domingo, 25 de novembro de 2018

DEUS ESTÁ SEMPRE NO CONTROLE, MESMO QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS PARECEM DEMONSTRAR O CONTRÁRIO

Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste; oh, volta-te para nós. Abalaste a terra, e a fendeste; sara as suas fendas, pois ela treme. Fizeste ver ao teu povo coisas árduas; fizeste-nos beber o vinho do atordoamento. Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. (Selá.) Para que os teus amados sejam livres, salva-nos com a tua destra, e ouve-nos; Deus falou na sua santidade; eu me regozijarei, repartirei a Siquém e medirei o vale de Sucote. Meu é Gileade, e meu é Manassés; Efraim é a força da minha cabeça; Judá é o meu legislador. Moabe é a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu sapato; alegra-te, ó Filístia, por minha causa. Quem me conduzirá à cidade forte? Quem me guiará até Edom? Não serás tu, ó Deus, que nos tinhas rejeitado? tu, ó Deus, que não saíste com os nossos exércitos? Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas; porque ele é que pisará os nossos inimigos. (Salmo 60)

O título do salmo diz: “Quando ele guerreou com Aram Naharaim e com Aram Zobá e quando Joabe voltou e feriu Edom no vale do sal, doze mil homens”. Aram, a que o texto se refere, é a Síria. Trata-se de um território muito grande onde Zobá está na parte sul, fazendo fronteira com o limite Norte de Israel. Já Aram Naharaim, que significa Aram “entre os dois rios” – o Eufrates e o Tigre –, fica ao norte, na região conhecida como Mesopotâmia. Enquanto Israel ganhava vitórias pelo lado da Síria, os edomitas atacaram desde o sul de Judá; e, ainda que 2 Samuel 8 fale somente de vitórias, este Salmo indica que primeiro houve uma derrota (vv. 1–4, 10). Isso obrigou Davi a enviar uma tropa para defender o país dos edomitas, tropa que parece ter tido dificuldades para repelir os invasores do Sul. Diante do cansaço da guerra, dos inúmeros inimigos e do constante risco de ser derrotado, Davi escreve o salmo, na forma de um diálogo com Deus, que ensina lições preciosas para o servo de Deus que passa por provações longas e duras.

Esse salmo é um clamor nacional: "Deus, tu és o responsável pela nossa derrota!" Igual a outros salmos de súplica, aqui o povo responsabiliza Deus por sua derrota: “Deus, fomos derrotados porque Tu nos desamparou sem razão”!  O povo está frustrado diante de sua realidade!

A frustração faz parte da realidade humana e ela vem em forma de um projeto que não deu certo, da perda de uma pessoa querida, de um pecado que não queríamos cometer ou mesmo diante de uma pergunta "eternamente" sem resposta. Diante da frustração, buscamos fazer “inventários de culpados”, buscamos responsabilizar sempre alguém pela situação que enfrentamos. Aqui, nesse Salmo, é o povo escolhido de Deus quem está a fazer esse inventário. O resultado final é: “Deus é o responsável por isso”! 

Hoje, infelizmente há muitos e muitos crentes fazendo coro com os descrentes numa só “canção”: Deus é o responsável direto pelas mazelas humanas! É como se Deus tivesse prazer em ferir a humanidade ou vê-la sofrer e, para isso, usasse Seu poder para causar dor e sofrimento ao homem! Ou se Ele estivesse assistindo, passivo e impotente, diante das mazelas de cada pessoa existente nesse planeta. Basta uma tormenta, basta uma doença imprevista, basta uma crise financeira, basta um revés ministerial, basta uma luta mais duradoura que a fé, outrora sólida, começar a liquefazer e até a vaporizar pelo calor da situação. Com isso, o povo que diz conhecer a Deus demonstra, com suas ações e palavras, que não O conhece. Muitos confiam assim mais no homem, que é falho, do que em Deus, que “não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.” (Nm 23.19) 

Não são poucos que diante do problema vêem Deus como alguém irado ao extremo. Veja o que diz o salmista: Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste. “Indignado”, do hb. 'anaph – “difícil de respirar”, “respirar de forma ofegante” (fig.: bufando de raiva), enfurecido. Deus aqui é visto como extremamente irado contra o seu povo. O salmista coloca a ação de Deus aqui como um terremoto: o que parece estar firme, Deus pode sacudir. A mesma idéia está na expressão “vinho que atordoa” (v.3).  

Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. “Um estandarte” faz alusão ao governo de Davi, rei de Israel, que muitas e muitas vitórias conquistou em nome do Senhor para seu povo. Aqui há uma oposição de conceitos: o estandarte, que deveria ser de vitória “para aos que temem ao Senhor”, foi na verdade um estandarte de fuga, em meio a derrota. O problema é que o que Deus fez no passado usando Seu servo Davi (e Moisés, Arão, Samuel, Josué, Paulo, etc.) não é garantia automática de que Ele fará o mesmo no presente! Significa que Ele pode fazer, mas passsar do ato potencial para o real depende de muitas coisas - dentre elas, do plano de Deus para nossa vida particular! Aqui, jaz o imenso erro dos pregadores da teologia da prosperidade e dos pregadores triunfalistas: o fato de Deus ter realizado maravilhas no passado de Seu povo Israel (e na vida da Igreja, no Livro de Atos) não significa uma obrigação de que tais coisas sejam feitas no presente - Deus não vai abrir um caminho na Baía de Guanabara para você atravessar a distância entre Niterói e Praça XV a pé enxuto pelo mar porque você está sendo sendo perseguido no seu trabalho - ainda que Deus possa abrir o mar novamente sem sombra de dúvida! 

Os registros bíblicos servem, de forma geral, para que conheçamos a Deus e Seu plano para a humanidade e inspirar nossa fé em Deus, na Sua bondade e Amor sempre firmes e invariáveis por nós por meio de Cristo Jesus! Porém, no plano pessoal, essa Bondade e Amor podem se manifestar de forma totalmente diferente não só do passado bíblico, como daquilo que pensamos e esperamos. Noutras palavras, o Amor de Deus (e Seus outros atributos) são sempre firmes e imutáveis, como Ele o é, mas a manifestação desse Amor (e dos outros atributos) pode dar-se (e frequentemente é assim) de uma maneira completamente incompreensível para nosso entendimento humano: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos". (Isaías 55:8,9)

O salmista continua, contudo, a mensagem, destacando a soberania de Deus. Todos os povos pertencem a Deus. Gileade, Manassés, Efraim e Judá representam as cidades tementes a Deus, o Seu povo. Por sua vez, Moabe, Edom e Filístia representam as nações descrentes, os povos ímpios. Sobre esses, Deus diz, que lançaria o seu sapato. Lançar o sapato, nos países árabes, é considerado grande ofensa. Há um forte contraste com a honra atribuída a Efraim e Judá e a desgraça de Moabe e Edom. Moabe, famoso por seu orgulho (Isaías 16:6), é comparado ao vaso que é trazido ao guerreiro vitorioso para lavar seus pés quando ele retorna da batalha. O velho inimigo de Deus e Seu povo é degradado para se tornar mero escravo: em outras palavras, torna-se sujeito a Israel e um vassalo deste. Edom é como o escravo a quem o guerreiro arremessa suas sandálias para carregar ou limpar.


Sobre todas as nações da Terra Deus é Senhor e Rei. Nenhuma delas escapa da soberania divina, nenhum plano ou ação delas estão fora do conhecimento e intervenção divina. Portanto, Israel não deveria temer o fato de Edom ter se levantado contra eles, como se Deus os estivesse entregado nas mãos dos seus inimigos. Israel, ao contrário, deveria confiar em Deus, sabendo que Deus estava no controle de tudo, inclusive de Edom!
Tudo que existe e acontece, quer os reputemos como bom ou mal, estão sob o controle de Deus. Nada, nem você querido(a) leitor(a), escapa desse controle!

O povo de Deus aqui aprende importante lição: Que as adversidades não são, sempre, o fruto da ira divina; mas as adversidades momentâneas tem um importante papel dentro dos eternos propósitos de Deus para todas as coisas, inclusive nós mesmos! Mesmo elas refletem o Amor de Deus por nós! Devemos confiar em Deus, independente das circunstancias que estejamos passando ou venhamos a enfrentar. Todas as coisas, independente delas, cooperam juntamente para o nosso bem! Por detrás da permissão de Deus para que soframos reveses e intempéries está sempre um plano maior, um plano de Amor e de Graça, que em última análise culminará no nosso bem e felicidade! Mesmo as perseguições imperiais, movidas contra a Igreja nos séculos II a IV, serviram aos eternos propósitos de Deus para a Igreja daquela época e de todas as épocas!

Quem me conduzirá à cidade forte? Quem me guiará até Edom? Não serás tu, ó Deus, que nos tinhas rejeitado? tu, ó Deus, que não saíste com os nossos exércitos? Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas; porque ele é que pisará os nossos inimigos. Aqui, a nação reconhece que o socorro eficaz, a ajuda definitiva, vem somente de Deus. Não é do homem que vem o socorro! Não é da inteligência, da riqueza, dos planos, dos combinados, das potestades, dos santos, dos espíritos, de coisa alguma abaixo de Deus que vem o socorro efetivo. Nem de você mesmo, de suas capacidades e conhecimento e inteligência e obras! Só de Deus vem o socorro! Jesus disse: “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Sem Jesus, nada em absoluto pode ser feito! Só a partir da confiança posta inteiramente em Jesus, o Autor e Consumador da Nossa fé, poderemos dizer: “em Deus faremos proezas”!

Pense nisso!
Graça e paz!