quarta-feira, 21 de maio de 2014

ÉTICA CRISTÃ: HÁ UM PADRÃO BÍBLICO PARA A ROUPA DO CRENTE?



Antes de abordamos o tema proposto, cabe dizer que os tempos atuais são muito diferentes dos tempos antigos em tudo, em especial no que se refere a Igreja. Antigamente, há alguns anos, havia uma preocupação quase que coletiva na maioria dos crentes com questões que hoje são tratadas como supérfluas. Por exemplo, havia muita preocupação com a ética pastoral, o que fazia com que os pastores fossem muito admirados pelos crentes e até mesmo pelos não-crentes. Do mesmo modo, havia uma preocupação com a ética cristã de forma mais ampla, naquilo que poderíamos chamar de "testemunho cristão": cada crente primava pelo bom testemunho em todas as áreas de sua vida, evitando ao máximo causar "escândalos" (sobre escândalos, veja a postagem "ESCANDALOSOS E SEUS ESCÂNDALOS", em http://apenas-para-argumentar.blogspot.com.br/2013/05/escandalosos-e-seus-escandalos.html). 

Hoje, quando falamos em testemunho, muitas pessoas entendem que trata-se tão somente de alguma bênção ou livramento que Deus tenha proporcionado na vida da pessoa. O entender hoje é muito diferente! Isso se dá por várias razões e é muito provável que as gerações passadas tenham de alguma maneira falhado em transmitir esses valores às novas gerações (o problema da geração seguinte: "E foi também congregada toda aquela geração a seus pais, e outra geração após ela se levantou, que não conhecia ao SENHOR, nem tampouco a obra que ele fizera a Israel", Jz 2.10). Outra hipótese é que àqueles a quem foi transmitido os valores cristãos antigos não foi suficientemente forte para fazer o mesmo na sua própria geração, ou até, quem sabe, viu-se impotente diante das rápidas e acentuadas mudanças que o evangelicalismo brasileiro experimentou dos anos 80 em diante.

A verdade, porém, é que de fato muita coisa foi alterada. O que no passado era visto como "comportamento cristão sadio" pela Igreja hoje é visto como algo ultrapassado, velho, caduco, fora de moda. É visto como "legalismo". É interessante notar que o mundo comporta-se exatamente da mesma maneira: o antes "venerado" e "desejado" ato do casamento, sonho de moças e rapazes que desejavam constituir família, hoje é visto como sendo algo banal, sem importância, mera convenção social com pouca ou nenhuma utilidade. Pior é que a respeito do casamento - e de outros valores antigos, bíblicos - a Igreja atual apresenta a mesma visão interpretativa do mundo, ou seja, o casamento como algo supérfluo (haja vista o crescimento do número de pessoas divorciadas na Igreja). Isso é, por si só, algo sintomático; revela um processo de aculturamento da Igreja com o mundo e, consequentemente, afastamento dos padrões bíblicos. É sinal que o sal está cada vez mais sem sabor, sem suas propriedades de salgar. Não é à-toa que o sal insípido está cada vez sendo mais e mais pisado pelos homens, nos meios de comunicação (Tv, jornais, internet, etc) e na sociedade, que insiste em querer dizer à Igreja o que ela deve crer.

Parênteses (1): A IGREJA CRÊ NÃO NO QUE O MUNDO ACHA CERTO. O conceito de certo e errado do mundo nada, absolutamente, tem a ver com a Igreja. A Igreja sadia crê na Bíblia - de Gênesis a Apocalipse - e no Deus da Bíblia. Se isso é loucura para o mundo - e de fato é - paciência, não será a Igreja, "que está no mundo mas não é do mundo" que se mundanizará para ser aceita pela sociedade. Crentes são diferentes? Sim, são. Jesus era diferente daquilo que o mundo convencionava - e até hoje convenciona - sobre Deus? Sim, Ele foi, é e será. Não compartilha da mesma fé? Lamento. Isso é problema e direito seu. Mas não venha impor, direta ou indiretamente, o que a Igreja deve ou não crer. Não gostou do que crê a Igreja? Não frequente-a e que Deus tenha piedade da sua alma. Como cita o Pr. Isaltino, em http://www.isaltino.com.br/2013/08/o-novo-teologo-da-veja/: "a Igreja é a única instituição sobre a face da terra que reivindica autoridade divina. Se o pessoal concorda ou não, se gosta ou não, não vem ao caso. Mas se a Igreja e as igrejas perderem essa noção de substância, nada podem fazer. Nivelam-se a qualquer outra instituição. Sequer merecem o espaço que lhe dão. Não compete aos de fora ditarem a agenda da Igreja e das igrejas. Parece-me com a postura do “cristianismo alemão” e das igrejas controladas em países comunistas: “Vocês pregam o que nós dizemos”. Não querem os palpites da Igreja? Recusem-nos. Mas não deem seus palpites à Igreja. A Igreja não se vê como uma ONG criada para satisfazer as pessoas e massagear seu ego. Ela tem valores muito ricos, que vêm de milhares de anos, não pode se pautar pelas novidades que surgem." Fecha parênteses. 

Parênteses (2): Hoje, há o retorno da velha estratégia do inferno em mudar o texto bíblico quando não se concorda com ele. Há uma proliferação de "bíbrias" dos mais diversos tipos e gostos, elaboradas arrancando-se textos e passagens da Bíblia ou modificando sua redação. Isso é válido? Sim, perfeitamente. Podem criar uma religião - ou mesmo Igreja - em torno dessas adulterações da bíblia? Sim, podem. A pergunta é: será que Deus concorda com isso? Será que Ele aprova? Vamos deixar O próprio responder:  "Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro." (Ap 22.18,19) Àqueles que modificam o texto bíblico, atenção! Fecha parênteses.

Nessa argumentação, abordaremos uma dessas práticas "cristãs religiosas" (se quiser chamar assim) que foi modificada pela sociedade: a questão do vestuário. Logo de saída, antes de qualquer coisa, atenção: Não há um padrão bíblico para tipo de pano ou de roupa! Os crentes não são chamados a usarem vestes talares ou roupões (como é costume de alguns); porém, do mesmo modo, não são chamados a usarem "micro-isso" ou "micro-aquilo". Um crente não deve nem viver como legalista, nem tampouco como mundano; a posição bíblica correta é sempre a liberdade com responsabilidade. Mas como ela se manifesta neste sentido? O que a Bíblia ensina? Obviamente, os exemplos bíblicos que serão vistos, dos quais extrairemos os princípios que devem reger nossas vidas como filhos e filhas de Deus, se referirão ao sexo feminino, por um contexto histórico-cultural; no entanto, por ilustrarem princípios eternos, valem para ambos os sexos e para nossos dias e dias futuros. Assim, atenção: Os exemplos são HISTÓRICOS-CULTURAIS; já os PRINCÍPIOS ilustrados nos exemplos são ETERNOS.

1) Paulo e as Mulheres em Corinto: "Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu." (I Co 11.6; ver também vv.13-16)

O apóstolo Paulo, nesse texto, exorta às mulheres cristãs de Corinto, com relação ao uso do véu. Por que ele tratou desse tema naquela igreja (e não nas demais)? Esse fato indica que havia alguma coisa em Corinto, que não havia noutras cidades onde Paulo estabeleceu Igrejas. Ou seja, havia um motivo histórico-cultural, típico de Corinto, para Paulo tratar desse tema nessa Igreja. Na Antigüidade, a mulher carregava no corpo um sinal da autoridade do marido. Esse sinal era o véu. Esse mesmo costume prevalece até hoje entre alguns povos do Oriente. Nestes lugares, a mulher honesta não deve aparecer em público sem o véu, ou algo correspondente. Era um sinal da honra e da dignidade das mulheres (Gn. 24.65; Ct 4.1).

Também considerava-se o véu um sinal de subordinação da mulher ao marido, por isso que não o usavam as mulheres de luto, as prostitutas e as esposas infiéis.  Na cidade de Corinto localizava-se o "templo de afrodite",  templo que era frequentado por 1.000 sacerdotisas/prostitutas, mantidas a expensas do povo, onde sempre estavam prontas para se entregar a prazeres imorais, como culto à deusa. A prostituta cultual, para se diferenciar da mulher de bem, fazia o seguinte: raspava o seu cabelo, assim, todos que vissem uma mulher com cabelo raspado, saberia de que se tratava de uma prostituta cultual de Afrodite. Esta era uma forma de identificá-las.O Templo de Afrodite ficava plantado sobre a acrópole de Corinto, e tanto os homens para lá subiam a fim de ter relações sexuais com as sacerdotisas prostitutas cultuais, como também, regularmente, elas mesmas desciam a montanha, até a cidade, na qual havia também toda sorte de bacanais e orgias. Ora, tão forte era esse perfil da cidade, que no mundo grego, havia o verbo "corintianizar".

Assim, qual era o princípio envolvido na recomendação do uso do véu por Paulo às irmãs em Corinto? O princípio fundamental nas instruções de Paulo é o respeito pelo local de culto e pelo culto, propriamente dito. A questão de ausência do véu servia de escândalo, pois as irmãs da Igreja eram confundidas com as sacerdotisas de Afrodite. Obviamente, o que Deus tencionou em nos ensinar com este exemplo é que a mulher (e o homem) cristão não deve se vestir ou se comportar de forma a ser confundido com um mundano (além de, é claro, respeitar o culto e o local de culto).

Como aplica-se isso hoje, ou seja, como aplica-se esse princípio hoje? Ora, basta uma rápida olhada na nossa sociedade, que cada vez mais prima pela exposição do corpo, beirando em muitos casos a nudez (especialmente feminina). Hoje, por certo o apóstolo Paulo proibiria às mulheres cristãs usarem microvestidos apertadíssimos, calças justíssimas, blusas transparentes e coisas do tipo, pois é justamente esse o comportamento das não-crentes. Note que exatamente como em Corinto, essa prática de usar roupas (cadê a roupa?!?) muito curtas e/ou transparentes traz confusão e perturbação ao culto cristão. Obviamente, não estamos nos referindo a visitantes, mas sim à crentes devidamente batizadas nas águas, que professam ter se convertido e aceito a Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.  

2) Paulo e seus conselhos à Timóteo: "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, Mas, como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus, com boas obras." (I Tm 2.9,10)

Aqui, vemos mais uma vez a preocupação apostólica com a verdadeira essência da fé. Para Paulo, o que as mulheres cristãs mais deveriam se preocupar era com a decência do vestuário (pudor e modéstia), pois ele seria uma demonstração do caráter da mulher que se apresentava para participar do culto. Em grego, esse texto escreve-se: ὡσαύτως καὶ τὰς γυναῖκας ἐν καταστολῇ κοσμίῳ, μετὰ αἰδοῦς καὶ σωφροσύνης, κοσμεῖν ἑαυτάς, μὴ ἐν πλέγμασιν, ἢ χρυσῴ, ἢ μαργαρίταις, ἢ ἱματισμῷ πολυτελεῖ
Aqui, modéstia é a tradução de σωφροσύνης, sōphrosunēs, "sobriedade, temperança, equilíbrio, moderação, recato", que indica controle das paixões e dos desejos, e pudor é a tradução de αἰδοῦς, aidous, "reverência, timidez, respeito".  A modéstia procura não atrair a atenção para si mesma nem se mostrar de maneira inconveniente. Portanto, a modéstia é o elemento chave do caráter cristão e, as vestes devem fazer a mesma “confissão” que os lábios fazem. Vestir-se com modéstia significa um sentimento moral que inclui respeito para com o sentimento de outros, ou seja, indica um senso de respeito aos limites de conveniência. Enfim, a modéstia não quer exibir-se, não se revela em nudez quer na igreja ou fora dela.

"Quando você se veste decentemente, você reconhece que Deus ordenou as roupas para cobrirem, e não para chamarem atenção para sua pele nua. Você se cobre por respeito a Ele, ao Evangelho, aos seus irmãos cristãos – e por respeito a quem Ele te criou para ser. Decência significa que você concorda com o Senhor sobre o verdadeiro propósito de se vestir e que abre mão de seu interesse próprio para se vestir de uma maneira que exalte a Cristo. Então, naquele provador de roupas, experimentando aquela saia, gaste tempo sentando, curvando-se, esticando-se em frente ao espelho e pergunte a si mesma: “Essa saia é decente? Ela faz o que deveria fazer? Ela me cobre devidamente? Será que ela mostra minha nudez subjacente – ou exalta o Evangelho de Cristo?" (Mary Kassian)


Há realmente mulheres, que se tornam indecentes na maneira de trajar, usando vestidos transparentes ou escandalosamente decotados. Às vezes, aparecem com as costas desnudas e o busto quase totalmente exposto, numa demonstração de evidente adesão aos padrões mundanos. Existem, ainda, as preferências pelas mini-saias, as quais despertam a lascívia dos olhares cupidinosos. As vestes falam bem alto dos sentimentos do interior e das pretensões do coração, ou seja, “o como” nos vestimos está relacionado com “o que” somos por dentro. Há uma moda desavergonhada e provocante em vigor no mundo que nenhuma relação possui com o padrão de santidade prática da Bíblia Sagrada. Atualmente, o padrão definido pelos meios de comunicação como sendo a mulher ideal é a sensual, geralmente pouco vestida, que exibe o corpo. Não se procura a mulher virtuosa, mas a mulher formosa. É o reflexo de uma sociedade que cultua o corpo e que tem a mulher apenas como um pedaço de carne em exposição num açougue chamado exibicionismo. É preciso que os servos e as servas de Deus não se deixem aviltar pela imposição diabólica da moda, mas se ataviem com trajes decentes, com modéstia e bom senso. Os homens, por exemplo, não devem usar calças, bermudas ou shorts que marquem seus genitais, mas do mesmo modo vigiarem sobre sua forma de se vestir.

Que o mundo dite seus padrões de moda àqueles que são do mundo, isso é problema do mundo. Contudo, nós, Igreja de Cristo, não somos do mundo e não podemos aceitar os padrões e valores do mundo, que chocam-se diretamente com os padrões e valores de Deus, como equivalentes! Afinal, como disse Jesus: "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou." (Jo 15.18-21)

As mulheres cristãs podem - e devem - encobrir a beleza de suas partes mais íntimas com o propósito de servir aqueles que são mais fracos, porque isso espelha o evangelho. O chamado à modéstia não é um chamado para se cobrir porque tem algo sujo a respeito do corpo feminino – nada pode estar mais longe da verdade. As mulheres cristãs não precisam lutar pelos seus direitos de exibir sua beleza; elas podem guardar isso para um futuro contexto de intimidade mais apropriado e mais agradável a Deus, junto aos seus queridos esposos.

Precisamos disciplinar nossa mente e comportamento de maneira que nosso exterior e nossas atitudes reflitam o senhorio de Cristo em nossas vidas. Se não tivermos moderação, acabaremos pecando com certos exageros, seja no vestir, no falar ou nas demais áreas de nossa vida. O modo como nos vestimos revela o que somos. É claro que uma mulher pode está pudicamente vestida e ter um coração cheio de rapinas, mas a Deus ela não engana. Não estamos defendendo aqui que a mulher - ou o homem - se vista de forma ridícula ou que não cuide da aparência; não é isso. O fato de se ter a possibilidade de uma mulher está pudicamente vestida e ter um coração podre não invalida o figurino estabelecido por Deus: modéstia e bom senso.
 
Muitas outras passagens bíblicas poderiam ser citadas, e elas chegariam no mesmo princípio: nós, crentes em Cristo, devemos usar a nossa liberdade cristã, gerada pela Graça de Deus, com o devido cuidado de não causar tropeço ou escândalo, quer aos irmãos mais fracos na fé, quer à comunidade dos fiéis, quer ao Evangelho. Paulo chegar a dizer que não podemos usar a Graça para justificar nossos pecados, ou como se a graça fosse uma espécie de trampolim para o pecado. Como vivemos a nossa vida, uma vez que estamos em Cristo Jesus, é assunto para o Espírito Santo, que já deixou claro nas Escrituras como fazê-lo. Somos livres em Cristo, porém essa liberdade deve, à luz da Bíblia, ser exercida com responsabilidade, como temor e tremor, pois havemos de um dia dar contas de nossas atitudes, palavras e pensamentos. 

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!