domingo, 10 de novembro de 2019

OS DOIS GRANDES MANDAMENTOS


E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo:
Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.

(Mateus 22:35-40)

Mandamentos de Deus, Ordenanças de Deus, Lei (Torá) e Profetas (Nevi'im): tudo refere-se a mesma coisa, tudo é somente a repetição e variação de um mesmo tema - o amor. Deus enviou vários profetas e o resumo central de tudo aquilo que eles disseram é o amor genuíno amor, tanto de Deus por nós e de nós por Deus, quanto de nós para com os nossos próximos. Daí que toda quebra da Lei é, em sua essência, a quebra do princípio do amor. Não é à toa, portanto, que toda quebra da Lei resulta em maldição; afinal, viver a vida de forma egoísta e egocêntrica, sem se importar com Deus e com o próximo, é em si mesma uma grande maldição. Quem vive assim é maldito e não sabe, vivendo privado por suas próprias escolhas do amor. 

Desses dois grandes mandamentos, é fácil concluir que homem foi criado para amar. Não fomos criados para o desamor, manifesto nas suas variadas formas. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e isso precisa obrigatoriamente incluir o amor, pois Deus é amor (I Jo 4.8). Daí a conclusão: quem não ama não conhece a Deus, a despeito da religião que possua, seja ela espírita, evangélica, católica, budista, ou qualquer outra, ou que se dedique, ou até das boas obras que faça. É bom ressaltar nesse ponto que a religião e o amor andam sempre na contramão um do outro: quem é muito religioso geralmente ama a si mesmo e a ninguém mais.

Jesus deixou de forma muito clara que há somente dois mandamentos, um equivalente ao outro. Isso mesmo! Na ótica de Deus, amar a Deus É EQUIVALENTE a amar ao próximo. Conclui-se que o desprezo a um em detrimento do outro significa QUEBRA DO MANDAMENTO, pecado. Pecado não é algo que só existe na nossa relação com Deus, quando blasfemamos, ou quando duvidamos de Deus. Aliás, no que se refere a Deus, a INCREDULIDADE é, talvez, o maior pecado, derivando a IDOLATRIA e sua irmã gêmea, a FEITIÇARIA. Porém, o pecado é também na nossa relação com o próximo. Aí a lista de ações que Deus chama de pecado é IMENSA: adultério, fornicação, lascívia, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e por aí vai. Só para ilustra, veja as seguintes passagens bíblicas:


  • O que despreza ao seu próximo peca, mas o que se compadece dos humildes é bem-aventurado. (Provérbios 14:21)
  • O que oprime o pobre insulta àquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado o honra. (Provérbios 14:31)
  • O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido. (Provérbios 21:13)
  • Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redargüidos pela lei como transgressores. Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo. Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e nào lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. (Tiago 2:1-17)
Não é possível, portanto, ser um cristão, um crente em Cristo, dizer-se a si mesmo que é salvo, e viver ainda uma vida de desamor com Deus e com o próximo. Como dito, é muito fácil saber se vivemos em desamor: quando ignoramos, quando "ligamos o dane-se" para aqueles que estão ao nosso redor precisando de amor, precisando de graça e de misericórdia, de forma prática. Quando damos escorpiões àqueles que nos pedem um ovo, ou damos uma pedra àqueles que nos pedem pão ou até mesmo uma serpente àqueles que nos pedem um peixe; noutras palavras, quando prejudicamos direta ou indiretamente quem precisa de nós. Escorpiões, pedras, serpentes e coisas semelhantes a estas é que são fartamente distribuídas àqueles que precisam de amor na prática. Amor na prática é amor que age, que faz acontecer, que não fica com respostas religiosas etéreas para problemas reais e imediatos, cheia de filosofia na boca mas com o coração vazio de verdade e amor. 

Hoje, tristemente o amor nos corações está cada vez mais difícil. Você, querido(a) leitor(a), já deve ter provado o desamor em sua vida. Ele dói ainda mais quando vem de gente que é cara para nós, de gente que consideramos em alta estima, que temos como íntimos e queridos pessoais. Talvez tenha vindo de gente que teoricamente não deveria jamais ser a fonte do desamor, que se manifesta em traição, inveja, abandono, desprezo e marginalização eclesiástica, por parte de grupos e de lideranças religiosas. Desamor que julga e condena, que exclui e excomunga, que corta e arranca sem dó nem piedade. Gente que cobiça para si mesma maior visibilidade e admiração pessoal e que entende que posições, cargos e títulos são instrumentos para alcançar status e preeminência; que faz tudo que estiver a seu alcance - mesmo derrubar e destruir vidas - para alcançar esses cargos e posições. Gente maligna, sem afeto, sem misericórdia..., sem amor. Que diz amar a Deus e que odeia o seu irmão - ódio não é só sentimento, é ação. Gente que levanta mãos diante de Deus mas as encolhe, ou pior, as estende com punhos cerrados em direção ao próximo. 

Será que Deus receberá a adoração, ou o serviço, ou os atos de fé, ou mesmo escutará as orações destes que egoístas e egocêntricos? A resposta de Deus é um sonoro NÃO! A fé em Cristo - foco nesta a partir desse ponto - é impossível de ser exercida desprezando-se o próximo. Pastores que desprezam o próximo são PASTORES DE SI MESMOS. Crentes que preocupam-se apenas com seu bem-estar, com "aparecerem bem na fita" diante dos outros, mas que não estão nem aí para quem está ao seu redor são CRENTES EM SI MESMOS. Crer em Cristo obrigatoriamente deve significar algo prático, e esse algo prático não é só ir a um templo no domingo, trazer dinheiro, cantar músicas, escutar alguém falando, orar e voltar para casa para recomeçar a mesma vidinha egoísta na segunda-feira. É AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO. 

Quem é esse próximo? É todo aquele que precisa de nós e que está ao nosso alcance ajudá-lo. O próximo pode ser até aquele que não simpatizamos muito - e geralmente são esses que Deus usa para provar para nós mesmos o nível do nosso amor por Ele. Pode ser o chato, o mala-sem-alça, o implicante, o enjoado, o turrão cabeça-dura. O do partido político adversário. O torcedor do outro time de futebol. Daquele que tem uma ideologia diferente, ou até uma religião diferente, ou mesmo aquele que não tem nenhuma religião ou até que não acredita em Deus. Pode ser o LGBT. Pode ser o vizinho, o parente, o amigo, o irmão, o cara do boteco, a prostituta com saia curta, o colega do trabalho, o passageiro do ônibus/trem, o ambulante, o médico, o advogado, o andrajoso, o tio sem camisa e de bermuda, a vizinha. Todos, sem exceção.

O que Deus espera de todos os homens, em especial daqueles que dizem crer em Jesus, é que ajam como o bom samaritano. Os samaritanos eram odiados pelos judeus na época de Jesus. Como já anteriormente expliquei na argumentação intitulada "UMA PALAVRA ACERCA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA" (http://apenas-para-argumentar.blogspot.com/2015/06/uma-palavra-acerca-da-intolerancia.html),

Os samaritanos eram descendentes dos Babilônicos, dos Cuteus, dos de Avá, dos de Hamate e de Sefarvaim (II Rs 17.24), enviados para a cidade de Samaria que estava devastada e despovoada, com uma leve mistura de sangue judaico (II Cr 30.6; 34.9). Por conseguinte, eram uma espécie de raça aparentada dos judeus, e os habitantes da Judéia referiam-se a eles pelo nome de cuteanos.  Por sua natureza mista, foram rejeitados nos serviços do templo, quando do retorno do cativeiro babilônico e em 409 a.C., orientados pelo sacerdote Manassés (excluído de Jerusalém por Neemias por ter casado ilegalmente com a filha de Sambalate, horonita), obtiveram a permissão do rei persa Dario Noto de erigir um templo no monte Gerizim. Uma vez iniciada essa adoração, imediatamente ficam em posição de rivalidade, como seita cismática, e sua história posterior apresenta as características usuais desse antagonismo. Recusavam toda e qualquer hospitalidade aos peregrinos a caminho de Jerusalém, assaltando-os e maltratando-os no decurso da jornada. No tempo da revolta dos macabeus, os samaritanos se inclinaram perante a tempestade, e seu templo, no monte Gerizim, era dedicado ao Zeus Xênio (que posteriormente foi destruído por João Hircano, em 128 a.C.). Muita inimizade havia entre os samaritanos e os judeus. Entre os anos 6 a 9 d.C., os samaritanos espalharam ossos no Templo de Jerusalém, por ocasião da Páscoa. Em 52 d.C., samaritanos massacraram um grupo de peregrinos galileus em En-ganim. Os judeus consideravam os samaritanos como cismáticos, sendo o ponto principal de discórdia o templo no monte Gerizim como local de adoração.
 
Perguntado por um certo doutor da Lei (um judeu quem explicava a Lei e Deus para as pessoas) sobre quem seria o nosso próximo, Jesus respondeu, dizendo: "Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira." (Lucas 10:30-37) O preconceito era tamanho que esse doutor da Lei não respondeu à pergunta de Jesus identificando o próximo de maneira direta. Ele não disse "o samaritano", mas disse "o que usou de misericórdia para com ele". A despeito disso, Jesus foi muito claro: "vai, e faze da mesma maneira", ou seja, use de misericórdia com todo aquele que precisar e que estiver à tua mão. 

Se servir de inspiração adicional, assista: 



Muitas vezes, com nossos preconceitos, nos comportamos como o sacerdote e o levita, os religiosos da época. Somos muito religiosos, muito cheios de piedade exterior, de aparência de santidade, de regrinhas de pureza, cheios de "não me toque", mas SEM AMOR. Não amamos sequer nossos ditos irmãos crentes, quanto mais aqueles que não comungam a mesma fé que a nossa! Comunhão que dizemos ter é piada de mal gosto, não passa de ideologia! Olhamos e julgamos, ao invés de olharmos e amarmos. Cobiçamos o que é do outro - "dane-se ele, farinha pouca meu pirão primeiro!", somos incapazes de nos condoermos de quem sofre e de valorizamos vidas e não coisas. Somos imunes ao sofrimento alheio! Quão malditos são estes, quão miseráveis, pobres e cegos e nus são, porque tem olhos e não vêem, tem ouvidos e não ouvem, que vivem suas vidas como se mais ninguém existisse! Enchem a terra de violência com o seu "desamor em nome de Deus", fazendo da vida um caldeirão do inferno onde lançam os necessitados só porque não se enquadram em sua religiãozinha de meia pataca! Não sabem eles mesmos que o inferno será sua morada eterna, se não se arrependerem e não mudarem sua maldita forma de viver! 

Jesus certa vez disse: "Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mateus 9:13) Aprendei o que significa, Ele disse. Aprendei o significado. Aprendei a razão de ser e de viver! Deus não quer sacrifício, ouviram religiosos?? Ouviram "srs. e sras. justiças-próprias"?? Deus quer MISERICÓRDIA! "Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia" (Tg 2.13a) É PARA FAZER MISERICÓRDIA, ENTENDEU? Ou quer que desenhe? Larga esse maldito juízo temerário, julgando tudo e todos menos a si mesmo! Larga a toga da hipocrisia! Julgando outros por bobagens e absolvendo a si mesmo de coisa muito pior! Tudo tens que julgar na vida do outro? Que inferno!! Estende a mão para o necessitado, estende o coração para o seu próximo! Alegre-se com quem se alegra, chore com quem chora! Não é para ficar com JARGÃOZINHO CRENTÊS - "o Senhor vai te abençoar, irmão!" Se você tem a benção em si mesmo que o outro precisa, é para VOCÊ abençoar! Se não pode abençoar, pelo menos não fica enchendo o saco com legalismo e religião - ainda que é muito difícil, quiçá impossível, alguém não poder abençoar outro com nada! Afinal, és tão miserável, tão necessitado, que nem um pedaço de pão possas dar a quem tem fome? Nem mesmo podes fazer companhia ao que está sofrendo, solitário, nem por um minuto sequer? Nem um simples telefonema? Não podes se oferecer para voluntariamente ajudar ninguém?  Se é assim, estás debaixo de maldição mesmo; tua fé é quimera, é ilusão, é conto de fadas, pois tem ZERO de valor prático! Tua conversão a Cristo nunca existiu e você ainda está morto em delitos e pecados; virou apenas um religioso! Vive socado num ambiente religioso, fazendo coisas religiosas, sem expressão nenhuma de verdadeira transformação de vida! Ao final dos teus dias, quando fores recolhido à sepultura, verás que tudo na tua vida - e a própria vida - foi em vão: cantava, pregava, orava, dizimava, evangelizava, não saía do templo... tudo sem proveito algum! Nunca conheceu a Jesus e nunca foi por Jesus conhecido! Muito triste será o teu fim! 

Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 8:11,12)

Pense nisso!
Graça e paz!