sábado, 26 de janeiro de 2019

XENOFOBIA E ULTRANACIONALISMO: O QUE A BÍBLIA TEM A DIZER?

"Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis. Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus." (Lv 19.33,34)

"Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito." (Dt 10.19)

O Deus e Pai de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é santo, justo e bom. Ele é bom para com todos, quer sejam justos quer sejam injustos, abençoando tanto estes como aqueles. Jesus nos ensinou que como filhos do Pai devemos ser bondosos e graciosos, "porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos." (Mt 5.45) Ele, o Grande Eu Sou, deu uma série de prescrições a Israel, no Antigo Testamento, no trato com as pessoas menos validas, com aquelas mais fragilizadas e expostas à exploração na época: os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Com relação a essas pessoas, Deus ordenou a Israel que não oprimisse os órfãos e as viúvas de modo nenhum e em situação alguma. Quando a colheita era feita - produto da bênção de Deus - Israel não deveria "rebuscar" as plantações, a fim de deixar o que comer para essas pessoas: "Quando, no teu campo, segares a messe e, nele, esqueceres um feixe de espigas, não voltarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será; para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em toda obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás a colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não tornarás a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será o restante." (Dt 24.19-21) Os dízimos, assunto e prática desvirtuados em tempos modernos, era para sustento também do órfão, da viúva e do estrangeiro: "Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem." (Dt 26.12) Deus via o tratamento com os órfãos, viúvas e estrangeiros com tamanha seriedade, a ponto de haver uma maldição ligada à perversão do direito que eles possuíam da parte do próprio Deus: "Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!" (Dt 27.19) Tudo isso era manifestação prática da grandiosidade, justiça, bondade e amor de Deus: "Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno; que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes. Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito." (Dt 10.17-19)

Amor, para Deus, não é assunto filosófico. Não é discurso teórico, nem mecanismo de bajulação. Amor para Deus sempre foi, é e sempre será algo prático! Quem não ama de forma prática não ama; e que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor (I Jo 4.8). Quando a Igreja surgiu pela primeira vez no contexto da humanidade, ela impactou poderosamente a sociedade onde estava, porque havia manifestação prática do amor divino: as pessoas vendiam seus bens e distribuíam para quem tivesse necessidade: "Vendiam suas propriedades e bens, e dividiam o produto entre todos, segundo a necessidade de cada um." (At 2.45) É interessante notar que o amor prático na Igreja era tal que surgiu um ministério específico (os diáconos) designado com a função de repartir diariamente às viúvas (elas de novo!) o necessário para viver (At 6.1-6), que por sua vez era fruto do produto arrecadado com a venda das propriedades e bens dos irmãos mais abastados. 

Perceba a lógica de Deus: Deus havia concedido prosperidade material à vida de alguns irmãos a fim de que agora eles pudessem usar dessa prosperidade para suprir as necessidades daqueles que nada possuíam, que dependiam da misericórdia manifesta nas doações da Igreja para poderem sobreviver. Prosperidade, querido(a) leitor(a), não é essa pouca-vergonha que estão ensinando por aí nos púlpitos das igrejas atualmente, uma prosperidade para prósperos, ou para prosperar um punhado de gente que ama viver encostada, com o boi na sombra, inimiga do trabalho! Prosperidade de jatinhos, de carrões, de ternos, de jóias, de viagens, de mansões e restaurantes caros - prosperidade de luxúria! Prosperidade, para o Deus da Bíblia, é algo que ele dá a alguns para que estes sejam instrumento Seu para abençoar àqueles que nada tem! Não é à toa que está escrito: "Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdadesuprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade, como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve falta." (II Co  8.13-15) 

Assim, perceba que o pensamento e a vontade de Deus sobre o cuidado com os pobres e mais vulneráveis à exploração não mudou. É o mesmo pensamento, a mesma vontade, manifesta tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.  A forma como nós, povo de Deus, somos usados pelo próprio Deus para abençoar estas pessoas pode mudar, mas o fato de Deus nos requerer disponíveis para a ministração dessa graça não mudou. Contextos mudam, a Vontade de Deus permanece para sempre!

Qual é o contexto hoje? O contexto hoje é o do materialismo e do egocentrismo. A humanidade está muito materialista e muito, mas muito egocêntrica. Raríssimas pessoas estendem a mão para ajudar a quem precisa! Raríssimas são aquelas que se compadem dos pobres, dos injustiçados, dos indefesos, dos oprimidos social e economicamente. Líderes mundiais ditos "de esquerda", como o autoproclamado presidente-ditador da Venezuela, fazem das "tripas ao coração" para perpetuarem-se no poder às expensas do bem-estar de seu povo. Milhares de pessoas abandonam todos os dias seus lares, suas casas, suas famílias e seus países em busca de terem o mínimo para poder sobreviver, indo em direção a outros países. Uma vez neles, passam a serem vítimas de toda a sorte de exploração e de maldade. Veja, por exemplo, o caso das mulheres venezuelanas que vieram para o Brasil: muitas acabaram na prostituição. Sabe por que? Para poderem se sustentar e sustentar seus filhos! Isso mesmo: mães, donas de casa, esposas, com ensino superior e qualificação profissional... vendendo seus corpos, violando-se a si mesmas, expostas a toda a sorte de doenças e a todo tipo de violência, para poderem ter o que comer! 

A reportagem veiculada pelo Estadão relata o drama das meninas venezuelanas obrigadas a se prostituir para comer (https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,prostituicao-vira-opcao-para-imigrantes-venezuelanas-em-roraima,70002278447). Muitos outros veículos de notícias relataram o drama das venezuelanas (acesse: https://www.dn.pt/lusa/interior/venezuela-oitenta-reais-o-preco-das-venezuelanas-que-sobrevivem-da-prostituicao-no-norte-do-brasil-9813595.html). Assista a baixo a reportagem do Câmera Record (link: https://www.youtube.com/watch?v=sliqYllS2ns). Note o que o repórter diz: são os brasileiros que mais exploram essas mulheres! Enquanto isso, enquanto os venezuelanos não tem nem o que comprar para comer em seu país e precisam se prostituir noutras nações, o ditador venezuelano refestela-se num banquete luxuoso em restaurante caro, em Istambul/Turquia!



Eu reconheço que para o país que recebe esses refugiados é muito difícil dar uma solução. Até porque a solução tem que partir do país de origem. Reconheço que países como os da América do Sul, que vivem profundas crises internas, socias e econômicas, receber mais pessoas faz com que essas crises sejam agravadas. Um exemplo disso é a saúde pública: no Brasil, só para ilustrar, com médicos, técnicos e enfermeiros sem receberem salários há meses - além da falta de pessoal; sem medicamentos e equipos e sem infraestrutura adequada (pessoas internadas em cadeiras e no chão, banheiros podres, baratas e ratos por todo lado, sem ar-condicionado, sem monitores cardíacos, etc.) para os próprios brasileiros, dar atendimento ainda a milhares de pessoas de outras nações é impossível (a roubalheira de recursos destinados à saude, pela classe política aliada com um conjunto de empresários picaretas, tem sido imensa ao longo dos anos)! A mesma análise pode ser feita nos sistemas trabalhistas, educacionais e de moradia. Reconheço que não dá simplesmente para invadir esses países e tirar o muquirana ditador à força do poder, que a solução é muito delicada. Não tenho respostas diretas para como as nações devam lidar com esse tipo de problema, ainda que deve ser descartado totalmente toda e qualquer medida que "feche as portas da nação" para esses refugiados. Nesse sentido, construir um muro na fronteira para impedir a entrada deles está totalmente fora de questão, como quer os EUA. De igual modo, a prática de mais violência contra essas pessoas é algo extremamente maligno, como propõe o partido Alternativa para a Alemanha (em alemão: Alternative für Deutschland, sigla AfD). 

No entanto, ainda que as soluções não sejam fáceis, o êxodo de refugiados deve servir de aviso divino para os governos e nações do mundo. Cada vez mais, aumenta o fluxo de imigrantes refugiados em diversas partes do globo e isso tende a crescer ainda mais. Com o aumento das guerras, doenças, escassez de trabalho e de comida (já prejudicada pelas mudanças climáticas), mais e mais pessoas necessariamente sairão de seus países em direção a outros mais abastados. Esses países "de primeiro mundo", como os da Europa e EUA, terão que lidar com isso gostando ou não. Não devemos nos esquecer que muito do que ocorre no mundo hoje deve-se às políticas comerciais e tecnológicas adotadas por essas nações ao longo de séculos a fio, explorando os recursos naturais e mão-de-obra das nações ditas "subdesenvolvidas" em prol de sua cobiça desenfreada, do "welfare state", do "modo de vida" de luxúria dessas nações às expensas de outras. O pecado que as nações cometeram por séculos a fio contra outras nações voltará para elas, timtim por timtim, não tenha dúvida disso! O sangue de crianças inocentes, de homens e mulheres, derramado para que madames tenham diamantes pendurados até no nariz está clamando da Terra para o céu! Mesmo no caso das nações "de terceiro mundo", haverá forte juízo contra ela por causa do sangue derramado na violência urbana, na morte de inocentes, nos hospitais, etc. para políticos e governantes diabólicos viverem como nababos. O Dia do Senhor vem contra todas as nações da Terra: "Porque o Dia do SENHOR está prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito tornará sobre a tua cabeça." (Obadias 1:15)

Aqui entra o papel da igreja, o qual ela vem sistematicamente negligenciando: PRIMEIRO, de parar de uma vez por todas de alimentar esse pecado de luxúria e de cobiça desenfreada, de desejo satânico de poder a qualquer custo, prostituindo-se com a política e com o mundo e seus valores. CHEGA! Chega dessa podridão, desse fedor de excremento pútrido que muitas denominações ditas cristãs vem exalando por imiscuir-se com o mundo! Vou grafar em maíscula: IGREJA NÃO APÓIA POLÍTICO NENHUM SEJA ELE DE QUE ORIENTAÇÃO FOR, NÃO ABRE PÚLPITO PARA POLÍTICO NENHUM, NÃO NEGOCIA COM O MUNDO E SEU SISTEMA E NEM ADOTA PARA SI OS MESMOS VALORES QUE O MUNDO ADOTA! Igreja é local de comunhão, de vida com Deus, de conversão, de ensino bíblico para a vida eterna, de misericórdia e de amor. Não é lugar de "irmão vota em irmão", de "ele sim/ele não" e outros mundanismos do gênero! Não é lugar de troca de apoio político por participação/cargo na administração! Não é lugar de exaltação a um estilo de vida nababesco e luxurioso como ideal para um cristão, em "pede-pede" de grana (justificada na "satanalogia da prosperidade", "proste-se e me adore que eu tudo te darei") para viver com boi na sombra e para crescimento e glória do império neobabilônico chamado "minha denominação evangélica, do fundador presidente bispo sumo apóstolo pontifex maximus"! Pastor nenhum é e nem deve querer ser um Nabucodonosor moderno, tampouco nenhum crente deve sê-lo ou querer sê-lo ou mesmo apoiar/financiar tal ambição! 

SEGUNDO, espera-se que a mão daquela que serve (ou diz servir) ao Senhor não seja mirrada. Assim, deve usar toda a grana que ajuntou e estender a mão para os necessitados. Deve fazer isso enquanto coletividade (que espera-se não ser a coletividade Borg) e enquanto indivíduo. Tem muito? Não vai te fazer falta dar comida a quem tem fome, nem roupa ao nu, nem água ao sedento! Agora, atenção: não é fazer isso como é feito em muitas denominações, onde a misericórdia prática só acontece nos eventos ditos missionários. Isso é misericórdia fogo de palha, para aplacar a consciência! Pergunto: quem tem fome, tem-na um único dia? Sua necessidade será plenamente satisfeita num único evento isolado? NÃO! A ajuda tem que ser diária, ou pelo menos dar para a pessoa sobreviver durante um tempo com ela; quando acabar, tem que ajudar de novo, de novo e de novo até resolver definitivamente a situação daquela pessoa!  Só para exemplificar: no vídeo acima, uma venezuelana se prostitui por R$ 80. Será que a igreja não pode dispor desse valor, de modo a tirar essas mulheres das ruas (se não todas, pelo menos uma única)? E faça-me um favor: tem recurso que dá e sobra para isso! Tem para alugar casa de festa para a denominação, então tem que ter para isso também! Tem para o jatinho do pastor, para o terninho novinho dele! Tem para a saia comprida da irmã!, para o brinco caro da outra, para a bota python! Tem para gravar CD/DVD! DÍZIMOS E OFERTAS SERVEM É PARA AJUDAR QUEM PRECISA POVO DE DEUS, NÃO PARA SUSTENTAR VIDA MANSA DE NINGUÉM! Mesmo pequenas denominações podem ajudar: se não contribuindo diretamente, podem ajudar contribuindo com o trabalho. É só olhar direitinho que você verá facilmente muita coisa que essas pessoas, que vivem em extrema miséria e pobreza, precisam e que são passíveis de serem atendidas! Afinal, temos pedreiros, carpinteiros, mecânicos, donas de casa, médicos, enfermeiros, físicos, engenheiros, professores, pedagogos, psicólogos, dentistas, advogados, juízes, empresários, etc. convertidos a Cristo; amém? Será que esses irmãos e irmãs não podem ajudar em nada? Não acredito nisso!

Segundo dados da a Agência da ONU para Refugiados, estamos testemunhando os maiores níveis de deslocamento já registrados. Cerca de 68,5 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a sair de casa. Entre elas estão quase 25,4 milhões de refugiados, mais de metade dos quais são menores de 18 anos. Refugiados são pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados. (fonte: https://www.acnur.org/portugues/)


Um filme muito bacana sobre o exemplo de um homem que salvou milhares de refugiados da morte é "A Lista de Schindler". O filme retrata a vida de Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto ao empregá-los em sua fábrica. Sustentado a alegação que seus trabalhadores eram essenciais para a iniciativa de guerra alemã, Schindler interviu por seus funcionários quando eram submetidos às condições brutais do campo de concentração de Plaszow, através de subornos e diplomacia pessoal. Em outubro de 1944, Schindler obteve autorização dos alemães para mudar a fábrica para Morávia, e seu assistente elaborou várias versões de uma lista com os nomes de 1.200 prisioneiros judeus necessários para trabalhar na nova fábrica. Estas listas ficaram conhecidas, entre os judeus, como “A lista de Schindler” (fonte: https://medium.com/louca-por-hist%C3%B3ria/conhe%C3%A7a-a-hist%C3%B3ria-que-originou-o-filme-a-lista-de-schindler-bceefce546d4). Eis um diálogo muito significativo, num trecho do filme:

Oskar Schindler: Eu poderia ter conseguido mais. Eu poderia ter conseguido mais. Eu não sei. Se eu ao menos... Eu poderia ter conseguido mais.
Itzhak Stern: Oskar, há mais de mil e cem pessoas aqui que estão vivas por causa de você. Olhe pra elas.
Oskar Schindler: Se eu tivesse feito mais dinheiro... Eu gastei tanto dinheiro. Você não tem idéia. Se eu ao menos...
Itzhak Stern: Haverão gerações graças ao que você fez.
Oskar Schindler: Eu não fiz o bastante!
Itzhak Stern: Você fez muito.
[Schindler olha para o seu carro]
Oskar Schindler: Este carro. Goeth teria comprado este carro. Por quê eu fiquei com ele? Dez pessoas logo ali. Dez pessoas. Dez pessoas a mais.
[remove seu distintivo nazista de ouro da lapela]
Oskar Schindler: Este distintivo. Duas pessoas. Duas pessoas a mais. Ele teria me dado duas por isso, no mínimo. Uma pessoa. Uma pessoa, Stern. Por isto.
Oskar Schindler: Eu poderia ter conseguido mais uma pessoa... e eu não fiz isso! E eu... não fiz isso!

(fonte: https://alistadeschindler.com/Filme/CitacoesMemoraveis)

Note, querido(a) leitor(a): Deus não mudou! O Senhor jamais muda! Ele não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa! Dar pão ao que em fome e roupa para o nu, aliviar os oprimidos e menos favorecidos é função especial da Igreja! Amar ao Senhor e amar ao próximo como a si mesmo são os dois grandes mandamentos, dos quais se derivam os demais, e o resumo da Bíblia! Como disse o pr. Caio Fábio, "Deus não tem nenhum altar de culto fora do amor ao próximo! Quem não entendeu isso ainda nada compreendeu do Evangelho!" As nações, por sua vez, tem também o seu papel nisso. Nenhuma nação que se diga cristã, preservadora de valores e da família, onde Deus é dito estar acima de todos, pode fechar seus olhos e recolher suas mãos para os refugiados, sob pena de juízo severo da parte de Deus! Xenofobia e ultranacionalismo não encontram base em Cristo nem na mensagem de Sua cruz! O amor é prático! Deus levantou um Schindler e uma Madre Teresa no passado, hoje quer despertar e levantar Seu povo para isso! Lembre-se, por fim, do que disse o Senhor sobre os dois grandes grupos que haverá por ocasião de sua vinda: 
  • GRUPO 1, DAS OVELHAS: "Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." (Mt 25.34-40)
  • GRUPO 2, DOS BODES: "Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna." (Mt 25.41-46)
Pense nisso!
Graça e paz!

domingo, 6 de janeiro de 2019

RELIGIÃO: A FÉ EM CRISTO NUMA CASCA DE NOZ


"Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito..." (William Shakespeare, "Hamlet", ato 2, cena 2) 

Dentro de uma casca de noz. Limitado no espaço, no tempo e na cosmovisão. E mesmo assim considerar-se rei do infinito. Parece uma tarefa simples, afinal tudo o que essa pessoa conhece é tudo o que ela vê e assim o seu infinito é aquilo que seus sentidos podem captar. Um infinito que é na verdade finito. E pequeno. 

O físico Stephen Hawking usou o mesmo texto citado no início dessa argumentação como inspiração para escrever seu bestseller "O Universo numa Casca de Noz". Segundo Hawking, não devemos ficar reclusos em nosso próprio "universo", mas expandir nossos pensamentos ao infinito.  A partir dessa lógica, ele discorre sobre Cosmologia, de forma simples e agradável. 

Viver numa casca de noz sem nunca considerar esta limitação é algo muito comum. É comum nas atividades humanas; onde há um ser humano, haverá sempre a possibilidade deste considerar a si mesmo "rei", isto é, conhecedor de toda a realidade possível, em virtude dessa realidade ser apenas uma fração de uma realidade infinitamente maior. Essa arrogância é típica de muitos pesquisadores em suas áreas de saber, que ao reduzirem a realidade passam a crer que já atingiram o clímax do conhecimento. Uma vez na casca de noz, cessa a curiosidade e consequentemente a capacidade de fazer perguntas, estagnando o conhecimento e com ele a própria compreensão da realidade das coisas. 

Reduzir a realidade para tentar compreendê-la não é, por si só, algo ruim. Na verdade, se tentássemos entender a realidade que nos envolve e da qual somos participantes, sob todos os seus amplos e inumeráveis aspectos, nunca iríamos chegar a conhecimento algum. Imagine tentar entender a Química, por exemplo, sem particularizar esse estudo, sem reduzi-la nas disciplinas de Fisico-Química, Química Orgânica, Química Inorgância, Química Geral, Química Analítica, Bioquímica, Termodinâmica, Química Quântica, Cinética Química e Catálise, etc.! O grande desafio no entendimento de qualquer assunto é tanto considerar (1) se não é possível haver algum aspecto daquela área que não foi abordado, quanto (2) como juntar as partes, ou seja, como entender a área maior a partir de suas partições menores. 

Considerando agora a fé em Cristo, discernir as partes da realidade é fundamental. Podemos viver as partes como se fossem toda a realidade sem nunca considerar que existe uma realidade maior, superior a que estamos vivendo. Podemos fazer pior: podemos considerar como parte da fé aquilo que jamais foi, é ou será uma parte da mesma, vivendo a fé e considerando-a em seu clímax a partir dessa falsa parte. É possível viver numa caverna escura, acorrentado, de costas para a luz, ignorando por completo que há um mundo fora da caverna e, ainda assim, crer que está vivendo em plena relidade das coisas. Isso muito se assemelha ao mito ou Analogia da Caverna, de Platão:

Imaginemos homens que vivam numa caverna cuja entrada se abre para a luz em toda a sua largura, com um amplo saguão de acesso. Imaginemos que esta caverna seja habitada, e seus habitantes tenham as pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não possam mudar de posição e tenham de olhar apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede. Imaginemos ainda que, bem em frente da entrada da caverna, exista um pequeno muro da altura de um homem e que, por trás desse muro, se movam homens carregando sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por lá, no alto, brilhe o sol. 

Finalmente, imaginemos que a caverna produza ecos e que os homens que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna. Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras.

Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se freqüentemente tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmeras hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou limitado.

Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro. Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E, então, eles o desprezariam...


Exatamente assim dá-se com quem vive sua fé em Cristo aprisionado na caverna da religião. Sim, a religião é uma verdadeira caverna escura, onde a realidade maior é convenientemente substituída por uma compreensão deturpada dessa realidade, onde a fé em Cristo se resume em assistência aos cultos e programações e na contribuição financeira com os mesmos (e com a liderança religiosa). Nessa "casca de noz", aquilo que é grande é apequenado de forma conveniente. Não para compreensão, não para entendimento, mas para obscurecimento da verdade. Nada escapa da religiosificação.

É interessante perceber que a religião dita cristã traz seus elementos de verdade. O problema é verdade e mentira foram diluídos e então cristalizados juntos, ou seja, a religião resume-se em elementos da verdade cristalizados juntos com a mentira, não uma verdade pura. Com isso, com a mistura, a verdade perde muito do seu poder real e transformador. Veja, a religião cristã pode ter pregação da Bíblia, mas o poder dessa pregação esvai-se à medida que a realidade por ela abrangida restringe-se à vida na casca de noz, dentro da religião. Prega-se sobre a plena liberdade em Cristo, por exemplo, mas ao mesmo tempo delimita-se para os ouvintes essa liberdade, restringindo-a ao ato de ir aos cultos dominicalmente, ser bom dizimista/ofertante e nunca, jamais e em hipótese alguma questionar das decisões e erros da liderança, tornando os efeitos dessa pregação inócua. Ensina-se, por exemplo, sobre comunhão entre os cristãos com direito a citações de textos em grego e hebraico, mas reduz-se essa "comunhão" a meros gestos nas reuniões, onde após a mesma cada um vai para sua casa e dane-se o outro com seus problemas; onde ninguém se entende, ninguém considera ninguém - onde nora quebra pau com sogros e cunhados e vice-versa, onde líderes traem outros por cobiça de posição, por "tapinha nas costas"; onde "toda paz, todo amor" tão badalados em verso e prosa não passam de cena religiosa. Ensina-se sobre fé, mas o exercício dessa fé é somente nos brados e gritos durante as reuniões, onde precisa-se frequentemente de um "objeto de fé" para servir de "ponto de contato pós-reunião". Tudo isso é apenas discurso vazio, inócuo.

Conheço muita gente que vive exatamente assim, numa casca de noz religiosa: tem aqueles que convidam outros para suas reuniões não com o propósito de ajudá-los, ou por simples gesto de amor desinteressado por todas as demais coisas mas totalmente interessado por elas; antes, o fazem para aumentar o número de frequentadores e assim "ganharem pontos" junto às suas lideranças, ou até à Deus. "Precisamos fazer essa igreja crescer!", "Fulano é mau obreiro porque não faz a obra crescer!", e por aí vai, esfolando-se para aumentar o público pagante. Tem outros que acham que cuidar de igreja é preparar lanchinhos e manter sempre o local de reuniões limpinho (não que isso não seja importante, mas note o reducionismo). Tem aqueles que acham que pastorear é sinônimo de pregação triunfalística psicologizada, aceitando tudo que é pecado sem nunca advertir e orientar realmente a pessoa. Tem aqueles que assistem às reniões apenas por causa da pressão exercida na casca de noz, para não serem "julgados e sentenciados" como "rebeldes", "desviados", "falsos cristãos", e por aí vai. No fundo de seus corações, consideram aquilo tudo um saco, uma perda de tempo: vão porque tem que ir, estão porque tem que estar, fazem porque tem que fazer; não por real amor ou interesse genuíno em Deus e nos outros. Se pudessem, estariam noutro lugar, como numa praia ou num cinema ou mesmo em casa. Mas, ao estarem presentes, mesmo contrariados, naquela "prisão da alma", seus "líderes-carcereiros" dirão que "está tudo bem na vida deles", "que estão em comunhão" e que "Deus os abençoará por ali estarem"! 

Leia a Bíblia, especialmente o Novo Testamento. Você terá um choque ao lê-la e comparar o que ela diz com aquilo que se vive na casca de noz religiosa, na caverna das trevas da religião. Princípios muito claros no Novo Testamento (que está no Antigo também, mas no Novo é gritante) são o do exercício da fé em Cristo respeitando-se sempre a liberdade do cristão (liberdade de ir e não ir, de fazer ou não fazer, de comer e não comer, de contribuir com quanto quiser e não contribuir, dessas contribuições serem destinadas para ajudar aos irmãos necessitados), do exercício do amor a Deus de forma concomitante e indissolúvel do amor do próximo, do interesse do coração em estar reunido (reunião é por prazer, por amor, não por coação), do desejo sincero de edificar vidas, de sempre abençoar pessoas (independente de elas crerem ou virem a crer ou não como os cristãos crêem), de viver a vida de bem com todos, do perdão pessoal e do perdão divino interligados, de suportar com fé o mal, de corrigir e ajudar os que se desviam, de socorrer os aflitos e atribulados até mesmo com as posses se preciso for, de todos poderem participar ativamente das reuniões (de forma ordenada, é claro), do cultivo de uma vida valorosa e cheia de boas obras, da evidência do fruto do Espírito como modo de vida (e não mera curiosidade bíblica), e por aí vai. Da compreensão da Unidade da fé como algo maior do que a unidade denominacional. De que uma pessoa ou denominação não é "feliz proprietário" da verdade em detrimento de outra denominação "que está nas trevas" (a síndrome dos únicos certos).  Que mesmo aqueles que não crêem ainda em Cristo como Senhor e Salvador pessoal tem seu valor para nós e que Deus pode trazê-los a nós de forma que haja um relacionamento benéfico e abençoador para ambos. Que o cescimento do Reino de Deus é antes de tudo interior e não exterior, para só então ser exteriorizado. Que a tão propalada "obra de Deus" é constituída 100% de pessoas vivas, não de coisas; fazer a obra é então cuidar dessas pessoas pelas quais Cristo morreu, não cuidar de estruturas sem vida. Que Igreja é diferente de denominação, que é possível ser Igreja sem ser denominação ou estar em uma denominação. Percebe como a fé em Cristo é muito, mas muito maior do que aquilo que se vive na dita religião cristã??

Quem vive numa casca de noz, limitado em sua vida e em sua compreensão, acha-se "rei do infinito". São "reis da divindade", "entendedores de Deus", decifradores dos códigos da Bíblia, possuidores dos segredos eternos do Altíssimo. Os "reis do infinito" fazem uma imensa questão de serem assim reconhecidos! Veja, por exemplo, o que se dá com o tal "conhecimento bíblico": quanto mais se conhece, menos se vive e mais "arrota-se" superioridade sobre os demais! A pessoa faz questão de ler a Bíblia e de ler muitos e muitos livros e enciclopédias sobre a Bíblia somente para dizer para si mesmo e para outros "eu conheço isso tudo!" E ai de quem não concorde com ela! Conhecimento bíblico, assim, na denominação, vira "coisa de especialista em Deus" com direito a "esfregar" "o currículo ministerial" na "cara dos outros"! Afinal, ninguém é tão "rei do infinito" quanto o fulano é, devendo todos se recolherem às suas insignificâncias diante de sua Majestade! Sua Majestade falou, tá falado!

Minha proposta para você, dileto(a) leitor(a), é que você procure enxergar sua fé em Cristo além da abóbada da casca religiosa. Faça isso a partir da Bíblia, do Novo Testamento especialmente (lembre-se que o Novo Testamento tem ascendência sobre o Antigo Testamento em matéria de fé para o cristão; qualquer ensino derivado do Antigo deve ser comparado com o Novo). E, a partir dessa realidade expandida, viva intensamente esta fé! Jesus, em João 10, nos diz que o ladrão (os líderes religiosos, que usam e se aproveitam da religião para benefício próprio, cujo o dinheiro e a influência é o que lhes importam) veio para matar, roubar e destruir; ao contrário, Ele veio para nos dar vida e vida em abundância! Os "reis do infinito" um dia constatarão sua pequenez e insignificância, quando se deparem com o Infinito Ressuscitado, o Verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores! Não seja você mais um rei do infinito, saia da casca e veja que há uma realidade superior, de Deus para você! Passe a viver, de verdade, a sua fé em Cristo! A fé verdadeira, expandida, é maravilhosa! Chega de teorias! Chega de discursos que nunca viram prática, chega de toda religiosificação da fé! Chega de vida de caverna em trevas, de casca de noz! Venha para a luz em Cristo! 

"Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam." (Pv 4.18,19) 

Pense nisso!
Graça e paz!