segunda-feira, 24 de junho de 2019

“MEU POVO NÃO ENTENDE”: FAZENDO TUDO ERRADO AINDA QUE FAZENDO TUDO CERTO

Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá.
Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.
O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.
Ai, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.
Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.
Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo.
A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de estranhos.
E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como uma cidade sitiada.
Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra.
Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra.
De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes.
Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?
Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene.
As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.
Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal.
Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.
Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.
Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.
Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse.
(Isaías 1:1-20)


INTRODUÇÃO:

 "Deixaram o Senhor". Há uma série de acusações de Deus contra Seu povo nos primeiros versos do capítulo 1 de Isaías; para Deus eles são "povo de Gomorra". Seus líderes igualmente são chamados de "príncipes de Sodoma". Sodoma e Gomorra foram cidades destruídas por Deus com fogo, no Antigo Testamento, pelos pecados que eram cometidos naqueles lugares, de gente que não queria saber do Senhor. Deus, portanto, está dizendo que todo o Seu Israel, líderes e povo, estavam desviados Dele ao ponto de já não darem a mínima para Sua Vontade e Direção. Os animais do campo, o boi e o jumento, sendo irracionais, se comportavam melhor, de forma mais coerente que o povo de Deus, como protesta Isaías. 

Deus, por meio de Isaías, diz "Meu povo não entende": Deus falava - e isso é o conceito básico de Palavra de Deus - mas não havia reflexão com relação àquilo que Deus dizia e nem a devida mudança de vida. Isso é assustador: a Palavra de Deus havia se tornado ineficaz diante das atitudes rebeldes de Seu povo. Quanto mais Deus falava, menos o povo dava ouvidos àquilo que Deus dizia. Hoje estamos vivendo dias assim: há muitos lugares que se intitulam "casa de Deus" onde as pessoas já não estão nem aí para a Palavra de Deus. A pregação da Palavra, que deveria impactar as vidas dos homens e levá-los a uma ação diante de Deus já não está mais surtindo efeito nos corações de muitos ditos crentes em Cristo. O momento da pregação, que devia ser o clímax do culto cristão e o direcionador desse culto tornou-se mais um "programa dentro do culto", inferior em importância e atenção à apresentação de números especiais ou mesmo ao "momento do louvor".

A pregação tem papel de preponderância, de destaque, no culto cristão, não os louvores, apresentações de grupos, etc. "Relativo a pregação, Lutero a entendia como um meio da graça. Ele via Deus falando através da Palavra. Ele disse: “Sim, eu ouço o sermão; mas quem está falando? O ministro? Absolutamente não. Você não ouve o ministro. Na verdade, a voz é dele, mas meu Deus está falando a palavra que ele prega”. Para Lutero isto significava que o poder da Palavra e a graça de Deus vêm através da pregação, apesar das limitações humanas do pregador. Lutero declarou em um dos seus sermões: “Mesmo que fosse uma jumenta falando, como no caso de Balaão (Nm 22:28), ainda assim seria a Palavra de Deus”. Para Lutero a pregação era a “palavra falada” de Deus. Pela pregação Jesus apresenta salvação à raça humana. Pois “a pregação do evangelho nada mais é do que Cristo chegando a nós, ou nós sendo levados a Ele”, disse o Reformador. Cristo vem pelo Espírito Santo. O Espírito Santo não opera independentemente da Palavra, antes a confirma." (disponível em: http://www.ruach.com.br/livretos/a.pregacao.e.cristo.chegando.a.nos.pdf. Acesso: 24/06/19)

Por que eles rejeitavam a Palavra? Porque eles estavam revoltados contra Deus. "Filhos rebeldes", assim Deus chama todo aquele povo: "Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim". Revoltados contra Deus. Deus havia estabelecido o que era bom para a vida de Israel (e Judá), mas eles não queriam se sujeitar à Vontade de Deus. Por isso mesmo rejeitavam a Palavra, porque não davam a mínima para a Vontade de Deus para suas vidas e queriam, cada um deles, seguirem seus próprios caminhos: "eu não aceito o que Deus me diz, vou fazer o que eu quero!"   

Como a Palavra de Deus é desprezada - exatamente como no livro de Isaías, cap. 1 - toda a atividade de culto está contaminada pelo pecado, sendo elas mesmas ações pecaminosas, mesmo que sendo feitas rigorosamente conforme as regras. É interessante perceber que para Israel a vida seguia como se nada estivesse acontecendo. Eles continuavam sua vida religiosa normalmente, com suas ofertas e cultos, oficiados pelos levitas e sacerdotes. Estavam fazendo tudo certo, do ponto de vista religioso. Mas Deus justamente se recusava a ouvir suas orações e aceitar seus cultos, seus sacrifícios e holocaustos, a gordura e sangue deles (Is 1:11), suas oblações, seu incenso e sua assembléias solenes (Isa 1:13) e suas novas luas e suas festas designadas (Isa 1:14). Tudo rejeitado - o culto e o povo que oferecia o culto, apesar do culto estar sendo feito "conforme a regra". Eles rejeitaram a Deus e Deus estava rejeitando o culto que eles estavam fazendo! O culto dos revoltados contra Deus!    




I. FAZENDO TUDO CERTO E AINDA ASSIM FAZENDO TUDO ERRADO PARA DEUS.

Isaías descreve o culto a Deus que Judá e Jerusalém praticavam. No culto que ele descreve, havia vários elementos que Deus havia ordenado que Israel fizesse, por meio de Moisés. Porém, Deus estava rejeitando aquele culto e aquelas pessoas que ali estavam prestando o culto a Deus, porque elas haviam rejeitado Deus como Senhor delas. MEU POVO ESTÁ REVOLTADO CONTRA MIM, É COMO DEUS VIA TUDO AQUILO. 

Aqui, aprendemos que podemos fazer tudo certo, tudo conforme a Bíblia manda, mas apenas de maneira exterior. Podemos seguir o que está escrito na Bíblia e mesmo assim estarmos revoltados contra Deus. Podemos ter a Bíblia e não ter a Palavra de Deus. Podemos falar de Jesus, podemos fazer culto para Jesus e não termos a aprovação de Jesus, manifesta por Sua presença, em nosso culto.

É possível orarmos e a nossa oração não ser agradável a Deus (Pv 28.9). É possível ofertarmos e a nossa oferta não ser aceita por Deus (Mt 6.2). É possível nos esfolarmos como obreiros, dando nossas vidas e bens para a Obra, e isso não ser de nenhum proveito para a fé e para nós mesmos (I Co 13.1,3). É possível fazer tudo mecanicamente, sem amor. E sem amor - para com Deus e para com o próximo, ambos - nada aproveita; tudo não passa de barulho de lata velha. O CULTO CRISTÃO É MAIS QUE UM MOMENTO NUMA REUNIÃO, É UM ESTADO DE VIDA. Cada dia da nossa vida, em cada ato que praticamos, rendermos ações de graças a Deus. Isso é no trabalho, na escola, no lar, na casa, no lazer, na alimentação, no sexo... em tudo! Culto não é ritual, melodia, formas, estética, beleza, palavras, cânticos, dogmas, símbolos, ofertas ou qualquer outro detalhe que lhe possamos atribuir. Essas coisas podem ter o seu lugar, porém o culto a Deus é mais do que elas. Culto, antes de tudo, é vida em ação. Assim, o culto coletivo deve ser o produto do culto individual que nada mais é que o louvor e ações de graças ao Senhor em cada momento da nossa vida, vivida em conformidade com Sua Vontade manifesta e revelada a nós por Sua Palavra. Deus é o Senhor não apenas dentro do Templo, mas fora dele!

A lição que Deus deseja nos ensinar, aqui, é que Ele se relaciona conosco não por meio de ritos, trabalhos ("fazer a Obra"), cargos/posições/títulos e disciplinas exteriores. No meio dito "cristão", há aqueles que acham que Deus se relaciona conosco por meio de ritos; o pastor, para esses, seria aquele que tem o segredo de como ativar esses ritos, uma espécie de "especialista dos ritos santos". No entanto, Isaías diz que ritos são vazios em si mesmos! Deus só se relaciona conosco na base de princípios que Ele mesmo estabeleceu, não na base de ritos. E o princípio que salta aos olhos em Isaías cap.1 é a justiça! QUEM QUER TER O FAVOR DE DEUS, TENHA VIDA JUSTA COMO JUSTO ELE É. Essa justiça é alcançada somente pela fé - isso é ponto pacífico na Bíblia; no entanto, essa fé PRECISA SE MANIFESTAR EM FRUTOS VISÍVEIS NA VIDA DO CRENTE. A fé sem obras é morta (Tg 2.26). E como se manifesta a justiça pela fé de forma prática? Na forma como tratamos com Deus e como tratamos com o próximo: nesse caso, com justiça! 

Veja como Deus condena a injustiça: “Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas” (v.17). Havia injustiça na vida dos adoradores! Reconhecer e condenar TODA A FORMA DE INJUSTIÇA é o primeiro passo da justiça de Deus na prática. Porém não é o único passo, nem um passo isolado. É preciso avançar em direção a APLICAÇÃO DA JUSTIÇA na vida dos nossos semelhantes:
  • Aprendei a fazer o bem: Aprendam a viver de forma virtuosa e honesta: (a) Fazer o bem ao nosso próximo. Você sabe quem é o seu próximo? Jesus diz que o nosso próximo não é apenas aquele grupo que chamamos de "os irmãos". O próximo é todo aquele que precisa de ajuda e que está em nosso alcance ajudar. E nos foi dito a fazer a eles tudo que gostaríamos que eles nos fizessem! (Mt 7.12) (b) "Fazer o bem" implica também em "não fazer o mal": um cristão não pode viver sua vida cotidiana na prática da injustiça, em todas as áreas. Imagine um cristão que contrata um serviço e não paga, ou que vive a pedir gratuidade tendo condições de pagar pelos produtos/serviços adquiridos/prestados? Ou que não dá o direito de seu cônjuge (I Co 7.1-5)? Ou que fortalece as mãos do culpado, justificando seus maus atos, para que não se arrependa? Ou que apóia causas e ideologias declaradamente anticristãs?  Note: Não é apenas lamentar pelo pecado cometido, mas romper com a prática e mortificar todas aquelas afeições e disposições viciosas que o inclinou a viver desse modo. O pecado tem o poder de contaminar a alma e tornar-nos brutos. Portanto, devemos fazer o bem, de maneira correta e com um objetivo correto; devemos aprender a fazer bem; devemos nos esforçar para obter o conhecimento de nosso dever, nos preocuparmos com isso e nos acostumarmos a isso, para nos tornarmos mestres dessa arte sagrada de fazer o bem.
  • Atendei à justiça: Tenham propósito firme e consistente de aplicar os princípios de Deus no dia-a-dia. A justiça demandou algo de você? Atenda a ela! A nossa justiça tem que ultrapassar as 4 paredes do templo onde dizemos que cultuamos a Deus! Nossa justiça tem que ser maior que a justiça do mundo, do que a justiça dos religiosos! Lembremos do que disse o Senhor sobre isso: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus." (Mt 5.20)
  • Repreendei ao opressor: Condenem a opressão e corrijam o opressor. O opressor pode estar no mundo e pode estar também na denominação religiosa! Quantos pastores, líderes, bispos, apóstolos, etc. não passam de "donos de denominação", opressores de gente, dos "Moisés do Novo Testamento", "fundadores de ministérios com base numa visão". Há muitas denominações onde a relação entre pastor e denominação é exatamente igual a relação de senhores de engenho com seus escravos. Ambientes onde o medo fala mais alto que o amor, que a subserviência dita as relações internas entre os escalões do clero e com o laicato. Assim, quem está na base da "pirâmide hierárquica" faz de tudo para subir ao ponto mais alto, a fim oprimir mais amplamente e ser menos oprimido: o diácono faz de tudo para ser presbítero e este faz de tudo para se tornar pastor. Só que o dono da denominação manterá todos, sempre, debaixo do seu chicote - até os pastores: "escreveu, não leu como lê o dono da denominação, o pau comeu", é o lema!  Esses Nabucodonosores modernos precisam ser repreendidos, em nome e Jesus, com coragem e fé, não importando suas maldições e perdas de cargo/expulsão da denominação!
  • Defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas: De forma bem prática, não tire vantagem da condição fraca e impotente - da ignorância e falta de experiência daqueles que estão ao seu redor. Se você é mais forte, mais inteligente, mais experiente use isso para ajudar quem precisa, quem não possui estas mesmas virtudes e poderes. Aqui, especialmente aos líderes: muitos procuram a liderança de uma denominação buscando ajuda para suas mazelas da vida. Gente portadora de diversas misérias, protagonistas de tragédias dos mais variados tipos. São pessoas fragilizadas, quebradas em seu espírito, com apenas um fio de esperança. Você, líder - pastor, bispo, apóstolo, etc. (como preferir ser chamado) não use a condição das pessoas em prol dos seus próprios interesses; não abuse das pessoas, de sua condição frágil. Não as explore. Por exemplo, não venha pedir dízimo/trízimo/quadrízimo ou qualquer coisa do tipo em troca de ajuda - sua ou de Deus - porque isso é falta grave diante do Senhor. Não venha com papo de "semente para Deus", "maldição de malaquias" e outras sandices, para tirar dinheiro daqueles que nada tem. Nem mesmo venha explorar a força de trabalho dessas pessoas sob desculpa de "obra de Deus". Isso não é coisa de líder genuinamente cristão; é coisa de explorador que não quer trabalhar para ganhar o pão com seu próprio suor, de come-e-dorme que não quer enfrentar trem/ônibus lotado nem quer ter chefe; coisa de "dono de igreja", "feitor de escravos", "dominador de gente" que justifica sua grosseria, dominação e malemolência em textos do Antigo Testamento mal interpretados e mal aplicadosOlhe para o Novo Testamento: as viúvas - classe de pessoas sempre mais fraca e impotente nos tempos bíblicos - eram CUIDADAS PELA IGREJA. Havia coleta para elas e PARA OS MAIS POBRES (ouviram isso, donos de igreja? Não era para o jatinho, ou para sua glória pessoal e de seu "ministério"/"plaquinha de igreja" não...). Havia CUIDADO, ZELO, AMOR NA PRÁTICA! Vou registrar com todas as letras garrafais: PARA DEUS NÃO INTERESSA O NOME DA SUA PLAQUINHA, OU A PROJEÇÃO DO SEU "MEU-NISTÉRIO", ESPECIALMENTE QUANDO ÀS CUSTAS DA EXPLORAÇÃO DE PESSOAS E DO NOME SANTO DO SENHOR! Se não quer trabalhar, a ordem bíblica é muito clara: NÃO COMA!
Aqui vale a citação do livro "Feridos em Nome de Deus", de autoria da jornalista Marília de Camargo: "Quando a fé se deixa manipular, pessoas viram presas fáceis de toda sorte de abuso. A confiança autêntica e sincera em Deus é gradualmente substituída pela submissão acrítica aos desmandos de lideranças despreparadas. Carentes de acolhimento são habilmente capturados pela manipulação emocional de líderes medíocres de plantão e ambos seguem de braços dados experimentando religiosidade fútil e meritória, barganhando a todo momento com Deus. Por ser uma religiosidade descaracterizada da adoração sincera, mais cedo ou mais tarde o castelo de cartas desmorona deixando feridas abertas pelo caminho".

Note, estamos verdadeiramente honrando a Deus quando estamos fazendo o bem no mundo; e atos de justiça e bondade são mais agradáveis ​​a Ele do que todos os holocaustos e sacrifícios que possamos oferecer! A Justiça que vem da fé, na qual os crentes foram justificados, não é uma teoria teológica. Deus não faz nada teórico. É prática, e como tal, precisa ser manifesta na prática. Não dá para dizer que o sujeito é feito justo pela fé e vive ainda na prática da injustiça. FÉ SEM OBRAS É MORTA! Os verdadeiros adoradores adoram o Senhor não por meio do rito A ou B, mas em espírito e em verdade! Deus, por meio de Isaías, está nos conclamando a vivermos de maneira honesta, para que haja honestidade em nossos atos de culto a Ele!



II. APLICAÇÃO: ONDE ESTÁ A JUSTIÇA DO MEU POVO, HOJE?

Estamos hoje vivendo numa época onde o direito (a justiça) está sendo torcido, tanto no mundo quanto na Igreja. Vivemos numa época onde o errado está se tornando aceitável, onde os relacionamentos são construídos na base do egoísmo (naquilo que se pode obter para si mesmo), onde o dinheiro, com o poder exercido por quem tem dinheiro, conquista cada vez mais os corações dos homens. TEM COISAS QUE ESTÃO ACONTECENDO QUE AFRONTAM DEUS. 

Hoje temos muitas coisas acontecendo no mundo e na Igreja. Vamos nos ater a Igreja: há muitos movimentos. Há muitas coisas, muitas “orações fortes”, muita propaganda, muita coisa material. A Igreja Evangélica nunca foi tão abarrotada de coisas materiais como nessa época. A mídia fez a Igreja prosperar, junto com a psicologia barata de auto-ajuda, confissão positiva, manipulação, etc. O FOCO ESTÁ CADA VEZ MAIS CENTRADO NO HOMEM E EM SUAS NECESSIDADES. Por conta disso, cada vez mais o homem pode viver o Cristianismo de modo exterior, como religião e não como Caminho, Verdade e Vida dos regenerados. É possível ir aos cultos, contribuir com ofertas, cantar, pregar, dançar, tocar instrumentos, chorar, rir, pular, ler a Bíblia, ser obreiro, ser líder, ser e fazer isso e aquilo... de maneira puramente exterior. É possível ao homem ser consagrado obreiro e nessa condição se esfolar na Obra de Deus, lidando com "serpentes e escorpiões"; é possível dar nossos bens aos pobres; é possível falar a língua dos homens e até a dos anjos (e isso não é o famoso decantanabacia, viu?) e nada disso ser proveitoso para nós mesmos. Lembre-se que Jesus disse que naquele dia muitos irão apresentar seu "currículo espritual", como "prova de fé", ouvindo do próprio Senhor, diante de toda a humanidade, um reverberante "nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7.23). NOVAMENTE, É POSSÍVEL FAZER TUDO CERTO - orar, contribuir, socorrer os pobres, pregar, etc. - E AINDA ASSIM ESTAR FAZENDO TUDO ERRADO, SEM NENHUMA CORROBORAÇÃO DA PARTE DE DEUS! 


Nesse cenário atual, precisamos estar sempre nos perguntando: Senhor, será que estou realmente fazendo a tua vontade? Será que o Senhor está realmente se agradando do meu culto, da minha vida, da obra que estou fazendo? Porque podemos estar fazendo tudo certo e ainda assim estarmos errando o alvo! Note: Podemos agir biblicamente e ainda assim completamente contrário a Bíblia! Dizemos que cultuamos a Deus. Mas será que o nosso culto está agradando a Deus? É feito com e pela fé? Ele traz a bênção de Deus para nós? Nos traz paz para nosso interior? Traz convicção aos participantes de que é algo sobrenatural? Todos profetizamos – Se entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado? (I Co 14.24) Se entrar um indouto ou incrédulo nos cultos cristãos hoje, ele é por todos convencido? Lembrando que profecia, querido(a) leitor(a), não é o famoso "decantanabaciaripalaprafora"; é essencialmente uma palavra que edifica, consola e exorta, independente da "pirotecnia gospel". Eu sinto meu coração compungido diante das necessidades de quem está do meu lado, ou meu culto é egocêntrico? Quero usar a palavra para edificar alguém, num gesto de amor genuíno por essa pessoa, ou para aparecer diante das pessoas, como sendo "espiritual"? Esse culto é um culto racional, de mentes transformadas e que se transformam continuamente, ou é um culto de bitolados de mente fechada e coração trancado, de fanáticos religiosos? As pessoas que dizem cultuar a Jesus estão avançando na graça ou escorregando na graxa? Estão mais livres e alegres, ou mais oprimidos, mais legalistas e cheios de costumes e regras, mais presos que antes de terem entrado para cultuar? Paulo nos ensina que o culto racional a Deus é agente ativo de transformação da vida daquele que cultua: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:1,2)

Se estamos cultuando a Jesus, o Príncipe da Paz, então a conclusão óbvia ululante é que esse culto tem que gerar paz para o meu viver! Eu digo que cultuo a Jesus, que é Conselheiro; no entanto, minha vida está mais enrolada que rolo de barbante! Eu digo que cultuo a Jesus, que é Maravilhoso; no entanto, vivo oprimido, no buraco, no funil, na peneira, na moenda, no multimixer, sem esperança! Eu digo que cultuo a Jesus, que é Deus Forte; mas vivo vendo fantasmas onde não tem, com medo até da própria sombra! Eu digo que cultuo a Jesus, Pai da Eternidade, mas vivo a vida somente buscando as coisas dessa terra, preocupado com bens materiais, nos prazeres e vícios da carne! O CULTO A CRISTO TEM QUE TRANSFORMAR A NOSSA VIDA, CASO CONTRÁRIO, NÃO É AO SENHOR QUE ESTAMOS CULTUANDO!!

Note algo importante: se o culto ao Senhor é o culto de "transformados em transformação", com a aprovação do próprio Senhor pela sua presença sobrenatural, então forçosamente precisamos concluir que há algo muito errado conosco. Podemos até aumentar em número a quantidade de pessoas que frequentam um culto, mas não afetamos a moralidade de ninguém. E isso precisa ser seriamente considerado por nós, cristãos! Não estamos afetando ninguém, de forma positiva. Sabe por que? Porque nossos cultos tem barulho, tem língua, tem frenesi, tem gritaria, tem pregação, tem música, tem grana, tem apresentações e números especiais, tem dirigente, tem pastor, em obreiros, tem quem assiste... mas não tem a aprovação de Deus! Já parou para pensar nisso? 
  • Veja o avivamento no país de Gales, em 1904: Os efeitos do avivamento estenderam-se muito além dos cultos e reuniões de oração. Os bares e cinemas fecharam, as livrarias evangélicas venderam todos os seus estoques de Bíblias. O avivamento tornou-se manchete nos principais jornais do país. A presença de Deus "parecia ser universal e inevitável", invadindo não somente as igrejas e reuniões de oração, mas se manifestando também "nas ruas, nos trens, nos lares e nas tavernas". Em muitos casos, os fregueses entravam nas tavernas, pediam bebidas e depois davam meia-volta e saíam, deixando-as intocadas no balcão. O sentimento da presença de Deus era tal que praticamente paralisava o braço que ia levar o copo à boca. (disponível em: http://www.avivamentoja.com/avivamentos-do-passado/seculo-20/o-avivamento-no-pais-de-gales. Acesso: 24/06/19) 
  • No avivamento nas Hébridas, a presença majestosa de Deus era tão profunda que os não-salvos começaram a gemer aflitos e a orar arrependidos. Até os cristãos sentiram o peso do seu pecado. [...] Homens fortes clamavam por misericórdia e, à medida que cada um recebia a segurança da salvação, outros louvavam a Deus e até davam gritos de alegria. Uma mãe colocou os braços ao redor do filho, agradecendo a Deus, enquanto lágrimas de alegria corriam pelas suas faces. As orações de anos foram respondidas.
    (disponível em: http://www.avivamentoja.com/avivamentos-do-passado/seculo-20/duncan-campbell-e-as-ilhas-hebridas. Acesso: 24/06/19)
  • "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" foi um sermão pregado por Jonathan Edwards em 8 de julho de 1741, em Enfield, Connecticut. Edwards não era bom orador, mas, enquanto ele pregava, houve pessoas que choravam e clamavam por arrependimento, enquanto que outros se agarravam às colunas da igrejas, como se estivessem sentindo sendo engolidos pelo inferno. Edwards nunca terminou o sermão em Enfield. O tumulto se tornou muito grande quando a audiência foi tomada por gritos, lamentos e clamores: “O que farei para ser salvo? Oh! estou indo para o inferno! Oh! o que farei por Cristo?” Um dos ministros registrou que “os gritos agudos e clamores eram comoventes e admiráveis”. Várias “pessoas foram esperançosamente mudadas naquela noite. Oh! que prazer e alegria havia em seus semblantes!” Edwards e outros oraram com muitos dos consternados e levaram alguns a “diferentes graus de paz e alegria, alguns a enlevo, tudo exaltando o Senhor Jesus Cristo”, e exortaram outros a se achegarem ao Redentor. (veja mais em: http://apenas-para-argumentar.blogspot.com/2017/03/pecadores-nas-maos-de-um-deus-irado.html?m=0)

Mas para isso acontecer, precisa haver uma mudança radical em nosso modo de viver e de cultuar ao Senhor. Por exemplo, se é culto é o culto das “estrelas gospel” (famosas ou não), esse culto já não agrada a Deus. Se há desunião e falta de perdão, esse culto já não agrada a Deus. Se tem opressão, se tem licenciosidade, se a regrinha de denominação só serve para excluir gente da nossa conviviência (roupas e usos e costumes), se há perseguição, se há traição, se há falsidade, se há mentira, se há tolerância com o pecado, se há um ambiente de desonra/desprezo entre os participantes, se há interesses escusos, se Deus e Cristo não são o centro do culto, então esse culto não agrada a Deus. Se não há arrependimento e desejo sincero de mudança, esse culto já não agrada a Deus. Se não há reconciliação, perdão, graça e misericórdia; se não há justiça e verdade, então esse culto já não agrada a Deus. Se há politicagem, esse culto já não agrada a Deus! SE NÃO HÁ, EM SUMA, AMOR (A MAIOR MANIFESTAÇÃO DA JUSTIÇA PRÁTICA) - PARA COM DEUS E PARA COM O PRÓXIMO, ESSE CULTO JÁ NÃO AGRADA A DEUS!

Dizemos que fazemos a Obra de Deus. Mas será que estamos fazendo a Obra de Deus segundo a Vontade de Deus? Somos contratados por Deus para trabalharmos em Sua Seara, mas estamos fazendo esse trabalho conforme o critério de Deus, ou conforme o nosso? EDIFICAMOS A CASA DE DEUS DA FORMA QUE DEUS ESCOLHEU OU QUE NÓS PREFERIMOS? NÓS PERGUNTAMOS A ELE SE ESTÁ CERTO, SE É ASSIM MESMO QUE ELE QUER, OU PRESUMIMOS SABER TODAS AS RESPOSTAS? Nadabe e Abiú trouxeram fogo estranho (Lv 10.1,2). Moisés bateu na rocha ao invés de falar com ela (Nm 20.10-12). Jeroboão, filho de Nebate, criou uma religião alternativa, consagrando sacerdotes quem ele queria e instituiu culto onde ele escolheu (I Rs 12.31, 13.33). Ananias e Safira tiveram suas ofertas rejeitadas por Deus. Diótrefes não acolhia os irmãos e ainda impedia aquele que queriam recebê-los e os expulsava da igreja (3 Jo 1.10). Todos estavam fazendo a Obra. Mas não conforme a vontade de Deus. 

Vale dizer que adoração e serviço que não agradam a Deus, mesmo sendo bíblicos, são abomináveis diante de Deus e, portanto, iguais em essência a um culto idólatra, a falsos deuses. E Deus não aceita essa mistura! Precisamos estar muito atentos a isso: onde está a assinatura de Deus, hoje, endossando o que é dito e o culto que é feito?

Deus chama Seu povo ao arrependimento de todas as injustiças e iniqüidades, especialmente manifestas na nossa independência religiosa de Deus. Arrependimento de vivermos sem buscar o conhecimento e o entendimento da Vontade de Deus para tudo o que fazemos. É tempo de arrependimento, de lágrimas no altar, dias de Joel. 

Pense nisso!
Graça e paz!
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SERMÃO MINISTRADO EM 17/09/2017.

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