quarta-feira, 24 de junho de 2020

A PALHA ESPALHADA PELO VENTO

Mensagem originalmente pregada em 23 de outubro de 1859 pelo Reverendo Charles Haddon Spurgeon, sob o título "The Chaff Driven Away", baseado em Salmos 1:4.

Com adaptações feitas por mim. Ministrado em 31/07/2016.

-----------------------------------------------------------------------------------

A PALHA ESPALHADA PELO VENTO.

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.
Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.

Salmos 1:1-6 


A Vulgata Latina escreve o texto de Sl 1:4 assim: “Não são assim os ímpios, não assim”. O justo é dito ser "como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará;" - "Não são assim os ímpios, não assim." Os ímpios não são como a árvore plantada. Se eles podem ser comparados a uma árvore, então eles são "como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas" (Jd 1.12) ou como a árvore no deserto que é plantada ali por um acaso, e nada há ali para alimentá-la.

A principal característica de um cristão é que ele é uma árvore plantada. A árvore plantada é cuidada de forma especial pelo agricultor.  É diferente da árvore selvagem, que está na floresta. Ninguém é dono dela, ninguém presta atenção nela; nenhum coração vai suspirar se o relâmpago estremecê-la; nenhuma lágrima será chorada se ela for incendiada e todas as suas folhas murcharem. Ninguém liga para ela.

Os justos tem uma providência especial sobre eles. São árvores plantadas. Tudo que acontece trabalha em conjunto para o bem deles. O Senhor seu Deus é o seu tutor. Até os cabelos da cabeça de um cristão estão contados! (Mt 10.30) O Senhor conhece o caminho dos justos. Eles são como a árvore plantada. Por sua vez, "os ímpios não são assim, não assim”: para quem levarão seus problemas? Onde está o seu abrigo no dia da ira? Onde está o seu escudo na hora da batalha? Quem será o seu sol, quando as trevas se reunirem sobre ele? Quem os consolará no dia da angústia? São deixados sozinhos, como a árvore selvagem a qual ninguém dá importância, até que chegue o machado sobre o seu lenho e seja cortada para ser lançada no fogo.

Os justos são como árvore plantada junto a ribeiro de águas. Ele tem uma fonte inesgotável à sua disposição; portanto ele não conhece a seca, nem tempos de escassez. Quanto ao crente verdadeiro, aconteça o que acontecer, se as coisas falharem, ele olha para o céu. Se o homem abandoná-lo, então ele olha para o homem divino Cristo Jesus. Já com os ímpios é diferente - “Os ímpios não são assim, não assim”: Eles não têm esses rios para sugar sua alegria, o seu conforto e a sua vida. Seu dia de seca virá – seus dias de angústia, de doença, de aperto; dias em que a morte olha fixamente para a vida deles. E aí, como será? O ímpio pode ter um pouco de alegria agora, pode desfrutar de um pouco de emoção no momento, mas o que vai fazer quando o vento quente vier em cima dele, o vento da tribulação? E acima de tudo, o que vai fazer quando o abatimento da morte congelar seu sangue? 

Diz-se do homem justo, que ele "dá o seu fruto no seu tempo". Porém, “os ímpios não são assim, não assim”: Muitas pessoas imaginam que se não cometerem algum ato de pecado que elas estão bem. Só que não fazer o que é certo também é pecado. Meroz foi amaldiçoado porque não fez o que era correto (Jz 5.23). Não adianta gostar de assistir um culto no domingo, não adianta não sair de dentro de Igreja, não adianta fazer caridade, não adianta dar dízimo ou oferta, ou mesmo fazer boas obras, se você não faz o que Deus espera de você – dar fruto digno de arrependimento! (Lc 3.8) O PROBLEMA NÃO É O QUE VOCÊ FAZ, MAS O QUE VOCÊ NÃO FAZ. Para Deus, você é uma árvore infrutífera. Já era tempo de você dar fruto, mas onde ele está? Jesus procura fruto na sua vida e só encontra folhas. O que acha que Ele fará com você? (Mt 21.19). O que está fazendo por Cristo? Você adicionou uma pedra ao seu templo espiritual? Você já fez como aquela mulher que quebrou o vaso de alabastro sobre a sua cabeça? Você não fez nada para ele. Ele alimentou você e trouxe-o até hoje, e você não fez nada para ele. Eis que o Senhor tem uma contenda com você neste dia, não pelo que você fez, mas pelo que você não tem feito! Você está ouvindo a Palavra continuamente; você está desfrutando dos privilégios do Senhor. Deus está alimentando você na sua providência, vestindo-o com sua compaixão e você não está fazendo nada para ele. Oh meu(minha) querido(a) leitor(a), peço que você leve isso a sério, pois esta é uma maldição, bem como um sinal para você. Não é apenas uma característica ruim na sua personalidade, mas é uma maldição de Deus. Tu és ímpio(a), e, portanto, inútil aos olhos de Deus. Você não é como a árvore que "dá o seu fruto no seu tempo".

Diz-se do homem justo, que "suas folhas não cairão". Veja por exemplo nossos irmãos mais idosos, de um tempo onde ser evangélico era igual a ser cristão. Eles dão fruto na velhice, eles ainda são fortes e florescentes para mostrar que o Senhor é reto. “Os ímpios não são assim, não assim”: Sua folha murcha. Chega uma praga e a árvore que parecia uma vez verde torna-se marrom e morta, e, finalmente, enegrece e tem que ser removida. Homens que pareciam estar se dando muito bem neste mundo, ricos e felizes, e respeitados por quase todos, mas eles não tinham base sólida, eles não tinham a rocha para se levantarem, não confiavam em Deus. O homem que não tem Deus, não tem o viço de Deus em sua vida. Ele engorda para o abate! Para o ímpio não há nada de bom nesta vida. O doce que ele tem provado é a doçura do veneno.

"Os ímpios são como a palha". Estão mortos nos seus delitos e pecados, não tem vida em si mesmos. São como a palha que o vento espalhou. Palha é infrutífera; é leve e instável. É sem valor para Deus. O homem que é ímpio, por mais que ele possa valorizar a si mesmo, é como nada na estimativa de Deus; quando pesado, é sempre achado em falta, é leve demais (Dn 5.27). Daí, que eles são espalhados pelo vento, de tão leve que são. "Os ímpios são como a palha que o vento espalha". Isso é terrível. Veja: a palha e o milho crescem juntos, no entanto, chega um momento em que inevitavelmente eles serão separados. 

Veja o pai ou a mãe de um filho piedoso, temente ao Senhor. Eles o criaram, o alimentaram e o ama. Mas haverá um dia – no grande dia da divisão – em que serão separados dele! A palha não pode ser levada para o céu com o trigo. Você é o(a) filho(a) de uma mãe piedosa; você tem crescido em seu joelho. Ela ensinou-lhe, quando você era mais novo(a), a sua pequena oração e a cantar um pequeno hino. Será que isso não causa-lhe uma pontada de arrependimento, o fato de que, morrendo como você é, você deve ser eternamente separado(a) dela? Onde ela irá você nunca poderá ir. Você nunca vai cantar a canção de alegria com ela no céu.

Veja o seguinte quadro: domingo após domingo entram e saem pessoas de nossas Igrejas. Elas ouvem o sermão e sentam-se lado a lado conosco. Cantam hinos como os crentes verdadeiros cantam. Um dia esta pessoa será separada de nós; ela passará de cantar canções dos santos para entoar os gritos dos condenados! Ela passará de comparecer na grande convocação dos justos para à última assembleia geral dos destruídos e amaldiçoados no inferno! “Os ímpios são como a palha que o vento espalha” – espalhados para longe, deste mundo, com os uivos dos demônios do inferno, dos gritos aterrorizantes, sem possibilidade de escape. Queimará como palha com fogo que nunca se apaga (Lc 3.17). Morre uma vez nessa terra, para passar a eternidade num lugar de sofrimento.

CONCLUSÃO:

Preciso perguntar: Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? Quem aqui está preparado para fazer sua cama no inferno? Quem deve deitar e descansar para sempre no lago de fogo? É necessário que seja assim se você é ímpio; a não ser que você se arrependa. “Convertei-vos!” é o clamor de Deus para você! (Ez 33.11) Quero lhe pedir: não resista ao Senhor nessa hora, não mate a influência celestial. Por que morrereis? Há algo agradável na destruição? É o pecado tão gostoso para você que você vai queimar no inferno para sempre por isso? Será que Cristo é um Mestre difícil, que você não vai amá-lo? É a sua cruz tão feia que não quereis olhar para ela?

------------------------------------------------------------------

Nota: O conceito de justo, na Bíblia, não é aquele que não peca ou não comete erros. Ao contrário, o justo comete pecado. No entanto, o justo é aquele que foi justificado (declarado justo) por Deus por meio da fé em Cristo (justificação pela fé), quando da sua conversão à Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

(1) Reservo o direito de não públicar criticas negativas de "anônimos". Quer criticar e ter a sua opinião publicada? Identifique-se. Outra coisa: não publicarei nenhuma crítica dirigida a pessoas; analise a postagem e então emita seu parecer, refutando-a com a apresentação de referências, se assim for o caso (2) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com educação. Sem palavrão nem termos de baixo calão! (3) Responderei as críticas na medida do possível e segundo o meu interesse pessoal (4) Não serão aceitos, em hipótese alguma: mensagens com links que dirigem e façam propaganda a sites católicos, espíritas, ateus, ortodoxos gregos, judaizantes, adeptos de teologia da prosperidade, religiões orientais, liberais, nem nenhum outro que negue Jesus Cristo como Senhor, Deus, único e suficiente Salvador. Estende-se essa proibição a mensagens que propaguem essas idéias/crenças e que queiram debater e provocar discussões.