, sempre foi o plano de Satanás: condenar a humanidade ao mesmo estado que ele se encontra.

Por isso, nós evangélicos sérios, consideramos tão pernicioso e maligno o pecado. Note: o pecado, a ação; não o pecador, o agente da ação. Por isso pregamos tão insistentemente contra o pecado! Por isso, não apoiamos ações sociais ou mesmo leis que favoreçam ou incentivem o pecado, independente da forma ou tipo de pecado! O pecado nos separa de Deus e precisa ser interrompido na vida de cada homem e cada mulher o quanto antes e nós, evangélicos, entendemos que essa é a Vontade de Deus para a humanidade e que nós temos a missão, dada pelo próprio Deus, de avisar a todos os homens que o caminho de pecado que trilham os conduzirá ao inferno um dia se nesse caminho permanecerem. Condenamos o pecado como tal, perverso e maligno, exatamente como Deus o faz; de forma que o homem pecador conheça a Vontade de Deus acerca dessa questão tão séria.

Há uma lista do que é pecado, na Bíblia? Vimos que o conceito de pecado, na Bíblia, é amplo, não sendo possível limitá-lo a um simples checklist. O conceito permeia a Bíblia, porque a Bíblia nos mostra a Vontade de Deus comunicada aos homens por diversas maneiras ao longo da história humana e de como os homens, que conheceram a Vontade de Deus, reagiram. Muitos são os episódios de fracasso humano, os quais Deus preservou a fim de servir como exortação, como ensino para nós e para as gerações futuras. Há, no entanto, pela misericórdia e bondade de Deus, algumas "listas" não-exaustivas, se pensarmos de maneira simplificada. Por exemplo:
1) "Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus." (Gl 5.19-21)

2) "Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira." (Ap 22.15)

3) "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus." (I Co 6.9,10)

[Dic. Aurélio: sodomia: Conjunção sexual anal, entre homem e mulher, ou entre homossexuais masculinos. Para termos bíblicos utilizados para descrever o que é pecado, acesse: http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_content&view=article&id=784:estudo-18-o-conceito-biblico-do-pecado&catid=37:teologia-basica&Itemid=147]

Note que não há uma classificação hierárquica de pecados. Todos os pecados são pecados cometidos contra Deus e todos eles são o resultado do estado de morte espiritual do homem em relação a Deus e segundo a Bíblia a prática de quaisquer um deles somente incapacita o homem a viver eternamente ao lado de Deus, condenando o homem a um estado de morte espiritual eterna. Aqui, surge uma pergunta: se (1) o pecado é o fruto natural produzido pelo homem em estado de morte espiritual; se (2) todo homem nasce num estado de morte espiritual, gerada pela queda no Éden, segue-se que todo homem que nasce é pecador inveterado, incapaz de alterar esse estado. Logo, é possível concluir que todo homem que nasce está irremediavelmente condenado à morte eterna, ao inferno, sem chance de reverter esse estado? Em síntese, a reversão do estado de morte espiritual é possível? Sim, graças a Deus é possível reverter esse estado! Deus providenciou a solução para o terrível mal causado pelo homem - isso chama-se redenção ou salvação. Ao fazê-lo, Deus não propôs ao homem um conjunto de boas obras, ou uma religião específica. Deus providenciou a salvação para o homem não baseado em qualquer coisa humana, ou que o homem pudesse fazer em prol da auto-salvação (o que é impossível, pelo que vimos), mas providenciou-a baseado em Si mesmo.

Assim, do mesmo modo que nós, evangélicos, pregamos contra o pecado (a ação), exortando ao homem pecador (o agente da ação) acerca das terríveis consequências do pecado em sua própria vida e na sociedade, do mesmo modo pregamos a possibilidade de redenção ou salvação dos pecados. Pregamos que, segundo a revelação de Deus na Bíblia, o homem pecador pode ser salvo da morte eterna, ainda durante sua vida biológica. Pregamos, desse modo, que Deus odeia o pecado (a ação), porque esta separa o homem, o qual Ele ama, Dele mesmo; mas pregamos que Deus ama esse homem mergulhado em pecado, afastado Dele, e que deseja salvá-lo dos seus pecados. E que Deus já providenciou a forma pela qual o homem pecador pode ser salvo. Na próxima argumentação, veremos como Deus providenciou ao longo da Bíblia a salvação para o homem pecador.

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!