quarta-feira, 23 de junho de 2010
RIQUEZA FINANCEIRA É O MESMO QUE BÊNÇÃO DIVINA? PARTE 2
Inicialmente, é preciso reconhecer que esse debate é deveras antigo. O filme "O Nome da Rosa" retrata essa disputa - a pobreza ou não de Cristo, travada entre os espirituais, um ramo da ordem franciscana, e os delegados do papa. A idéia central é que se o Senhor fora pobre, a Igreja Católica seria então apóstata, porque ela e o Papa eram riquíssimos (diga-se de passagem, até hoje são; mas isso é assunto para outro post). Muitos renomados teólogos do passado já abordaram o assunto, de forma inconclusiva contudo.
Contribuindo para iluminar o tema, proponho uma análise do texto bíblico sobre alguns aspectos da vida de Jesus, importantes para que tenhamos mais clareza sobre a questão financeira do Mestre, sem a pretensão de esgotar o mesmo.
O Nascimento: Deu-se em Belém, conforme a profecia bíblica (Mt 2.6), numa manjedoura (Lc 1.7,12,16), porque a cidade estava cheia. Recebeu presentes caros - ouro, incenso e mirra (Mt 2.11). Teve que fugir para o Egito, por causa da perseguição por Herodes (Mt 2.13-15). Retornando do Egito, habitou na cidade de Nazaré, na Galiléia (Lc 2.22,23). Foi apresentado no Templo, dando os pais um par de rolas ou dois pombinhos (Lc 2.24).
Comentários:
1) O Local de Nascimento: O fato de Jesus ter nascido numa manjedoura não aponta, necessariamente, para uma situação de pobreza. A cidade estava lotada naquela época e não não havia lugar para José e Maria se hospedarem. O episódio registrado em Lucas 2:1-7 sugere que José tinha com que pagar a hospedagem, dado que ele procurou alugar um quarto.
2) A Fuga para o Egito e a Apresentação no Templo: É provável que os pais de Jesus tenham usado os presentes recebidos para financiarem a viagem e estada no Egito, pois não há nenhuma menção posterior dos mesmos ao longo da Bíblia. O dinheiro arrecadado com a possível venda dos presentes dados não foi o suficiente para enriquecer a família, tampouco tinham grandes posses; posteriormente vemos que por ocasião da apresentação do Senhor no Templo a oferta dada era a oferta de uma pessoa pobre (Lv 5.7; 12.8).
Família: "pais" - José e Maria (Mt 1.18); irmãos - Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13.55); tia e primo - Isabel e João Batista (Lc 1.36). O pai, José, era carpinteiro (Mt 13.55).
Comentários: A palavra grega usada para carpinteiro em Mt 13.55 (e Mc 6.3) é Tekton, “construtor", significando um “artífice” ou "artesão" ou “construtor” em madeira, pedra ou metal. Assim, José e Jesus poderiam trabalhar com qualquer um destes materiais.
John Young (1805-1881), em sua obra "Christ of History: An Argument Grounded in the Facts of His Life on Earth", faz o seguinte comentário: "Seu lugar de nascimento, sua andanças da infância, sua casa em uma aldeia, tais como Nazaré, a sua humilde profissão por muitos anos, sua dependência mais tarde no mercado de trabalho de seus discípulos e da caridade de outros amigos, são evidências que apontam para sua condição de pobreza."
Tal hipótese é confirmada por Albert Barnes (New Testament Notes). De fato, a declaração tal qual como fora registrada parece aponta para uma conotação pejorativa da função; aliás é dito que a condição do Salvador lhes era "escandalosa" (Mc 6.3 = kai eskandalizonto en autōi, em grego). Não há como saber se os carpinteiros ganhavam bem por suas atividades ou não, porque isso depende das leis de mercado (oferta e procura, por exemplo) que vigoravam em Israel naquela época.
Ministério: pregador itinerante (Mt 4.23; 9.35; Lc 13.22). Foi chamado de carpinteiro (Mc 6.3). Tinha um tesoureiro, o apóstolo Judas (Jo 12.6; 13.29). Certa ocasião, mandou o apóstolo Pedro pescar e tirar o dinheiro da boca do peixe apanhado que era o necessário para pagar o imposto exigido de ambos - um estáter (Mt 17.24-27). Sua túnica não foi dividida pelos soldados (Mt 27.35; Mc 15.24; Jo 19.23,24).
Comentários:
1) A Túnica: “Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram-lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a quem caberá – para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os soldados” (Jo 19.23-24).
Josefo (História dos Hebreus, cap. 8, 119) diz que esta túnica fazia parte da vestimenta do sumo-sacerdote, sendo que "essa túnica, que era toda uma só peça, sem costura, não era aberta de lado, mas de alto a baixo, isto é, por trás desde o alto até abaixo das espáduas e na frente apenas até a metade do estômago. Para adorno dessa abertura, colocaram-se bordados, como também naquelas feitas para passar o braço."
De acordo com Matthew Henry, em seu Comentário Completo de toda a Bíblia (Matthew Henry Commentary on the Whole Bible - Complete), "we read not of any thing about him valuable or remarkable but this, and this not for the richness, but only the variety of it, for it was woven from the top throughout" ("nós não lemos coisa alguma sobre o valor ou singularidade dela [da túnica] mas isto, e isto não pela riqueza, mas somente a variedade dele, pois era tecida de alto a baixo").
2) O Estáter: Um estáter correspondia a 4 dracmas ou cerca de 14,4 g de prata, equivalente ao shekel judaico. Na época, cobrava-se 0,5 shekel por pessoa como imposto para a manutenção do Templo (Êx 30.11-16), coletados no mês de Adar (um mês antes da Páscoa). Segundo o "People's New Testament" valia 62 centavos de dólar, porém naqueles dias uma dracma era a quantia suficiente para se comprar uma ovelha.
O fato do Senhor ter mandado Pedro pescar um peixe com o estáter na boca para pagar o imposto do Templo indica que eles não dispunham deste valor naquele momento; caso contrário o milagre perderia a significação e seriedade. Teria a bolsa ficado com Judas? Se sim, porque o Senhor ou Pedro não requisitou o valor previamente, sabendo que precisaria de recursos para pagar o imposto? Qualquer resposta aqui seria mera especulação, sem base bíblica.
Do mesmo modo, o fato do grupo possuir uma bolsa e um tesoureiro não indica, necessariamente, que a bolsa era abastada. Em nenhum lugar é mencionado a quantia que o grupo possuía, nem o volume de ofertas que recebiam. Afirmar a riqueza financeira do Senhor com base no fato de haver um tesoureiro e uma bolsa é forçar tendenciosamente o texto bíbilico.
Conclusões:
Conforme demonstrado, não há como inferir a condição financeira do Senhor a partir da análise dos textos bíblicos pertinentes. Todas as evidências - ou de pobreza, ou de riqueza - são meramente circunstanciais. Concluir pela pobreza ou pela abastança do Mestre é, no mínimo, sinal de tendenciosidade. Se corretamente considerarmos que Jesus vivia o que ensinava, encontramos que Ele não ajuntava tesouros nesta Terra (Mt 6.19-21) e de modo algum andava inquieto com coisas materiais (Mt 6.25-34), pois sabia que o Pai que O enviara dar-lhe-ia a cada dia o necessário, não apenas para sua vida, mas para o seu ministério.
Creio que Jesus não era pobre; tampouco era rico. Nem pobreza, nem riqueza nesta terra são coisa alguma diante de Deus. Ninguém é abençoado meramente por ser rico e ninguém é amaldiçoado meramente por ser pobre. Ninguém é fracassado ou sem fé por ser pobre; do mesmo modo, não é um exemplo de cristão por ser rico. Riqueza e pobreza financeiras são questões sociais, não espirituais. Nós, cristãos, devemos lutar contra as injustiças sociais, com base SEMPRE na Palavra de Deus.
A lei judaica era cuidadosa acerca dos pobres. Eles tinham direito de apanhar aquém e além o que se deixava ficar no campo depois da ceifa, ou depois da vindima, ou depois da colheita de azeitonas (Lv 19.9,10. Dt 24.19,21; Rt 2.2). No ano sabático eram os pobres autorizados a ter parte nas novidades (Êx 23.11; Lv 25.6); e se eles tinham vendido alguma porção da sua terra, ou tinham cedido a sua liberdade pessoal, tudo isso lhes devia ser restaurado no ano do Jubileu (Lv 25.26 e seg.; Dt 15.12 e seg.). Além disso, eram protegidos contra a usura (Lv 25.35, 37; Dt 15.7,8; 24.10 a 13); recebiam uma porção de dízimos (Dt 26.12.13); e ainda sob outros pontos de vista tinha de ser considerada a sua situação (Lv 19.13; Dt 16.11,14)” (Dic. Bíblico Universal – Buckland).
A lei mosaica não considerava a pobreza uma falta de fé ou uma obra demoníaca. Deus não garantiu que todos os justos seriam ricos, pelo contrário: “Nunca deixará de haver pobres na terra. Portanto eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na terra” (Dt 15.11).
Quando Pedro e João chegaram à porta do templo, chamada Formosa, um coxo pediu-lhes uma esmola. Pedro disse ao paralítico: "Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" (Atos 3:1-8), e o homem foi curado. Naturalmente Pedro e João não estavam debaixo de qualquer maldição, em pecado ou sem fé, só porque não tinham prata nem ouro. Eles tinham algo melhor, a graça e o poder de Deus.
A teologia da prosperidade é uma ótima justificativa para não buscarmos crescer enquanto cidadãos. Afinal, se riqueza e pobreza dependem de questões sobrenaturais, para que esforçar-me? Para que trabalhar? Basta saber como alcançar as bênçãos - e isso é deveras simples, dê o seu tudo e fique com seu nada! Quer ser próspero? Primeiro, confie em Deus, confie que Ele suprirá todas as suas necessidades (não caprichos) em Cristo Jesus (Fp 4.19). Depois, faça a sua parte: estude, estude, estude! Esmere-se, não fique olhando o dia de ontem, nem esperando alguma coisa de mão beijada, na bacia das almas. Faça acontecer. Fé bíblica SEMPRE envolve ação! Sejamos, assim, pessoas sóbrias, de opinião e que tem o trabalho e a operosidade como um dever diante de Deus.
Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!
Um comentário:
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Tenho a impressão de que esse povo nem dorme.Fica horas pensando o que mais vão inventar para justificar sua heresias.Esquecem-se que Deus tem um Reino que não depende de dinheiro para nele se ingressar.Prosperidade e dinheiro não são siônimos.Ser rico não quer dizer ser mais abençoado e nem ser pobre ,amaldiçoado.Quer ricos ou pobres o que importa é vivermos para Deus.
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