segunda-feira, 12 de abril de 2010

TEOLOGIA DA PRO$PERIDADE: ENRIQUECIMENTO DOS PREGADORE$, EMPOBRECIMENTO DOS FIÉIS

A Teologia da Prosperidade (também conhecida como doutrina da prosperidade, a saúde e riqueza do evangelho, ou o evangelho da prosperidade) é uma crença religiosa de, talvez, milhares de cristãos ao redor do mundo. Esta crença se baseia na noção de que Deus confere prosperidade material para aqueles que Ele favorece. Alguns mestres na Palavra de Deus a definem como a crença de que "Jesus abençoa os fiéis com riquezas" ou, mais especificamente, como o ensinamento de que "os fiéis têm o direito das bênçãos de saúde e riqueza e que eles podem obter essas bênçãos por meio de confissões de fé positivas e da "semeadura fiel" de pagamentos de dízimos e ofertas à Igreja".

A Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva teve sua origem na década de 40 nos Estados Unidos, sendo reconhecida como doutrina na década de 70, quando se difundiu pelo meio evangélico. Possuía um forte cunho de auto-ajuda e valorização do indivíduo, agregando crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da confissão da "Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para recebimento das bênçãos almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material, poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em contrapartida, dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo suas promessas. (Souza e Magalhães, 2002)

Seus primeiros propagadores foram: Kenneth Hagin, Kenneth Coppeland, Robert Tilton, Charles Capps, Morris Cerullo, dentre outros. Homens influenciados por Essek Willian Kenyon, que por sua vez teve seus ensinos inspirados nos conceitos elaborados pelo curandeiro e hipnotizador Finéias Parkhurst Quimby (século XIX), precursor das heresias conhecidas hoje como Ciência Cristã. Podemos afirmar, sem dúvida, que a Ciência Cristã (que nada tem de ciência, tampouco de cristã) foi o embrião da Confissão Positiva e, por conseguinte, da Teologia da Prosperidade.


Esta “teologia” oferece fórmulas para fazer o dinheiro render mais, evitar-se acidentes, livrar-se de doenças e problemas, aumentar as propriedades, além de viver uma vida sem dificuldades. A teologia da prosperidade sustenta que nenhum filho de Deus pode adoecer ou sofrer, pois isso seria uma clara demonstração de ausência de fé e, por outro lado, da presença do diabo.

Mahatma Gandhi apontou o materialismo para explicar sua reação ambivalente ao cristianismo: "Eu gosto do seu Cristo. Eu não gosto de seus cristãos. Seus cristãos são tão diferente de seu Cristo. O materialismo dos países ricos dos cristãos parece contradizer as afirmações de Jesus Cristo que diz: não é possível adorar a Deus e a Mamom ambos ao mesmo tempo." [Citado por William Rees-Mogg,
4 de abril de 2005, edição do The Times]

De fato, “a Teologia da Prosperidade é uma etapa avançada da secularização da ética protestante” (Freston, 1994: 146).

A teologia da prosperidade não passa de uma forma de exploração e enriquecimento dos seus pregadores, em detrimento do empobrecimento de seus seguidores - geralmente pessoas de baixa classe social e econômica - que anseiam alcançar por meio do sobrenatural aquilo que lhes foi privado pelas injustiças e desigualdades sociais.

Deve-se considerar que o crescimento explosivo do número de pregadores da prosperidade (com direito a importação dos Estados Unidos de formadores de opinião na área), tanto no mundo quanto Brasil, está inexoravelmente ligado a um grande "nicho de mercado" para suas palestras, livros e CDs. Este nicho, composto por pessoas insatisfeitas com seu padrão de vida, ouvintes e seguidores dos "profetas da prosperidade", detentores de uma cobiça quase insaciável, buscam meios fáceis para alcançarem riqueza e fama.

Os únicos "abençoados" por seguirem tais ensinos são os seus próprios mestres e pregadores! No livro "Supercrentes: O Evangelho Segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade", Paulo Romeiro faz uma constatação óbvia: a aplicação da "teologia da prosperidade" não gerou uma igreja rica e poderosa; produziu, sim, líderes ricos, poderosos e gananciosos, e cada vez mais distanciados da simplicidade de Cristo, enxergando a vida piedosa como meio de ganho. Esses senhores da prosperidade são filhos da avareza, que é idolatria; posto que só se ocupam das coisas desta vida. Paulo diria que o “Deus deles é o seu próprio ventre”.

Afinal, desde os mais remotos tempos, a religião é o negócio é mais lucrativo na Terra: Não dá nada para ninguém e recebe de todos; não vende nada material, mas recolhe grana como quem vendeu diamantes invisíveis; não investe em produção, mas ganha muito como indústria de promessas de milagres; não tem que manufaturar nada, pois apenas tem que manipular tudo; não tem que convencer ninguém de nada, posto que, pela pobreza, pelo medo, e pela infelicidade da existência, tais indivíduos, os “fiéis”, já compraram o “pacote” como quem compra o poder de um “despacho”, etc… Isto porque a visão de Deus anunciada nesses grupos, é a de um “Deus” perverso, avaro, ganancioso, inescrupuloso, louco por prata e ouro, e que não agüenta receber uns trocados sem dar uma demonstração pagã de poder (coisa de pequenas e medíocres divindades). (Fabio, 2006)

A teologia da prosperidade une o fútil ao desagradável, ou seja, é uma mistura de ganância e comodismo. Trata-se, assim, da teologia do egocentrismo, onde o foco não é Deus; este é apenas um meio para se alcançar a prosperidade. O foco é o homem e suas necessidades e desejos, o seu prazer. Neste particular, trata-se de uma sutil derivação do hedonismo, onde o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral.

Na verdade, o exercício da fé para alcançar tal prosperidade é, do ponto de vista bíblico, a ausência de fé. O autor da epístola aos Hebreus nos ensina: "Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei" (Hb 13.5). Segundo o texto, o contentamento (sentimento de prazer; contento, satisfação, alegria) está ligado à promessa de Deus em não desamparar aqueles que são seus.

Tiago nos fala do convívio de ricos e pobres, coexistindo numa mesma Igreja:

1 MEUS irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
2 Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje,
3 E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado,
4 Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?
5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?
7 Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?
(Tiago 2:1-7)

Considerando a inspiração plenária das Escrituras, podemos concluir facilmente que o livro de Tiago, figurando dentre o rol de livros canônicos, aponta profeticamente para uma relação que transcederia a Igreja daquela época. Ou seja, ricos e pobres coexistiram como membros em Igrejas daquela época e coexistirão dentro de Igrejas de séculos posteriores, incluindo o nosso.

"Os pobres sempre terão convosco" (Mt 26.11), eles sempre coexistirão com os ricos na sociedade. Mesmo dentro da Igreja, sempre haverá os mais pobres e necessitados. Assim, há que se considerar que muitos pobres, fiéis seguidores da teologia da prosperidade, durante longo tempo de suas vidas buscarão compreender porque as bênçãos exigidas de Deus não ocorreram, padecerão de angústia por terem falhado ou permitido que o Diabo roubasse sua graça. Com isso, a Teologia da Prosperidade produz efeito diverso do prometido, ou seja, crentes doentes, confusos e em eterno conflito, por não alcançarem os tão almejados resultados práticos da aplicação dos princípios que fazem de seus líderes o que eles mesmos querem ser.

Será que Deus deseja enriquecer financeiramente todos os homens? O que mais importa para Deus: que o homem seja salvo ou que seja rico? A riqueza tem o poder de trazer efeitos adversos ao homem no que tange a sua salvação: "Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!" (Mc 10.23,24)

Algumas questões para reflexão:

• até onde é lícito, ou eticamente aceitável, algumas igrejas utilizarem métodos heterodoxos, por vezes refinados, num forte contexto emocional, para motivar os seus fiéis, majoritariamente pobres, a serem generosos em seus “votos” condicionando a eles as bênçãos e os milagres?

• até que ponto é moralmente válido algumas denominações religiosas explorarem as carências e necessidades dos seus fiéis, pressionando-os e forçando-os a efetuarem ofertas financeiras, arrecadando somas fantásticas que lhes permitem construir verdadeiros impérios econômicos?

• não é chocante, como afirma C. Mariz, “ver gente tão pobre, débil, desdentada, mal vestida, dar tanto dinheiro para pastores jovens bem vestidos, com saúde, com carro do ano e com aparência de uma classe mais elevada?” (Mariz, 1995:28).

Por último, uma pergunta que não quer se calar: após as últimas chuvas, no RJ, muitas pessoas ficaram desabrigadas, perdendo entes queridos e todos os bens que possuíam. Alguns pregadores cariocas da teologia da prosperidade lançaram recentemente o "Clube de 1 milhão de almas", cujo objetivo divulgado seria a conquista de vidas para o Reino de Deus. Para tanto, cada pessoa deve dar uma "oferta voluntária" no valor de R$ 1.000,00 (MIL REAIS). Será que os recursos levantados serão utilizados para ajudar as vítimas das chuvas - ajuda segundo ensina o livro de Tiago, ou seja, DANDO as coisas necessárias para o corpo (Tg 2.15,16)? Afinal, há muitas almas ali para serem salvas, não concordam Mrs. Murdock, Cerullo e discípulos brasileiros?!?

REFERÊNCIAS

http://bible.org/article/bankruptcy-prosperity-gospel-exercise-biblical-and-theological-ethics. Acesso em 2010.

Souza, Etiane Caloy Bovkalovski de e Magalhães, Marionilde Dias Brepohl de. Os pentecostais: entre
a fé e a política. Rev. bras. Hist. vol.22 no.43 São Paulo, 2002. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882002000100006. Acesso em 2010.

http://www.vitoriaemcristo.org/_gutenweb/_site/hotsite/clube1M/. Acesso em 2010.

Fabio, Caio. A desgraça da teologia da prosperidade. 08/12/2006. Disponível em http://www.sitecristao.com/a-desgraca-da-teologia-da-prosperidade/. Acesso em 2010.

FRESTON, Paul (1994) “Breve história do pentecostalismo brasileiro” in Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo, Vozes, 1994:67-162, Petrópolis.

MARlZ, Cecília (1995) “El debate en torno del Pentecostalismo Autónomo en Brasil” in Sociedad y Religión, Buenos Aires, N. 13, março 1995:21-32.

2 comentários:

  1. Esse é o mal do século, pastor! O verdadeiro bom exemplo cristão, conforme a Bíblia é: “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha. - At 4.33-35.”

    Será que esses "medalhões" estão dispostos a cumprir o exemplo dos apóstolos???

    Abs

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  2. "Tal povo,tal sacerdote."líderes astutos,crentes
    gananciosos.Crentes que julgam que a piedade é fon
    te de lucro.Ainda não entenderam a cruz,a tribula-
    ção,as adversidades.Crentes de Laodicéia.Além de
    cegos,surdos,pois não escutam Jesus a bater.E não
    escutam porque não querem,pois só ouvem Mamom.

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