domingo, 27 de agosto de 2023

RESGATANDO O CONCEITO BÍBLICO SOBRE A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO: PARTE 1


"Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da comum salvação"
(Epístola de Judas, cap. 1 vs 3)

Salvação: é bem provável que você já tenha tido contato com esse termo pelos mais diversos meios possíveis em algum momento da sua vida e em muitos contextos. Particularmente no âmbito religioso, esse termo é usado com certa frequência, com uma multiplicidade de conceitos que ora são coincidentes e muitas vezes divergentes, gerando uma confusão em nosso entendimento. Como cristão que crê na Bíblia Sagrada como sendo a revelação da Verdade de Deus aos homens, senti-me impulsionado a escrever com zelo sobre o que é a salvação em Cristo, por meio de uma série de postagens aqui no blog. 

Ao pensarmos em salvação, algumas perguntas vem a nossa cabeça: O que é salvação? Por que precisamos ser salvos? Do que precisamos ser salvos? Como seremos salvos? Qual a duração dessa salvação? São perguntas muito importantes e relevantes, as quais precisam de uma resposta franca e honesta, sem enrolações. Vamos começar a responder essas perguntas, baseados na Bíblia Sagrada. Para isso, precisamos ver como tudo começou, conforme registrado no primeiro livro da Bíblia, chamado Gênesis. O livro de Gênesis mostra como tudo e cada criatura teve um começo; ele narra a obra criadora de Deus, realizada em um tempo passado cuja data absoluta não temos como sequer especular. 

Gênesis começa com a criação, apresentando Deus como a causa exclusiva da criação do Universo, da Terra com toda a sua vida e da humanidade. Os capítulos 1 e 2 mostram assim a criação "do céu e da Terra" (1:1), propriamente dita e do ordenamento destes, do dia e da noite, da criação ordenada dos elementos geográficos (terra e água), das plantas, dos animais aquáticos, das aves e dos animais terrestres e, por fim, do homem (1:26,27). O capítulo 1 finaliza o relato dizendo que "viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom" (1:31). Toda a criação era, portanto, algo muito bom! 

O capítulo 2 dá uma descrição mais pormenorizada sobre a criação do homem e da mulher: "⁷ E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. ²¹ Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; ²² E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão". (Gn 2:7,21,22) Do pó da Terra foi por Deus forjado o nosso corpo material e pelo sopro de Deus foi formada a nossa alma e o nosso espírito. Somo assim uma alma vivente, que habita em um corpo material e que tem um espírito. A partir do corpo do homem foi feito o corpo da mulher, sua alma e seu espírito. É maravilhoso ver como Deus, ao criar o homem e a mulher, inseriu o equilíbrio necessário no relacionamento humano, tão raro em nossos dias! Respeito mútuo, honra, compreensão, carinho, amor, compromisso... tudo estava harmonicamente inserido nesse ato criador de Deus, como percebeu o próprio homem: "²³ E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. ²⁴ Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne." (Gênesis 2:23,24) (para mais sobre esse assunto, consulte: CASAMENTO: HOMEM E SUA MULHER CONFORME A VONTADE DE DEUS ). 

Após a criação do homem, Deus plantou um jardim - o jardim do Éden - e colocou nele o homem para o lavrar e o guardar (2:15). Nesse jardim o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal (2:9). Note: tudo que era bom e deleitável estava ali, criado por Deus; toda árvore que era "agradável a vista". Havia abundância de comida. A fome, a miséria, a pobreza, a opressão financeira não existiam até então; ninguém jamais morreria de fome ou teria qualquer necessidade. 

Observe que essas árvores que ali brotaram por Vontade de Deus eram algo agradável à vista; essa expressão significa que Deus criou ali algo que suscitava muito prazer admirativo, mais que bonito, muito bom, ótimo, belo, excelente. Juntamente com essas árvores que serviriam de alimento, Deus também fez brotar duas outras árvores: uma delas era a árvore da vida. Pela leitura do texto bíblico, entendemos que essa árvore produzia um fruto capaz de gerar a vida eterna para quem dele comesse. Ou seja, ao comer desse fruto, não haveria jamais a morte com suas implicações no contexto de toda a criação. 

Parênteses: a morte tem em si muitas aplicações. A morte do corpo (e a morte espiritual, que abordaremos mais tarde) é o primeiro fato que pensamos de primeiro momento. No entanto, as doenças, os problemas na formação do corpo humano (doenças congênitas, doenças genéticas, etc.) e as doenças infecto-contagiosas (e a própria existência dos agentes patógenos - vírus, bactérias, etc.) estão aí incluídas; estão também as incluídas a morte por velhice. A morte tem também relação com as injustiças (má distribuição de renda e de comida, acesso aos serviços de saúde, saneamento básico, opressão financeira, política e religiosa, etc.) e com violência (assassinato, homicídio, estupros, corrupção, assaltos, tráfico de drogas, guerras, disputa por terras, etc.), o surgimento de animais peçonhentos, etc.. Tem também relação com a poluição, com a extinção de várias espécies de animais, com a destruição de florestas e rios), com o aquecimento global, as enchentes, os terremotos, os furacões, etc. Ou seja, de forma resumida, todo o mal que o homem pratica e sofre, sofrendo com ele toda a criação, originalmente tem relação com a morte, direta ou indiretamente.  

O que seria essa árvore da vida? Muitos são aqueles que já especularam sobre a sua natureza. Eu a vejo como sendo algo ligado ao próprio Deus, o autor e preservador de toda a vida existente. Comer do fruto da árvore da vida seria, desse modo, escolher por iniciativa própria viver segundo a Vontade de Deus; seria escolher o relacionamento com Deus e Dele depender em tudo e por tudo. Tudo o que o homem precisasse, o que quer que fosse, Deus o daria livremente e de bom grado. Não deveria o homem temer falta de nada, do mínimo ao máximo. O Senhor proveria todas as suas necessidades, acrescentando-lhe continuamente tudo o que fosse preciso. Escolher a árvore da vida é escolher ao próprio Deus, portanto, "comendo" Dele diariamente. 

No entanto, Deus também colocou outra árvore naquele belo jardim. Ela foi chamada de "a árvore do conhecimento do bem e do mal". Deus avisou ao homem que essa árvore não deveria ser comida, pois isso traria a morte sobre a humanidade (e à criação) (Gênesis 2:17). Obviamente, ao olharmos o mundo atual, facilmente vemos que o homem não quis obedecer a Deus e comeu do fruto dessa árvore. Há morte em todo o lugar! O homem preferiu comer dessa árvore ao invés de comer da árvore da vida.

Por que Deus colocou essa árvore tão perigosa no jardim, é a pergunta que fazemos. Primeiramente, devemos entender que o homem ao ser criado por Deus à sua imagem e sua semelhança possuía necessariamente a capacidade de escolha, tal como Deus a possui. Ele foi criado com intelecto, com capacidade de pensar e raciocinar, com capacidade de fazer suas próprias escolhas. Noutras palavras, Deus criou o homem livre; não criou fantoches ou robôs. A liberdade, manifesta na capacidade de escolher, seria inútil se o homem não fosse colocado diante de uma situação em que precisasse tomar uma decisão. Note: o homem tinha em si mesmo TUDO o que era necessário para tomar a decisão entre a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Ele foi criado moralmente bom, num lugar perfeito com tudo ao seu dispor a tempo e hora e, acima de tudo, com a presença contínua de Deus! O homem literalmente andava com o próprio Deus como companhia, com quem conversava livremente e sem reservas, contemplando sua perfeição e sentindo todo o seu amor! E, acima de tudo, o homem havia ouvido o que Deus havia lhe dito: não coma dessa árvore! Ou seja, ele havia sido devidamente instruído por Deus, de quem tudo recebia livremente de forma a não ter necessidade de coisa alguma, sobre o que aconteceria se ele desobedecesse. Não deveria portanto ter qualquer dúvida: Ora, se Deus tudo supre em minha vida, se Deus tudo me dá livremente, se eu tenho Seu amor e amizade, para que cargas d´água em vou querer essa árvore?!? 

No entanto, lamentavelmente, apesar de ser rico para com Deus o homem não quis obedecer a Deus. Preferiu comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, ouvindo a conversa maliciosa da serpente (Gênesis 3:1-6): "⁴ Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. ⁵ Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal" (Gênesis 3:4,5). Nas entrelinhas, quando a serpente propõe ao homem comer para serem como Deus, conhecendo o bem e o mal, ela está propondo justamente ao homem a independência de Deus. Ela propõe que o homem seja seu próprio Deus. Noutras palavras, é como se a serpente dissesse: "Para quê vocês precisam de Deus? Vocês mesmos podem ser seu próprio Deus! Para que esperarem tudo de Deus? Conquistem vocês mesmos! Tomem as suas decisões! Deus proibiu comer dessa árvore porque Ele sabe que se vocês comerem não precisarão mais Dele para nada! Vocês passarão a saber o que é bem para vocês por vocês mesmos, assim como é com Deus! Deus é egoísta, Ele não quer dividir esse conhecimento com vocês! Deus não é tão bom e cheio de amor como Ele quer que vocês pensem!"

Quem era essa serpente? Mais a frente, no último livro da Bíblia chamado Apocalipse, descobrimos que ela era o próprio Diabo, Satanás (Apocalipse 12:9). Provavelmente o Diabo se travestiu como uma serpente, ou então ele usou uma serpente de alguma forma para seduzir a mulher de Adão, Eva. Em sua obra "Paraíso Perdido", John Milton escreve que Satanás entrou pela boca da serpente e dela se apossou para, por meio dela, seduzir Eva a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Isso no entanto é especulação e a Bíblia não traz qualquer revelação sobre isso, ainda que tal especulação não possa ser descartada. A inveja do homem e o ódio por Deus, aliado à cobiça de ser igual a Deus, motivaram a Satanás a agir contra o homem e contra Deus (para saber mais, leia: O AMOR DE DEUS PELO HOMEM REVELADO NA AURORA DA CRIAÇÃO e HERESIAS MODERNAS: O DIABO É CRIAÇÃO DE DEUS? ).

Ao ato de desobedecer a Deus e comer do fruto da árvore proibida chamamos Pecado Original. Pecado é desobediência à Vontade de Deus, se manifestando de diversas maneiras. Com o pecado cometido no Edén, Adão trouxe a morte para si mesmo (em todos os significados já dantes explorados) e também para todos os seus descendentes, ou seja, para toda a humanidade. Por meio de Adão entrou o pecado no mundo (Rm 5:12) e assim desde Adão, todos nós nascemos em pecado (Salmos 51:5) e vivemos pecando invariavelmente: 

⁹ Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;
¹⁰ Como está escrito:Não há um justo, nem um sequer.
¹¹ Não há ninguém que entenda;Não há ninguém que busque a Deus.
¹² Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis.Não há quem faça o bem, não há nem um só.
¹³ A sua garganta é um sepulcro aberto;Com as suas línguas tratam enganosamente;Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;
¹⁴ Cuja boca está cheia de maldição e amargura.
¹⁵ Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
¹⁶ Em seus caminhos há destruição e miséria;
¹⁷ E não conheceram o caminho da paz.
¹⁸ Não há temor de Deus diante de seus olhos.

(Romanos 3:9-18)

Esse pecado, manifesto em nós e sendo parte integrante e indissociável do nosso ser, trouxe como já dito a morte. Mas não apenas a morte física. Trouxe também a morte espiritual, que é a separação do homem em relação a Deus. Isso está muito claro no texto acima, de Romanos 3. Não queremos Deus, pelo menos não queremos que Deus nos diga o que é bom e o que Ele deseja para nossas vidas! Não queremos um relacionamento com Ele; em lugar desse relacionamento criamos religiões e mais religiões, com seus próprios critérios e regras. Nos tornamos exatamente como Satanás: malignos, cruéis, impiedosos e egoístas. Não amamos ninguém, apenas a nós mesmos. Modificamos a criação de Deus a nosso bel prazer, inventando males sobre males, em todas as esferas dessa criação: "Deus criou assim? Não, assim eu não quero! Eu quero diferente! Eu quero que seja feita a minha vontade, assim na Terra como no céu! Eu sou o meu próprio guia, o meu próprio senhor, o meu próprio deus! Eu é que sei o que é bom... para mim!" O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos vai nos dizer que nós mudamos "a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível" (Romanos 1:23) e a "verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador" (Romanos 1:25). Os resultados são apontados no texto de Romanos e ao longo de toda a Bíblia, além de serem notórios na humanidade (Romanos 1:24-32). 

Parênteses: Vale mencionar que esse pecado não é só fazer o errado, é também não fazer o que é correto. Suponhamos que de agora em diante nunca mais praticássemos qualquer mal, nem prejudicássemos de forma alguma a qualquer semelhante, viveríamos sem pecar? Não, pois o nosso pecado apareceria no fato de não fazermos todo o bem que deveríamos fazer: "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado" (Tiago 4:17).

Logo, na prática, por conta do que fez Adão estamos separados de Deus. Deus, que nos criou com tanto amor, foi por nós abandonado e esquecido. Condenamo-nos a nós mesmos e toda criação à ruína, a estar sob o domínio de Satanás, a quem preferimos dar ouvidos e cumprir suas vontades. Passamos a ter o diabo como pai (João 8:44). Portanto, o que nos resta, nós que vivemos uma vida inteira tendo como pai o diabo é morarmos eternamente junto desse pai, a quem preferimos em lugar de Deus. Por isso, o inferno que foi criado para ser o local de sofrimento eterno para o diabo, passou também a ser o local de sofrimento eterno para os anjos rebeldes escolheram seguir o diabo e também para o homem que faz as mesmas escolhas. Essa é a consequência do que fez Adão. É o resultado da justiça de Deus. Para piorar, nada há que o homem possa fazer por si mesmo para reverter essa situação, por conta do seu estado miserável. Nenhuma obra, nenhuma caridade, nenhum gesto de bondade, nada há que possa modificar essa realidade. Nenhuma criatura espiritual, nenhum homem, nenhuma religião ou filosofia pode fazer isso. Noutras palavras, o homem está condenado a um fim trágico. O que fazer?

Deus é justo, isso é verdade. Só que Deus também é bom e misericordioso. Deus não deseja de modo algum que NINGUÉM seja condenado para sempre a uma eternidade de sofrimento longe Dele. Ao contrário, o desejo de Deus é que o homem seja redimido e passe novamente a ter comunhão com Ele. Deus quer restaurar o homem caído, quer levantar esse homem novamente, libertando da influência do diabo, quer retirá-lo de um estado de maldito para uma estado de bendito, de filho do diabo para filho de Deus, de escravo para livre. Deus prometeu isso em Gênesis. Falando à serpente, disse Deus: "¹⁵ E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3:15). Deus prometeu que um dia Ele faria vir sobre essa Terra um descendente de Eva, que esmagaria a cabeça da serpente! Que poria um ponto final na influência da serpente sobre o homem! Na próxima postagem, veremos como Deus fez cumprir essa promessa feita a Adão e Eva e à serpente. 

Querido(a) leitor(a): Eu concluo aqui dizendo que há esperança para você! Há esperança para nós! Deus nos ama e não nos deixou na mão do diabo! Se eu e você quisermos, nós podemos regressar a Deus! O que perdemos no Éden, tudo aquilo que poderia ter sido, não se compara àquilo que podemos receber e ser diante de Deus a partir de hoje! Dando um spoiler, Deus providenciou para si o descendente de Eva, que esmagou a cabeça do diabo; Ele chama-se Jesus! Creia no Senhor Jesus e entregue a Ele a sua vida, hoje mesmo! Em Cristo, até o pior dos pecadores encontra o perdão dos seus pecados! Ore assim: "Amado Deus, sou pecador e necessito de perdão. Arrependo-me dos meus pecados, pelos quais Cristo morreu e derramou seu precioso sangue por mim. Eu renuncio o mal, não quero mais viver afastado de Ti. Agora te peço perdão e convido Jesus para entrar em meu coração e minha vida, como meu Salvador pessoal".

Para sua edificação, deixo o louvor abaixo. Clique e escute:


Se tiver alguma dúvida, por favor não hesite em perguntar-me!

Graça, misericórdia e paz lhe sejam multiplicadas!      

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

COBIÇANDO O PREÇO DA HONRA, MAS ESQUECENDO-SE DE QUE A VERDADEIRA HONRA TEM UM PREÇO


19
Então disse Aimaás, filho de Zadoque: Deixa-me correr, e denunciarei ao rei que já o SENHOR o vingou da mão de seus inimigos. 20 Mas Joabe lhe disse: Tu não serás hoje o portador de novas, porém outro dia as levarás; mas hoje não darás a nova, porque é morto o filho do rei. 21 E disse Joabe a Cusi: Vai tu, e dize ao rei o que viste. E Cusi se inclinou a Joabe, e correu. 22 E prosseguiu Aimaás, filho de Zadoque, e disse a Joabe: Seja o que for deixa-me também correr após Cusi. E disse Joabe: Para que agora correrias tu, meu filho, pois não tens mensagem conveniente? 23 Seja o que for, disse Aimaás, correrei. E Joabe lhe disse: Corre. E Aimaás correu pelo caminho da planície, e passou a Cusi. 24 E Davi estava assentado entre as duas portas; e a sentinela subiu ao terraço da porta junto ao muro; e levantou os olhos, e olhou, e eis que um homem corria só. 25 Gritou, pois, a sentinela, e o disse ao rei: Se vem só, há novas em sua boca. E vinha andando e chegando. 26 Então viu a sentinela outro homem que corria, e a sentinela gritou ao porteiro, e disse: Eis que lá vem outro homem correndo só. Então disse o rei: Também traz este novas. 27 Disse mais a sentinela: Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Então disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas novas. 28 Gritou, pois, Aimaás, e disse ao rei: Paz. E inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o SENHOR, que entregou os homens que levantaram a mão contra o rei meu senhor. 29 Então disse o rei: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse Aimaás: Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim teu servo; porém não sei o que era. 30 E disse o rei: Vira-te, e põe-te aqui. E virou-se, e parou. 31 E eis que vinha Cusi; e disse Cusi: Anunciar-se-á ao rei meu senhor que hoje o SENHOR te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti. 32 Então disse o rei a Cusi: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse Cusi: Sejam como aquele jovem os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para mal. (II Samuel cap. 18)

HONRA: "Consideração devida a uma pessoa que se distingue por seus dotes intelectuais, artísticos, morais; privilégio. Marca de distinção; homenagem". O dicionário Michaelis define o termo como sendo "1-Princípio moral e ético que norteia alguém a procurar merecer e manter a consideração dos demais na sociedade; 2-Consideração ou homenagem à virtude, às boas qualidades morais, artísticas, profissionais de uma pessoa; 3-Consideração e homenagem prestada a uma pessoa, a uma santidade ou a um evento importante" Podemos dizer, portanto, que honra é o reconhecimento pessoal distintivo recebido em função de uma qualidade, de uma posição ocupada ou de algum trabalho específico.  Dar honra a alguém significa estimar, valorizar e respeitar essa pessoa. 

As pessoas buscam ser honradas, buscam ser consideradas por outras como alguém importante. Ser reconhecido por quem é e pelo que faz é uma das necessidades básicas do ser humano; é a necessidade de estima, uma das 5 necessidades básicas do homem proposta pelo psicólogo Abraham Maslow em em seu artigo "A teoria da motivação humana", publicado em 1943 na revista Psychological Review

Não importa quem quer que seja, o nível escolar, social, religioso, político, a nação onde vive ou a família da qual venha, todos procuram alcançar uma posição de estima. Para isso, as pessoas se dedicam a uma atividade, ou buscam alcançar feitos dignos de notoriedade, ao menos nos grupos sociais em que se encontram. Os atletas, individual ou coletivamente, invariavelmente participam de competições visando alcançar o primeiro lugar e conquistar para si mesmos o lugar de destaque.  O preço da honra é ter que realizar algo de destaque. 

Há de se considerar, no entanto, a honra não é apenas ter destaque. É também ter elevadas qualidades morais e éticas e distintivas. Tem a ver, portanto, com dignidade, com probidade, com retidão. Logo, pode haver distinção em ter honra e ser honrado; é possível buscar ser honrado e não ser alguém que valorize a honra enquanto característica imanente, alguém que anseie pelo destaque e faça tudo para alcançá-lo, independente da adequação de suas ações aos princípios éticos e morais que devem nortear o comportamento humano. Há, por exemplo, quem busque a honra sem se importar com a honra alheia: são pessoas que fazem tudo o que estiver a seu alcance para alcançar seu objetivo independente dos meios necessários, independente de quem esteja em seu "caminho para o sucesso".  

No texto bíblico de II Samuel cap. 18 vemos alguém que cobiçava muito alcançar a honra. O nome dele é Aimaás. Ele desejava desejava ser o mensageiro que traria as notícias para o rei Davi da vitória na batalha travada entre exército real e o exército de Absalão. Como nessa batalha Absalão, filho de Davi, morreu, Joabe que amava Davi e sabia quão desagradável seria para ele o relato da morte de Absalão, recusou-se a deixar Aimaás ser o portador de tais notícias indesejadas: ele não deveria ser um mensageiro de más notícias, as quais não serão bem-vindas ao rei e não trariam nenhum bem ao mensageiro. Aimaás no entanto insiste em ser o portador da mensagem e corre ao lugar onde Davi estava.

Aimaás não se importava se a mensagem iria trazer dor e tristeza a Davi. Ele sequer considerou as palavras de Joabe. Na mente dele, o rei iria ficar feliz com a mensagem de vitória sobre o exército inimigo e iria recompensá-lo por trazer essa notícia.  No entanto, depois que Aimaás contou ao rei sobre a vitória na batalha, Davi perguntou por Absalão. Aimaás perdeu a coragem e deu uma resposta vaga sobre como a batalha era confusa e que ele não sabia os detalhes sobre Absalão (versículo 29).

Aimaás queria a honra, a recompensa de ser ele o transmissor da mensagem a qualquer custo, mas sem ponderar qual era a mensagem a ser transmitida e seu impacto no coração do rei. Ele cobiçou o prêmio a qualquer preço! A atitude de Aimaás nos mostra que ele não tinha nenhum tipo discernimento daquilo que seria transmitido. Ele queria ser o transmissor de uma mensagem, não importando qual fosse essa mensagem e qual impacto ela geraria: “Minha função é ser mensageiro, não importa do quê; afinal, o prêmio tem que ser meu de qualquer jeito” – assim pensava Aimaás. 

Exatamente assim pensam e agem muitos autoproclamados crentes atualmente. Usam a fé como fonte de lucro pessoal, para alcançarem honrarias humanas. Falam qualquer coisa para alcançarem sucesso e fama, sem nenhuma responsabilidade com o que dizem em nome de Deus. Mais do que nunca, hoje, essas pessoas usam a Palavra de Deus como fonte de influência e poder humanos, transmitindo aquilo que não conhecem e não entendem. Eles Ignoram a Bíblia e sua mensagem: não conhecem nem fazem uso de uma boa hermenêutica bíblica, de uma exegese correta, baseada na história, na geografia, na linguística e na teologia.E mais: ignoram o propósito de Deus!

Parênteses: Muitos "leitores de Bíblia" leem e não entendem patavina do que estão lendo. Leem, mas não conseguem absorver o Espírito por trás da letra. E, baseados somente na letra, vão fazendo e ensinando bobagens sobre Deus e sobre a fé. Nunca se viu tanta sandice dita em nome de Deus como atualmente! Seus "frutos piedosos" mostram isso claramente: egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Vale o mesmo conselho paulino: "Foge também destes" (II Tm 3.1-9). 

Precisamos compreender que só recitar a Bíblia não vale de nada. Recitar um texto qualquer pessoa alfabetizada recita. Basta abrir um livro e lê-lo para outros. O propósito do coração é que precisa estar correto. Muitos recitam os textos sagrados, mas com a intenção errada, puramente com o interesse de obter vantagens para si mesmo. Judas nos diz sobre estes que “a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse” (Jd 1.16). Veja por exemplo os falsos mestres: eles faziam (e fazem) discursos bombásticos a fim de impressionar pessoas, para que pudessem extrair delas dinheiro e outras coisas valiosas. A Bíblia traz um exemplo bem ilustrativo: o profeta Balaão, que foi comprado por Balaque, rei dos moabitas, para que amaldiçoasse o povo de Isarel (Números 22). Note o que disse Balaque a Balaão: "Porque grandemente te honrarei, e farei tudo o que me disseres; vem pois, rogo-te, amaldiçoa-me este povo" (Números 22:17). Percebe? Balaão se "apaixonou pelo salário da injustiça" (II Pedro 2:15, Bíblia King James Atualizada) ("preço da iniquidade") e assim negociou com Balaque seu dom. Escrevendo ao anjo da Igreja de Pérgamo, o Senhor mostra o que fez Balaão: "Tenho, contudo, contra ti algumas admoestações, porquanto tens contigo os que seguem a doutrina de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os filhos de Israel, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a se entregarem à prática da prostituição" (Ap 2:14). Quem não considera o que fala por causa do lucro (financeiro, emocional, etc.) que aquilo que será dito irá trazer, torna-se discípulo de Aimaás, Balaão e de outros tantos que viveram, vivem e viverão ainda antes da 2ª. Vinda de Cristo.  Quem não pondera o que fala e porque fala, empresta sua boca para o inimigo falar. 

Retornando ao texto-base de II Samuel cap. 18, vemos que Aimaás correu pela planície do Jordão, no caminho mais longo do que o mensageiro Etíope que foi pelas colinas, mais curto, mas também o caminho mais difícil. Aimaás chegou primeiro. Chegando a Davi, o rei o perguntou sobre seu filho. A resposta de Aimaás foi: “Quando Joabe me mandou a mim, o servo do rei, vi um grande alvoroço; porem não sei o que era” (v.29). Na hora hora H, ele  acabou transmitindo uma mensagem obscura e incerta. Não é que Aimaás não conhecesse a mensagem. Ele sabia perfeitamente o que dizer. Porém, uma coisa era cobiçar o lucro pela mensagem longe do rei; outra coisa é estar diante do rei e ter que transmitir a mensagem! Naquela situação, Davi poderia punir Aimaás pela mensagem, até mesmo com a morte.

É forçoso dizer que os recitadores modernos vão transmitindo a mensagem baseada na Bíblia de forma torta pela cobiça, por aquilo que seus ouvintes podem vir “recompensá-los” pela mensagem, pelo lucro fácil. Mas ignoram o que disse Jesus: “de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo” (Mt 12.36). Ignoram que mesmo hoje estão diante do Rei, que ouve atentamente suas palavras. Ignoram ainda mais: um dia, todos eles hão de comparecer diante do Grande Rei, para darem contas por suas vidas e pelas palavras que disseram, em nome do Rei ou em nome próprio.  Disse Jesus: “Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste livro” (Ap 23.18,19).

Não há escape – falsos crentes, falsos mestres, falsos apóstolos e todos os demais ímpios hão de comparecer diante do Grande Rei e Juiz de toda a Terra, para serem julgados cada um segundo as suas obras (que inclui pensamentos, ações e palavras). Logo, devemos temer ao Senhor – isto é, respeitá-lo, amá-lo e honrá-lo sempre, permanecendo na Vereda da Justiça, no Caminho que é Jesus. Temer não ao homem mau, mas a Deus (Mt 10.28). Salomão nos ensina: “O temor do Senhor é odiar o mal; a soberba, e a arrogância, e o mau caminho, e a boca perversa, eu os odeio” (Pv 8.13). 

Aimaás falhou como mensageiro, por sua cobiça e desobediência à Joabe. Teve medo de falar a verdade, amando a sua própria vida. Aimaás amou a si mesmo em duas ocasiões: primeiro, cobiçando o prêmio; segundo, buscando salvar sua própria vida diante do rei. Quem busca salvar a sua vida, disse Jesus, irá perdê-la para sempre. Porém, aquele que perder a sua vida por amor do Senhor e do Evangelho, achá-la-á (Mt 16.25). O verdadeiro objetivo dessa vida não é a obtenção de das coisas físicas ou a realização de alvos ligados às coisas terrenas. O objetivo é atingir o alvo que Deus determinou para cada ser humano, que é a vida espiritual, o mundo vindouro. 

Meu amigo, o que você mais ama: Sua presente vida ou a vida do porvir? Onde passarás tu a eternidade? Estás feliz com tuas realizações, com tua vida, a ponto de repudiares a Cristo e Seu Evangelho? Negas tu o presente de Deus por causa dos presentes humanos? Tens tudo – coisas físicas e prazeres humanos; mas e quanto a Cristo? Tens posição, bom trabalho, família, estudo... mas tens o Senhor Jesus como Senhor e Salvador de tua alma? Já nasceste de novo – o novo nascimento? 

Quem ama a si mesmo nega o Senhor com sua vida. Vontade própria (agradar a si mesmo), autoconfiança (autodependência) e autoexaltação (autossuficiência) são o princípio de vida de todo aquele que ama a si mesmo. Alguém jamais será discípulo de Jesus se esse princípio operar na sua vida. Pedro negou Jesus 3 vezes, porque amou mais a sua vida do que o Mestre (Mc 14.30,72).

Para vencermos onde Aimaás falhou, só há um jeito: negarmos a nós mesmos e tomarmos, cada um de nós, a sua própria cruz e então seguir a Cristo!  Toda honra tem um preço. O preço de ter a honra de ser reconhecido por Cristo como Seu discípulo é a auto-negação e a cruz. FAZER A VONTADE DE DEUS DEVE SER O NOSSO ALVO DE VIDA TODO OS DIAS. No Getsemani, Jesus disse: “Pai, não seja feita a minha vontade”. Ele entregou a sua própria vida, sem pecado, até a morte, para poder recebê-la de volta, da sepultura, devolvida por Deus, ressuscitada e glorificada. Podemos nós ter expectativa de entrar na vida eterna de forma diferente? 

Pense em cada falha, cada defeito, cada pecado cometido, tudo o que tem desonrado a Deus, tudo o que tem impedido de viver a Vontade de Deus. Veja que é isso mesmo que você tem vivido – a vida do velho homem. Confesse isso a Deus. Finalmente, deixe o bendito Cristo tomar o controle de sua vida, crendo que a vida dele pode ser sua. O PODER DA MORTE DE CRISTO PRECISA OPERAR EM NÓS TODOS OS DIAS. Fomos chamados para viver a vida de Cristo, e para permitir que Cristo venha viver sua vida em nós. Porém, primeiro precisamos aprender a odiar e negar o nosso velho homem. CRISTO DESEJA SER TUDO EM NOSSA VIDA.

Pense nisso! Graça, misericórdia e paz seja-lhe multiplicada!