sexta-feira, 7 de abril de 2017

BOATO, A MALDIÇÃO DAS REDES SOCIAIS

"NÃO admitirás falso boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa. Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda." (Êx 23.1-3)

Um boato é, segundo o dicionário Aurélio, uma "notícia anônima que corre publicamente sem confirmação". A LXX e a Vulgata traduzem Êx 23.1 como "Não receberá um relatório falso" - ou seja, dará crédito, nem irá aceitá-lo como verdadeiro, e tomar alguma ação com base nele. Não é possível deixar de ouvir um boato, mas é possível não dar crédito a ele, verificando sempre se o que está sendo dito corresponde a verdade dos fatos. O ensino aqui é que nenhum filho de Deus deve, em hipótese alguma, dar ouvidos e multiplicar boatos infundados, contra um vizinho ou contra qualquer homem, quer secretamente por calúnias privadas, sussurros, insinuações, prejudicando seu bom nome e crédito, sugerindo coisas falsas e perversas em relação a ele; ou quer publicamente, acusando-o falsamente e dando falso testemunho contra qualquer pessoa. Aquele que ouvisse um boato não deveriam mantê-lo como se fosse verdadeiro, como a palavra também significa, mas desencorajá-lo, e até mesmo punir os malignos boateiros. A veracidade e a imparcialidade deveria ser parte da vida moral e santa do povo de Deus.

O boato é uma notícia de teor duvidoso, pois normalmente é baseado em informações incompletas e que possuem pouca ou nenhuma verdade. Uma vez que a sua comprovação é difícil e, não raramente, impossível, opiniões ou argumentos inconsistentes podem ser adicionados à notícia conforme esta se espalha em uma tentativa de validá-la, gerando mais especulação. Infelizmente, muitos não compreendem o poder destruidor que um boato possui. Boatos tem o poder de destruir a reputação de uma pessoa, construída ao longo de toda uma vida. Tem o poder de separar amigos e irmãos, de separar marido e mulher, de destruir amizades e relacionamentos com extrema facilidade e rapidez. E, dependendo do boato, causar até prisão e morte.

No Brasil, não é incomum aparecerem casos que culminaram com morte de pessoas, graças a boatos que se iniciaram na Internet. Um boato pode difamar, caluniar, denegrir ou prejudicam a imagem de alguém, ofendendo a sua honra. Um boato pode comprometer a reputação de empresas que fechará suas portas. Um boato pode passar orientações incorretas e causar danos às pessoas, como por exemplo dicas de saúde sem comprovação científica. Um boato pode causar terror, pânico ou alarme na população, causando danos irreparáveis. O poder que um boato possui foi assim evidenciado recentemente, quando em Araruama, na região dos lagos do RJ, um casal foi espancado e teve o carro incendiado após um homem tirar uma foto deles e do veículo em que estavam. Pelo whatssap, disse que os dois eram sequestradores. Moradores, então, cercaram o carro. Só não lincharam o casal porque a Polícia chegou a tempo, senão eles teriam sido mortos pelos moradores ensandecidos. E tudo por causa de um boato. (matéria em: http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-04-07/o-perigo-do-caozap.html. Acesso: 07/04/17)

Assim como esse caso, muitas pessoas tiveram a vida transtornada, perdendo paz, sossego, privacidade, reputação, etc. por conta de um boato:

1. Suposto Estuprador. Um serralheiro passou a ter medo de sair de casa, ao receber ameaças depois que uma foto sua viralizou na internet com a informação de que ele seria estuprador e sequestrador de crianças. Histórias semelhantes à essa ocorreram em abril deste ano, em Pernambuco, em abril do ano passado, em Manaus, e em janeiro de 2014, em Lagarto. Nos três casos, homens tiveram suas fotos compartilhadas sob a acusação de estupro. (site: http://www.reportermaceio.com.br/vitima-de-boato-em-redes-sociais-homem-tem-medo-de-sair-de-casa/. Acesso: 07/04/17)

2. Suposta praticante de Magia Negra. Em maio de 2014, uma dona de casa foi espancada e morta depois de ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças que praticava rituais de magia negra em Guarujá, no litoral de São Paulo. O caso dessa dona de casa foi tão emblemático que acabou tornando-se dissertação de Mestrado em Comunicação Social na PUCRS - "O boato na era das redes sociais digitais: uma análise do caso Guarujá" (disponível em: http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/9863). O seguinte trecho da dissertação merece destaque: "As publicações sobre a suposta sequestradora feitas pela página, que então contava com 55 mil seguidores, mudaram a rotina de um dos bairros mais pobres da cidade do litoral paulista. “Disseram que ela tinha arrancado o olho de um bebê de dois meses”, disse uma jovem de 14 anos em entrevista. O ajudante geral Lucas Rogério Fabrício Lopes, 19 anos, que foi preso e admitiu ter golpeado a cabeça de Fabiane duas vezes, disse que “a acusação era de que ela (a suposta sequestradora) arrancava o coração e os olhos de criança para rituais”. No dia 25 de abril, a página publicou uma postagem informando que um uma mulher estaria raptando crianças para realizar magia negra. “Se é boato ou não devemos ficar alerta”, finaliza o texto. A essa mensagem, que posteriormente foi apagada, seguiram-se 139 comentários e 765 compartilhamentos" (pag. 80) DISSERAM, FALARAM, COMPARTILHARAM, COMENTARAM...MARCAS DE UM BOATO.  

3. Própolis para combater o Aedes. Circulou nas redes sociais uma nota equivocada sobre a indicação de uma suposta farmacêutica da Fiocruz do uso de própolis para o combate ao mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. A Fundação Oswaldo Cruz esclarece que essa informação não tem fundamentação científica e que nenhum pesquisador da instituição fez afirmações sobre o uso de substâncias naturais para afastar mosquitos. (disponível em: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/fiocruz-esclarece-boato-nas-redes-sociais-sobre-o-uso-de-propolis-para-o-combate-ao-aede. Acesso: 07/04/17)

4. Ciclone no RJ. Um furacão ou ciclone de dimensões catastróficas atingiriam o Rio de Janeiro no próximo domingo com previsões de ressaca e tempestades arrasadoras. O boato tem tomado as redes sociais nos últimos dias e está sendo compartilhado por milhares de pessoas em grupos. (disponível em: https://www.marinha.mil.br/content/boato-de-que-ciclone-atingir%C3%A1-o-rio-se-espalha-nas-redes-sociais. Acesso: 07/04/17) Do mesmo modo, um boato sobre um tsunami que destruiria o RJ "por causa dos pecados dos moradores do Estado".

5. Sexo na Praia. Uma história bem bizarra surgiu na África e chegou no Brasil por meio de sites angolanos. Segundo ela, um pastor evangélico estaria beijando (e lambendo) o ânus de suas fiéis para que elas consigam arrumar um marido. Sim, você leu certo. O boato ainda veio ilustrado com uma imagem de muitas mulheres nuas na praia em fila. Claro, era tudo invenção. A suposta imagem veio de um filme pornô de 2014, e a história foi criada e espalhada por aqui como folhas ao vento.

E assim, do Facebook ao Whatssap, há várias "estórias" circulando nas redes sociais contando mentiras sobre fatos e pessoas, causando com isso danos por vezes irreparáveis às pessoas atingidas. É bom lembrar que um boato pode ofender, denegrir, causar constrangimento ou comprometer a reputação de alguém. Pior: quem espalha o boato, depois, não se desculpa em público, o que faz com que permaneça, no imaginário dos que viram e compartilharam o boato, que o mesmo era verdade, agravando assim a situação. Nesse caso, a melhor coisa é agir tanto preventivamente como proativamente: reativamente, tentando a todo custo desmentir o boato irresponsavelmente espalhado; proativamente, evitando novos episódios (porque todo boateiro, espalhador de boatos, invariavelmente espalhará mais boatos se houver oportunidade para isso. É como uma ziquizira). De forma prática: avise ao boateiro que ele está espalhando boatos inverídicos e, se possível, corte a fonte "notícias" do boateiro - se for pessoal, no Facebook, bloqueie ou até exclua o boateiro da sua página. Aliás, bloquear a visualização da pagina no Facebook, diante de um boato pessoal, é importante para evitar que o boato seja espalhado e cause ainda mais estragos à sua reputação. Creia-me: na hora da fofoca, do boato, até gente próxima a você, que lhe conhece há "anos e canos", preferirá dar crédito ao boato (e ao boateiro) do que considerar os (muitos) anos de convivência contigo. Ninguém sairá em sua defesa, ninguém dirá "êpa, eu conheço o fulano, isso não é verdade!",  mas a imensa maioria - senão todos - ficará insegura a seu respeito - tudo gerado pelo boato. A fofoca, a calúnia... o boato, tem mais força na mente (e nos corações) do que a verdade. Infelizmente é assim que funciona. 

Porque as pessoas se prestam a criar e espalhar boatos nas redes sociais? Os motivos são variados: Há algumas que fazem isso no afã de se tornarem famosas (mais curtidas e compartilhamentos); outras, por inveja pessoal amargurada (de sua vida, de seu ministério, de sua profissão, de seu casamento, etc); outras ainda por desafeto (especialmente contra pastores e lideranças cristãs em geral, quando estas tem uma postura combativa contra o pecado). Outras por acharem que "estão fazendo a coisa certa, prevenindo as pessoas", achando que estão prestando um "serviço de utilidade pública" (quando, na verdade, é justamente o contrário). Outras, por pura ignorância, acreditando em tudo que ouve e lê sem julgar a fonte e a informação.

A bem da verdade, o Facebook, aliado ao Whatssap, são grandes centrais de boatos que se espalham em e-mails e redes sociais, devido à grande facilidade de compartilhá-los na rede. Boatos e ofensas pessoais, diga-se de passagem: o que se vê de troca de ofensas, farpas, indiretas, etc. no Facebook não está no gibi! Isso sem falar em postagens de "demonstração de sabedoria", quando alguém cita outrem tido como referência em matéria de alguma coisa, mas não interpreta e nem acrescenta nada! Mas isso é para outras argumentações...

Para o sr. José Antonio Milagre, advogado especialista em Direito Digital e mestre em Ciência da Informação pela UNESP, presidente da Comissão de Direito Digital da OAB/SP Regional Lapa e autor do livro "Manual de Crimes Informáticos", 2016, pela Editora Saraiva (disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI253266,71043-Os+riscos+dos+boatos+e+falsas+noticias+nas+redes+sociais+e+o. Acesso: 07/04/17) a minimização da onda de boatos passa, inicialmente, por jamais presumir ou deduzir um fato sem ter a comprovação de sua ocorrência. Segundo ele, é preciso termos consciência do dano que causamos ao apertarmos o botão compartilhar ou passamos a frente uma inverdade na internet/whatssap. Devemos sempre ter a consciência de não levar adiante o que não é confirmado e principalmente, avaliar se aquele conteúdo, se compartilhado, poderá ou não causar transtornos a alguém.

Nunca crie e/ou espalhe boatos infundados, mesmo que esses boatos sirvam para um propósito maior. Os fins não justificam os meios; jamais. Se você não viu com os seus próprios olhos, nem ouviu com seus próprios ouvidos, não deixe sua mente inventar coisas para sua boca (ou teclado) espalhar. Não seja mexeriqueiro. Fale a verdade, compartilhe a verdade e curta a verdade. Procure checar a veracidade de todas as informações ouvidas, vistas, recebidas, compartilhadas, curtidas, etc. No âmbito da Igreja, especialmente não aceite acusação contra presbíteros (anciãos - pastores, etc), senão com duas ou três testemunhas (I Tm 5.19). Lembre-se: amanhã, você pode ser a vítima do boato, pois ninguém está imune a essa maldição nas redes sociais da internet.

Conforme descrito em Provérbios, os boatos ou mexericos são tão prejudiciais e duradouros como ferimentos físicos: “Malho, e espada, e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho contra o seu próximo” (Provérbios 25:18). Os boatos arruínam amizades: “O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos” (Provérbios 16:28). Os boatos baseiam-se em rumores: “O que anda mexericando revela segredos; mas o fiel de espírito encobre o negócio” (Provérbios 11:13). Quem ama e pratica a mentira - o que envolve criar e espalhar boatos na internet - ficará de fora da cidade santa (Ap 22.15).

Diga NÃO aos boatos! Pense nisso e viva isso, em nome de Jesus!

3 comentários:

  1. Tiago em sua epístola já afirma que a nossa língua carrega um veneno mortífero. Ela também pode ser usada como uma arma letal . Cabe a nós, com a ajuda de Deus o controle da mesma . Sozinhos impossível é , visto que às vezes se torna sadicamente , prazeroso falar dos outros. O que se torna um hábito .

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  2. Não só a pastor a qualquer pessoa ,fica a dica

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